terça-feira, 30 de setembro de 2008

A qualidade está na "competição"


Hands on Aproach

Compor é "devolver ao mundo" o que se vê dele e não importa se a música é cantada em português ou em inglês. É simplesmente música e deve ser avaliada pela sua "qualidade". Além disso, a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem o direito de "escolher" e devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música"- ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", afirma que esta não é nada "favorável" aos músicos, que assim não precisam de se "esforçar" tanto para terem a sua música, "por mais medíocre que seja", a passar na rádio.

"My Wonder Moon", "Tão perto e tão longe"e "If you give up" (tema da banda sonora dos famosos "Morangos com Açúcar") são alguns temas de sucesso dos "Hands on Aproach", que actuaram recentemente em Ponta Delgada. O grupo adora a Região e espera voltar em breve a actuar num palco açoriano.
João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", conta que a banda começou há perto de 12 anos e surgiu de um "convite" feito a Rui David, vocalista do grupo, para tocar na rádio ao vivo. Na altura, Rui juntou as pessoas que estavam perto dele, que eram músicos para, por "brincadeira", tocar na rádio.
"Ele também tinha alguns originais e isso foi um pouco um ponto de partida. Gostamos da experiência e de tocar uns com os outros"- esclarece, avançando ser algo "importante". Sim, pois já se conheciam, mas nunca tinham tocado juntos. Gostaram do resultado e decidiram continuar, fazendo o percurso "normal" de uma banda amadora e jovem, incluindo concursos. E, sublinha, as coisas foram acontecendo com "trabalho e dedicação", até que apareceu o primeiro contracto discográfico.
De uma maneira geral, João e o irmão (Sérgio) começaram desde "muito cedo" a gostar de música, chegando a ponto de fazerem "mímica com vassouras e tachos". Aliás, a música está muito "presente" na casa destes dois jovens, principalmente pela parte dos "pais" e talvez por isso já tivessem esse "instinto" para tocar. Quase naturalmente, enfatiza, a coisa aconteceu. Tiveram aulas de música muito novos, mas confessa que não se interessaram. Só passados mais uns anos e por iniciativa própria, é que pegaram numa guitarra e começaram a tocar. Depois, admite, foram "puxando" um pelo outro e acabaram por encontrar uma banda mais tarde.
Na sua opinião, para qualquer pessoa que crie um objecto de arte, seja musica ou pintura, a inspiração é sempre a "vivência da pessoa, o contacto com a vida e a interpretação que faz dessas experiências". Um artista é normalmente uma pessoa um pouco"solitária e introspectiva" e a composição artística é isso mesmo. Trata-se um pouco de "devolver ao mundo", o que se vê dele, segundo a "filtragem" e o ponto de vista de cada um.
Questionado sobre o porquê de cantar em inglês, o musico contrapõe e pergunta "porque não?". E mesmo sem querer desenvolver muito este tema, que considera "inconsequente", João avança que a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem esse direito de "escolher" e de optar pela linguagem que se tem. "A Suécia continua a exportar bandas para o mundo inteiro a cantarem em inglês"- salienta, lembrando-se ainda dos Abba e dos Cardigans.
De uma vez por todas devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música", ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Diz terem como referências "todos os grandes clássicos" como Jeff Buckley, Bob Dylan, Leonard Cohen, Metallica ou John Coltrane. E como músicos, afirma estarem "constantemente" a ouvir musica, tanta que por vezes é lhes "difícil" dizer do que gostam.
"Hoje, para mim, o álbum dos "kassabian" pode ser o melhor álbum do mundo e o artista que me está a influenciar e, amanhã para o Sérgio será "Doll Party" ou "Tom Weights""- esclarece.
Para os "Hands on Aproach", a música é algo que está "sempre" a entrar e que estão sempre a consumir. Claro que, depois destas misturas todas, deste 'input' todo, admite, há de sair alguma coisa, as influências. Mas a seu ver nenhum músico pode dizer que foi influenciado directamente "apenas por um" determinado artista.
Falando nos álbuns do grupo, João lembra que o primeiro álbum, "Blown", foi editado em 1999, de onde saiu o "My Wonder Moon" e "Tão Perto e tão longe", temas que quem vai aos concertos da banda conhece. Depois editaram "Mouving Spirits", "Groovin' on Monster's Eye-balls". O último álbum do grupo, intitulado "10 Anos-Casino Figueira" (2007), foi gravado ao vivo no Casino da Figueira da Foz. Este "revê um pouco os álbuns anteriores" e faz um resumo e um balanço dos 10 anos de carreira dos "Hands on Aproach".
Todos os álbuns lhes deram um prazer "incrível" por razões diferentes pela altura em que foram feitos e pelas pessoas com quem trabalharam, por isso afirma ser "impossível escolher" qual consideram o melhor. "É como ter vários filhos, não há nenhum de que gostemos em particular, todos nos marcam"- compara, acrescentando mesmo assim ser o "primeiro", precisamente por ser o primeiro e por toda a "magia" de estarem finalmente a gravar um disco, o que o torna um bocado "enigmático".
Na sua opinião, "não é difícil" transpor a música portuguesa para fora do país, apenas falta alguma "coragem" à própria indústria para apoiar esse sector, porque tornar uma banda conhecida noutros países "custa muito dinheiro" e as pessoas se calhar não sabem disso. Investe-se muito e entra-se num mercado "aberto e dominado" pelas grandes editoras e promotoras. Não é algo que se faça só por querer e não havendo uma indústria em Portugal como acontece noutros países, lamenta, ainda é "mais" difícil.
"Felizmente", nos últimos tempos têm tido boas notícias em relação a isso e não é só World Music que Portugal exporta. "Já se ouve falar de David Fonseca nos Estados Unidos, dos "The Gift" em Madrid"- salienta, revelando ter a esperança de um dia terem também essa "oportunidade".
Quanto ao facto do mundo da música funcionar, ou não, por lobbies, João argumenta ser um pouco como "a expressão do Velho do Restelo", dizendo ser uma opinião "lavada e batida", a de que em Portugal funciona tudo por lobbies. O músico diz ainda querer acreditar que há músicos com "muito talento", que continuam a levar as bandas a vários locais, a passar na rádio e a dar concertos. E, sublinha, "não é por lobbies que se convence cinco mil pessoas a estarem num concerto" durante uma hora, pois por mais lobbies que alguém tenha feito para o músico estar em palco, no fim do concerto "se este não convenceu o publico, não há nada a fazer". Referindo-se ao próprio grupo e a outras bandas, João argumenta que não se fazem 12 anos de carreira com "amizades".
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, o músico afirma "não" concordar com esta decisão, pois a seu ver o "grande problema" está precisamente numa lei como esta. "Esta lei é o grande perigo, pois está a marginalizar e a estigmatizar, a pôr num pacote ou numa prateleira a música portuguesa"- ressalva, acrescentando que "não deveria haver música portuguesa ou inglesa, simplesmente música boa ou má". Importa é saber se determinada música tem, ou não, "qualidade" para passar na rádio.
E continua, afirmando não saber até que ponto esta lei é benéfica e "favorável" aos músicos portugueses. Em todo o lado, "o que traz a qualidade é precisamente a competição", o facto do músico ter de se "esforçar mais e mais e fazer cada vez melhor" para conseguir que a sua música passe na rádio. E quando há uma lei que "protege" o músico e que obriga a musica portuguesa a passar, por mais "medíocre" que seja, este já não se vai esforçar tanto.
"My Wonder Moon", relata, foi das primeiras músicas que Rui David compôs e se calhar é aquele tema que "representa e marca melhor" o início dos "Hands on Aproach". O que não significa que seja, hoje, a música que representa a banda, pois, lembra, já fizeram outras músicas que têm mais a ver com aquilo que o grupo é actualmente. Mas é, "sem dúvida", a música que "marcou" o início de carreira do grupo e que os apresentou ao mundo, logo é uma música "importante" para a banda.
A vinda aos Açores surgiu na sequência de um convite feito pelo ANIMA. Convite este que afirma terem aceite com "muito gosto", pois consideram os Açores um arquipélago "fantástico". Além disso, em qualquer oportunidade que têm de visitar a Região, diz serem recebidos de uma maneira "incrível" e o próprio local também os "fascina" bastante. "É uma oportunidade única"- acentua.
Em termos de projectos, João revela estar a trabalhar no próximo disco, que afirma estar "quase" acabado e que deverá ser lançado possivelmente em "inícios de 2009". Trata-se de um álbum mais "maduro" em relação aos anteriores e é o disco onde houve mais 'input' criativo de "todos" os elementos da banda. Sim, porque em álbuns anteriores, relata, foram mais Rui David, João a compor e, Sérgio que também teve sempre um 'input' muito "importante". Por outro lado, neste disco todos os músicos da banda e alguns convidados tiveram todos o seu "espaço" para porem em pratica as suas ideias, o que para considera uma "evolução" como banda e como projecto.
João aproveita ainda para dizer aos açorianos que espera que estes continuem" a "gostar da música da banda. E que os convites para visitarem os Açores continuem a surgir, pois fazem-no com o maior "prazer".

Biografia

Os “Hands on Aproach” foram a banda revelação da música portuguesa, em 1999. Originária de Setúbal, esta é formada por Rui David (vocalista), João Luís (guitarra baixo), Sérgio Mendes (guitarra) e João Coelho (bateria) e tornou-se mais conhecida com o tema “My Wonder Moon”.

O seu trajecto inicia-se em 1999, quando Rui David está a tocar com uns amigos numa praia do Algarve. Nesse momento, um animador de rádio aproxima-se e convida-o a tocar duas ou três músicas ao vivo. Aceitando de imediato, convida o irmão João Luis para tocar baixo e mais dois amigos para a guitarra e bateria.

Depois de alguns ensaios, apresentam-se ao vivo no auditório da Antena 3, para a primeira apresentação do grupo, num programa que mostrava o que havia de novo no panorama musical em Portugal.

Depois de tão inesperado sucesso, a banda decide dar continuidade ao projecto, iniciando o circuito habitual de demos e de contactos com editoras. Dão espectáculos um pouco por todo o lado até que, em Outubro de 1997, mais de um ano depois da apresentação na Antena 3, quando tocam ao vivo numa discoteca, um ‘manager’ decide ouvi-los com mais atenção. Deste interesse, resulta a gravação em estúdio de algumas músicas, o que lhes permite apresentarem um trabalho mais coeso e maduro às editoras. Consequentemente, assinam com a Universal/Polygram um contrato para dois discos.

O primeiro trabalho, “Blown”, editado em Março de 1999, é disco de prata à saída e vende mais de 38 mil exemplares, marca que deixa a banda à beira de uma estreia “platinada”. O primeiro single, My Wonder Moon”, fica no primeiro lugar do airplay nacional durante quase dois meses. Deste álbum, produzido por Darren Allison, que colaborou com Skunk Anansie, Spiritualized e Divine Comedy, entre outros, foram extraídos, “Silent Speech” e “Tão Perto e Tão Longe”, mais dois grandes singles que se tornam rapidamente em hinos obrigatórios de qualquer espectáculo da banda. Neste mesmo ano, tornam-se a banda revelação da música portuguesa e a sua digressão leva-os a fazer mais de 90 datas por todo o país.

Um ano depois, em Outubro de 2000, lançam o segundo trabalho, “Moving Spirits”, cujo primeiro single – “The Endless Road” - tem uma excelente carreira no airplay nacional. Após mais de um ano de digressão nacional, os HOA criam o seu site oficial, http://www.handsonapproach.pt/, ao mesmo tempo que apresentam, a 17 de Abril de 2002, no Musicais de Lisboa, um novo formato de espectáculo semi-acústico, muito mais intimista e próximo do público.

Em 2004, a banda prepara em estúdio o terceiro álbum de originais, “Groovin’On Monster Eye-balls”, trabalho, cujas composições começaram a ser pensadas e construídas durante a digressão de Moving Spirits. O grande sucesso desse cd conta com a participação da vocalista dos Wire Daisies, Treana Morris, que se torna fã do grupo a partir do momento em que conhece os dois primeiros álbuns e que, durante o processo de gravação de “Groovin’ on Monster’s Eye-balls”, tem oportunidade de ouvir e de se “apaixonar” pelo tema. A admiração é mútua e o convite do grupo à cantora inglesa, é imediatamente aceite.

