Pedro Mota
"Ainda existem muitas diferenças e muita diversidade entre as culturas de vários povos do mundo e no fundo é essa riqueza que quero mostrar às pessoas", é este objectivo de Pedro Mota, que lança no próximo dia 25 do corrente mês o seu último livro, intitulado "Quatro Ventos, Sete Mares", que dá também o nome à exposição de fotografia que inaugura na mesma data. Segundo o artista, nivelar o mundo, que está numa "globalização acelerada" pode ser "muito mau", pois podemos "perder muito" neste nivelamento que muitas vezes é feito "por baixo".
Viajou e visitou 35 culturas diferentes acompanhado apenas de algum papel e de uma máquina fotográfica. E são estas experiências e vivências com povos e etnias totalmente diferentes da nossa, que Pedro Mota, um viajante de longo curso, nos apresenta no seu livro "Quatro Ventos, Sete Mares". Destinos como a Rota da Seda, a Rota das Especiarias, o Pacífico Sul e a Papua, a Índia e Sri Lanka, o Alto Árctico e a Sibéria, o Tibete e a Mongólia Exterior, o refazer da expedição de Ivens e Capelo (mapa cor-de-rosa), o Sudão e Madagáscar, a Amazónia e a Patagónia, Timor e São Tomé, entre outros foram retratados na sua última obra, que será lançada conjuntamente com uma exposição, com o mesmo nome, onde o artista nos mostra as diversas fotografias que tirou nestas viagens.
Há mais de 20 anos, que Pedro Mota recolhe contos e lendas junto dos povos que visita e com os quais convive, partilhando com o público em geral a sua visão conciliadora e de respeito pelas tradições e pelos diferentes modos de vida humana no nosso planeta.
Nesta exposição, a incidência de povos ou territórios com histórias convergentes resulta da união de influências entre as várias culturas, dando origem a uma permuta enriquecedora com culturas, que funcionam como especiarias na cultura portuguesa, como intensificadores de "sabor" da cultura lusa.
Pedro Mota, investigador na área da Astrofísica, escritor e fotógrafo, nasceu em Ponta Delgada e vive em Lisboa há 19 anos, desde que foi para a Universidade. Formado em Física Teórica, com especialidade em Astrofísica, Pedro Mota anda desde há cerca de 20 anos pelo mundo a "recolher contos tradicionais, lendas e rituais, principalmente de povos que só têm oralidade". Explica fazer uma colectânea e depois escreve, baseando-se nestes contos e na sua própria pesquisa. Como geralmente fica "muito tempo" com os povos que visita, o autor acaba por ter já um "'insight' grande" em relação à cultura dos mesmos, e começa a "fazer" fotografia. Isto, pois, esclarece, "são pessoas que conheço, com quem convivi durante bastante tempo e com as quais já tinha alguma intimidade, muitas vezes até amizade".
Mas, sublinha, trata-se de uma fotografia "muito próxima e muito íntima", daí o fazer "muitos retratos" e um retracto muito próximo, em relação a estes povos de diferentes culturas.
Tudo começou com o seu "interesse" pelas viagens e pela escrita, explica, acrescentando que as suas viagens são a "materialização de sonhos, que nasceram dos livros". Porém, a "tónica essencial" está na parte literária, pois é sócio da livraria "Ler Devagar", em Lisboa e está ligado a um grupo de poesia, que já existe há oito anos, o "Grupo da Poesia Vadia". O suster-se com um pé nas ciências exactas e na Astrofísica e o outro na poesia, já vem de longa data, acentua, lembrando ter participado com mais duas pessoas, na elaboração num "livro sobre os Romeiros de São Miguel".
Pedro Mota acrescenta ter também um livro de poesia, além da obra que irá lançar no dia 25 de Setembro nos Açores, junto com a Exposição "Quatro Ventos, Sete Mares", que dá o nome ao livro, a oitava ou nona que realiza nos Açores.
"Quatro Ventos, Sete Mares" afirma ser um livro de fotografia, mas em que a parte literária tem uma "grande ênfase", explicando que os seus livros fazem uma "crítica" sobre a parte literária, que considera ser "bastante simpática".
