De emissões a preto e branco à variedade de programas a que assistimos hoje, a RTP-Açores percorreu um longo caminho.Falamos com Osvaldo Cabral, para saber quais os projectos da televisão regional!
AM- Nome completo
OC – Osvaldo José Vieira Cabral
AM- Fale-nos um pouco do seu percurso profissional.
OC- Sou jornalista há 25 anos. Comecei no jornal "A Voz popular" do Pico da Pedra, do qual fui fundador. Depois estive no "Correio dos Açores" e, finalmente, vim para a RTP-Açores. Trabalhei ainda como Correspondente da agência Reuters e do semanário "Expresso".
AM- Como surgiu a oportunidade de entrar para a RTP?
OC – Na altura eu era Director Adjunto do "Correio dos Açores", trabalhando lado a lado com o Dr. Jorge do Nascimento Cabral. Depois de, um ano antes, ter feito um concurso público para a admissão de jornalistas na TV, acabei por receber um convite do então Director da RTP-Açores Dr. Lopes de Araújo.
AM- Quais eram as suas funções na RTP e há quanto tempo ocupa o cargo de Director da televisão regional?
OC – Como se costuma dizer, comecei por baixo. Embora já tivesse experiência de direcção que obtive no"Correio dos Açores", as minhas primeiras funções na RTP-Açores foram como redactor de base, a trabalhar na Secretaria de Redacção, e depois como repórter de rua. Algum tempo depois, iniciei-me como apresentador do Telejornal, tarefa que desempenhei durante 6 anos.Finalmente, como Chefe de Redacção, comecei a ter o meu próprio programa. Desde então assumi sempre funções de chefia, sendo Subdirector na vigência do Dr. Ricardo Ferreira e do Dr. António Fragoso. Com a saída deste último para a RTP-Internacional, em Lisboa, o Conselho de Administração da RTP convidou-me a assumir o cargo de Director. E já lá vão cerca de dois anos!
AM- Como tem sido a experiência?
OC- Tem sido muito interessante, sobretudo ao nível de novos desafios.Claro que, no início, apenas dei continuidade ao trabalho desenvolvido pelas Direcções anteriores. Foram dois anos a analisar melhor a RTP a nível interno e toda a complexidade da actividade televisiva em todos os seus sectores. Só agora é que se poderá dizer com propriedade que a programação da RTP-Açores começa a ter, na totalidade, o meu cunho pessoal e as minhas orientações.É preciso não esquecer que estamos a falar de cerca de 120 trabalhadores, com mais de 5 milhões de euros ( 1 milhão de contos) em actividade, dispersos por Ponta delgada, Angra e Horta. Para além de 6 Correspondentes nas ilhas onde não possuímos Delegações, tudo isto abrangendo 4 Departamentos e vários Serviços.
AM- Como nasceu a RTP - Açores?
OC - A RTP-Açores nasceu a 10 de Agosto de 1975, mas de forma muito rudimentar e, a preto e branco. A própria emissão durava poucas horas e utilizava também poucas horas de produção própria, chegando mesmo a encerrar ás segundas feiras para descanso do pessoal.Foi, sem dúvida, um arranque pioneiro de uma equipa que fazia das tripas coração para levar todas as noites a emissão a casa das pessoas. Equipa esta, à qual os açorianos devem render uma justa homenagem. Claro que, 30 anos depois, muito mudou. Ainda não chegamos ao nível que desejamos, mas para lá caminhamos.
AM- O que nos pode dizer sobre a RTP - Açores de hoje?
OC - É justo reconhecer que a RTP-Açores está hoje muito diferente do que era há 30, 20, 10 ou 5 anos atrás. Foram introduzidas grandes alterações, em termos de qualidade e volume de produção própria, o que transforma a RTP-Açores num canal já com grande visibilidade regional, conforme nos indicam os estudos de opinião e as reacções do público.Em termos concretos, verificaram-se melhoramentos ao nível do aspecto gráfico e cenográfico, no estúdio, na programação, na produção regional e nos Correspondentes nas outras ilhas. A programação foi aberta ás produtoras externas, melhoramos a apresentação dos programas de informação, introduzimos mais dinamismo no programa da manhã, aumentamos a linguagem gestual, aligeiramos as nossas transmissões directas de todas as ilhas. Enfim, tudo somado faz com que, hoje, tenhamos mais de 45 por cento da nossa programação preenchida com produção regional, mais 10 por cento que no ano passado, e o recorde absoluto de produção própria.E tudo isto praticamente com os mesmos meios técnicos e humanos!...
AM- E a entrada deste canal para o cabo, provocou algum tipo de mudanças, nomeadamente no nível de exigência?
OC - Deve estar a referir-se ao cabo nacional. Por enquanto estamos apenas no cabo por satélite. Ou seja, só nos consumidores que têm cabo na antena parabólica. Não sabemos ainda quando é que a RTP-Açores vai entrar no cabo terrestre, apesar de ter sido anunciado que o prazo iria até ao primeiro trimestre.Naturalmente que quando estivermos no cabo terrestre, no Continente, teremos que introduzir algumas alterações, mas sem nunca esquecer que estamos a fazer televisão para os Açores e não para o Continente. É preciso lembrar que a RTP-Açores, apesar do seu crescimento, continua a ser uma televisão regional, com a dimensão dos Açores, não podendo ser comparada com as televisões nacionais.O mais interessante é que temos recebido excelentes reacções dos telespectadores do Continente que já nos vêem. Um deles, de Peniche, até participou no passatempo do Bom Dia e ganhou um telemóvel.
AM- Projectos para a RTP – Açores ?
OC - A RTP-Açores tem muitos projectos, a dificuldade está em executá-los com os poucos meios de que dispomos. No momento, o maior projecto de todos é, sem dúvida, a construção dos novos estúdios. Trata-se de uma promessa do Conselho de Administração da RTP e dos Governos, que julgamos poder ser cumprida nos próximos anos. Neste momento, estamos na fase de estudo da localização do novo edifício, que tanto pode passar por um novo espaço, como até ser incluído no próprio espaço da RDP em Ponta Delgada.Com estes novos estúdios, poderemos efectivamente ter uma verdadeira televisão regional, essencialmente com produção própria e com muito mais qualidade.Até lá vamos ter que nos esforçar para aguentar este ritmo de crescimento, introduzindo novos programas.Outro projecto é, já nesta Primavera, refrescar a programação com outros programas, nomeadamente um sobre educação sexual, outro sobre a História dos Açores, um concurso juvenil, a descoberta de novos talentos musicais, um magazine popular e muitos programas produzidos nas diversas ilhas. A RTP-Açores passou a dispor de um equipamento de satélite móvel, que nos permite efectuar transmissões directas de qualquer ponto dos Açores sem recorrer à Portugal Telecom sem feixes, sem fibra óptica. É um equipamento que vamos tentar rentabilizar, fazendo-o circular pelas várias ilhas.Só assim se cumpre a verdadeira missão da RTP-Açores como televisão regional e como serviço público exclusivamente dedicado à população dos Açores.Não é fácil, porque cada açoriano tem um gosto próprio sobre como gostaria que fosse a sua televisão, por isso o desafio é aliciante.“comecei por baixo. Embora já tivesse experiênciade direcção (…) as minhas primeiras funções na RTP-Açores foram como redactor de base (…)”
Raquel Moreira
Public in "Atlantida Magazine", Março 2006.
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