"Estou desconfiada que ele tem outra" ou, "não tenho nada de concreto, mas quero ver até onde ele vai", são normalmente as primeiras frases ditas por quem pretende testar a (in) fidelidade do seu parceiro amoroso! Caro leitor, ouviu (neste caso, leu) bem, sim senhor! A palavra confiança há muito que tem os dias contados. Se é que ainda não morreu, mas o corpo não foi encontrado! Não deixo de lhes dar, ou não, razão, pois realmente as fidelidades têm sido poucas ou nenhumas - é a palavra mais apropriada! A questão que se coloca é outra! A veracidade, ou não, de tudo isto!Partindo do princípio de que é tudo verdade, digam-me até que ponto um indivíduo é capaz de se dirigir a um canal de televisão- seja ele qual for- e dar a entender, possivelmente a todo o país, que talvez esteja a ser...- cuidado com a linguagem- "empalitado"! Sim, porque todos ficam a saber! Não é que isto seja um crime, pelo contrário. Crime é o que o parceiro lhe apronta "à grande e à francesa", sem sonhar sequer que tudo não passa de uma farsa forjada pelo companheiro(a), num ataque de insegurança ou de falta de auto-estima, para ver se este tem feito o "tranbalho de casa direitinho", como dizem os brasileiros. Por outro lado, imaginem uma situação. Um membro do casal faz o teste de fidelidade ao outro, mas nada acontece. o "testado" porta-se lindamente e farta-se de elogiar a sua cara-metade, que acaba por se sentir tão mal que nem coragem tem de lhe aparecer à frente. Segundo me consta, isso nunca aconteceu, mas nada é impossível! Agora digam-me: que moral tem a pessoa que quis fazer o teste de para que o outro lhe perdoe? Nenhuma! Sim, porque a pessoa em questão pode muito bem não admitir que desconfiem da sua palavra. E esta, hem?- como dizia o nosso querido e famoso Fernando Pessa (Deus o tenha)! Onde já se viu testar a fidelidade de alguém? Assim sendo, outra questão se põe: o que levará a pessoa a querer testar a outra? Será para saber se esta é capaz de fazer o que ela mesma já fez e não teve coragem de contar? Sejamos sinceros. Salvo no caso de grandes desconfianças ou do parceiro ter um passado duvidoso, quem está tão preocupado com a fidelidade do outro é porque também não é nenhum "santinho". O itenerário é sempre o mesmo. Tendo desconfianças ou não, a pessoa quer testar a outra, e nada mais fácil do que fazê-lo através de uma proposta de de trabalho. Com a crise em que vivemos! Imagine que é segurança e, ao dizer que costuma cobrar 75 euros ao dia é lhe apresentada uma proposta de 150 euros, por exemplo. Quem diria que não? Ainda não conheci ninguém! Apesar de se saber que, quando a esmola é grande o santo desconfia, a verdade é que, desconfiando ou não, as pessoas preferem e imaginam logo as notinhas outrora verdes à sua frente. E quem somos nós para criticar, nao é? Depois, a pergunta da praxe. Como está o relacionamento, pergunta á qual é raríssimo uma pessoa responder que é tudo um "mar de rosas". Todos sabemos que que a realidade é bem diferente. Infelizmente, qualquer relacionamento tem os seus pontos fracos. Aliás, como tudo na vida. No final, os namoros e casamentos acabam todos. Ou quem sabe, se for o caso, "primeiro atravessamos o Atlântico, gozamos a nossa viagem com tudo pago"- apesar da companhia, diga-se de passagem! -" eacabamos depois, que te parece?". Sim, porque, verdade seja dita, o que não falta por aí são pessoas capazes de aturar o(a) ex-traidor(a) para conhecerem um outro continente, ainda por cima grátis!Tenham santa paciência, meus amigos. É muita "tanga"- passe o termo para uma pessoa só! Além de que ninguém estaria disposto a ser exibido, no grande ecrã, a nível nacional- e não só- em roupa interior, traindo o(a) parceiro(a), em risco de ambas as famílias tomarem conhecimento confortávelmente sentadas no sofá. Que vergonha tanto para o - passe o termo novamente- "empalitador" como para o "empalitado"!Até que ponto isso poderia acontecer - a filmagem e respectiva exibição - sem que o apanhado tivesse conhecimento? Invasão da Privacidade, estas palavras dizem-lhe alguma coisa? Pois é, caros senhores e senhoras da nossa Praça, as indemnizações seriam tão chorudas a pontos de o calnal fechar as portas por período indeterminado!O mais lógico, na minha humilde opinião, é estarmos perante um grupo de actores do princípio ao fim! Uma gargalhada pegada? Lá isso acontece! Verdade ou não? Não sei, o que importa é que rir é a palavra-chave ao assistir a este género de programas. Este é um dos melhores remédios- e sabe bem!- que se podem tomar.Até há quem diga que evita doenças e prolonga a vida. Então, assim seja, se vivermos mais uns aninhos á conta de uns "empalitados" e de uns "empalitadores", tanto melhor!
Raquel Moreira
Public in "Açoriano Oriental", 2005.
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