Com o novo cd “10 Anos_ Casino Figueira” [acústico] editado em Setembro de 2007, a banda coloca mesmo “mãos à obra”, visto ser responsável por toda a gestão da imagem, desde o design das capas à produção de vídeo, às fotos oficiais e ao website.

Colaborando desde a primeira série da novela portuguesa “Morangos com Açúcar”, a relação continua e desta vez o tema escolhido é “Let´s Be In Love”, canção que conquista dezenas de novos fãs.

Como bónus, a banda inclui um dvd com a gravação vídeo do mesmo concerto, fotos que contam a sua história, “making of”, entrevista, clips… enfim uma peça para guardar em casa, de uma banda da qual não se pode passar ao lado.

Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.



"Trabalhar uma ideia"


Centro de Empreendedorismo

É imprescindível hoje em dia ter “conhecimentos” e actualizá-los, pois estes têm uma esperança de vida muito curta e são “perecíveis”. Para se ser empreendedor, não basta querer. Segundo Belmiro de Azevedo, presidente da SONAE, são necessários “treino, formação” e essencialmente “educação”, pois quem não a tiver não tem “competências” para ser empreendedor e trabalhar uma nova ideia.

“O conhecimento e a inovação são molas de desenvolvimento e a empresa é o albergue da inovação”- foram palavras de Avelino Meneses, Magnifico Reitor da Universidade dos Açores, na inauguração do Centro de Empreendedorismo da Universidade dos Açores, realizada em Ponta Delgada no início da semana. Cerimónia que contou ainda com a presença de Gualter Couto, presidente do Centro de Empreendedorismo e; de Duarte Ponte, secretário regional da Economia, além de ilustres convidados como o empresário Belmiro de Azevedo.
Segundo o reitor da Universidade, no passado a riqueza das nações dependia da capacidade de acesso a recursos naturais e a níveis de produção. Havia disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata, muitos deles escravos, recorda. Actualmente, a chave do progresso é o conhecimento, onde assenta a prosperidade neste advento do séc. XXI.
O relativo atraso de Portugal reside num “défice” de conhecimento que importa “superar”. O atraso político e tecnológico é também consequência de uma atitude política e da acção dos agentes económicos, que “preferem o produto final em vez da produtividade”.
Deve haver uma grande “interacção” entre a universidade e as empresas, para que o conhecimento tenha “impacto” económico, que deverá assentar num patamar de “responsabilidade e cooperação”.
Importa “transformar os jovens em promotores de emprego, em vez de mendigos de emprego”- acentua, avançando que a universidade tem uma missão “cultural universalista”.
Gualter Couto, presidente do Centro de Empreendedorismo, classifica as instalações inauguradas como “excelentes”, para dar continuidade a uma “cooperação” entre a universidade e o mundo empresarial. Estas permitem também à universidade desenvolver a missão de aplicar as mais “avançadas práticas”.
Importa “reduzir” o risco e a incerteza, salienta, revelando que este ano até agora já forma realizados cinco cursos de empreendedorismo, o que totaliza 65 formandos. Estão previstos ainda antes do final do ano mais três cursos, o que perfaz um total de 180 formandos em 2008.
O investimento no Centro de Empreendedorismo foi, sublinha, de 120 mil euros e foi suportado na sua maioria pelo “Líder Mais”, um programa de iniciativa comunitária, e por sponsers como o BANIF, Millenium, EDA, BES e a Zoom Cabo TV. O presidente do Centro aproveitou ainda para salientar que este “não acarreta despesas fixas nem operacionais” à Universidade dos Açores.
“Conhecimento, Inovação, Empreendedorismo e Governância” foi o tema da conferência que se seguiu, proferida por Belmiro de Azevedo, presidente da SONAE e o maior exemplo de empreendedorismo a nível nacional.
Segundo Belmiro de Azevedo, o conhecimento é “educação, formação e treino”, mas é também um bem “perecível” e é cada vez mais “curta” a aprendizagem nas escolas.
O treino é fundamental e as pessoas têm de ter “vontade” de utilizar as novas tecnologias, que são “aceleradores” de conhecimento. A experiência, explica, consiste na aplicação na prática desse conhecimento e também deve ser “permanentemente” ajustada.
“Importa que os poderes públicos forcem as empresas à modernização”- argumenta, avançando haver por vezes mais “défice de conhecimentos nos gestores”, situação que convém evitar, para uma maior “coesão” social.
Além de se querer ser empreendedor, é preciso poder sê-lo, porque uma pessoa que não tenha “educação”, admite, não tem competências para o ser. Ser empreendedor implica ter vontade de “arriscar” e uma definição do estilo de vida. A pessoa deve saber de antemão se está disposta a trabalhar aos fins-de-semana e fora de horas. Esta situação, recorda, já gerou alguns conflitos na sociedade, quando os comerciantes “queriam descansar no fim-de-semana e os consumidores pretendiam as lojas abertas”. O facto é que o consumidor, o progresso económico é que decidem.
O empresário afirma ainda que inovar é “usar o conhecimento para encontrar algo novo” e implica “partilha” dessa sabedoria. No caso de um negocio falhar, por exemplo, muitas pessoas têm mais “medo” de perder prestígio, do que dinheiro.
“Os governantes têm tendência a desprezar o respeito pelo meio ambiente”- enfatiza.
Belmiro de Azevedo via anda mais longe ao afirmar que o Estado não tem “opinião pública, credibilidade, nem dinheiro para se impor”, mas faz leis e tem um poder que, a seu ver, “não” deveria ter, o de “regular”. A sua grande função é “fechar” este triângulo para que haja progresso económico.
A produtividade, por sua vez resulta da “eficácia” do trabalho e da produtividade.
O segredo para a crise está na “poupança”, por parte do Estado, das empresas e dos cidadãos.
Duarte Ponte, secretário regional da pasta da Economia, começou por lembrar que se assiste na primeira década do século XXI, a uma transição “acelerada” para a economia do conhecimento e da informação, ao fim da energia barata proveniente dos combustíveis fósseis e à importância cada vez maior das “mudanças climáticas e das questões ambientais”. E nos países ditos desenvolvidos surgem dificuldades acrescidas na manutenção do Estado Providência, em parte devido ao “aumento da esperança de vida e da diminuição das taxas de natalidade”.
O aumento da população mundial coloca “problemas crescentes” no abastecimento de bens essenciais, por isso há uma “forte” pressão nas fronteiras da Europa. Os emigrantes de países menos desenvolvidos, como o Norte de África procuram a cidadania europeia, para trabalharem e terem “melhores” níveis de vida. Nas economias emergentes os ritmos de crescimento continuam “elevados”. Por exemplo, nos últimos 25 anos, o produto interno bruto (PIB) da China cresceu a um ritmo de “9.4% por ano”, num país já considerado a 4ª Economia do Mundo, imediatamente abaixo dos Estados Unidos, do Japão e da Alemanha. Isto, apesar de ter um PIB ‘per capita’ inferior a “metade” de Portugal.
Em 2007, a China apresentou uma taxa de empreendedores em estágio inicial de “16,4% “, o que correspondeu a cerca de “200 milhões” de potenciais homens de negócio.

Na União Europeia estas taxas são muito menores, há cada vez menos “estabilidade” nas empresas, a nível de empregos e a economia encontra-se numa fase de “estagnação”. A crise do “suprime” e de diversas instituições financeiras que atingiu os Estados Unidos começa a estender-se à Europa e o aumento do preço das matérias-primas, bem como a “escalada” do preço do petróleo têm provocado “abalos sucessivos” nas diversas economias do mundo ocidental. E as mudanças de paradigma que estão a ocorrer, têm “fortes” implicações no futuro profissional dos jovens que se formam actualmente.

De toda esta realidade, surge a necessidade imperiosa de adaptação das universidades e escolas de formação profissional a estes novos tempos. Resta saber, se os jovens estão preparados para estas mudanças.
As universidades são uma “pedra angular” no sistema de ensino e da investigação, por isso têm um papel “importante” nestas mudanças.

No actual contexto de crescente globalização, existem “dois factores” preponderantes na criação de riqueza. A “inovação” que é capaz de “gerar diferenças competitivas” e acrescer valor à produção, melhorando os níveis de produtividade e, o “empreendedorismo”, uma autêntica “força motriz” capaz de mover os factores de competitividade associados à inovação, à tecnologia, à qualidade, ao marketing, à informação e à organização.

A capacidade e a vontade de assumir riscos variam de indivíduo para indivíduo, mas a oportunidade, a necessidade, as condições de financiamento e a formação que se apresentam ao indivíduo são “determinantes”.
Não é por acaso que a maior parte dos empreendedores provem de famílias que já têm a sua própria empresa. Outras vezes, o empreendedor surge no seio de uma empresa que abandona para criar novos negócios. Sim, porque as empresas são as principais “escolas” do empreendedorismo.

Muitas vezes, é criado um novo negócio com base apenas numa nova ideia, em novas condições de mercado e numa nova tecnologia, mas a oportunidade desempenha um papel fulcral. Claro que também é necessário, reconhece, ter “condições financeiras” para o fazer e aí intervêm as instituições bancárias e os sistemas de incentivos.
“A necessidade aguça o engenho”, mas o jovem também se apercebe de que uma formação profissional não é nenhuma “garantia” de entrada no mercado de trabalho e muitas vezes o emprego conseguido não lhe concede a remuneração pretendida.
O empreendedorismo é “a capacidade dos indivíduos de colocarem as suas ideias em acção”, o que comporta criatividade, inovação e assunção de riscos, bem como a capacidade de programar e de gerir projectos com vista a “alcançar” objectivos. Esta competência torna os trabalhadores “conscientes” do contexto do seu trabalho e aptos a aproveitarem as oportunidades, servindo de base para aquisição de outras aptidões mais específicas e dos conhecimentos de que os empresários necessitam.
“A Universidade dos Açores ao inaugurar este Centro de Empreendedorismo está a dar um passo importante para também nesta área assumir um papel relevante nos Açores”-acentua.
O Estado e as empresas estão “negativos”, lamenta, acrescentando que nos cidadãos a taxa é “muito baixa”, de apenas 6 ou7%. “Poupa-se muito pouco e torna-se a ir buscar dinheiro à banca estrangeira e de uma maneira, que considera ser “perigosa”.
Não se pode emprestar dinheiro de uma instituição, que por sua vez já foi emprestado por outras, alerta, avançando que foi isso que aconteceu.
E o pior é que segundo o empresário, Portugal “ainda” não notou muito os efeitos da crise, pois no dia em que não se paguem “prestações”, sublinha, a banca tem outro sistema.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O piano era um "brinquedo"


Jorge Palma em Ponta Delgada

Desde os seis anos de idade que a música é parte integrante da sua vida e o piano era um simples brinquedo que lhe dava "gozo" tocar. Segundo Jorge Palma, o país tem óptimos músicos, mas "falta de letras". O que justifica, dizendo que "toda a gente" lhe está "sempre a telefonar" a pedir para escrever letras. "Em termos de músicos, cantores e excelentes intérpretes estamos no melhor, porque os putos que vêm da garagem são bons. Agora escrever letras é coisa dos quotas"- acentua, acrescentando ser ele próprio que continua a escrevê-las, tal como Sérgio Godinho, entre outros.