O autor revela ainda ter em mãos um romance de cariz etnográfico intitulado Tempo Vazio", a lançar talvez em inícios de 2009. A história desenrola-se em várias ilhas dos Açores como São Miguel, a Terceira, o Faial e o Pico, pois diz ser um "açoriano das ilhas todas", entre os anos 20 e os anos 60 e ao longo de "duas gerações".
Questionado sobre se podemos considerar este romance um "Equador" nos Açores, na vertente do conhecimento cultural que a obra contém, o autor afirma ser uma questão "interessante", que já lhe tinha "cruzado o espírito", acabando por reconhecer no Equador", o mesmo grande "cuidado" que teve na sua pesquisa. Isto, apesar de reconhecer ser ainda um "neófito" nestas artes, enquanto que a Miguel Sousa Tavares coube a sorte de ter uma "grande carga de genes literários", sendo filho de quem é. Curiosamente, quando leu o "Equador" estava em São Tomé, relata, avançando que tudo o que pode prometer, é que o livro estará "fundamentado". Pedro Mota salienta ter também, por parte da sua editora, uma oferta para avançar com "dois livros de contos tradicionais", projecto que ainda está numa fase "inicial".
A fotografia surgiu "naturalmente", quase no princípio das suas viagens, pois apercebeu-se que, além dos contos tradicionais e das lendas, "a imagem em si contava a história daquele povo e era importante aquele exotismo para ajudar as pessoas a criarem uma semiótica diferente, dado que as culturas podem ser tão diferentes".
Passou algum tempo no Tibete, na Amazónia, em Madagáscar, no Sudão, no Vietname, na Sibéria, mas destino de que gostou mais foi o Tibete, pela "grande força e intensidade humana e espiritual" que viveu. Uma das viagens a que dá um maior destaque é a ida ao Alto Ártico, até ao Pólo Norte, com os esquimós, "pela dureza e pelas condições extremas". Outra viagem, também muito "rica" em termos de contactos com povos diferentes, foi a Rota da Seda, além da viagem de Roberto Ivens e Vergílio Capelo (mapa cor-de-rosa), em que fez uma "grande parte a pé" pelo deserto do Caoari. O tempo que passou na Nova Guiné é também de lembrar, porque esta constitui a "última fronteira pelo exotismo e é uma viagem ao passado em que nada está estruturado, nada é 'à turista' e há algum perigo". Trata-se mesmo de uma zona de "exploração" e não, de um "paraíso para os antropólogos".
É já naquele ponto, que já está "quase a branco" nos mapas e "a partir daqui há monstros"- adianta, bem disposto.
A exposição subentende o livro e mostra algumas das suas fotografias, porque este é "muito rico em termos fotográficos"e no fundo é uma "súmula" seleccionada de 20 anos de viagens pelo mundo. Pedro Mota revela também que este contém alguns elementos muito "exóticos" e situações em que participou em alguns "rituais quase únicos no mundo", ou que muito poucos ocidentais tiveram a "sorte ou o privilégio" de poder assistir até hoje, em virtude de várias vicissitudes. "São 20 anos para além do limite desses 20 anos"- afirma, lembrando que a exposição já esteve Padrão dos Descobrimentos em Lisboa, no Porto, irá estar em Ponta Delgada e; mais tarde na Nova Inglaterra e nos Estados Unidos, a convite do Consulado de Portugal em New Bedford. Pedro Mota caracteriza-a ainda como uma "apologia da diversidade humana ao longo do mundo" e retracta exactamente essa diversidade. "O mundo ainda não é monocórdico, ainda não é a Coca-Cola por todo o lado"- afirma, avançando que apesar de esta (Coca-Cola) lá estar, ainda existem "muitas diferenças e muita diversidade entre as culturas de vários povos do mundo". E é esta riqueza que deseja mostrar às pessoas e que "não se pode perder", é este o seu objectivo. "O que pretendo é tentar contribuir para as pessoas se aperceberem da grande riqueza, que é essa diversidade e terem isso em atenção". Sim, porque nivelar o mundo, que está numa "globalização acelerada", pode ser "muito mau", porque podemos perder muito neste nivelamento que, muitas vezes, é feito "por baixo".
