Pratica surf há cerca de 12 anos e desde sempre tem andado ligado aos desportos de acção, o que afirma ser a sua maneira de estar na vida. “É uma forma de estar ligado ao desporto e em contacto com a natureza”.Simpático e sociável, considera-se uma pessoa “optimista por natureza”, pois diz procurar sempre o lado bom e positivo da vida e das pessoas. Muito “amigo do amigo”, Luís Melo diz dar-se bem com todos, aproveitando cada momento para estar com a família e para praticar nas actividades de que gosta. Encara a vida como algo de “muito precioso e que vale a pena”, avançando que esta “sabe melhor e só faz sentido, quando realmente temos objectivos e encontramos o rumo, que pretendemos tomar”.“Cada um deveria procurar a sua meta, aquilo que realmente gosta de fazer e sentir-se bem a fazê-lo. Penso que é esta a motivação para viver e para estar bem com os outros e com a vida”- salienta.As qualidades que mais aprecia nas pessoas são a “lealdade, a amizade e o dinamismo, para além de um carácter forte”. Por outro lado, não suporta a “falsidade, o cinismo e aquela tendência de algumas pessoas em passarem por cima de tudo e de todos”. Mas sabe também que cada um é como é, reconhecendo que “não podemos mudar as pessoas”.Natural da freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada, e nascido a 28 Novembro de 1974, sob o signo de Sagitário, o surfista afirma acreditar “um pouco” na astrologia, argumentando que as características do signo encaixam, de certo modo, no seu perfil e maneira de ser.Membro de uma família mais ou menos numerosa, Luís Melo é o único rapaz entre duas raparigas, a mais velha “dentista” e a mais nova “professora”.Da infância recorda que sempre foi “muito inventivo e activo” e com os amigos estava sempre a arranjar aventuras, mas “nada de ilegal”. Gostava de andar de bicicleta e de skate e de ir à praia. Por isso, passava muito tempo ao ar livre e talvez a sua maneira de ser seja uma consequência. “Sou uma pessoa que não gosta muito de estar dentro de quatro paredes, prefiro um espaço natural”.Luís Melo salienta ainda que teve a sorte de, na altura, Ponta Delgada não ser ainda uma cidade tão urbanizada como é hoje. “Dispúnhamos de muito terreno, muito espaço para criar e as nossas brincadeiras eram muito ligadas a práticas de actividade física, como andar de bicicleta, de skate e fazer cabanas”-acrescenta, lembrando que não havia Internet nem computadores.“Os vídeos estavam a começar a aparecer, eu juntava os meus amigos lá em casa a ver filmes e era uma festa”.Lembra ainda que nunca quis uma profissão em que estivesse todo o dia sentado, característica que desenvolveu desde criança.No início, queria ser “Polícia ou algo relacionado com a carreira militar”. Depois os gostos evoluíram e passou a ter ideias de ser “Engenheiro Mecânico, porque gostava muito de mexer em bicicletas e em motores”. Com o passar dos anos, Luís Melo achou que o seu perfil se encaixava numa profissão mais “dinâmica”, optando pelo curso de “Desporto e Educação Física” que tirou na Universidade do Porto.Os tempos livres ocupa-os em bastantes actividades como o “Surf, Windsurf, BTT nas vertentes de Cross Country e Down Hill” e, às vezes, também alguns passeios pela ilha.À noite, gosta de jantar com os amigos e de ir ao cinema, onde o “Cinema Paraíso”, “Os Imortais” e “Sorte Nula” marcam as suas preferências.“Gosto imenso de filmes europeus, pois penso que têm bastante qualidade, e das grandes produções de Hollywood, que são um grande atractivo e enchem a vista a muita gente, mas também sou apreciador do cinema português”-revela. Apesar de o tempo ser pouco, “viajar” é outro dos seus passatempos predilectos. Um dos seus grandes sonhos e que espera “concretizar em breve”, é ir ao Hawai. Isto já sem falar em Bali e na Austrália, que considera um país “fantástico, de grande cultura e potencial”.Já esteve no Brasil, em França e em Espanha, além do litoral português que conheceu durante os anos em que estudou no continente. “Também faz parte!”