"Encosta-te a mim" e "Deixa-me rir" são alguns dos temas deste dinossauro da música portuguesa.
Jorge Palma nasceu a 4 de Junho de 1950 em Lisboa, cidade onde sempre viveu. Desde sempre se interessou pela música, a ponto de o piano ser um brinquedo que lhe dava "gozo" tocar. Esteve ainda "14 anos num colégio interno".
Em Setembro de 1973, recusando cumprir o serviço militar obrigatório, e, consequentemente, embarcar numa guerra para o Ultramar, partiu para a Dinamarca, com Gisela Branco, sua primeira mulher, onde lhe foi concedido asilo político. Na Dinamarca trabalhou como empregado num hotel e, ao mesmo tempo, compunha e escrevia letras, participando, por vezes, em programas de rádio onde apresentou composições suas e de outros intérpretes da música popular portuguesa.
Referindo-se à sua carreira, confessa que "não estava à espera" de tanto sucesso, nem de ter inclusivamente "perda de privacidade", algo que, salienta, "nunca" lhe tinha acontecido. "É uma carreira sólida, não é daquelas de um êxito aqui e outro ali. Agora já me chateia um bocado ir a uma esplanada, porque aparece sempre alguém a dizer que "é só uma fotografia, é só um autógrafo" e é uma chatice"- acentua, acrescentando que agora aos 58 anos é "giro".
Diz gostar de ouvir desde Jimmy Hendrixs até Carlos do Carmo, passando pelos Da Weasel, pois tem influências de "todo o lado".
Referindo-se à música em Portugal, afirma que o país tem óptimos músicos, mas "falta de letras". O que justifica, dizendo que "toda a gente" lhe está "sempre a telefonar" a pedir para escrever letras. "Em termos de músicos, cantores e excelentes interpretes estamos no melhor, porque os putos que vêm da garagem são bons. Agora escrever letras é coisa dos quotas"- acentua, acrescentando ser ele próprio que continua a escrevê-las e Sérgio Godinho, Fausto, Zé Mário Branco, Luís Represas, Vitorino e Carlos T, por exemplo. Escrever letras é "outra coisa", sublinha, lembrando tratar-se de algo que aprendeu com Ary dos Santos, sobretudo a "técnica". Para escrever, é necessário "ouvir muita música". Há que ler a "aprender, como se lê um livro". É bom ouvir músicos como Bob Dylan, Leonard Cohen, James Tyler, Neil Yong e por ai fora.
Levar a música portuguesa além fronteiras afirma ser uma questão de "marketing e é menos difícil do que já foi". Diz não estar a falar em termos de fado, pois sobretudo um fado "muito bem cantado, bem assumido e com arejamento é outra coisa".
O cantor aproveita para lembrar que, no fundo, faz músicas Men's Stream, o que a seu ver diz "tudo". Acrescenta ter influências desde Roling Stones até Jacques Brel, reconhecendo também não fazer nada de "particularmente interessante" para os japoneses, mas já tocou em Barcelona e em Paris, por exemplo. Na sua opinião, o mercado está "mais aberto", até para o Brasil onde planeia tocar ainda este ano. "E não é para os emigrantes, é para os brasileiros".
O mundo da música também funciona um pouco por "lobbies" e a única coisa que se pode fazer para alterar a situação é darmos o nosso "melhor". O resto, esclarece, compete aos 'managers', que devem ser competentes e devem "entender-se uns com os outros" nacionais e estrangeiros.
Referindo-se à nova lei que obriga as rádios a passarem uma quota de 20% de música portuguesa, o cantor argumenta que "nunca" acreditou nas leis que "obrigam" a algo. "Vamos a Espanha, ao Brasil e o público é que decide e não é pela lei que vamos lá"-defende, avançando que a rádio nacional tem feito muito e de um modo geral está a ter uma atitude "mais inteligente", como aliás "sempre" teve. Passam "Jorge Palma, Fausto, Sérgio Godinho e Da Weasel".
E vê-se nos espectáculos, a "vontade que as pessoas têm de nos ver ao vivo". A rádio tem um papel "fundamental" e a televisão também. A própria televisão está a "mudar" um bocado, pois está a dar um pouco mais de "espaço" à música portuguesa, ressalva, explicando estar a falar de "todos os músicos portugueses".
Os Açores, Jorge Palma avança serem "lindos, um paraíso"e aproveita ainda para revelar que o plano foi de ficar uns "dias" na Região. "Adoro as ilhas, adoro mesmo as ilhas todas".
De "Encosta-te a mim", o cantor explica que a canção esteve para ficar fora do álbum, porque era só "nhó, nhó, nhó". Chamou-lhe "Balada Celta", pois "não tinha letra, só havia uma ideia". Numa noite surgiu a letra e achou que, "se calhar", valia a pena. Conta ter falado com o seu produtor e com a esposa e perguntou-lhes se a canção não estava um bocadinho "azeiteira", ao que lhe responderam que não. "Gravei aquilo, com duas guitarras, cantei em cima e gostamos". Depois, a dúvida foi a introdução, ou não, da banda, pois segundo o cantor com a banda a canção ficaria tipo "Chapa 1". Trata-se de uma "balada, só que a letra está bonita"- admite, contrapondo que é algo "tão simples".
“Tem sido um ano muito violento em termos de estrada, a pontos de às vezes não saber onde estou a acordar”, enfatiza. O objectivo agora é “preparar” o concerto no Campo Pequeno, no mês de Novembro, que vai ser o “resumo” deste ano, que foi muito intenso. Mas antes, já há outros planeados. Projectos, afirma não ter "nenhum" de momento.
Da sua discografia fazem parte os álbuns "Com Uma Viagem na Palma da Mão" (1975); 'Té Já (1977); "Qualquer Coisa Pá Música" (1979); "Acto Contínuo" (1982); "Asas e Pena"s (1984) ; O Lado Errado da Noite (1985); Quarto Minguante (1986); Bairro do Amor (1989); "Só" (1991); Jorge Palma (2001); Vinte e Cinco Razões de Esperança (c/ Ilda Feteira) (2004); Norte (2004) e Voo Nocturno (2007) .
Em termos de singles, o cantor já editou "The Nine Billion Names of God" (1972); "O Pecado Capital) (c/ Fernando Girão) em 1975; "Viagem" (1975); Deixa-me Rir (1985); Dormia tão sossegada (2001); Valsa de um homem carente (2004) e Encosta-te a Mim (2007). Isto, sem falar no EP "A Última Canção" (1973).
Ao vivo, Jorge Palma gravou "Palma's Gang" no Johnny Guitar (1993) e "No Tempo dos Assassinos" no Teatro Villaret (2002) .
Foi ainda autor do livro de poemas "Na Terra dos Sonhos", com organização, introdução e discografia de João Carlos Calixto.


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Aos seis anos e ao mesmo tempo que aprendia a ler e a escrever, inicia os seus estudos de piano e tem a sua primeira audição dois anos depois, no Conservatório Nacional. Em 1963, Jorge Palma vence o segundo prémio do Concurso Internacional de Piano, integrado no Festival das Juventudes Musicais, em Palma de Maiorca com uma menção honrosa do Júri. Nos estudos cruza-se com o Liceu Camões e um Colégio Interno, nas Mouriscas, perto de Abrantes. Durante a adolescência e a par da formação erudita, começa a interessar-se pelo rock'n'roll e pela música popular americana e inglesa. É por esta altura que descobre a guitarra, recebendo influências de Bob Dylan, Led Zeppelin e Lou Reed.
Em 1967, integra o grupo Black Boys, tocando órgão. Experiência que dura cerca de seis meses, pois a 'oportuna' aparição de seu pai, num dos bares em que o grupo tocava, culmina no regresso a Lisboa e aos estudos secundários.
Enquanto estuda Engenharia na Faculdade de Ciências de Lisboa integra o grupo pop-rock Sindicato, como teclista e cantor, junto com Rão Kyao, Vítor Mamede, João Maló, Rui Cardoso e Ricardo Levi. Para além dos covers de bandas de rock americanas e inglesas (Led Zeppelin, Stephen Stills, Chicago, Blood Sweat and Tears, entre outros), o grupo compôs originais, em língua inglesa. Em 1971, gravaram o single "Smile", que tinha no lado B "SINDIblues Swede CATO'S Shoes", uma versão do standard de rock'n'roll "Blue Suede Shoes", de Carl Perkins. No mesmo ano, deram o seu último concerto na primeira edição do Festival Vilar de Mouros.
A estreia a solo de Jorge Palma acontece em 1972 com o single The Nine Billion Names of God, título de um conto de Arthur C. Clarke e inspirado também no livro "O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier. Por esta altura, inicia uma colaboração com José Carlos Ary dos Santos, que o ajuda a aperfeiçoar a escrita poética, e com quem estabelece uma relação aluno-mestre. Em 1972 e até Setembro de 1973, foram alturas de convívio intenso com Ary. Deste contacto resulta o EP "A Última Canção", com quatro composições de Jorge Palma, duas delas com letras de Ary.