Sobre as suas viagens e o intercâmbio cultural que estas proporcionam, Pedro Mota avança existirem diferentes maneiras dos povos se "adaptarem" ao meio ambiente onde vivem. Este viajante de longo curso constatou ainda que o exotismo, que existe numa primeira abordagem, "desaparece quando nos habituamos a ele", o que normalmente acontece no prazo de uma semana. "Ao fim de uma semana, já não vejo que as pessoas tenham um prato de madeira ou conchas enfiados num lábio, já não consigo ver este exotismo dessa maneira"-esclarece, avançando serem pessoas "iguais a nós, que têm os mesmos anseios, receios, sonhos, o medo das doenças e da morte, uma grande ligação aos filhos e à família e querem conhecer e interpretar o mundo em que vivem". Ao fim de muito pouco tempo, acentua, o exotismo, que os "pode separar ou tornar estranho o outro", desaparece, para ser muito fácil a "comunicação entre seres humanos, que são iguais na sua essência".
O autor classifica também as culturas que estiveram em contacto com a nossa ao longo de 500 anos, como "especiarias e intensificadores de sabor", tal como as especiarias em relação à culinária fazem "despertar essências mais profundas e realçam certos componentes do cozinhado". As culturas dos povos são como um "cozinhado", uma mistura de várias coisas que ficam a depurar, mas que os tornam únicos ao fim de algum tempo. A cultura portuguesa, por sua vez, é uma espécie de "caldeirada muito especial e única", à qual afirma dar "cada vez mais valor" à medida que o tempo passa, que viaja e que vê que há algo de especial. "Apesar de eu não ser de nacionalismos assoberbados, a cultura portuguesa tem algo de especial, que advém exactamente de ser fruto deste Melting Pot, deste Cadinho (recipiente usado em experiências), onde se fundiram várias culturas que interagiram, que é uma "grande riqueza". Factor que o ajuda a ser "tolerante, aberto, curioso", a entender e a ter alguma "facilidade de comunicação" com os outros povos e que deve aos seus "genes lusitanos".
"Só conhecendo as culturas que interagiram com a nossa é que podemos compreender melhor o que somos hoje, até mesmo em termos pessoais"- sublinha, avançando dar "muito mais valor à cultura portuguesa hoje, do que dava antes de ter esse contacto com os outros povos".
As culturas que são "totalmente diferentes" da nossa ajudam a dar "enquadramento" e a entender, que há várias formas do ser humano se adaptar ao seu meio ambiente. Além disso, pensando em costumes que podemos achar "bizarros ou estranhos", muitas vezes quando compreendemos a sua razão de ser, acabamos por entender que por trás daquele "prentenciosotismo", não estão mais do que razões de "pura sobrevivência".
Em termos de projectos, Pedro Mota revela ter, entre muitas outras, uma viagem planeada com os aborígenes na Austrália, pois estes têm um encontro anual no norte da Austrália de várias tribos e etnias e regressam a pé às zonas onde vivem. E eu gostava de o fazer, o que está mais ou menos alinhavado, vindo de volta com um dos grupos a pé pelo deserto australiano. Há uma no centro africano, na zona do Congo, que está também a ser pensada; outra no enclave indiano.
Na área literária, o autor está prestes a terminar o manuscrito do romance "Tempo Vazio", que, diz, estava a "fermentar" dentro de si há muito tempo. Não se trata de um romance histórico, mas etnográfico, aliás, como "tudo" o que escreve e muito "fundamentado", tal como aconteceu com o livro dos Romeiros, que "não poderia ser feito de outra maneira" e que implicou "quase quatro anos de pesquisa intensiva, em que fomos cavar, escavar em artigos e no pouco que havia escrito", para conseguir que este fosse "minimamente" fundamentado.
"É preciso ter atenção e não perder a riqueza, a diversidade do povo e dar muito valor às questões tradicionais"- ressalva Pedro Mota, avançando que costuma dizer que "os homens grandes são os que têm a cabeça nas estrelas e os pés no chão". Referindo-se à leitura em si, argumenta que "as pessoas gostam de ler", mas é uma questão de "hábito". E "há muita gente que ainda não descobriu o prazer de ler, mas que quando começa acaba por gostar muito", defende afirmando notar uma "melhoria" neste aspecto.