- afirma, bem disposto.Dos Açores, revela conhecer as ilhas, à excepção da Graciosa, Flores e Corvo.Estudou na Escola Primária da Ribeira Seca da Ribeira Grande, porque a mãe era lá professora e Luís Melo era muito novo, “entrei com cinco anos”. Depois foi para a Roberto Ivens e «inaugurou» a Escola das Laranjeiras, onde permaneceu até ao 12º ano, optando, no 9º.ano, pela opção de Desporto.Referindo-se à sua decisão académica, confessa que sempre gostou de actividades ao livre e de desporto. Daí a decidir-se por este curso foi um passo, “pois temos de ver o que gostamos de fazer e para que é que temos alguma aptidão”.Na altura, admite que o facto de não haverem provas específicas para entrar para a Universidade também ajudou bastante, lembrando ainda que só tinham “a famosa PGA e umas provas físicas exigentes”.Actualmente, é professor na Antero de Quental. Escola onde embora os espaços de aulas não sejam recentes, existe um grupo onde a disciplina é muito dinâmica. “Promovemos inúmeras actividades, os alunos são na grande maioria empenhados e normalmente em todos os encontros desportivos entre escolas obtemos sempre bons resultados”.O professor de Educação Física foi também convidado para co-apresentador – junto com Joana Cadete - de um programa de desportos de acção, o «Alta Pressão», exibido aos sábados na RTP/Açores e realizado e produzido por dois praticantes de Surf e Windsurf. “É um programa, onde mostramos ao povo açoriano quem pratica estes desportos, fazendo inúmeras referências ao material e aos melhores locais”. Avança ainda que havia uma “lacuna” no panorama desportivo regional, considerando já o «Alta Pressão» como um marco histórico”.Referindo-se especificamente ao Surf, conta que desde miúdo costuma passar férias nas Furnas. Numa primeira fase acampava com os pais e no verão frequentava a praia da Ribeira Quente, onde se iniciou no bodyboard com pranchas de esferovite, que pedia emprestadas aos amigos. “Um pouco antes disto, viam-se as habituais carreirinhas na praia e então, aos 14 anos, comecei com as pranchinhas de espuma”- relembra.Mas o que o deslumbrava eram os praticantes mais velhos que, apesar de não serem muitos, já tinham as suas pranchas de surf . “Senti sempre aquele fascínio por eles estarem de pé e havia uma certa mística à volta daquele desporto”.No regresso da viagem de finalistas do 12º ano, a França, Luís Melo tinha dezassete anos e foi aí que comprou a sua primeira prancha de surf, “com o dinheiro que restou das férias”.“No final daquele verão comecei a dar os primeiros passos no surf e nunca mais parei”, salienta, chamando ainda a atenção para o facto de que aprendeu a fazer surf “completamente sozinho”. “Lembro-me de ter comprado alguns livros completamente obsoletos, que nem fotografias tinham, dispondo apenas algumas ilustrações feitas à mão. Era a tradução de um livro inglês, de 1979, feito por dois surfistas ingleses e muita coisa não fazia sentido. Depois, ao adquirir experiência fui percebendo o que eles queriam dizer com certos termos e posições”- explica.Quando foi para a Faculdade, recorda-se que o surf no continente estava muito mais desenvolvido e “a minha base foi toda feita no Porto, onde havia um maior nível dentro de água” (a existência de profissionais).O professor afirma ainda que o Surf naquela altura não era tão “massificado” como é hoje, mas já se podiam encontrar praticantes com bom nível. Praticava na Ribeira Quente, mas “raramente” apareciam pessoas para praticar, porque o surf concentrava-se de Inverno na costa Norte e de verão a maioria dos surfistas ficava no Pópulo. “Naquele Inverno fui para o continente e ao regressar, nas férias, ia aperfeiçoando o meu Surf nas ondas da Ribeira Grande e Rabo de Peixe”. Luís Melo começou a fazer uma maior descoberta