Ainda em 1972, abandona os estudos de Engenharia. Em Setembro de 1973, recusa cumprir o serviço militar obrigatório e embarcar para a guerra do Ultramar. Vai para a Dinamarca, com Gisela Branco, sua primeira mulher, onde lhe é concedido asilo político. Lá trabalha como empregado num hotel e em simultâneo compõe e escreve letras, participando em programas de rádio onde apresenta composições suas e de outros intérpretes da Música Popular Portuguesa.
Regressa a Portugal após o 25 de Abril de 1974 e inicia uma carreira como orquestrador na indústria discográfica. Fez arranjos para fonogramas de Pedro Barroso, Paco Bandeira, Francisco Naia, Rui de Mascarenhas, Tonicha, João Vaz Lopes, Valério Silva, Adelaide Ferreira e para os agrupamentos Intróito e Maranata. Participou como instrumentista em gravações de José Barata Moura e José Jorge Letria, entre outros.
Em 1975, concorreu ao Festival RTP da Canção com "O Pecado Capital", uma composição sua em co-autoria com Pedro Osório, defendida em dueto com Fernando Girão, e "Viagem" de Nuno Nazareth Fernandes com letra sua. Ficaram classificadas em 7º e 8º lugares, respectivamente, num total de dez canções concorrentes.
Nesse ano gravou o seu primeiro LP, "Com uma Viagem na Palma da Mão", com canções compostas durante o exílio político em Copenhaga.
Depois da gravação do seu segundo trabalho discográfico - 'Té Já (1977) - e de uma digressão ao Brasil como músico de Paco Bandeira, partiu em viagem cantando e tocando guitarra nas ruas de várias cidades espanholas (1977) e francesas (1978-1981), nomeadamente Paris, interpretando repertório de compositores de música popular americana, como Bob Dylan, Crosby, Stills and Nash, Leonard Cohen, Neil Young, Simon & Garfunkel, entre outros.
Em 1979, vive alguns meses em Portugal, morando no Ninho das Águias, junto ao Castelo de S. Jorge, em Lisboa. Grava "Qualquer Coisa Pá Música", o seu terceiro álbum de originais, com membros do grupo acústico O Bando, seguindo-se uma série de actuações a solo e com o referido grupo.
No início da década de 1980, regressa a Paris com a sua segunda mulher, Graça Lami, voltando a Portugal em 1982 para gravar o álbum duplo "Acto Contínuo".
Vicente, o seu primeiro filho, nasce em 1983 e a ele dedica a música "Castor", do seu quinto álbum de originais - Asas e Penas (1984). Na sequência deste disco realiza diversos concertos em Portugal, França e Itália.
O ano seguinte é marcado pelo lançamento do seu sexto álbum de originais e um dos mais aclamados da sua carreira, "O Lado Errado da Noite". O single "Deixa-me Rir" tem enorme sucesso e ainda hoje funciona como uma espécie de imagem de marca e uma das mais requisitadas pelos fãs nos concertos. Por este álbum recebe o "Sete de Ouro", o "Troféu Nova Gente", definido, por alguns críticos, como "o lado certo de Jorge Palma" ou "Palma de Ouro", e realiza uma longa tournée por Portugal e Ilhas, tendo a sua primeira grande apresentação em Lisboa no espaço da Aula Magna da Universidade de Lisboa.
Em 1986, concluiu o Curso Geral de Piano no Conservatório Nacional e gravou o seu sétimo álbum de originais – "Quarto Minguante", marcado por problemas entre JP e editora. Os anos seguintes foram marcados pela frequência do antigo Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional.
Em 1989, edita "Bairro do Amor", considerado como um dos álbuns do século da música portuguesa. Este trabalho marca a saída de JP da editora EMI- Valentim de Carvalho e a passagem para a PolyGram.
Compondo, escrevendo letras, fazendo arranjos e desempenhando a direcção musical nas gravações dos seus fonogramas, foi acompanhado por músicos com experiência em diversos domínios musicais, como o pop-rock, a musica popular portuguesa e a erudita e o jazz, dos quais se salientam Carlos Bechegas, Carlos Zíngaro, Edgar Caramelo, Guilherme Inês, Jorge Reis, Júlio Pereira, Rui Veloso, Zé Nabo, José Moz Carrapa, Zé da Ponte e Kalu, entre outros.
Durante a década de 1990 suspendeu a gravação de composições originais para se dedicar à reinterpretação da sua obra, participando regularmente noutros agrupamentos, realizando gravações para intérpretes próximos de si, compondo música para teatro, bem como preconizando inúmeros concertos pelo país, que se traduziram num amento significativo da sua popularidade, sobretudo junto do público mais jovem.
Em 1991, edita "Só", um álbum intimista, no qual revisita temas antigos, a solo e ao piano. Este trabalho foi premiado com um "Sete de Ouro" e foi considerado um dos álbuns do século XX.
O álbum "Ao Vivo" no Johnny Guitar, de 1993, surge na sequência da formação do grupo Palma's Gang, que reuniu os músicos Kalu e Zé Pedro (Xutos e Pontapés) e Flak e Alex Rádio Macau, e que realizou alguns concertos pelo país. Esta é uma segunda revisita à sua obra, mas desta vez num formato eléctrico, já que se tratava de um projecto rock. Participa, também, no álbum Sopa, dos Censurados, assinando a letra e emprestando a voz a "Estou Agarrado a Ti".
O ano seguinte fica marcado por vários concertos, a solo e com o Palma's Gang, destacando-se os concertos do S. Luís, mais tarde transmitidos pela RTP.
Durante o ano de 1995 continua a realizar concertos por todo o país, passando também pelo Casino Estoril, num formato solo, e com produção musical de Pedro Osório. Integrou, como pianista convidado, o Unplugged dos Xutos e Pontapés, na Antena 3, e foi letrista, compositor e músico em Espanta Espíritos, um álbum em que participaram vários nomes da MPP e que foi produzido por Manuel Faria, um ex-Trovante. Ainda neste ano, nasce o seu segundo filho- Francisco.
Integrou o agrupamento Rio Grande, em 1996, formado por Tim (Xutos & Pontapés), João Gil Ala dos Namorados, Rui Veloso e Vitorino, que alcançou uma considerável popularidade, gravando dois CD's (1996 e 1998). Nesse mesmo ano, musicou poemas de Regina Guimarães, integrados na peça de Bertolt Brecht "Lux in Tenebris" - levada à cena pela companhia de teatro de Braga - e colaborou com Sérgio Godinho, João Peste, Rui Reininho e Al Berto no espectáculo "Filhos de Rimbaud", apresentado no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Foi director musical do espectáculo teatral "Aos que Nasceram Depois de Nós", baseado em textos de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weill, Hans Eisler, do próprio dramaturgo e com uma composição de JP ("Do Pobre B.B."). Participa, também, no álbum Encontros - Canções de João Lóio, daquele ex-membro do GAC-Vozes na Luta, e vê ser recriado "Frágil" (de Bairro do Amor, 1989) por André Sardet, no seu álbum de estreia, Imagens. É, ainda, em 1996, que a EMI-Valentim de Carvalho lança a compilação Deixa-me Rir, integrada na colecção Caravela, contendo músicas dos álbuns "Asas e Penas", "O Lado Errado da Noite" e "Quarto Minguante".
No ano seguinte, para além dos habituais concertos, participa nalguns trabalhos, como em Todo Este Céu, de Né Ladeiras, uma revisita a temas de Fausto Bordalo Dias, e Voz e Guitarra, uma produção de Manuel Pedro Felgueiras (Ala dos Namorados), com a participação de inúmeros artistas, que escolheram e recriaram temas apenas com voz e guitarra. Sai também o segundo álbum dos Rio Grande - Dia de Concerto - ao vivo no Coliseu dos Recreios. Nele se estreia o original de Jorge Palma "Quem És Tu de Novo?", mais tarde incluído em Jorge Palma (2001).
Os anos finais da década de 1990 são marcados por muitos concertos e trabalhos. Destacam-se os concertos das queimas das fitas, "Festival Outono em Lisboa", vários durante a Expo, em nome próprio, em solidariedade para com a Guiné Bissau e como convidado do espectáculo "As Vozes Búlgaras", de Amélia Muge. Participou, também, no álbum de tributo aos Xutos e Pontapés – XX Anos XX Bandas - recriando "Nesta Cidade", acompanhado pela guitarra de Flak, e no álbum Tatuagem, de Mafalda Veiga, no dueto "Tatuagens", que veio a ser single do disco. Visitou também Timor Leste na companhia de Fernando Tordo.
Em 2000, continua a realizar concertos por todo o país. A Universal lança a colectânea Deixa-me Rir, que reúne canções dos álbuns Bairro do Amor e Só, e que se assume como um êxito comercial (mais de trinta mil cópias vendidas), mantendo-se no top nacional de vendas durante várias semanas. O enorme sucesso deste álbum levou a que o lançamento do novo álbum de originais, entretanto gravado, fosse sendo sucessivamente adiado, acabando por ver a luz do dia já em 2001. Ainda em 2000, JP participa no álbum de tributo a Rui Veloso, juntamente com Flak, interpretando "Afurada", para além de ter emprestado a sua voz a "Laura", canção pertencente à banda sonora do tele-filme da SIC, "A Noiva", que trata o tema da Guerra Colonial, precisamente aquela de que fugira vinte e sete anos antes.
Em 2001, sai, então, o álbum Jorge Palma, muito bem recebido pela crítica e ainda mais pelo público, ávido de novas músicas, mais de doze anos decorridos sobre o lançamento do seu último disco de originais. Logo na primeira semana, o disco chegou ao terceiro lugar do top nacional e foi disco de prata. Dois meses antes, fora reeditado Acto Contínuo, cuja versão não existia, ainda, em formato CD. Nesse ano abriu o terceiro dia do Festival Sudoeste e tocou nos Coliseus de Lisboa e Porto, em Novembro, entre outros concertos. Escreveu um tema para Mau Feitio, um álbum de Paulo Gonzo, deu a voz a "Diz-me Tudo", música de abertura da telenovela portuguesa da SIC "Ganância" e emprestou o piano a "Fome (Nesse Sempre)", tema de estreia dos Toranja.

Em 2002, recebeu o prémio José Afonso pelo seu disco Jorge Palma e foi nomeado para os Globos de Ouro, promovidos pela SIC, nas categorias de melhor intérprete individual e de melhor música ("Dormia Tão Sossegada"). Deu três concertos em Junho, no Teatro Villaret, acompanhado pelo seu filho Vicente, que foram editados num CD duplo, lançado em Setembro, com o título No Tempo dos Assassinos - Teatro Villaret - Junho de 2002. Contém trinta e três temas da sua vasta obra.

Ainda em 2002, os Cabeças no Ar - na prática, os Rio Grande sem Vitorino - lançam um disco e Qualquer Coisa Pá Música é reeditado.

Em 2003 e 2004, a agenda preenchida mantém-se, com inúmeros concertos pelo país, incluindo participações em concertos de Sérgio Godinho. Prepara, no entanto, um trabalho gravado em sua própria casa em que alia a sua interpretação ao piano à voz de Ilda Fèteira, numa incursão pela poesia portuguesa contemporânea. Esta "obra de culto" foi editada a expensas próprias e apresentada na Associação 25 de Abril.
Em Agosto de 2004, JP entrou para estúdio de Mário Barreiros, no Porto, para gravar mais um álbum de originais, que contou com participações especiais de muitos músicos portugueses com quem JP ainda não tinha trabalhado até então. O disco teve por título "Norte".

Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

"Valorizar a musica açoriana"


Stream nas Portas do Mar

“Existe uma predilecção de que o que é de fora é que é bom”, mas há que “valorizar” a música, e não só, feita nos Açores e a nível do país. Segundo Toni, vocalista e guitarrista dos Stream, os músicos têm de ser “responsáveis” e “é muito importante credibilizar o rock”, que actualmente não é considerado como “cultura açoriana”. Caso contrário, admite, as pessoas dizem que estes são apenas uns “guedelhudos que andam a ai abanar a cabeça e mais nada”.


Nasceram em 2002 e, em 2007, ganharam o Angra Rock com “Another Story”, tema que faz parte da banda sonora do filme (de Tom Green) "Shred - Rider or be ridden". O objectivo dos Stream é editar um álbum. A banda de Rock define-se como tendo influências Punk e Pop.
Edie, baixista dos Stream, conta que a banda nasceu de um grupo de “amigos que gostavam de tocar e gostavam muito de rock”. No início começaram por tocar alguns ‘covers’ de alguns temas que gostávamos de ouvir, mas depois sentiram a “necessidade” de tocar “originais”.
Composta por Toni (vocalista/guitarrista), Nuno (baterista), Edie (baixista) e John (guitarrista), a banda nasceu em 2002 e foi “catapultada” por ter ganho o concurso Angra Rock, o que ajudou à sua promoção. O grupo fez o uso “racional” do prémio monetário do Angra Rock, aproveitando-o para lançar o primeiro EP, enquanto, ressalva, a “maior parte” das bandas divide o dinheiro pelos membros. “Não tínhamos muito dinheiro e era uma forma de ter um financiamento”.
Os quatro amigos são todos terceirenses e têm em comum o “gosto” pela música. A sensação de terem ganho o Angra Rock foi “muito boa”, pois é muito “gratificante e é sempre bom vermos o nosso trabalho reconhecido”.
Do Porto, à Austrália e a Nova York, tudo passou um pouco pelo trabalho de “promoção” da agência. Quando tiveram o “Another Story” nas mãos, recorda, o objectivo foi “lançá-lo para todos os canais e mostrá-lo ao maior número possível de pessoas”, o que teve alguma “repercussão”. Na Austrália, por exemplo, as rádios independentes apostaram e passaram o Another Story, que “entrou para o Top 10 das músicas mais passadas” na rádio. Nos Estados Unidos, sublinha, a Outsource Records apostou no “Another Story” para a compilação do grupo Tronics, revertendo os lucros para a “Cruz Vermelha americana”, pois segundo o grupo é bom estarem ligados a uma causa tão “nobre”. Além disso, foi “muito bom”, reconhece, terem escolhido este tema para um filme do Tom Green, que tem grande repercussão. “Lançamos a música para todo o lado e esperamos que algo acontecesse”. Mas quando souberam que a música ia fazer parte do filme, confessa que a primeira reacção foi de “desconfiança”, do tipo “só acredito quando vir”, mas depois que ficaram “muito felizes”.
O primeiro álbum do grupo sai, em princípio, no último trimestre deste ano, revela e chamar-se-á “Folow the Stream”. O álbum tem alguns temas mais antigos, outros novos e no geral é uma “chamada de atenção” para as pessoas saberem que “os Stream estão cá, que se faz boa musica rock nos Açores”.
“Queremos mostrar-nos ao mundo”- acentua. Referindo-se aos temas do grupo, o músico avança que no início se preocupavam em que as letras falassem de “desgostos de amor e das contrariedades das relações amorosas”, mas à medida que amadureceram sentiram a necessidade de abordar outros temas, como as dificuldades com a “guerra ou a hegemonia dos Estados Unidos no mundo” e outras questões que lhes “preocupam”.
Tony, vocalista e guitarrista, falou sobre o “Another Story”, avançando que o tema conseguiu pô-los nas “bocas do mundo, ou pelo menos nos ouvidos”, afirma, satisfeito, avançando que este chegou já a várias rádios da “Austrália, Japão e Estados Unidos. A canção, esclarece, fala basicamente das “confusões que existem no mundo” e aborda o “conflito pessoal” das pessoas.
Outro aspecto importante do grupo é o facto de só serem editadas músicas das quais os membros gostam. “Estamos primeiro e aí o produto torna-se mais genuíno e mais sincero”- salienta, acrescentando não terem uma mensagem “específica”. Pretendem apenas “transmitir energia”.
Em termos de projectos, a única preocupação é “editar o álbum”, que começou a ser gravado em Fevereiro, mas normalmente as coisas “nunca” correm como o planeado. “Há sempre uns atrasos, mas a paciência é uma virtude”.
Os músicos aproveitam ainda para dizer aos açorianos que “apoiem a música açoriana e tudo o que se faz na Região”, pois há muita ‘coisa’ de “qualidade”.
“Notamos que existe uma predilecção, quase um mecanismo de que o que é de fora é que é bom”- lamenta, acrescentando que já tiveram situações em que as pessoas ouviram a música do grupo “sem saberem” de quem era. “Perguntaram se a banda era americana e disseram ser a nossa, açoriana. E as pessoas não sabiam, não faziam ideia”. Tem que se tentar dar “mais valor” ao que é nosso, “não só na música”, mas “aos artistas açorianos e mesmo nacionais”.
“É muito importante credibilizar o rock”, sublinha, que actualmente não é considerado como “cultura açoriana”. Apesar de o rock ser algo que veio de fora, “o rock feito nos Açores é cultura açoriana e cabe às bandas açorianas credibilizarem-no e tornarem-no o mais profissional possível”. Os grupos têm de “dar o salto da pequena garagem” onde ensaiam para fazerem algo com “cabeça, tronco e membros e com responsabilidade” para “chamar a atenção”. Caso contrário, admite, as pessoas dizem que são só uns “guedelhudos que andam a ai abanar a cabeça e mais nada”. Os músicos têm de ser “responsáveis e íntegros”. Para saber mais sobre a banda, basta visitar http://www.followthestream.net/ ou o “My Space”.