"Ainda existem muitas diferenças e muita diversidade entre as culturas de vários povos do mundo e no fundo é essa riqueza que quero mostrar às pessoas", é este objectivo de Pedro Mota, que lança no próximo dia 25 do corrente mês o seu último livro, intitulado "Quatro Ventos, Sete Mares", que dá também o nome à exposição de fotografia que inaugura na mesma data. Segundo o artista, nivelar o mundo, que está numa "globalização acelerada" pode ser "muito mau", pois podemos "perder muito" neste nivelamento que muitas vezes é feito "por baixo".
Viajou e visitou 35 culturas diferentes acompanhado apenas de algum papel e de uma máquina fotográfica. E são estas experiências e vivências com povos e etnias totalmente diferentes da nossa, que Pedro Mota, um viajante de longo curso, nos apresenta no seu livro "Quatro Ventos, Sete Mares". Destinos como a Rota da Seda, a Rota das Especiarias, o Pacífico Sul e a Papua, a Índia e Sri Lanka, o Alto Árctico e a Sibéria, o Tibete e a Mongólia Exterior, o refazer da expedição de Ivens e Capelo (mapa cor-de-rosa), o Sudão e Madagáscar, a Amazónia e a Patagónia, Timor e São Tomé, entre outros foram retratados na sua última obra, que será lançada conjuntamente com uma exposição, com o mesmo nome, onde o artista nos mostra as diversas fotografias que tirou nestas viagens.
Há mais de 20 anos, que Pedro Mota recolhe contos e lendas junto dos povos que visita e com os quais convive, partilhando com o público em geral a sua visão conciliadora e de respeito pelas tradições e pelos diferentes modos de vida humana no nosso planeta.
Nesta exposição, a incidência de povos ou territórios com histórias convergentes resulta da união de influências entre as várias culturas, dando origem a uma permuta enriquecedora com culturas, que funcionam como especiarias na cultura portuguesa, como intensificadores de "sabor" da cultura lusa.
Pedro Mota, investigador na área da Astrofísica, escritor e fotógrafo, nasceu em Ponta Delgada e vive em Lisboa há 19 anos, desde que foi para a Universidade. Formado em Física Teórica, com especialidade em Astrofísica, Pedro Mota anda desde há cerca de 20 anos pelo mundo a "recolher contos tradicionais, lendas e rituais, principalmente de povos que só têm oralidade". Explica fazer uma colectânea e depois escreve, baseando-se nestes contos e na sua própria pesquisa. Como geralmente fica "muito tempo" com os povos que visita, o autor acaba por ter já um "'insight' grande" em relação à cultura dos mesmos, e começa a "fazer" fotografia. Isto, pois, esclarece, "são pessoas que conheço, com quem convivi durante bastante tempo e com as quais já tinha alguma intimidade, muitas vezes até amizade".
Mas, sublinha, trata-se de uma fotografia "muito próxima e muito íntima", daí o fazer "muitos retratos" e um retracto muito próximo, em relação a estes povos de diferentes culturas.
Tudo começou com o seu "interesse" pelas viagens e pela escrita, explica, acrescentando que as suas viagens são a "materialização de sonhos, que nasceram dos livros". Porém, a "tónica essencial" está na parte literária, pois é sócio da livraria "Ler Devagar", em Lisboa e está ligado a um grupo de poesia, que já existe há oito anos, o "Grupo da Poesia Vadia". O suster-se com um pé nas ciências exactas e na Astrofísica e o outro na poesia, já vem de longa data, acentua, lembrando ter participado com mais duas pessoas, na elaboração num "livro sobre os Romeiros de São Miguel".
Pedro Mota acrescenta ter também um livro de poesia, além da obra que irá lançar no dia 25 de Setembro nos Açores, junto com a Exposição "Quatro Ventos, Sete Mares", que dá o nome ao livro, a oitava ou nona que realiza nos Açores.
"Quatro Ventos, Sete Mares" afirma ser um livro de fotografia, mas em que a parte literária tem uma "grande ênfase", explicando que os seus livros fazem uma "crítica" sobre a parte literária, que considera ser "bastante simpática".