do desporto em termos da ilha e o nível não era muito alto. Além de que “nunca passava das dez-quinze pessoas dentro de água”.Na sua opinião, “o Surf é um desporto de Inverno, altura do ano em que há mais e melhores ondas”. Salienta também que o verão é uma “boa altura para a aprendizagem, porque as ondas não são tão frequentes e altas, nem tão fortes, tornando-se o mar mais seguro e a água é mais quente”. E os dias são mais bonitos, o que dá outro “espírito”.Por outro lado, no Inverno, onde as condições são mais “desafiantes e mais pesadas”, os surfistas podem “testar-se” a si próprios e apanhar ondas de qualidade.“A partir do momento em que se começa a praticar surf, a linha evolutiva passa por praticar durante todo o ano e só no verão seguinte é que temos o feed-back, do que praticamos o Inverno inteiro”- afirma, revelando que o surf de verão é mais fraco, é de pura “recreação” e não se aprende muito, porque “as condições não permitem”.A certa altura este «surfista de Inverno» começou a formar o seu grupo, composto por “alguns amigos e colegas de escola”. Mas desde que começou, afirma que nunca se importou de praticar sozinho. “Se quiserem vir comigo acho óptimo, é uma companhia e a pessoa tem sempre uma margem de segurança, mas nunca deixei de praticar pelo facto de estar sozinho”. Diz que nunca ficou à espera de ninguém e isso foi algo a que se habituou, acrescentando que “é assim que se evolui na modalidade”.Quanto ao seu dia-a-dia, afirma leccionar durante toda a semana e para além das actividades escolares, diz fazer “o que o tempo diz, pois ele é que manda” Se possível, o Surf entra em todos os dias da sua vida, nem que seja “na hora de almoço ou ao fim do dia, pois há sempre tempo. Mas claro que a mãe natureza é que manda. Se há vento faço Windsurf, se tenho boas ondas faço surf. Se um amigo telefona para darmos uma volta de bicicleta também vou”.O objectivo é tentar manter uma prática física constante, intercalada com as actividades profissionais.Antes de constituir família, Luís Melo confessa que as férias eram “todas” viradas para o surf, gostando de ir para locais calmos e sem muita gente. Agora, o professor também gosta de tirar algum tempo, para se “desligar do desporto, ficar mais em família e viajar para um sítio mais calmo e sem pensar muito no Surf”.Referindo-se a Portugal afirma estarmos num país onde, “apesar de tudo, evoluiu e onde se consegue viver bem”, mesmo reconhecendo não ser o “ideal”.O mundo de hoje classifica-o como um lugar cada vez mais “instável e marcado por conflitos de interesse, onde todos querem ter o que não têm, nem que para isso tenham de por os outros para baixo”. Luís Melo lembra também que se todos agirmos bem no nosso meio e tentarmos que o que está ao nosso redor seja melhor, estamos a contribuir para um mundo melhor. “É esta a minha máxima”.Diz que já houve fases em que quis mudar muita coisa na sua vida e outras, em que não mudava nada. Hoje, afirma que não mudava nada, porque “a vida é dinâmica e são os pequenos erros e decisões que nos mantêm no nosso rumo e sentimo-nos motivados com as decisões acertadas que tomamos. E é deste conflito erro e acerto que progredimos no nosso dia-a-dia”.Quanto a projectos pessoais, gostava que o seu trabalho, “a dinamização do desporto ao ar livre, nomeadamente do surf, tivesse uma boa projecção a nível Açores”. E que os jovens açorianos adoptassem este tipo de actividade como o seu desporto número um, para sermos uma “potência” em termos desportivos, porque, a seu ver, temos “qualidades excepcionais”.“Os nossos jovens não são piores, têm os mesmos talentos do que os outros jovens do continente e do mundo inteiro. E gostava que, no futuro, o surf fosse um estandarte e um símbolo regional, como acontece com a agricultura e com a cultura do ananás”.
Raquel Moreira
Public in revista "Açorianissima", 2005.
Sem comentários:
Enviar um comentário