terça-feira, 15 de janeiro de 2008

(In)Fidelidades

"Estou desconfiada que ele tem outra" ou, "não tenho nada de concreto, mas quero ver até onde ele vai", são normalmente as primeiras frases ditas por quem pretende testar a (in) fidelidade do seu parceiro amoroso! Caro leitor, ouviu (neste caso, leu) bem, sim senhor! A palavra confiança há muito que tem os dias contados. Se é que ainda não morreu, mas o corpo não foi encontrado! Não deixo de lhes dar, ou não, razão, pois realmente as fidelidades têm sido poucas ou nenhumas - é a palavra mais apropriada! A questão que se coloca é outra! A veracidade, ou não, de tudo isto!Partindo do princípio de que é tudo verdade, digam-me até que ponto um indivíduo é capaz de se dirigir a um canal de televisão- seja ele qual for- e dar a entender, possivelmente a todo o país, que talvez esteja a ser...- cuidado com a linguagem- "empalitado"! Sim, porque todos ficam a saber! Não é que isto seja um crime, pelo contrário. Crime é o que o parceiro lhe apronta "à grande e à francesa", sem sonhar sequer que tudo não passa de uma farsa forjada pelo companheiro(a), num ataque de insegurança ou de falta de auto-estima, para ver se este tem feito o "tranbalho de casa direitinho", como dizem os brasileiros. Por outro lado, imaginem uma situação. Um membro do casal faz o teste de fidelidade ao outro, mas nada acontece. o "testado" porta-se lindamente e farta-se de elogiar a sua cara-metade, que acaba por se sentir tão mal que nem coragem tem de lhe aparecer à frente. Segundo me consta, isso nunca aconteceu, mas nada é impossível! Agora digam-me: que moral tem a pessoa que quis fazer o teste de para que o outro lhe perdoe? Nenhuma! Sim, porque a pessoa em questão pode muito bem não admitir que desconfiem da sua palavra. E esta, hem?- como dizia o nosso querido e famoso Fernando Pessa (Deus o tenha)! Onde já se viu testar a fidelidade de alguém? Assim sendo, outra questão se põe: o que levará a pessoa a querer testar a outra? Será para saber se esta é capaz de fazer o que ela mesma já fez e não teve coragem de contar? Sejamos sinceros. Salvo no caso de grandes desconfianças ou do parceiro ter um passado duvidoso, quem está tão preocupado com a fidelidade do outro é porque também não é nenhum "santinho". O itenerário é sempre o mesmo. Tendo desconfianças ou não, a pessoa quer testar a outra, e nada mais fácil do que fazê-lo através de uma proposta de de trabalho. Com a crise em que vivemos! Imagine que é segurança e, ao dizer que costuma cobrar 75 euros ao dia é lhe apresentada uma proposta de 150 euros, por exemplo. Quem diria que não? Ainda não conheci ninguém! Apesar de se saber que, quando a esmola é grande o santo desconfia, a verdade é que, desconfiando ou não, as pessoas preferem e imaginam logo as notinhas outrora verdes à sua frente. E quem somos nós para criticar, nao é? Depois, a pergunta da praxe. Como está o relacionamento, pergunta á qual é raríssimo uma pessoa responder que é tudo um "mar de rosas". Todos sabemos que que a realidade é bem diferente. Infelizmente, qualquer relacionamento tem os seus pontos fracos. Aliás, como tudo na vida. No final, os namoros e casamentos acabam todos. Ou quem sabe, se for o caso, "primeiro atravessamos o Atlântico, gozamos a nossa viagem com tudo pago"- apesar da companhia, diga-se de passagem! -" eacabamos depois, que te parece?". Sim, porque, verdade seja dita, o que não falta por aí são pessoas capazes de aturar o(a) ex-traidor(a) para conhecerem um outro continente, ainda por cima grátis!Tenham santa paciência, meus amigos. É muita "tanga"- passe o termo para uma pessoa só! Além de que ninguém estaria disposto a ser exibido, no grande ecrã, a nível nacional- e não só- em roupa interior, traindo o(a) parceiro(a), em risco de ambas as famílias tomarem conhecimento confortávelmente sentadas no sofá. Que vergonha tanto para o - passe o termo novamente- "empalitador" como para o "empalitado"!Até que ponto isso poderia acontecer - a filmagem e respectiva exibição - sem que o apanhado tivesse conhecimento? Invasão da Privacidade, estas palavras dizem-lhe alguma coisa? Pois é, caros senhores e senhoras da nossa Praça, as indemnizações seriam tão chorudas a pontos de o calnal fechar as portas por período indeterminado!O mais lógico, na minha humilde opinião, é estarmos perante um grupo de actores do princípio ao fim! Uma gargalhada pegada? Lá isso acontece! Verdade ou não? Não sei, o que importa é que rir é a palavra-chave ao assistir a este género de programas. Este é um dos melhores remédios- e sabe bem!- que se podem tomar.Até há quem diga que evita doenças e prolonga a vida. Então, assim seja, se vivermos mais uns aninhos á conta de uns "empalitados" e de uns "empalitadores", tanto melhor!

Raquel Moreira
Public in "Açoriano Oriental", 2005.

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