Considera-se uma pessoa solitária, reservada, pessimista, que não gosta de ser assim, nem de falar de si. Preocupa-se muito com o futuro da filha, pois, como afirma “como não sei o que este lhe reserva”. Mesmo assim, ser pai é algo tão “maravilhoso e extraordinário”, que defende ser “impossível definir em poucas palavras. Quando viu a filha, chorou compulsivamente - relembra. É pessimista, porque quando reflecte acerca do que vem delineando no seu percurso de vida, ainda curto, constata que não tem razões para perfilhar qualquer tipo de optimismo. Assim, a questão coloca-o, repentinamente, perante “o desassossego do pessimismo, da desistência e do negativismo”- declara. Ricardo Barros diz ainda, “com uma ponta de ironia magoada, se o mundo acabasse, tornar-me-ia livre”- desabafa.
Natural de Matosinhos, nasceu a 11 de Abril de 1967 e é nativo de Carneiro, encarando a astrologia como “um perfeito disparate”. Filho de Alfredo Barros, Professor Universitário e Pintor, e de Liliana Barros, Funcionária Pública, tem apenas uma irmã mais velha o que afirma ser “suficiente”. Ricardo Barros conta que sempre foi o mais reservado e “em criança manifestava um temperamento dócil. Era calmo e observador, e diziam os mais velhos que tinha uma habilidade invulgar para desenhar” - relembra. Se o mundo acabasse, “passava o último dia com a família”.Episódio que “decididamente” marcou a sua infância, foi o incêndio e consequente naufrágio de um petroleiro na década de 70”, pois conta ter tido o privilégio de assistir a todos os detalhes dessa “grande tragédia humana e ambiental, tranquilamente, da varanda” de sua casa”- relembra.Nos tempos livres, sempre que pode, aproveita para ouvir música e ler - revela. Gosta de compositores como “Brahms, Mahler, Bartók, essencialmente, música Sinfónica, Coral e de Câmara”- conta. Falando em Literatura, é amante da “tragédia sofocliana” e admirador de autores como “Miguel Torga, Dante (Poesia), Goethe (Teatro) e os romancistas Kafka e Scliar”, entre outros.Avança também gostar muito de viajar, elegendo a Europa como o seu continente predilecto. “Gostava ainda de conhecer os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil”- admite.Decisão AcadémicaComeçou a trabalhar cedo, tendo experimentado diversos sectores profissionais “desde a litografia à publicidade e do restauro de telas ao ensino”- esclarece.Quanto à vinda para os Açores, conta que sempre o seduziu o “desejo de mudar de vida”, mas nunca soube muito bem em que sentido. Era um desejo de mudança e de “fugir do caos urbano”. O isolamento associado, simultaneamente, à “tranquilidade e à beleza natural”, às semelhanças culturais e históricas fez dos Açores uma possibilidade, que ponderou durante três a quatro anos, visto já conhecer a região “através da TV e do que os meus pais me contavam, pois vinham, muitas vezes, ao Arquipélago em tempos de férias”- explica.O artista afirma nunca ter tido “qualquer dúvida sobre as minhas opções académicas”. Frequentou o ensino secundário na, então, Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis. Tendo mais tarde, ingressado no curso de Design de Equipamento da Escola Superior de Artes e Design em Matosinhos, onde em 1992 concluiu a licenciatura.A ArteRicardo Barros conta que sempre gostou de desenhar. Talvez por influência do “pai, que nesse tempo pintava numa divisão da casa, que transformou em atelier”. Mas a paixão pela pintura, ganhou força quando em 87 integrou uma equipa de restauro de telas financiada pela Santa Casa da Misericórdia em Matosinhos, onde teve a oportunidade de participar na “recuperação de imensas obras datadas do séc. XVIII e XIX, algumas de autores anónimos” e o que lhe possibilitou uma grande proximidade não só com a “pintura a óleo, mas também com a atmosfera envolvente da oficina de pintura”- explica.O Pintor defende que os artistas que legaram ao tempo a sua obra estão de algum modo “enraizados à sociedade a que pertencem”. De qualquer forma, não sabe de que modo se pode inserir o seu processo criativo ou as suas obras na sociedade e na cultura portuguesas. No entanto, antes de fazer qualquer referência aos temas que tem explorado, avança: “parece-me importante reflectir em breves palavras, sobre o que é, na minha opinião, a arte”- comenta. Está certo que a questão da definição da arte compete justamente aos teóricos. “A mim, compete-me fazê-la, com humildade, sem grandes expectativas e com o mais profundo respeito pelo passado”- revela. Então, arriscando uma definição simples, vê-a, por um lado, como uma “manifestação libertadora, que nos resgata da miséria da vida”. Por outro, como uma “manifestação de sublimação da inteligência humana. É um santuário ou um espaço de culto”. E talvez surja desta percepção a