Hands on Aproach
Compor é "devolver ao mundo" o que se vê dele e não importa se a música é cantada em português ou em inglês. É simplesmente música e deve ser avaliada pela sua "qualidade". Além disso, a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem o direito de "escolher" e devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música"- ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", afirma que esta não é nada "favorável" aos músicos, que assim não precisam de se "esforçar" tanto para terem a sua música, "por mais medíocre que seja", a passar na rádio.
"My Wonder Moon", "Tão perto e tão longe"e "If you give up" (tema da banda sonora dos famosos "Morangos com Açúcar") são alguns temas de sucesso dos "Hands on Aproach", que actuaram recentemente em Ponta Delgada. O grupo adora a Região e espera voltar em breve a actuar num palco açoriano.
João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", conta que a banda começou há perto de 12 anos e surgiu de um "convite" feito a Rui David, vocalista do grupo, para tocar na rádio ao vivo. Na altura, Rui juntou as pessoas que estavam perto dele, que eram músicos para, por "brincadeira", tocar na rádio.
"Ele também tinha alguns originais e isso foi um pouco um ponto de partida. Gostamos da experiência e de tocar uns com os outros"- esclarece, avançando ser algo "importante". Sim, pois já se conheciam, mas nunca tinham tocado juntos. Gostaram do resultado e decidiram continuar, fazendo o percurso "normal" de uma banda amadora e jovem, incluindo concursos. E, sublinha, as coisas foram acontecendo com "trabalho e dedicação", até que apareceu o primeiro contracto discográfico.
De uma maneira geral, João e o irmão (Sérgio) começaram desde "muito cedo" a gostar de música, chegando a ponto de fazerem "mímica com vassouras e tachos". Aliás, a música está muito "presente" na casa destes dois jovens, principalmente pela parte dos "pais" e talvez por isso já tivessem esse "instinto" para tocar. Quase naturalmente, enfatiza, a coisa aconteceu. Tiveram aulas de música muito novos, mas confessa que não se interessaram. Só passados mais uns anos e por iniciativa própria, é que pegaram numa guitarra e começaram a tocar. Depois, admite, foram "puxando" um pelo outro e acabaram por encontrar uma banda mais tarde.
Na sua opinião, para qualquer pessoa que crie um objecto de arte, seja musica ou pintura, a inspiração é sempre a "vivência da pessoa, o contacto com a vida e a interpretação que faz dessas experiências". Um artista é normalmente uma pessoa um pouco"solitária e introspectiva" e a composição artística é isso mesmo. Trata-se um pouco de "devolver ao mundo", o que se vê dele, segundo a "filtragem" e o ponto de vista de cada um.
Questionado sobre o porquê de cantar em inglês, o musico contrapõe e pergunta "porque não?". E mesmo sem querer desenvolver muito este tema, que considera "inconsequente", João avança que a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem esse direito de "escolher" e de optar pela linguagem que se tem. "A Suécia continua a exportar bandas para o mundo inteiro a cantarem em inglês"- salienta, lembrando-se ainda dos Abba e dos Cardigans.
De uma vez por todas devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música", ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Diz terem como referências "todos os grandes clássicos" como Jeff Buckley, Bob Dylan, Leonard Cohen, Metallica ou John Coltrane. E como músicos, afirma estarem "constantemente" a ouvir musica, tanta que por vezes é lhes "difícil" dizer do que gostam.
"Hoje, para mim, o álbum dos "kassabian" pode ser o melhor álbum do mundo e o artista que me está a influenciar e, amanhã para o Sérgio será "Doll Party" ou "Tom Weights""- esclarece.
Para os "Hands on Aproach", a música é algo que está "sempre" a entrar e que estão sempre a consumir. Claro que, depois destas misturas todas, deste 'input' todo, admite, há de sair alguma coisa, as influências. Mas a seu ver nenhum músico pode dizer que foi influenciado directamente "apenas por um" determinado artista.
Falando nos álbuns do grupo, João lembra que o primeiro álbum, "Blown", foi editado em 1999, de onde saiu o "My Wonder Moon" e "Tão Perto e tão longe", temas que quem vai aos concertos da banda conhece. Depois editaram "Mouving Spirits", "Groovin' on Monster's Eye-balls". O último álbum do grupo, intitulado "10 Anos-Casino Figueira" (2007), foi gravado ao vivo no Casino da Figueira da Foz. Este "revê um pouco os álbuns anteriores" e faz um resumo e um balanço dos 10 anos de carreira dos "Hands on Aproach".
Todos os álbuns lhes deram um prazer "incrível" por razões diferentes pela altura em que foram feitos e pelas pessoas com quem trabalharam, por isso afirma ser "impossível escolher" qual consideram o melhor. "É como ter vários filhos, não há nenhum de que gostemos em particular, todos nos marcam"- compara, acrescentando mesmo assim ser o "primeiro", precisamente por ser o primeiro e por toda a "magia" de estarem finalmente a gravar um disco, o que o torna um bocado "enigmático".
Na sua opinião, "não é difícil" transpor a música portuguesa para fora do país, apenas falta alguma "coragem" à própria indústria para apoiar esse sector, porque tornar uma banda conhecida noutros países "custa muito dinheiro" e as pessoas se calhar não sabem disso. Investe-se muito e entra-se num mercado "aberto e dominado" pelas grandes editoras e promotoras. Não é algo que se faça só por querer e não havendo uma indústria em Portugal como acontece noutros países, lamenta, ainda é "mais" difícil.
"Felizmente", nos últimos tempos têm tido boas notícias em relação a isso e não é só World Music que Portugal exporta. "Já se ouve falar de David Fonseca nos Estados Unidos, dos "The Gift" em Madrid"- salienta, revelando ter a esperança de um dia terem também essa "oportunidade".
Quanto ao facto do mundo da música funcionar, ou não, por lobbies, João argumenta ser um pouco como "a expressão do Velho do Restelo", dizendo ser uma opinião "lavada e batida", a de que em Portugal funciona tudo por lobbies. O músico diz ainda querer acreditar que há músicos com "muito talento", que continuam a levar as bandas a vários locais, a passar na rádio e a dar concertos. E, sublinha, "não é por lobbies que se convence cinco mil pessoas a estarem num concerto" durante uma hora, pois por mais lobbies que alguém tenha feito para o músico estar em palco, no fim do concerto "se este não convenceu o publico, não há nada a fazer". Referindo-se ao próprio grupo e a outras bandas, João argumenta que não se fazem 12 anos de carreira com "amizades".
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, o músico afirma "não" concordar com esta decisão, pois a seu ver o "grande problema" está precisamente numa lei como esta. "Esta lei é o grande perigo, pois está a marginalizar e a estigmatizar, a pôr num pacote ou numa prateleira a música portuguesa"- ressalva, acrescentando que "não deveria haver música portuguesa ou inglesa, simplesmente música boa ou má". Importa é saber se determinada música tem, ou não, "qualidade" para passar na rádio.
E continua, afirmando não saber até que ponto esta lei é benéfica e "favorável" aos músicos portugueses. Em todo o lado, "o que traz a qualidade é precisamente a competição", o facto do músico ter de se "esforçar mais e mais e fazer cada vez melhor" para conseguir que a sua música passe na rádio. E quando há uma lei que "protege" o músico e que obriga a musica portuguesa a passar, por mais "medíocre" que seja, este já não se vai esforçar tanto.
"My Wonder Moon", relata, foi das primeiras músicas que Rui David compôs e se calhar é aquele tema que "representa e marca melhor" o início dos "Hands on Aproach". O que não significa que seja, hoje, a música que representa a banda, pois, lembra, já fizeram outras músicas que têm mais a ver com aquilo que o grupo é actualmente. Mas é, "sem dúvida", a música que "marcou" o início de carreira do grupo e que os apresentou ao mundo, logo é uma música "importante" para a banda.
A vinda aos Açores surgiu na sequência de um convite feito pelo ANIMA. Convite este que afirma terem aceite com "muito gosto", pois consideram os Açores um arquipélago "fantástico". Além disso, em qualquer oportunidade que têm de visitar a Região, diz serem recebidos de uma maneira "incrível" e o próprio local também os "fascina" bastante. "É uma oportunidade única"- acentua.