O autor revela ainda ter em mãos um romance de cariz etnográfico intitulado Tempo Vazio", a lançar talvez em inícios de 2009. A história desenrola-se em várias ilhas dos Açores como São Miguel, a Terceira, o Faial e o Pico, pois diz ser um "açoriano das ilhas todas", entre os anos 20 e os anos 60 e ao longo de "duas gerações".
Questionado sobre se podemos considerar este romance um "Equador" nos Açores, na vertente do conhecimento cultural que a obra contém, o autor afirma ser uma questão "interessante", que já lhe tinha "cruzado o espírito", acabando por reconhecer no Equador", o mesmo grande "cuidado" que teve na sua pesquisa. Isto, apesar de reconhecer ser ainda um "neófito" nestas artes, enquanto que a Miguel Sousa Tavares coube a sorte de ter uma "grande carga de genes literários", sendo filho de quem é. Curiosamente, quando leu o "Equador" estava em São Tomé, relata, avançando que tudo o que pode prometer, é que o livro estará "fundamentado". Pedro Mota salienta ter também, por parte da sua editora, uma oferta para avançar com "dois livros de contos tradicionais", projecto que ainda está numa fase "inicial".
A fotografia surgiu "naturalmente", quase no princípio das suas viagens, pois apercebeu-se que, além dos contos tradicionais e das lendas, "a imagem em si contava a história daquele povo e era importante aquele exotismo para ajudar as pessoas a criarem uma semiótica diferente, dado que as culturas podem ser tão diferentes".
Passou algum tempo no Tibete, na Amazónia, em Madagáscar, no Sudão, no Vietname, na Sibéria, mas destino de que gostou mais foi o Tibete, pela "grande força e intensidade humana e espiritual" que viveu. Uma das viagens a que dá um maior destaque é a ida ao Alto Ártico, até ao Pólo Norte, com os esquimós, "pela dureza e pelas condições extremas". Outra viagem, também muito "rica" em termos de contactos com povos diferentes, foi a Rota da Seda, além da viagem de Roberto Ivens e Vergílio Capelo (mapa cor-de-rosa), em que fez uma "grande parte a pé" pelo deserto do Caoari. O tempo que passou na Nova Guiné é também de lembrar, porque esta constitui a "última fronteira pelo exotismo e é uma viagem ao passado em que nada está estruturado, nada é 'à turista' e há algum perigo". Trata-se mesmo de uma zona de "exploração" e não, de um "paraíso para os antropólogos".
É já naquele ponto, que já está "quase a branco" nos mapas e "a partir daqui há monstros"- adianta, bem disposto.
A exposição subentende o livro e mostra algumas das suas fotografias, porque este é "muito rico em termos fotográficos"e no fundo é uma "súmula" seleccionada de 20 anos de viagens pelo mundo. Pedro Mota revela também que este contém alguns elementos muito "exóticos" e situações em que participou em alguns "rituais quase únicos no mundo", ou que muito poucos ocidentais tiveram a "sorte ou o privilégio" de poder assistir até hoje, em virtude de várias vicissitudes. "São 20 anos para além do limite desses 20 anos"- afirma, lembrando que a exposição já esteve Padrão dos Descobrimentos em Lisboa, no Porto, irá estar em Ponta Delgada e; mais tarde na Nova Inglaterra e nos Estados Unidos, a convite do Consulado de Portugal em New Bedford. Pedro Mota caracteriza-a ainda como uma "apologia da diversidade humana ao longo do mundo" e retracta exactamente essa diversidade. "O mundo ainda não é monocórdico, ainda não é a Coca-Cola por todo o lado"- afirma, avançando que apesar de esta (Coca-Cola) lá estar, ainda existem "muitas diferenças e muita diversidade entre as culturas de vários povos do mundo". E é esta riqueza que deseja mostrar às pessoas e que "não se pode perder", é este o seu objectivo. "O que pretendo é tentar contribuir para as pessoas se aperceberem da grande riqueza, que é essa diversidade e terem isso em atenção". Sim, porque nivelar o mundo, que está numa "globalização acelerada", pode ser "muito mau", porque podemos perder muito neste nivelamento que, muitas vezes, é feito "por baixo".