sua necessidade de pintar, que é para Ricardo Barros um “ausentar da realidade e da banalidade”. Por isso sinto-me um romântico”- desabafa.Ricardo Barros avança também que o Romantismo é um movimento filosófico, literário e artístico que se iniciou na Alemanha nos finais do século XVIII, florescendo em toda a Europa nos primeiros decénios do século XIX e que se manifestou esporadicamente durante todo o século XX”- relata. Contudo, não se situa numa qualquer vertente neo-romântica, circunstancial ou efémera, mas sim, no quadro de um “romantismo tardio”.A Mitologia Grega é, para o criador, uma “referência e uma fonte de inspiração” extraordinariamente rica, “capaz de despertar ainda hoje uma forte emoção estética” - comenta. Mas não é propriamente o racionalismo estético, característica específica do génio grego, que o seduz, pois procura “somente beber da cultura helénica os mais preciosos ensinamentos e o que têm de mais belo e consolador”- explica.A pintura, em termos operativos, obedece a regras técnicas de extrema complexidade, que exigem uma “aprendizagem longa e especializada”. “É o que penso e creio que não penso mal”- salienta. No entanto, este sistema de regras e de leis não deve estabelecer limites na liberdade do criador. Vendo-o como um “inteligente e sensível executante e dotado de honestidade intelectual”, acrescenta ainda que este deverá ter a maleabilidade de se “ajustar a diferentes processos de execução, com recursos técnicos e estilísticos variados, numa perspectiva enriquecedora”- explica. Na sua opinião, a riqueza do artista é “a sua cultura, o amor que sente pelos clássicos e o respeito pelos seus contemporâneos”.E é com base nestes valores que se afiguram os caminhos e se aprofundam os conhecimentos técnicos. Neste contexto afirma que não é fiel a uma só técnica, pois procura, sim, ser “o mais ecléctico possível no campo da experimentação”.Quanto à situação da Arte actualmente, segundo Ricardo Barros, durante o séc. XX a pintura atravessou momentos de “profunda degenerescência, tendo-se esvaziado de todo o conteúdo humano e limitado a um instinto estético de grande pobreza e frieza técnica”- lamenta. Foram momentos de “esterilidade poética e formal” de tal intensidade, que “questionamos se tenderá a arte a desumanizar-se” e qual o seu futuro. Mas essa miséria artística e intelectual a que se refere, não impediu que surgissem grandes nomes, tais como “Edward Hopper, Otto Dix, Lucian Freud”, entre muitos outros. Presentemente, defende a existência de “sinais de retorno a uma figuração de qualidade”. Nesta matéria, o artista encara os Açores como “um reflexo do que se passa no mundo”- sublinha.A arte, interpreta-a como um sistema triangular, surgindo “no primeiro vértice o artista, no segundo, o público e no terceiro, a crítica”. Ricardo Barros lembra também que não pode existir arte sem público nem arte sem crítica. O público é necessário para que se estabeleça a comunicação, sendo “a crítica uma operação necessária ao próprio acto de criação” que permite consolidar a obra e o artista num contexto específico. Na sua opinião, “existem galerias suficientes”, acrescentando que “o mal está no excesso de teoria e de crítica”. O artista chega a afirmar que “há pouca criação artística de qualidade e pouco público”.A seu ver, criou-se um desajustamento e, em Portugal, talvez esteja em declínio o interesse pela natureza da arte. Ricardo Barros acrescenta também que “está a criar-se um modelo de sociedade que privilegia o saber científico e tecnológico, cujo sistema educativo não promove o conhecimento e o gosto pela arte enquanto valores estruturantes na formação cultural do indivíduo”- critica. O artista vai ainda mais longe dizendo que, neste contexto, “cabe às instituições públicas e privadas, àquelas que estão já implementadas no mercado, em número suficiente, o dever de levar a arte à própria vida quotidiana e a função educativa de desenvolver uma acção pedagógica no homem comum, que vive sem arte e vive mal, no sentido de lhe dar a conhecer a arte do nosso tempo, oferecendo simultaneamente plataformas com boa visibilidade e receptividade à divulgação de novos artistas, garantindo assim a criação de novos públicos, mais cultos e esclarecidos”- explica. Descreve-se perante a vida, como um misantropo, pois sente-se um pouco “céptico em relação à sinceridade das relações sociais”- explica. No entanto, a profissão obriga-o a ser “o oposto do Misantropo, visto ser professor, um comunicador permanente - contradiz. A própria situação, em si, é geradora de um certo “conflito interior”, para o artista, pois tem constantemente de mostrar algo que não é. Apesar de misantropo, também admira o ascetismo e os seus praticantes – “os que me são opostos”- conclui.
Natural de Matosinhos, nasceu a 11 de Abril de 1967 e é nativo de Carneiro, encarando a astrologia como “um perfeito disparate”. Filho de Alfredo Barros, Professor Universitário e Pintor, e de Liliana Barros, Funcionária Pública, tem apenas uma irmã mais velha o que afirma ser “suficiente”. Ricardo Barros conta que sempre foi o mais reservado e “em criança manifestava um temperamento dócil. Era calmo e observador, e diziam os mais velhos que tinha uma habilidade invulgar para desenhar” - relembra. Se o mundo acabasse, “passava o último dia com a família”.Episódio que “decididamente” marcou a sua infância, foi o incêndio e consequente naufrágio de um petroleiro na década de 70”, pois conta ter tido o privilégio de assistir a todos os detalhes dessa “grande tragédia humana e ambiental, tranquilamente, da varanda” de sua casa”- relembra.Nos tempos livres, sempre que pode, aproveita para ouvir música e ler - revela. Gosta de compositores como “Brahms, Mahler, Bartók, essencialmente, música Sinfónica, Coral e de Câmara”- conta. Falando em Literatura, é amante da “tragédia sofocliana” e admirador de autores como “Miguel Torga, Dante (Poesia), Goethe (Teatro) e os romancistas Kafka e Scliar”, entre outros.Avança também gostar muito de viajar, elegendo a Europa como o seu continente predilecto. “Gostava ainda de conhecer os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil”- admite.Decisão AcadémicaComeçou a trabalhar cedo, tendo experimentado diversos sectores profissionais “desde a litografia à publicidade e do restauro de telas ao ensino”- esclarece.Quanto à vinda para os Açores, conta que sempre o seduziu o “desejo de mudar de vida”, mas nunca soube muito bem em que sentido. Era um desejo de mudança e de “fugir do caos urbano”. O isolamento associado, simultaneamente, à “tranquilidade e à beleza natural”, às semelhanças culturais e históricas fez dos Açores uma possibilidade, que ponderou durante três a quatro anos, visto já conhecer a região “através da TV e do que os meus pais me contavam, pois vinham, muitas vezes, ao Arquipélago em tempos de férias”- explica.O artista afirma nunca ter tido “qualquer dúvida sobre as minhas opções académicas”. Frequentou o ensino secundário na, então, Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis. Tendo mais tarde, ingressado no curso de Design de Equipamento da Escola Superior de Artes e Design em Matosinhos, onde em 1992 concluiu a licenciatura.A ArteRicardo Barros conta que sempre gostou de desenhar. Talvez por influência do “pai, que nesse tempo pintava numa divisão da casa, que transformou em atelier”. Mas a paixão pela pintura, ganhou força quando em 87 integrou uma equipa de restauro de telas financiada pela Santa Casa da Misericórdia em Matosinhos, onde teve a oportunidade de participar na “recuperação de imensas obras datadas do séc. XVIII e XIX, algumas de autores anónimos” e o que lhe possibilitou uma grande proximidade não só com a “pintura a óleo, mas também com a atmosfera envolvente da oficina de pintura”- explica.O Pintor defende que os artistas que legaram ao tempo a sua obra estão de algum modo “enraizados à sociedade a que pertencem”. De qualquer forma, não sabe de que modo se pode inserir o seu processo criativo ou as suas obras na sociedade e na cultura portuguesas. No entanto, antes de fazer qualquer referência aos temas que tem explorado, avança: “parece-me importante reflectir em breves palavras, sobre o que é, na minha opinião, a arte”- comenta. Está certo que a questão da definição da arte compete justamente aos teóricos. “A mim, compete-me fazê-la, com humildade, sem grandes expectativas e com o mais profundo respeito pelo passado”- revela. Então, arriscando uma definição simples, vê-a, por um lado, como uma “manifestação libertadora, que nos resgata da miséria da vida”. Por outro, como uma “manifestação de sublimação da inteligência humana. É um santuário ou um espaço de culto”. E talvez surja desta percepção a sua necessidade de pintar, que é para Ricardo Barros um “ausentar da realidade e da banalidade”. Por isso sinto-me um romântico”- desabafa.Ricardo Barros avança também que o Romantismo é um movimento filosófico, literário e artístico que se iniciou na Alemanha nos finais do século XVIII, florescendo em toda a Europa nos primeiros decénios do século XIX e que se manifestou esporadicamente durante todo o século XX”- relata. Contudo, não se situa numa qualquer vertente neo-romântica, circunstancial ou efémera, mas sim, no quadro de um “romantismo tardio”.A Mitologia Grega é, para o criador, uma “referência e uma fonte de inspiração” extraordinariamente rica, “capaz de despertar ainda hoje uma forte emoção estética” - comenta. Mas não é propriamente o racionalismo estético, característica específica do génio grego, que o seduz, pois procura “somente beber da cultura helénica os mais preciosos ensinamentos e o que têm de mais belo e consolador”- explica.A pintura, em termos operativos, obedece a regras técnicas de extrema complexidade, que exigem uma “aprendizagem longa e especializada”. “É o que penso e creio que não penso mal”- salienta. No entanto, este sistema de regras e de leis não deve estabelecer limites na liberdade do criador. Vendo-o como um “inteligente e sensível executante e dotado de honestidade intelectual”, acrescenta ainda que este deverá ter a maleabilidade de se “ajustar a diferentes processos de execução, com recursos técnicos e estilísticos variados, numa perspectiva enriquecedora”- explica. Na sua opinião, a riqueza do artista é “a sua cultura, o amor que sente pelos clássicos e o respeito pelos seus contemporâneos”.E é com base nestes valores que se afiguram os caminhos e se aprofundam os conhecimentos técnicos. Neste contexto afirma que não é fiel a uma só técnica, pois procura, sim, ser “o mais ecléctico possível no campo da experimentação”.Quanto à situação da Arte actualmente, segundo Ricardo Barros, durante o séc. XX a pintura atravessou momentos de “profunda degenerescência, tendo-se esvaziado de todo o conteúdo humano e limitado a um instinto estético de grande pobreza e frieza técnica”- lamenta. Foram momentos de “esterilidade poética e formal” de tal intensidade, que “questionamos se tenderá a arte a desumanizar-se” e qual o seu futuro. Mas essa miséria artística e intelectual a que se refere, não impediu que surgissem grandes nomes, tais como “Edward Hopper, Otto Dix, Lucian Freud”, entre muitos outros. Presentemente, defende a existência de “sinais de retorno a uma figuração de qualidade”. Nesta matéria, o artista encara os Açores como “um reflexo do que se passa no mundo”- sublinha.A arte, interpreta-a como um sistema triangular, surgindo “no primeiro vértice o artista, no segundo, o público e no terceiro, a crítica”. Ricardo Barros lembra também que não pode existir arte sem público nem arte sem crítica. O público é necessário para que se estabeleça a comunicação, sendo “a crítica uma operação necessária ao próprio acto de criação” que permite consolidar a obra e o artista num contexto específico. Na sua opinião, “existem galerias suficientes”, acrescentando que “o mal está no excesso de teoria e de crítica”. O artista chega a afirmar que “há pouca criação artística de qualidade e pouco público”.A seu ver, criou-se um desajustamento e, em Portugal, talvez esteja em declínio o interesse pela natureza da arte. Ricardo Barros acrescenta também que “está a criar-se um modelo de sociedade que privilegia o saber científico e tecnológico, cujo sistema educativo não promove o conhecimento e o gosto pela arte enquanto valores estruturantes na formação cultural do indivíduo”- critica. O artista vai ainda mais longe dizendo que, neste contexto, “cabe às instituições públicas e privadas, àquelas que estão já implementadas no mercado, em número suficiente, o dever de levar a arte à própria vida quotidiana e a função educativa de desenvolver uma acção pedagógica no homem comum, que vive sem arte e vive mal, no sentido de lhe dar a conhecer a arte do nosso tempo, oferecendo simultaneamente plataformas com boa visibilidade e receptividade à divulgação de novos artistas, garantindo assim a criação de novos públicos, mais cultos e esclarecidos”- explica. Descreve-se perante a vida, como um misantropo, pois sente-se um pouco “céptico em relação à sinceridade das relações sociais”- explica. No entanto, a profissão obriga-o a ser “o oposto do Misantropo, visto ser professor, um comunicador permanente - contradiz. A própria situação, em si, é geradora de um certo “conflito interior”, para o artista, pois tem constantemente de mostrar algo que não é. Apesar de misantropo, também admira o ascetismo e os seus praticantes – “os que me são opostos”- conclui.
Raquel Moreira
Public in revista "Açorianissima", 2004.
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