Biografia


Tudo começou em 2002 para os Stream com vários espectáculos e a vitória no Angra Rock, que os levou a conquistar gradualmente o reconhecimento do público.
Em 2006, editaram o single “An other Story”, com uma campanha de promoção a nível mundial, que alcançou o 16.º lugar do Top 40 da World Indie Countsown da Austrália. Em Portugal, a SIC dava destaque à banda com uma reportagem em horário nobre, no Telejornal Nacional.
A tentativa de consolidação da presença da banda no mercado norte-americano está assegurada, graças ao acordo com a editora de Nova Iorque Cutiepop records Co., que ficará encarregue pela promoção dos "Stream" e pelo agendamento de concertos nos EUA.

Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

Nunca sabemos o que comemos!


Feira de Segurança e Qualidade Alimentar


Os Açores são uma Região exportadora de alimentos, que produz cerca de “30% do leite do país” e exporta diversos produtos ligados à actividade agropecuária e à pesca. Segundo Duarte Ponte, as ilhas são um destino turístico em “ascensão” que pretende fazer da qualidade, uma das suas vantagens comparativas, logo Qualidade e a Segurança alimentar são temas “centrais” para o desenvolvimento económico da Região. Para Pedro Vichiatti, director do serviço de operações da ASAE, o país está dentro da normalidade nesta área, tendo em termos de incumprimento uma “taxa na casa dos 30%”, o que está dentro dos padrões “aceitáveis”.

“A indústria alimentar regional representa cerca de 80% da nossa capacidade industrial instalada” – foram palavras de Duarte Ponte, secretário regional da economia, na Sessão de Abertura da Feira de Segurança e Qualidade Alimentar, realizada em Ponta Delgada.
O secretário começou por dizer que os Açores são uma Região exportadora de alimentos. “Produzimos cerca de 30% do leite do País e exportamos diversos produtos ligados à actividade agropecuária e à pesca.
As ilhas são um destino turístico em “ascensão” que pretende fazer da qualidade, uma das suas vantagens comparativas, logo a Qualidade e a Segurança alimentar são temas “centrais” para o desenvolvimento económico da Região.
As empresas e trabalhadores que lidam com os produtos alimentares nos Açores “evoluíram muito”- salienta, avançando que o HACCP é uma sigla conhecida por todos os empresários e trabalhadores do sector. Cerca de dois mil trabalhadores e mais de 800 empresas estiveram envolvidas em cursos de formação profissional.
Referindo-se ao SEPROQUAL e ao QUALIMAÇOR, o governante reconhece que tiveram grande sucesso e o que já foi feito em prol da segurança alimentar não tem “qualquer paralelo” noutra Região do País. “Desenvolvemos um conjunto vasto de acções, em parceria com a Câmara do Comércio e Indústria dos Açores, fundamentais para ajudar as empresas no desenvolvimento dos seus sistemas de auto controle”-acentua.
Os tempos de mudança eram “obrigatórios” para todos, o que foi feito de uma forma “progressiva”, compreendendo a realidade regional, mas dando sinais crescentes de que o tempo da mudança era “urgente”. Na sua opinião, só há verdadeira mudança se a maioria dos empresários a “acompanhar”, pois esta não se faz com Decretos-Lei, mas com “pessoas e com formação”.
Hoje, a segurança alimentar ocupa um lugar de “destaque” na atenção do consumidor e quando este está “confiante e seguro” dos produtos que compra, constitui uma “mais-valia” para as empresas. Por isso cumprir os regulamentos é uma exigência da lei, mas sobretudo um “benefício” para as empresas.
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, é preciso ter sempre em atenção que “novas ameaças emergem todos dias”. Basta dizer que a crescente globalização na indústria alimentar, faz com que, por vezes, “um incidente que ocorra numa dada fábrica de um dado país, afecta um número elevado de consumidores noutra parte do globo”, como aconteceu com as intoxicações de Salmonela em gelados nos Estados Unidos, que afectaram milhares de pessoas, exemplifica.
Outro ponto fundamental, alerta, é a “cooperação das diversas instituições internacionais” e sobretudo o estabelecer de “patamares” de segurança confortáveis, que permitam minimizar riscos.
Assiste-se a um cada vez maior número de pessoas com “deficiências no sistema imunitário”. A longevidade é maior, existem mais idosos e têm surgido novas doenças que “comprometem” o sistema imunitário. Logo, os níveis de segurança têm de “aumentar”, porque existem cada vez mais segmentos da população com maior susceptibilidade aos efeitos nocivos dos agentes infecciosos, eventualmente presentes nos alimentos. Assiste-se também a uma maior “resistência” dos microrganismos aos tratamentos por antibióticos, devido a um uso excessivo dos mesmos, na produção animal e na saúde pública.
É necessária uma monitorização “correcta e exaustiva” da qualidade sanitária dos alimentos, antes e durante os respectivos processamento e armazenamento. Para se “reduzir a intensidade” dos tratamentos térmicos aplicados aos alimentos que têm sempre um efeito “deletério” na qualidade dos alimentos, é necessário reduzir as “contaminações iniciais” destes alimentos, o que se adquire com “mais limpeza e mais auto controle”. A prevenção e o controlo das micotoxinas são também áreas de “grande relevância” na segurança alimentar.
As doenças transmissíveis ao homem através dos alimentos, estiveram em grande destaque há uns anos atrás, devido à chamada “doença das vacas loucas”, recorda, contrapondo que o consumidor é o “principal responsável” por uma boa parte das toxi-infecções alimentares. “Considera-se que aproximadamente um terço das toxi-infecções alimentares na Europa, sucedem devido a um deficiente tratamento dos alimentos em casa”- ressalva, acrescentando que “falta de higiene, de cuidados na congelação e descongelação dos alimentos, de contaminações após a confecção e de contaminações cruzadas” são normalmente os problemas que ocorrem com maior frequência nas cozinhas.
Até há bem pouco tempo, o preço era o factor mais “determinante nas decisões de compra” dos alimentos. Actualmente, existem três tendências que estão a ganhar importância na aquisição de um alimento, como “o prazer que este alimento ocasiona, em termos de sabor, aroma, cor e textura; a forma como que este alimento é apresentado e a facilidade com que é preparado em casa e; o efeito na saúde e no bem-estar”.
Todos queremos ser jovens, porque sabemos que “a saúde está na alimentação”. Daí a importância crescente que a nutrição desempenha na decisão de compra de um alimento. À medida que se eleva o poder de compra da população e depois de se ter atingido um estádio de sobrealimentação, uma proporção crescente de consumidores está a alterar a sua atitude no sentido de “privilegiar” os alimentos com baixo teor de gordura, por exemplo. A percepção da qualidade está em “constante e rápida” mutação.
À margem do evento, o Terra Nostra falou com Costa Martins, presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada. A seu ver, esta feira é a prova de que se dá "prioridade aos sectores com maior peso na economia açoriana" e surge motivada pela necessidade de "divulgar e de promover boas práticas".
Referindo-se aos Açores, o presidente avança que "muito" se tem feito nesta área, tendo o Governo Regional apoiado diversas iniciativas que ajudam as empresas a implementar sistemas de Segurança e Higiene Alimentar, como o Qualimaçores que cobre “todas” as ilhas e é direccionado para as "pequenas e médias empresas". As Câmaras do Comércio contrataram técnicos que prestam serviços de “apoio e de consultoria”, complementando a sua intervenção com a “formação profissional” necessária.

As maiores dificuldades nesta área prendem-se com as “limitações das pequenas empresas em termos de recursos económicos e humanos”. Para isso, existe um conjunto de apoios e programas que ajudam a “ultrapassar” essas dificuldades. Havendo a necessidade de “investimentos”, as empresas podem fazê-lo através dos programas de incentivos ao investimento, pois na conjectura actual, as empresas têm ao seu dispor um leque “variado” de apoios nesta e outras áreas.

Para uma melhoria neste sector, a situação exige um “trabalho contínuo”. Muito já foi feito, reconhece, e existe uma margem de melhoria do cumprimento dos requisitos legais. “Muitas empresas estão certificadas nesta área ou em vias de o concretizar, sendo o objectivo ter a maioria das empresas, com dimensão e actividade que o justifique, certificadas”- esclarece.

Os organismos institucionais e a responsabilidade das empresas, o governo e as associações que representam as empresas, têm desenvolvido “esforços e investido fortemente” nesta área. Também assistimos a uma “evolução positiva” nas empresas, com a inclusão desta e outras vertentes nas suas estratégias de negócios.
A nível das empresas, a maioria é “cumpridora” dos requisitos legais, estando-se actualmente a discutir a “reformulação de algumas regras”, cuja implementação obriga, actualmente, à alteração de actividades tradicionais, em específico o modo de fabrico/produção que dão as características “específicas” ao produto. Salvo estas excepções, o nível actual na área de Higiene e Segurança Alimentar é “satisfatório”.

Mesmo não sendo a Câmara do Comercio de Ponta Delgada a receber queixas de anomalias no ramo alimentar, quando esta tem conhecimento disponibiliza os seus serviços para “apoiar e esclarecer aspectos técnicos” das reclamações.
Por seu turno, José Luís Amaral avança que esta iniciativa está relacionada com um trabalho desenvolvido na Região desde “há seis anos”. Têm feito “formação, consultoria no local de trabalho e análises laboratoriais” para confirmação dos resultados. Tem sido desenvolvida na Região uma “acção pedagógica” junto dos empresários, pois o consumidor é o “principal beneficiado”. Muitas das situações deviam-se a “falta de conhecimento”. Cabe às entidades públicas, ao governo dar às empresas “apoio” diário.
Inserida na Feira, pudemos assistir ainda à entrega quatro primeiros certificados aos produtores de bolos lêvedos. Alexandra Andrade, directora do Centro Regional de Apoio ao Artesanato, avança que toda a área alimentar desde que passe pelo artesanato, tem a segurança alimentar “garantida”. Importa é “chamar a atenção para a área alimentar e dizer que esse sector também pode ser artesanato”.
Pedro Vicchiatti, director do serviço de operações da ASAE, começa por salientar que a relação entre a ASAE e as entidades locais nesta matéria é muito “estreita”. Referindo-se à situação a nível nacional explica que têm vindo a realizar todos os dias acções de “fiscalização”, há sempre problemas e todos os dias encontram agentes económicos em “incumprimento” da legislação, mas estamos dentro da normalidade. Isto é, de um modo geral em termos de incumprimento as nossas acções têm encontrado uma “taxa na casa dos 30%”, o que está dentro dos padrões aceitáveis.
Quanto à aplicação, ou não, das HACCP às pequenas e médias empresas, o director avança que há legislação que ainda tem de ser regulamentada, embora o legislador comunitário tenha dito que há algumas excepções e que “tem de haver um regime mais simplificado”. Desde que isso seja transformado em lei, obviamente que os inspectores passarão a “cumprir” a lei.
A “maior” dificuldade prende-se com o facto de alguns produtores ou comerciantes que “não fazerem parte de associações”. Isto, porque um agente económico sozinho “não tem capacidade de absorver tanto conhecimento”. Através destas são “canalizados” os conhecimentos e estas prestam um “conjunto de apoios” a esses pequenos produtores e comerciantes.
O país está “bem” a nível da Segurança alimentar, à excepção de casos “muito pontuais” no continente em que se suspende a actividade. “Quando a falta de higiene é tão notória e tão grave, o estabelecimento não pode continuar aberto. Isto é o que mais nos preocupa, os casos de intoxicação alimentar que por vezes ainda vão ocorrendo principalmente em grupos de risco como crianças e idosos. Mas é algo para que estamos preparados e actuamos de imediato, logo que temos conhecimento da situação”-ressalva.
No caso de infracções menores é “elevado o respectivo Auto e o processo segue as vias normais, sendo aplicada uma coima ou uma sanção que varia de 25 euros até 40 ou 50 mil euros, dependendo da situação”.
Referindo-se às infracções mais frequentes, Pedro aponta ser a “falta de higiene”.
O evento, dedicado à Qualidade e Segurança Alimentar, foi organizado pela Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada em parceria com a Direcção Regional do Comércio, Indústria e Energia e teve como alvos o público em geral, instituições e empresas, nomeadamente da área de serviços e comercialização de equipamentos da área; de formação e certificação da qualidade e qualquer empresa que inclua nas suas estratégias a divulgação de boas práticas na área.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A música como forma de "intervenção social"

Pólo Norte

Aborrece-o "muito" haver músicos que conseguem "captar a atenção" de centenas e milhares de pessoas e que não fazem "nada" com isso. Ter esta força, esta forma de poder do nosso lado e não a utilizarmos é um bocadinho "redutor". Há que tentar utilizar isso como forma de "intervenção social", de modo a "mudar" alguma coisa e "alertar". Segundo Miguel Gameiro, vocalista dos Pólo Norte, o mundo está "maluco e um pouco desorientado", pois há "muita guerra e muitos conflitos". Na sua opinião, está na altura de começar a "trazer as mulheres para o poder", pois tudo seria, "pelo menos, muito menos hormonal e haveria muito menos violência".

"Aprender a Ser Feliz" e "Um Caso Raro" são alguns exemplos de sucesso desta banda, que visitou Ponta Delgada mais uma vez, para encantar os micaelenses com os seus êxitos.
Miguel Gameiro, vocalista dos Pólo Norte, começa por contar que o grupo nasceu "há 15 anos", de um grupo de amigos que se juntava para "conviver e para tocar". Tudo começa assim, salienta, avançando que depois tiveram a "oportunidade" de gravar um disco, e correu "bem". Surgiram alguns concertos e, enfatiza, quando damos conta, já lá vão 15 anos.
Estava no 12º Ano quando o pai lhe ofereceu uma guitarra e Miguel começou a tocar, a escrever e a compor. "Levava a guitarra para a escola e tocava com os meus amigos nos intervalos. Foi tudo muito natural, pois éramos todos vizinhos e colegas de escola".
Referindo-se ao nome do grupo, conta que na altura pensaram em "Expedição", que acaba por ser utilizado no primeiro álbum do grupo e que seria o fim de uma viagem que fariam, em termos de "aventura". Mas depois decidiram-se por Pólo Norte como um objectivo dessa viagem e como meio de "orientação".
O grupo, constituído, em 2007, por Miguel Gameiro (voz), Tó Almeida (guitarra), Marco Vieira (baixo) e Luís Varatojo (Bateria), já editou "Expedição" (1995), "Aprender a ser feliz" (1996), "Longe" (1999), "Pólo Norte ao vivo" (2000), "Jogo da Vida" (2002), "Deixa o mundo girar" (2005) e "Quinze anos", lançado no início deste ano e que comemora a existência da banda. Cada álbum, revela, conta a história dos Pólo Norte em determinada altura e retracta um pouco também a vivencia dos seus membros, enquanto músicos, "marcando a história" do grupo, na altura em que foi gravado e composto.
As músicas têm como base de inspiração "as pessoas", a sociedade em que vivemos e, de uma forma geral, o mundo que nos rodeia e falam de tudo um pouco, como de "experiências amorosas". Lembra sermos seres "pensantes" e com sentimentos "às vezes mais à flor da pele", do que era "desejável" em determinadas ocasiões. "O que fazemos é também apanhar um bocadinho do que se vai passando à nossa volta e connosco também e retratar isso nas músicas e nas letras"- salienta, avançando que essencialmente passam para os discos aquilo que "vivenciam e experienciam " no seu dia-a-dia.
Uma das músicas mais populares do grupo é, sem dúvida, "Um Caso Raro", que fala de alguém que não é "entendido" na sua forma de ser e estar. Não por ser diferente dos outros, alerta, mas pura e simplesmente a própria pessoa "não sabe se se faz entender da melhor maneira e se o problema é dela ou dos outros". É um "confronto de sentimentos".
Internacionalizar a música portuguesa numa vertente talvez mais de Pop Rock é "difícil", o que, sublinha, não quer dizer que não aconteça. Apenas se torna mais complicado, para um país como o nosso, chegar ao mundo através de uma linguagem universal. Na área do 'Heavy', o cantor dá o exemplo dos Moon Spell, que considera um grupo com uma "grande força e uma grande pujança", num segmento que tem um público "muito fiel e muito específico". Na World Music, salienta, temos a Marisa, os Madredeus e a Dulce Pontes, que, reconhece, consegue chegar lá fora com "outro tipo de sonoridade", algo de "cariz" mais português e de influências portuguesas. Mas, numa vertente de Pop Rock reconhece ser um pouco "mais difícil", pois a cultura Pop Rock portuguesa é relativamente "recente" e há grupos que já o fazem há muito mais tempo. Lembra ainda que, mesmo que não pareça, Portugal é um país "muito pequenino" e o mundo lá fora é "imenso".
Referindo-se ao papel das rádios e à nova lei que as obriga a passar uma certa quota de música portuguesa, o simpático cantor reconhece que estas são a "voz" dos músicos. Além disso, lamenta, quase não se faz televisão, "quase não" há espaços televisivos, onde o grupo possa mostrar o seu trabalho. "A rádio é realmente o nosso veículo", salienta, avançando ser lamentável que seja preciso "obrigar" as rádios fazer algo, que deveria ser do senso comum, como "passar a música da nossa língua". Devia ser algo "natural, em que não é necessária nenhuma imposição, como tomar o pequeno-almoço ou almoçar", pois tal como precisamos das nossas "rotinas diárias", também precisamos de ouvir a nossa música nas rádios. "Deveria ser algo natural e espontâneo, pois estarmos a obrigar a que isso aconteça é estranho"- acentua, acrescentando que tudo parece estar um pouco diferente, "para melhor". Também tem acontecido muito as rádios passarem grupos portugueses a cantarem em inglês, mas "as pessoas são livres de ouvirem aquilo que gostam e se se identificam mais com a língua inglesa e se expressam de melhor forma em inglês, porque não o fazer?"- questiona-se.
Quanto ao que leva as rádios a passarem mais música estrangeira do que portuguesa, o cantor aponta que apesar das pessoas gostarem de música portuguesa, o facto é que continua a existir uma certa "mentalidade", de que "o que vem de fora é sempre melhor". E continua, dizendo que temos alguma música sem qualidade em Portugal, mas no estrangeiro "também há muita musica má", a que não damos importância em absoluto. "Temos sempre um bocadinho a tendência de nos menosprezar", lamenta, acrescentando que mesmo sendo um país "pequeno", já andamos pelos quatro cantos do mundo, pois os portugueses são um povo de cariz "aventureiro e de descobridores". Por isso, sublinha, "não se percebe" a razão de ser desta mentalidade, às vezes, "tão pequena e tão reduzida". Determinados países podem estar à nossa frente, a maior parte deles em questões sociais e culturais, devido à sua própria história, mas apesar de tudo ainda temos uma "democracia relativamente jovem" e muitas coisas boas "mesmo", em termos "culturais e de valores, muito à frente de outros países" também. Importa é "aproveitá-las, saber explorá-las e saber acreditar" nelas.
É difícil seleccionar um concerto ou álbum do grupo de que goste particularmente, mas, sublinha, há sempre concertos que "marcam de uma forma diferente", como os primeiros do grupo, recorda. Concertos, que deram por serem "realmente diferentes" e em que vivenciaram pela "primeira vez" o que é pisar um palco.
"Nos Açores já demos grandes concertos que nos marcaram sempre"- enfatiza, acrescentando que o público também é "bastante caloroso" e recebe-os "sempre muito bem". O álbum afirma não conseguir eleger o se favorito, pois gosta de "todos", são a "história" da banda. "Obviamente", há canções que considera estarem mais bem "conseguidas", do que outras, como o "Ser Feliz", "Lisboa" ou "Longe" e que marcam mais as pessoas, mas "não" sabe porquê.
Miguel Gameiro aproveita também para dizer que o artista tem uma certa "responsabilidade social e deve usá-la", acrescentando que o "aborrece muito", haver músicos, e não só, que conseguem "captar a atenção" de centenas e milhares de pessoas e que não fazem "nada" com isso. Ter esta força, esta forma de poder (no bom sentido, alerta) do nosso lado e não a utilizarmos para coisas boas, só em nosso benefício e para o nosso trabalho, é um bocadinho redutor". Há que tentar utilizar isso como forma de "intervenção social", de modo a "mudar" alguma coisa e "alertar".
A nível mundial, Miguel Gameiro reconhece que o mundo está todo "maluco e um pouco desorientado", pois há "muita guerra, muitos conflitos e muitas hormonas". Na sua opinião, está na altura de começar a "trazer as mulheres para o poder". O cantor confessa ainda que gostava de ver, mais vezes, as "mulheres à frente dos governos", pois acredita que tudo seria, "pelo menos, muito menos hormonal e haveria muito menos violência", o que era importante. "Felizmente, já há alguns países em que isto acontece e está na hora das mulheres assumirem o seu papel, para ver se conseguem acalmar um bocadinho este mundo, que está a atravessar um momento de uma certa insegurança e instabilidade"- argumenta.
A crise que se vive a nível nacional, afirma dever-se a uma série de factores, mas essencialmente a um "conjunto de governantes que por ali passaram e nunca fizeram nada pelo país"-avança sem querer mencionar partidos ou políticos, visto não ter "cor partidária". A seu ver, a crise está relacionada com uma serie de "erros que vêm do passado, não só deste governo". Isto acontece, porque nunca houve realmente uma "consciencialização" de que estar na política e ser político é para "fazer o bem" às pessoas, salienta, acrescentando que dá "sempre" a sensação de haver um "segundo interesse" em estar na política. "Eu não conheço políticos que existam para servir as pessoas. Poderá haver alguns, peço imensa desculpa aos que possam ler isto e achar que estou a ser injusto, mas eu não conheço"- acentua.
Referindo-se à fome que existe no mundo, o cantor reconhece que, infelizmente, "sempre" haverá gente que esteja a passar fome e, países que vão ter muito e outros não vão poder ter nada. Podia haver, argumenta, uma "distribuição igualitária dos recursos", se as pessoas quisessem, mas realmente "não há vontade de fazer esta mudança". É simples: para alguns países continuarem muito ricos, outros terão necessariamente de continuar muito pobres e nesse sentido "acho que as coisas nunca vão mudar".
O cantor aproveita ainda para desejar um "grande abraço" a todos os açorianos, pois o grupo é "sempre muito bem recebido" quando visita a Região. Os açorianos, considera-os um povo "muito acolhedor e muito caloroso". As pessoas de um modo geral são "muito quentes e recebem muito bem as bandas", avança, dando o seu "obrigado".
Os Açores são uma Região "extraordinária", ressalva, lembrando ter ficado "deliciado" quando visitou São Miguel pela primeira vez. Abordando o progresso das ilhas, o cantor defende que "infelizmente" este sempre o seu lado "negro". Claro que é "bom em termos de turismo e do crescimento das ilhas, embora haja coisas que se vão "perdendo". Mas é algo necessário, reconhece, mesmo porque os locais "necessitam" mesmo deste progresso e desta evolução. Consegue-se ter coisas "lindíssimas" nas ilhas e "em São Miguel, particularmente, há muitos pontos de atracção", que se podem visitar, conhecer e onde se pode estar.
O último álbum, salienta, "marca a carreira e a história" do grupo. São 15 anos de canções, 15 temas que escolheram para representar o disco, que no fundo "retracta" um pouco o que são os Pólo Norte. Deste ultimo álbum, o cantor selecciona "Grito" como o tema, a seu ver, mais bem conseguido.
Em termos de projectos, ainda não têm ideias definidas para um próximo álbum, mas brevemente, revela, terão "novidades". O essencial, é "continuar a fazer estrada e a estar e contactar com as pessoas", a compor e a escrever.

Biografia
Ao longo de dez anos, os portugueses foram-se habituando a viver com a música de uma das mais contagiantes bandas portuguesas.
Com o primeiro álbum «Expedição», que foi disco de ouro, produzido por Fernando Cunha e editado em 1995, os Pólo Norte conquistaram um lugar de destaque no panorama da música nacional. Volvidos dois anos, o grupo regressa com um novo disco de originais, «Aprender a ser Feliz», desta feita produzido por Fernando Júdice, que atingiu também o galardão de disco de ouro.
O ano de 1999 vê o grupo editar mais um álbum "Longe" produzido por Jony Galvão, de onde se extraíram canções como, "Longe" "Como uma onda" e "Se eu voltasse atrás". Um ano mais tarde, o grupo sente-se preparado para a gravação de um álbum ao vivo que regista em concerto, na mítica Aula Magna.
No dia 29 de Abril de 2002, rumam a Espanha e entram num dos mais prestigiados estúdios de Madrid, o Eurosonic (onde já se fizeram discos de Alejandro Sanz, Compay Segundo ou Manu Chao), para darem início às gravações do seu novo álbum, «Jogo Da Vida». O disco foi produzido por Bori Alarcón, um dos mais reputados produtores do país vizinho, que já trabalhou com artistas espanhóis como Vicente Amigo (com quem ganhou um Grammy), M-Clan e Quique Gonzalez.
3 anos depois, a banda apresenta-se no seu melhor com "Deixa o Mundo Girar". Produzido por Steve Lyon (produtor britânico consagrado pelos trabalhos que realizou com The Cure, Raemon), "Deixa o Mundo Girar" é considerado pelo grupo o seu melhor e mais ambicioso disco. Não sendo gravado ao vivo, é um disco que reflecte a força e energia do grupo, onde o grupo se sente melhor… no palco.



Raquel Moreira


Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

Salários mínimos e médios muito "baixos"!


Segurança Social

A crise torna-se mais severa em situações de “desemprego, de emprego precário ou de trabalho mal remunerado”. Segundo Nélio Lourenço, presidente do Conselho de Administração do Instituto de Gestão de Regimes de Segurança Social, as famílias estão a ser “muito afectadas” pelos baixos salários, que nos últimos anos, sublinha, não têm crescido na mesma proporção da inflação ou das taxas de juro. “Temos um problema social muito característico de Portugal e os Açores não estão excluídos: muitas pessoas trabalham e são pobres”- acentua, avançando que trabalhar e ser ao mesmo tempo pobre é uma situação, que “caracteriza socialmente” o país. Os salários mínimos e médios são “demasiado baixos” em Portugal, alerta.


As famílias estão a ser muito afectadas pelos baixos salários que não têm crescido na mesma proporção da inflação ou das taxas de juro. Portugal tem um problema social muito característico e os Açores não estão excluídos: muitas pessoas trabalham e são pobres. Trabalhar e ser ao mesmo tempo pobre é uma situação, que caracteriza socialmente o país e os salários mínimos e médios nacionais são “demasiado baixos”. Falamos com Nélio Lourenço, presidente do Conselho de Administração do Instituto de Gestão de Regimes de Segurança Social, sobre a realidade da Região a nível da Segurança Social.
T.N.- Que tipos de apoios são mais procurados na Segurança Social?
Nélio Lourenço - Quando analisamos o montante pago em prestações de segurança social (excluindo as pensões) nos Açores, verificamos que o maior valor se refere ao “Abono de Família”, que foi em 2007, de 19, 7 milhões de euros. Valor que será superior no corrente ano, devido ao aumento de 20% no Abono para as crianças e jovens inseridos em famílias monoparentais. O “Rendimento Social de Inserção” ocupa o segundo lugar”, em termos de despesa, com 16, 2 milhões de euros pagos em 2007, menos cerca de 1 milhão de euros do que em 2006. Em terceiro lugar, registamos o “subsídio de desemprego”, com 12,1 milhões de euros em 2007, contra 12, 7 milhões em 2006 e uma taxa de crescimento de 4,53%. Em 2007, foram pagos 73.541.865.39 Euros em prestações sociais nos Açores, o que representou um crescimento negativo em relação a 2006. Para isto, contribuiu decisivamente a descida de mais de 6% do Rendimento Social de Inserção. O subsídio de maternidade é a prestação que mais cresce (25%), contando com a nova lei do abono pré-natal. As taxas de crescimento do Rendimento Social de Inserção e do Abono de Família em 2006 e 2007 foram de -6,27% e -0,07% respectivamente.
Os subsídios com maior taxa de crescimento em 2007 foram, por ordem crescente, o Subsidio Social de terceira pessoa (3,15%); o Subsídio Social de Desemprego (7,96%); o Subsidio por Tuberculose (13,37%) e o Subsidio de Maternidade (25,72%). Por outro lado, os que apresentaram valores taxativos mais baixos, por ordem decrescente, foram o Subsidio Eventual a Famílias Carenciadas (-6,34%); o Rendimento Social de Inserção (-6,27%); o Abono de Família (-0,07%) e o Subsídio de Desemprego (-4,53%).
T.N.- Quais as maiores queixas das pessoas, em tempo de crise?
N.L.- Uma vez que processamos prestações de segurança social, que advém de direitos, não contemplamos os apoios concedidos em situações pontuais de precariedade económica - Apoios esses, concedidos pelo Instituto de Acção Social. Mas temos a noção que a crise se torna mais severa em situações de desemprego, de emprego precário ou de trabalho mal remunerado.
As famílias estão a ser muito afectadas pelos baixos salários, os quais nos últimos anos não têm crescido na mesma proporção da inflação ou das taxas de juro. Temos um problema social muito característico de Portugal e os Açores não estão excluídos. Muitas pessoas trabalham e são pobres. Trabalhar e ser ao mesmo tempo pobre é uma situação, que nos caracteriza socialmente. Os salários mínimos e médios são demasiado baixos em Portugal. Essa é uma das razões, porque temos uma elevada taxa de beneficiários de Rendimento Social de Inserção.
T.N.- Quais as classes etárias que requerem mais subsídios?
N.L.- Atendendo à caracterização etária dos beneficiários das prestações sociais, poderemos dizer que as “crianças e jovens” (menores) são os principais beneficiados, quer pela via do Abono de Família, quer pela via do RSI, uma vez que, cerca de 50% dos beneficiários desta prestação tem menos de 18 anos.
T.N.- Qual o perfil das famílias que mais requerem ajuda e em que zonas geográficas?
N.L.- Em consequência do que foi dito atrás, teremos um perfil de família com agregado familiar numeroso, com baixos rendimentos, em zonas geográficas caracterizadas por uma população jovem.
T.N.- É curioso que metade do subsídio de reinserção social seja solicitado por camadas muito jovens. Na sua opinião, o que leva a que isso aconteça? As pessoas querem escolher o emprego?
N.L.- Uma elevada percentagem dos agregados familiares beneficiários do RSI tem rendimentos do trabalho e, ao mesmo tempo, recebe RSI. Tal deve-se, como já referi, aos baixos salários, os quais, em agregados familiares numerosos, não são suficientes para os excluir da prestação. Por outro lado, como são famílias com filhos, isso traduz-se numa elevada percentagem de jovens beneficiários.
T.N.- Há a percepção de que o subsídio de reinserção social só é atribuído a quem viva sozinho ou com descendentes. É esta a realidade?
N.L.- O RSI é atribuído a qualquer agregado que reúna as condições previstas na Lei. Viver sozinho ou com descendentes não é condição. Nós temos, isso sim, um valor considerável de famílias monoparentais femininas (mãe com filhos) que são beneficiárias de RSI. Isso é fácil de compreender, considerando que as famílias monoparentais são as que correm maior risco de pobreza, atendendo à diminuição de rendimentos em caso de monoparentalidade. Foi por isso que, recentemente, o Abono de Família teve uma majoração de 20% para os agregados familiares monoparentais. Trata-se de uma medida, que visa diminuir o risco ou a severidade da pobreza destas famílias.
T.N.- Tem havido muitas baixas fraudulentas? Como se desenrola o processo e qual a penalização?
N.L.- Inserido no plano nacional de combate à fraude, os serviços deste Instituto têm desenvolvido um programa sistemático de verificação de baixas médicas. No ano de 2006, efectuámos a verificação de 4993 baixas e, em 2007, 5 357, das quais, respectivamente, 533 (11%) e 642 (12%) foram consideradas irregulares. Ou seja, a taxa de crescimento do número de baixas verificadas, foi de 7%, em relação ao ano anterior.
As verificações são efectuadas pelos inspectores da segurança social, que devem verificar se os beneficiários estão a cumprir com as respectivas obrigações, nomeadamente, não se ausentar do domicílio, excepto para tratamento ou, no caso de autorização médica constante do CIT (Certificado de Incapacidade Temporária), nos períodos das 11 às 15 e das 18 às 21 horas.
Em caso de incumprimento o beneficiário é notificado, tendo um prazo de 5 dias úteis para apresentar uma justificação atendível. No caso de a justificação não ser atendível, o subsídio de doença é cessado. No sentido de tornar mais eficazes as inspecções, fazemos deslocar periodicamente inspectores de umas ilhas a outras, processo que se tem tornado eficaz.
T.N.- Qual a situação em termos de pensões?
N.L.- Em 2006 forma atribuídas 175.672.724,38 pensões e 19.036.783,91 Complementos Regionais de Pensão. Em 2007, os valores foram de 182.684.986,96 e 19451.957,231, respectivamente. Na totalidade, a despesa com prestações sociais em 2007 foi de 274 264 274,68 Euros, pois devemos contar com os 73.541.865,39 de prestações sociais.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

É essencial uma "análise rigorosa do rendimento das familias"


Sociedades Financeiras

Actualmente, não são apenas as instituições bancárias tradicionais a disponibilizarem ao cliente créditos pessoais. Surgiram no mercado de há uns anos a esta parte, um vasto grupo de sociedades financeiras que o fazem, proporcionando "mais qualidade de vida" às famílias e permitindo-lhes comprar um novo automóvel ou viajar, por exemplo. Segundo Marta Guerreiro, directora financeira do BANIF, resta saber, se estas têm "rendimentos suficientes", para suportar o "fardo difícil" da prestação mensal. E, para isso, é fundamental haver uma "Análise rigorosa" do caso em concreto, que é "sempre" feita na banca tradicional.


Hoje não são apenas as instituições bancárias tradicionais a disponibilizarem ao cliente créditos pessoais. Surgiram no mercado de há uns anos a esta parte, um vasto grupo de sociedades financeiras que o fazem, proporcionando "mais qualidade de vida" às famílias e permitindo-lhes comprar um novo automóvel ou viajar, por exemplo. Segundo Marta Guerreiro, directora financeira do BANIF, resta saber, se estas têm "rendimentos suficientes" para suportar o "fardo difícil" da prestação mensal.
Marta Guerreiro, directora financeira do BANIF, começa por explicar que a actuação das sociedades financeiras de aquisição a crédito (SFAC) começou por se desenvolver junto de um segmento de clientes que, genericamente, encontrava algumas "dificuldades de financiamento junto da banca tradicional". Aí, estas sociedades optaram por "compensar" uma maior probabilidade de incumprimento com taxas de juro "mais onerosas". Este segmento de clientes, alerta, não era "explorado" directamente pela banca dita tradicional e começou a ser desenvolvido pelas SFAC, no início, "maioritariamente, em parceria com o comércio automóvel". Isto, embora hoje com uma oferta presente nas mais "variadas" actividades comerciais. Por isso, esclarece, não faz sentido falar em "lesão à banca", mas antes em "exploração de um nicho de mercado, até então, pouco trabalhado".
Quanto à veracidade destas agências, que muitas vezes não possuem qualquer sede ou delegação na Região, a directora aponta que o estado de desenvolvimento em que a economia de mercado se encontra, permite que sejam disponibilizados aos clientes produtos e serviços "sem um contacto directo" com as empresas, o que em nada deverá colocar em causa a "legalidade" dos negócios envolvidos.
Mas "os clientes deverão dar sempre preferência às empresas com maior notoriedade e familiaridade"- aconselha, reconhecendo que no que respeita à "gestão do património financeiro", é "natural que os clientes privilegiem a banca tradicional", onde encontram um rosto familiar disponível para lhes indicar e "aconselhar" sobre as várias soluções actualmente disponíveis, quer a nível do crédito (pessoal, imobiliário, cartões, leasing, renting, etc), quer a nível da aplicação de riqueza (depósitos a prazo, contas poupança, obrigações, fundos, ppr, mercado de capitais, etc.) que mais se adequam aos seus interesses. Mara Guerreiro aproveita também para dizer que é, efectivamente, como "banco de relação", que o Banif Açores faz questão de estar no mercado.
Algumas SFAC pertencem a grupos económicos onde também se incluem bancos comerciais, ou seja trabalham em parceria com a banca. "A não associação entre empresas ao nível publicitário dever-se-á a estratégias de marketing com vista à autonomização de marcas"- justifica.
Referindo-se ao facto deste novo conceito de dinheiro fácil (em alguns casos basta um telefone), ser, ou não, um meio correcto de abordagem ao cliente e questionada sobre o carácter ético, ou não, da insistência e percepção, em que este pode ser facilmente induzido a realizar um crédito, Marta Guerreiro avança que a regulamentação existente a nível do crédito ao consumo procura "proteger os clientes" de diversas formas. Por sua vez, enfatiza, também a banca tem, "tradicionalmente", a preocupação de "analisar criteriosamente" a concessão de crédito, o que vai de encontro, quer ao interesse do cliente, e ao da própria instituição. Por outro lado, a directora admite também que, em última instância, o cliente deverá "sempre procurar esclarecimentos e informação", sobre as condições inerentes aos contratos que formaliza, pois "sempre que um cliente é devidamente esclarecido, julgamos não se poder falar em falta de ética".
Quanto ao efeito destes créditos na vida das famílias, a empresária acrescenta que a concessão de crédito ao consumo permite às famílias a "antecipação" da realização de vários objectivos, como a aquisição de equipamentos, a compra de um automóvel, a realização de tratamentos médicos mais dispendiosos ou a concretização de uma viagem, entre outros. Nesta medida, esta pratica "melhora a qualidade de vida" das famílias, que de outra forma estariam"privadas" destes bens ou serviços. Por outro lado, estes créditos, alerta, podem representar um "fardo difícil de suportar quando as responsabilidades inerentes não são comportáveis pelos rendimentos" das mesmas. Dai a necessidade de e a importância de uma "análise rigorosa à capacidade de endividamento dos clientes", que, em regra, está "sempre presente" na banca tradicional.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.

"Um bocadinho de céu na terra"




João da Ilha


Aquilo de que mais gosta é de “gostar das pessoas”. João da Ilha define-se como sorridente, trabalhador, persistente e sonhador”. Natural da ilha Terceira, mudou-se para Setúbal para tirar o curso de Gestão de Recursos Humanos, que não terminou, pois “a música falou mais alto”. O cantor adorou o concerto nas Portas do Mar e avançou ainda que a sua estadia em São Miguel foi muito “intensa”.

Aos 20 anos viajou para Setúbal, para estudar Gestão de Recursos Humanos (curso do qual desistiu mais tarde), que lhe pareceu na altura uma opção “viável”, mas ainda não sabia qual o seu caminho. Aquilo de que mais gosta é de “gostar das pessoas”. João da Ilha define-se como sorridente, trabalhador, persistente e sonhador”. Nasceu na freguesia de São Bento, na periferia de Angra do Heroísmo, e cresceu praticamente como um “rapaz citadino numa ilha”.
O “interessante” do seu percurso de vida, foram as pessoas que conheceu e os “amigos” que fez.
Define-se como uma pessoa “sorridente, trabalhadora, persistente, sonhadora e que adora as pessoas” em geral. “Aquilo de que mais gosto é de gostar das pessoas”.
O que lhe custa mais é quando estas têm “falta de crédito em si mesmas e na vida”, pois a crítica, reconhece, às vezes “desilude” um pouco. Tenta dar outra perspectiva da vida, seguindo o seu sonho e pondo-o em prática, o que as pessoas às vezes vêem como “inspiração”. O que mais gosta nas pessoas é estas “sorrirem e amarem”, pois dá-lhe “prazer”. Referindo-se à forma como foram recebidos e tratados em São Miguel, o cantor classifica a ilha como “um bocadinho do céu na terra”.
Na tuna ultrapassou a sua timidez e desenvolveu as suas capacidades musicais, a cantar e a “apostar” mais. Já na Terceira cantava, mas apenas com amigos, pois era um pouco “envergonhado e tímido”. Estudou no Instituto Musical Mozart, onde teve aulas de guitarra, e na escola de Jazz do Seixal.
Trabalhou ainda na área de espectáculos, o que foi uma “óptima” escola, mas nos últimos dois/três anos “a música cada vez falou mais alto”. Teve também um dueto de guitarras com um amigo da Terceira, que também queria ir “o mais longe possível”.
Em 2007, decidiu seguir um caminho a solo e começou a tocar em alguns bares de Setúbal, e uma vez em Lisboa.
Referindo-se à vinda a São Miguel, João conta que conheceu António Severino quando foi actuar à Terceira, tendo sido depois convidado em directo na rádio, por Sidónio Bettencourt, para actuar com ele em palco. “Completamente apanhado de surpresa, disse logo que sim, pois era uma honra. Fizemos um pequeno ensaio no dia em que ele chegou, à noite tocamos e foi bonito”- enfatiza, avançando que a “empatia” com António foi “muito grande”. Diz gostar de fazer algo “giro”, o que afirma ter “cativado” um pouco as pessoas e era o seu objectivo. O cantor pretende cantar originais, mas também um pouco das origens da música portuguesa, algo com que as pessoas se identifiquem, porque os originais ainda não são muito conhecidos. As críticas, sublinha, têm sido “positivas”.
Não considera que a sua música seja essencialmente de “intervenção”, mas indirectamente reconhece que pode ter esta vertente. Raízes tradicionais, populares e de folclore, e influencias Zeca Afonso, Trovante, Madredeus, Zeca Medeiros, Luís Alberto Bettencourt, Luís Gil Bettencourt, Susana Coelho, marcam a sua música, “tal como todas as referências desde o Pop, Rock, Jazz e por ai fora"- esclarece.
Quanto ao facto de um artista tomar posições em relação ao que acontece na sociedade, João da Ilha avança que “depende das pessoas”, pois “há artistas que tomam posições e conseguem grandes feitos mundiais”. O que certas pessoas encaram como algo “positivo”, salienta, dando o exemplo de Bono, dos U2, que faz “imensas” campanhas mundiais.
“Não me vejo a tentar mudar o mundo e a tomar posições, mas há vezes em que isso acontece”, evidencia. "O Homem, o Velho" tem “claramente” uma intervenção social, que surgiu muito “naturalmente”. A música fala um pouco da "geração rasca", de que se falava há uns anos atrás. João da ilha aproveita para dizer que se “atacavam muito os jovens, mas estes vão buscar aos mais velhos, que é de onde obtemos a nossa primeira referência. Dizem que os jovens não têm respeito, mas o primeiro respeito tem que vir dos mais velhos. Assim, passamos de pais para filhos e netos”- argumenta, avançando que a canção não é uma critica, mas uma “chamada de atenção às pessoas mais velhas, não a nível cronológico, mas de espírito, para abrirem os olhos, o coração e não resmungarem tanto, acreditarem mais”.
Um artista em início de carreira tem sobretudo de “acreditar” no seu trabalho. Depois, há que estar “atento” para saber o que o mercado procura. Por um lado começa a haver uma “abertura” aos sons modernos essencialmente de editoras independentes. As grandes editoras para terem uma “boa” quota de mercado, justifica, continuam a apostar nos 'dinossauros' da música, como Jorge Palma, Sérgio Godinho, Rui Veloso, entre outros, que são quem efectivamente “ainda” vende discos.
Quanto à divulgação da música portuguesa nas rádios, João afirma ter havido um pequeno Boom, mas, lamenta, haver ainda rádios como a “Antena 3” (uma rádio “muito forte”), que podia passar “muito mais” música portuguesa.
Outras “passam muitos grupos portugueses, mas sobretudo a cantar em inglês, apostam mais em bandas portuguesas, mas continuam a dar uma vertente anglo-saxónica”- enfatiza, avançando que talvez seja mais “barato” para o mercado internacional. Mas, felizmente há rádios que têm apostado na música nacional, como a RFM ou a Radar, que se ouve “mais” agora.
Internacionalizar a música portuguesa é, admite, “difícil”, mas é “possível”, argumenta, dando o exemplo de Mariza que considera o “expoente máximo” do fado.
O objectivo “editar um EP e mais tarde um álbum e quando muito, a curto prazo, uma maquete para ir bater a algumas portas”. Estar na estrada, sem um cd para promover, “não faz muito sentido”. O cd será eventualmente uma “mistura” de músicas mais antigas (com nova roupagem) com outras mais recentes.

Biografia

João da Ilha nasceu em 1979 nos Açores, na ilha Terceira, onde absorveu as principais influências da sua musicalidade assentes nas tradições do folclore e das modas populares e nos estilos musicais de Rock e Pop, que predominaram nas rádios lá de casa nos anos 80 e 90.
Foi estudar para Setúbal, onde começou o seu percurso na música, passando pela Tuna Académica de Setúbal Cidade Amada do Instituto Politécnico de Setúbal, Instituto Musical Mozart (Setúbal), Dueto de Guitarras Acústicas chamado Projecto Ilha Zero, e Escola de Jazz e Música Moderna do Seixal. O seu mundo de influências está já mais diversificado, incluindo algumas influências de Jazz e Músicas do Mundo.

Já cantava e tocava guitarra a solo em Setúbal e Lisboa, quando, no início de 2008, começou a trabalhar com Nuno Carpinteiro (Acordeão) e Sandro Maduro (Viola Baixo e Voz). Músicos de Terras do Sado, companheiros de outras andanças do mundo musical académico, com o mesmo desejo de desenvolver um projecto moderno de música portuguesa. Também desenvolveram outros projectos musicais ao longo destes últimos anos, como a Einstein Band ou Tuna Académica de Setúbal Cidade Amada.
O Verão de 2008 foi marcado pela estreia do projecto no “Lounge caffe”, em Setúbal, e pela passagem nos Açores (Terceira e São Miguel), que teve a participação especial de António Severino do Tributo – São Jorge, nas percussões.
Actualmente trabalha também com João Moreira (Baterista), o mais recente membro do grupo, no sentido de prepararem novas gravações e actuações para darem a conhecer o seu trabalho a nível nacional. António Severino surgiu daquele feliz encontro e é convidado especial na Percussão (Cajon), sempre que possível!

Raquel Moreira


Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.