Sobre as suas viagens e o intercâmbio cultural que estas proporcionam, Pedro Mota avança existirem diferentes maneiras dos povos se "adaptarem" ao meio ambiente onde vivem. Este viajante de longo curso constatou ainda que o exotismo, que existe numa primeira abordagem, "desaparece quando nos habituamos a ele", o que normalmente acontece no prazo de uma semana. "Ao fim de uma semana, já não vejo que as pessoas tenham um prato de madeira ou conchas enfiados num lábio, já não consigo ver este exotismo dessa maneira"-esclarece, avançando serem pessoas "iguais a nós, que têm os mesmos anseios, receios, sonhos, o medo das doenças e da morte, uma grande ligação aos filhos e à família e querem conhecer e interpretar o mundo em que vivem". Ao fim de muito pouco tempo, acentua, o exotismo, que os "pode separar ou tornar estranho o outro", desaparece, para ser muito fácil a "comunicação entre seres humanos, que são iguais na sua essência".
O autor classifica também as culturas que estiveram em contacto com a nossa ao longo de 500 anos, como "especiarias e intensificadores de sabor", tal como as especiarias em relação à culinária fazem "despertar essências mais profundas e realçam certos componentes do cozinhado". As culturas dos povos são como um "cozinhado", uma mistura de várias coisas que ficam a depurar, mas que os tornam únicos ao fim de algum tempo. A cultura portuguesa, por sua vez, é uma espécie de "caldeirada muito especial e única", à qual afirma dar "cada vez mais valor" à medida que o tempo passa, que viaja e que vê que há algo de especial. "Apesar de eu não ser de nacionalismos assoberbados, a cultura portuguesa tem algo de especial, que advém exactamente de ser fruto deste Melting Pot, deste Cadinho (recipiente usado em experiências), onde se fundiram várias culturas que interagiram, que é uma "grande riqueza". Factor que o ajuda a ser "tolerante, aberto, curioso", a entender e a ter alguma "facilidade de comunicação" com os outros povos e que deve aos seus "genes lusitanos".
"Só conhecendo as culturas que interagiram com a nossa é que podemos compreender melhor o que somos hoje, até mesmo em termos pessoais"- sublinha, avançando dar "muito mais valor à cultura portuguesa hoje, do que dava antes de ter esse contacto com os outros povos".
As culturas que são "totalmente diferentes" da nossa ajudam a dar "enquadramento" e a entender, que há várias formas do ser humano se adaptar ao seu meio ambiente. Além disso, pensando em costumes que podemos achar "bizarros ou estranhos", muitas vezes quando compreendemos a sua razão de ser, acabamos por entender que por trás daquele "prentenciosotismo", não estão mais do que razões de "pura sobrevivência".
Em termos de projectos, Pedro Mota revela ter, entre muitas outras, uma viagem planeada com os aborígenes na Austrália, pois estes têm um encontro anual no norte da Austrália de várias tribos e etnias e regressam a pé às zonas onde vivem. E eu gostava de o fazer, o que está mais ou menos alinhavado, vindo de volta com um dos grupos a pé pelo deserto australiano. Há uma no centro africano, na zona do Congo, que está também a ser pensada; outra no enclave indiano.
Na área literária, o autor está prestes a terminar o manuscrito do romance "Tempo Vazio", que, diz, estava a "fermentar" dentro de si há muito tempo. Não se trata de um romance histórico, mas etnográfico, aliás, como "tudo" o que escreve e muito "fundamentado", tal como aconteceu com o livro dos Romeiros, que "não poderia ser feito de outra maneira" e que implicou "quase quatro anos de pesquisa intensiva, em que fomos cavar, escavar em artigos e no pouco que havia escrito", para conseguir que este fosse "minimamente" fundamentado.
"É preciso ter atenção e não perder a riqueza, a diversidade do povo e dar muito valor às questões tradicionais"- ressalva Pedro Mota, avançando que costuma dizer que "os homens grandes são os que têm a cabeça nas estrelas e os pés no chão". Referindo-se à leitura em si, argumenta que "as pessoas gostam de ler", mas é uma questão de "hábito". E "há muita gente que ainda não descobriu o prazer de ler, mas que quando começa acaba por gostar muito", defende afirmando notar uma "melhoria" neste aspecto.
Raquel Moreira
Public in Agosto de 2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário