A Fábrica de Chá da Gorreana constitui um ponto de paragem obrigatória para quem visita São Miguel!
Com Hermano Mota ficaremos a saber um pouco mais, sobre esta bebida tão apreciada em todo o mundo!
AM – Nome completo
HM – Hermano Estrela Athaíde Mota
AM – Como tem sido estar à frente da Fábrica da Gorreana?
HM –Às vezes é muito difícil. Já lá estou há cerca de 40 anos e claro que existem sempre bons e maus momentos. Embora toda a organização pertença à minha mulher e à minha sogra, eu também nasci numa fábrica de chá, pois foi onde o meu pai trabalhou toda a sua vida. Era um mundo que eu já conhecia. As responsabilidades é que são maiores, porque entretanto a minha sogra colocou-me o negócio nas mãos.Tenho a obrigação de fazer a fábrica ir para a frente, mas é uma tarefa que faço com agrado!
AM- Que balanço faz destes últimos tempos? Tem notado alguma diferença no volume de vendas?
HM- Temos tido altos e baixos, mas, actualmente, estamos numa altura de facilidade e de aumento de vendas. O que se deve sobretudo ao desenvolvimento turístico da nossa Região. Tal como dizia Mota Amaral, precisamos de turismo, pois não conseguimos vender o que temos.Num mercado grande, dispersamo-nos, por isso há que arranjar maneira das pessoas virem experimentar os nossos produtos, não só o chá. E felizmente isto está a acontecer. O consumo de chá aumentou extraordinariamente nos Açores e em todo o mundo. Na Alemanha, por exemplo, subiu quarenta por cento nos últimos quatro ou cinco anos, o que é importantíssimo. Ou seja, o chá voltou a ocupar uma posição de destaque que já ocupou nos anos trinta e, é este o caminho que importa seguir.Independentemente disso, veio o advento do chá verde. Temos a Procissão do Santo Cristo dos Milagres, na qual as folhas do chá são utilizadas na confecção dos famosos tapetes de flores.Além disso, o chá verde dos Açores é bastante mais fácil de beber, do que os oriundos da Ásia ou da China, o que fez com que a sua venda tenha aumentado consideravelmente. Passamos de novecentos quilos há seis ou sete anos, para dezasseis toneladas no ano passado. No ano anterior, vendemos cerca de quinze. Evitamos produzir chá em excesso, limitamo-nos apenas a aumentar um pouco a produção, em relação ao ano anterior.
AM- Que iniciativas tem desenvolvido para atrair mais turistas a visitarem a fábrica?
HM- O esforço que temos feito na área do Turismo é muito facilitado pelas agências de viagens, porque antes deste surto de turismo eram estas que nos traziam os turistas. Claro que continuamos com o mesmo tipo de relacionamento e fazemos o possível para estarmos abertos 365 dias por ano. Uma agência de viagens ao criar um circuito extraordinário ou regular tem sempre a hipótese de parar na Gorreana, que julgo ser um sítio agradável. Além disso, as pessoas saiem de Ponta Delgada por volta das nove ou dez horas. Às onze horas, as casas de banho começam a fazer falta. E temos muito prazer em receber visitas.Obviamente, passo lá a maior parte do meu tempo e acabo por falar com pessoas de todo o mundo. Muitas delas, vieram de países super desenvolvidos e higienizados onde predominam o plástico e o inox. Mas quando entram na Gorreana, acabam por apreciar o cunho da história e do passado, que queremos manter e transmitir.Procuramos manter as máquinas exactamente como estavam há setenta/oitenta anos atrás. Claro que, temos modernizado o circuito das folhas trabalhadas, mas entre comprar umas passadeiras transportadoras de aço/inox muito bonitas e brilhantes, optamos por outras não muito mais baratas, mas de há quase cinquenta anos atrás.É uma visita agradável, na qual as pessoas provam os chás e passeiam à vontade.No que toca ao turismo, estamos um pouco atrasados, mas pretendemos abrir uma sala de chá. É um dos nossos projectos.A Gorreana centraliza o acolhimento de pessoas com alguns conhecimentos e cuidados de história, de tradição. É obrigatório ir à Gorreana, porque é um motor de electricidade contínua que trabalha desde 1926, pois tem a transmissão com correias.O melhor chá é aquele de que se gosta. Por isso, o chá Gorreana vai ter sempre quem goste dele.
AM- Quais as variedades de chá de que dispõem?
HM- Temos os chás verde e preto, ambos feitos pelo sistema tradicional (ortodoxo). A diferença reside no enrolar das folhas, pois existem várias maneiras de o fazer e algumas delas penalizam um pouco o produto final. Os provadores e as pessoas entendidas em chá defendem, que quanto mais esmagadas forem as folhas, pior será nas escuridades organoléticas, sobretudo no aroma.O chá preto divide-se em quatro tipos, o Orange (muito apreciado pelos nórdicos e cuja procura tem aumentado), o Peckoe, o Brocken Leave e, o Féninx feito com as moínhas, as partículas das folhas que se vão partindo.O chá Orange está relacionado com Guilherme de Orange (séc. XVI). Os portugueses descobriram o caminho marítimo para a Índia e trouxeram o chá para a Europa. Depois foram os holandeses. Mas como defendíamos muito bem o nosso negócio, os holandeses desistiram de ir à Índia e partiram para a Indonésia, trazendo o Tea para a Europa e a classificação dos chás (o Peckoe, que significa folha).À melhor folha deram o nome da família Orange, que organizou a Companhia das Índias Ocidentais e comercializou o Tea na Europa.No chá preto separamos as três primeiras folhas do rebento, pois só estas serão utilizadas para fazer o chá.Dentro do chá verde, temos o chá no qual não enrolamos as folhas e o enrolado, que é mais bonito e bom para vender a vulso. Mas este chá acabou por ficar mais tempo exposto ao ar, sofreu mais oxidações e acabou por ser penalizado, ficando com menos oxidantes activos. O chá menos trabalhado tem um aspecto mais grosseiro, mas é o chá que mais antioxidantes tem em Portugal e é dos mais vendidos a nível nacional.Em termos de sabor, nota-se alguma diferença. O chá verde enrolado tem um pouco mais de aroma e um paladar mais suave.Já fomos os principais fornecedores oficiais de duas famosas salas de chá lisboetas que fecharam, a Bemar e a Versaille. Isto, com os chás semi-fermentados que se bebem no Sul da China. Ainda os fabricamos, mas em pequenas quantidades. É apenas para não perder o jeito. Eles fermentam sem serem oxidados.De todos estes, o que regista maior número de vendas é o chá verde. Em 2005 vendemos cerca de dezasseis toneladas de chá verde e quase catorze toneladas dos quatro tipos de chá preto. O consumo no Arquipélago dos Açores não diminuiu. Simplesmente expandimo-nos também para o mercado do continente e da Madeira.
AM- Projectos para a Fábrica?
HM- Vamos criar uma sala agradável para receber as pessoas, com alguns bolos minimamente tradicionais. Só que têm havido umas pequenas divergências com as autoridades, sobre como deve ser a sala. É uma questão de sensibilidades e de estilos diferentes, mas julgo que este ano já teremos a nossa sala de chá.Vamos também mecanizar o empacotamento de todo o chá, mesmo nos sacos de cem gramas. Já tivemos uma máquina que fazia isso, mas a quantidade acabava por nunca ser a mesma. A máquina da altura não precisava a quantidade. Hoje em dia já existe uma máquina, que dá exactamente as cem gramas pretendidas. A primeira fase do projecto dar-se-á dentro de seis meses com os famosos “tea bags” de papel de filtro. Quatro ou cinco meses depois será a vez da outra máquina. Foi um investimento de vinte três/quatro mil contos.Outro acontecimento que me deixou particularmente satisfeito, foi a proposta da Universidade de se juntar a nós, no estudo dos conteúdos dos antioxidantes nas folhas nascidas depois de Setembro. Terminamos a apanha em Setembro, limpamos as plantas e a partir de Novembro iniciamos as podas dos arbustos, de modo a criar uma superfície onde irão nascer as novas folhas, em meados de Março. São cerca de oitenta toneladas de folhas que ficam no chão. A nossa intenção é recolhermos estas folhas e extrair-lhes os antioxidantes, que tentaremos vender já desidratados. É um mercado que tem crescido muito nestes últimos anos, principalmente no que toca à indústria de cosméticos, sabonetes e champôs. Vamos investir neste mercado, com a ajuda da Universidade, personificada na figura do Professor José Baptista, um homem extraordinário a nível de colaboração.(…)”o que regista maior número devendas é o chá verde. Em 2005, vendemos cerca de dezasseis toneladas de chá verde equase catorze toneladas dos quatro tipos de chá preto”.
Raquel Moreira
Public in "Açores Mundo", Jan 2006.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário