Simpática e divertida, Célia Carvalho ama a vida e tudo o que esta nos pode proporcionar. Segundo a psicóloga, “a vida é maravilhosa, apenas temos de valorizar os momentos bons e minimizar os piores, pois acredito piamente que podemos ser felizes”. É tudo “um grande desafio”, onde nunca sabemos qual a próxima etapa. “É como aqueles jogos dos miúdos, que têm sempre níveis diferentes. Quando acaba um desafio vem logo outro a seguir e nunca sabemos qual é, e isso é que torna a vida interessante”- explica. Avança ainda que se soubéssemos de antemão o que iria ser o nosso futuro, “isto não teria piada nenhuma, pois passaríamos a saber de antemão o que fazer e perdia um pouco deste dinamismo e deste mistério intrínseco à vida que acho fascinante. Adoro viver”- sublinha.Natural de Coimbra, está nos Açores há cerca de oito anos, pois casou com um açoriano. “Conhecemo-nos em Palma de Maiorca, mas ele também estudou em Coimbra”. Terminaram os estudos e resolveram estabelecer-se em São Miguel. “Já tenho um filho nascido cá e espero, que este próximo também seja micaelense”- afirma a sorrir, a anunciar que o segundo bebé vem já a caminho.Considera-se uma pessoa “irreverente perante a vida e extremamente activa e às vezes pago um pouco caro, por isso”- afirma. Muito brincalhona e emotiva, chega mesmo a admitir, que pensa “mais com o coração do que com a cabeça”. Aquilo a que dá mais valor é a “amizade, é algo que prezo muito”- explica.O que mais aprecia nos outros é “ a sinceridade” e, por conseguinte “a mentira é o que mais dificuldade tenho em tolerar”- confessa.Tem duas irmãs que adora. Uma faz companhia aos país em Coimbra, a outra “no fundo, a minha melhor amiga” vive em São Miguel. “Ela é o meu braço direito, o meu suporte. Sempre fomos muito unidas, apesar dos sete anos de diferença que temos uma da outra”- revela.Gosta de famílias grandes e lamenta não ter mais irmãos, pois “a família é fundamental”. Ao mesmo tempo, diz que o seu desejo é ter mais filhos”- esclarece.Nascida a 27 de Fevereiro de 1969, é nativa do signo de Peixes. Não acredita nos horóscopos das revistas, mas “é como diz o outro: não acredito em bruxas, mas que as há... há”. Continuando, “acho engraçado ver as semelhanças e particularidades, que têm as pessoas nascidas na mesma data ou para quem, a posição astrológica é comum”- comenta.Quanto ao facto de haver pessoas que se regem pela Astrologia, na sua opinião de psicóloga, afirma não ser muito defensora da vida como já estando pré-determinada. O tal destino, o fado, para o qual o povo português tem muita tendência, por questões culturais. Simultaneamente, considera importante “acreditar em alguma coisa, pois é o que nos faz continuar e ultrapassar certas e determinadas dificuldades. Mas, o fundamentalismo é algo terrível, porque limita o nosso campo de acção”- conclui.Tempos LivresGosta muito de ler e de pintar também, “embora não faça nada de jeito. É só uma forma de descarregar a adrenalina”- esclarece.“Ler é dos meus hobbies preferidos, principalmente romances. Como autores preferidos destaca Milan Kondera. “Já devorei todos os livros dele, essencialmente a “Insustentável Leveza do Ser”, que me marcou bastante e que li por várias vezes”- conta.Alem de Kondera, gosta imenso da “maneira de escrever de Saramago, de António Lobo Antunes... e fiquei muito surpreendida com um dos últimos romances que li, “O Equador” de Miguel Sousa Tavares”, pois, na sua opinião, “está muito bem escrito”- salienta. Quando era pequena quis ser várias coisas “desde Bombeira a Hospedeira”- recorda.A ProfissãoNo sétimo ano decidiu ser psicóloga, para “perceber o mistério da mente humana” e, hoje em dia, “acho que tomei a decisão certa”.Optou pela Psicologia, porque sempre foi “fascinada pelo desconhecido e a mente humana continua ser uma caixinha negra”. Esta possibilidade de “desvendar novos caminhos e de descobrir novas coisas no comportamento humano e explicar a sua diversidade, sempre me atraiu bastante”- revela. Isto, para além do cliché normal do “poder ajudar o outro e estar pronto a ouvir e dar conselhos, o que faria depois de uma forma fundamentada”- explica.Costuma dizer que, se não fosse psicóloga, era psicóloga, pois “não me imagino a fazer mais nada na vida. A sério, se, não pudesse ter sido psicóloga, penso que teria enveredado pela Medicina, pois também é uma maneira de ajudar os outros. Aliás, era esse o sonho da minha mãe!”- relembra. Mas, conta também que, apesar disso, a mãe tem a apoiado em todo o seu percurso académico. Aliás, “os meus pais têm tido sempre um papel muito importante e têm-me apoiado imenso em todas as minhas decisões”- evidencia.A profissão é, para Célia Carvalho, das coisas que “mais me identifica enquanto pessoa”. A conimbricense defende que é fundamental gostarmos do que fazemos. “Um colega meu da faculdade, dizia uma frase, com a qual me identifico muito, e que era assim: Sou uma pessoa muito sortuda, porque adoro o que faço e ainda me pagam para o fazer” – relembra. Ao mesmo tempo, Célia Carvalho reconhece a família como sendo tão ou mais importante do que a profissão. Resta “saber balancear as coisas no dia-a-dia”- enfatiza.Conjugar a vida pessoal com a profissional, “às vezes não é nada fácil, principalmente quando a profissão exige muito de nós”- explica. Mas, a psicóloga avança que, vale a pena e “apesar de tudo, o melhor investimento que fazemos são os filhos mesmo fazendo às vezes das tripas coração”- explica. Célia Carvalho defende também tratar-se um pouco da versão quantidade versus qualidade. “Se eu não estiver bem comigo própria não vou ser uma boa mãe, nem esposa...” – alerta, sublinhando ainda que o segredo está em “estabelecer prioridades”.Além de dar consultas e de leccionar na Universidade dos Açores, participa também num Projecto de Investigação de Genética Psiquiátrica, cujo objectivo é descobrir – “se é que algum dia vamos conseguir, pois trata-se de um processo muito moroso - se existe uma base genética para os estudos psiquiátricos da esquizofrenia e da doença bipolar”- esclarece.O Projecto está, de momento, sediado na Universidade de Washington, onde estão os investigadores principais. Célia Carvalho salienta também que o estudo é feito com população açoriana - não por haver mais esquizofrenia cá, do que em outros sítios, pelo contrário até há menos – porque, como em todas as investigações genéticas é muito importante estudar o maior número possível de elementos da família. “E aqui temos esta facilidade, pois há uma homogeneidade muito grande em termos familiares, que nos permite fazer uma árvore genealógica bastante completa. Mesmo, os que estão emigrados em sítios chave, como a Nova Inglaterra ou o Canadá, conseguimos contactar, devido à existência de equipas em diversos sítios - explica.Após terminar o curso, Célia Carvalho conta que não tinha grandes projectos, pois “não faço planos a longo prazo. É mais o deixa ver o que acontece”. Como já referiu, pensa “mais com o coração do que com a cabeça”. Mas se surgir alguma oportunidade, não diz que não, “pois adoro viajar e há muitos locais que gostaria de visitar”, sendo a Europa, o seu continente de eleição. Mais, especificamente, “a Itália é o meu destino de sonho”- confessa. Isto, para “além de locais exóticos como a China, o Egipto, sítios com uma cultura diferente da nossa, o que é muito interessante”- salienta. A psicóloga acrescenta ainda que também é importante conhecermos a nossa cultura, “acho que não faz muito sentido conhecermos as outras culturas, sem sabermos quais as nossas raízes”- defende.Célia Carvalho conta já ter estado em Amesterdão, na Holanda e “gostei imenso”. Gostava de viajar mais, talvez quando acabar o Doutoramento e tiver a vida um pouco mais estabilizada. Mas, desde que se envolveu no projecto com os Estados Unidos, diz que nunca pensou ficar tão “farta de aviões e de malas”. Antes, “andar de avião era, para mim, apenas recreio”. Desde que reside nos Açores e que colabora com a Universidade de Washington, vê-se obrigada a viajar muitas vezes, mas “sempre por motivos profissionais”- lamenta. De modo, que “quando chegam as férias, prefiro ficar “de barriga para o ar” em casa e descansar”- esclarece.InfânciaDa infância, recorda-se de ser “ hiperactiva e muito traquinas”. Era raro o dia em que a mãe não tivesse de lhe dar “uma palmada”- comenta sorridente.Revela ainda que “era uma frustração para mim o não pensar, o agir antes de pensar e depois fazia muitos disparates”- confessa. Célia Carvalho conta também que tem sete anos de diferença da sua irmã mais nova, precisamente porque “a minha mãe tinha medo de ter outra filha igual a mim. Cheguei a ir ao Hospital levar pontos na cabeça... Era mesmo uma “pestinha””- relembra a rir.Segundo a psicóloga, a mãe já tinha medo de a mandar fazer algum recado, pois “das duas uma, ou me esquecia do que era para comprar e perdia o dinheiro, ou comprava, mas perdia as compras e chegava a casa sempre de mãos vazias”- recorda bem humorada. Chegou a estar num colégio em Fátima, talvez “uma tentativa dos meus pais de melhorar a minha índole” e, mesmo assim, “todos os dias me chateava com a minha mãe”- admite.Se o mundo acabasse, “apanhava um avião e ia junto com o meu marido e o meu filho ver a minha família ao continente, para estarmos todos juntos”- confessa a psicóloga. Não vale a pena termos medo da morte, pois “é algo que não se controla”. O objectivo é aproveitarmos a vida ao máximo. Célia Carvalho costuma dizer que “se a morte chegar amanhã, que me encontre de barriga cheia”. Explica ainda que não se trata de viver cada dia como se fosse o último, pois isso levaria a actos de desespero e pouco pensados, mas sim “ter a certeza que se faz tudo o que é possível fazer num dia”. Se pudesse mudar alguma coisa na sua vida, “fazia com que os dias tivessem quarenta e oito horas”- salienta. Célia Carvalho detesta quando as pessoas pensam, que por ser psicóloga está sempre a analisar as atitudes e reacções dos outros, “odeio isso, penso que não tem nada a ver”. É um pouco a “mania” de que os psicólogos o são, vinte e quatro horas por dia. “Sou Psicóloga, só quando estou a ser psicóloga. Com os amigos, definitivamente, sou amiga e prezo muito a amizade. Antes de mais, sou humana”- lembra. A psicóloga acrescenta ainda que não tenta analisar ninguém, pelo contrário “há alturas em que até nós precisamos de conversar e de ser entendidos. Isso de pensar que estamos sempre a entender os outros é, realmente, um pouco desagradável”- conclui.
Raquel Moreira
Public in revista "Açorianissima", 2004.
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