Mais um dia de trabalho! Em frente à secretária a teclar no computador as rubricas habituais de um jornal diário. Toca o telefone e, muito admirada, apercebo-me que pediam para falar comigo. Alguém se lembrou de me surpreender pela positiva logo pela manhã! Ao que parece, tinha gostado e concordado com uma peça escrita há pouco tempo atrás e, pretendia felicitar-me pela ocorrência convidando-me ainda para uma troca de impressões sobre o conteúdo da mesma. Convite, que aceitei com imenso prazer. Sim, porque nada melhor em qualquer profissão, do que vermos o nosso trabalho reconhecido, o nosso esforço compensado. Assim, tenho a certezinha absoluta, quie houve pelo menos um "eu", a ler o meu trabalho. Modéstia à parte, um "eu" que lhe deu a devida atenção. Aí, entra o bichinho da auto-realização. Houve feedback, houve retorno e é precisamente este um dos objectivos do jornalismo. Escrever, escrever para niniguém ler... não. Obviamente, o interesse é que a peça publicada sirva para algo mais concreto, do que ficar o resto da semana como "sardinha em lata", empilhada nummonte de jornais que, provavelmente, irá para o lixo depois de feitas as palavras cruzadas. Não digo, que não haja um caso ou outro, no qual os mesmos não sejam religiosamente guardados, mas... Admitamos, que é raro!Ah! Não me lembrava. O jornal pode ainda ter outra finalidade. Numa casa de estudantes, quantasvezes a publicação não serviu para emalar os caixotes com petiscos da "terra natal", que os meninos recebem das mamães? Ou um casal que viaja muito e, que aproveita estes pequenos "poços de cultura" ambulantes, para embrulhar as caixas de ananases ou os frascos de doce de amora, que levarão de oferta aos amigos.Até já imagino os comentários: "O que achas? Vamos levar-lhes uns ananases, uma massinha sovada... que eles gostam muito". E lá se encaminham, num caso e noutro, para a fila do Aeroporto cheios de bagagem e esperando encontrar alguém conhecido para poderem dividi-la.Assim, podemos concluir que estes nossos "amiguinhos" para além de didácticos e informativos, muitas veses têm literalmente a função de "papel de embrulho". Resta-nos festejar quando tal não acontece.
Raquel Moreira
Public in "Diário dos Açores".
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