Em termos de projectos, João revela estar a trabalhar no próximo disco, que afirma estar "quase" acabado e que deverá ser lançado possivelmente em "inícios de 2009". Trata-se de um álbum mais "maduro" em relação aos anteriores e é o disco onde houve mais 'input' criativo de "todos" os elementos da banda. Sim, porque em álbuns anteriores, relata, foram mais Rui David, João a compor e, Sérgio que também teve sempre um 'input' muito "importante". Por outro lado, neste disco todos os músicos da banda e alguns convidados tiveram todos o seu "espaço" para porem em pratica as suas ideias, o que para considera uma "evolução" como banda e como projecto.
João aproveita ainda para dizer aos açorianos que espera que estes continuem" a "gostar da música da banda. E que os convites para visitarem os Açores continuem a surgir, pois fazem-no com o maior "prazer".
Biografia
Os “Hands on Aproach” foram a banda revelação da música portuguesa, em 1999. Originária de Setúbal, esta é formada por Rui David (vocalista), João Luís (guitarra baixo), Sérgio Mendes (guitarra) e João Coelho (bateria) e tornou-se mais conhecida com o tema “My Wonder Moon”.
O seu trajecto inicia-se em 1999, quando Rui David está a tocar com uns amigos numa praia do Algarve. Nesse momento, um animador de rádio aproxima-se e convida-o a tocar duas ou três músicas ao vivo. Aceitando de imediato, convida o irmão João Luis para tocar baixo e mais dois amigos para a guitarra e bateria.
Depois de alguns ensaios, apresentam-se ao vivo no auditório da Antena 3, para a primeira apresentação do grupo, num programa que mostrava o que havia de novo no panorama musical em Portugal.
Depois de tão inesperado sucesso, a banda decide dar continuidade ao projecto, iniciando o circuito habitual de demos e de contactos com editoras. Dão espectáculos um pouco por todo o lado até que, em Outubro de 1997, mais de um ano depois da apresentação na Antena 3, quando tocam ao vivo numa discoteca, um ‘manager’ decide ouvi-los com mais atenção. Deste interesse, resulta a gravação em estúdio de algumas músicas, o que lhes permite apresentarem um trabalho mais coeso e maduro às editoras. Consequentemente, assinam com a Universal/Polygram um contrato para dois discos.
O primeiro trabalho, “Blown”, editado em Março de 1999, é disco de prata à saída e vende mais de 38 mil exemplares, marca que deixa a banda à beira de uma estreia “platinada”. O primeiro single, My Wonder Moon”, fica no primeiro lugar do airplay nacional durante quase dois meses. Deste álbum, produzido por Darren Allison, que colaborou com Skunk Anansie, Spiritualized e Divine Comedy, entre outros, foram extraídos, “Silent Speech” e “Tão Perto e Tão Longe”, mais dois grandes singles que se tornam rapidamente em hinos obrigatórios de qualquer espectáculo da banda. Neste mesmo ano, tornam-se a banda revelação da música portuguesa e a sua digressão leva-os a fazer mais de 90 datas por todo o país.
Um ano depois, em Outubro de 2000, lançam o segundo trabalho, “Moving Spirits”, cujo primeiro single – “The Endless Road” - tem uma excelente carreira no airplay nacional. Após mais de um ano de digressão nacional, os HOA criam o seu site oficial, http://www.handsonapproach.pt/, ao mesmo tempo que apresentam, a 17 de Abril de 2002, no Musicais de Lisboa, um novo formato de espectáculo semi-acústico, muito mais intimista e próximo do público.
Em 2004, a banda prepara em estúdio o terceiro álbum de originais, “Groovin’On Monster Eye-balls”, trabalho, cujas composições começaram a ser pensadas e construídas durante a digressão de Moving Spirits. O grande sucesso desse cd conta com a participação da vocalista dos Wire Daisies, Treana Morris, que se torna fã do grupo a partir do momento em que conhece os dois primeiros álbuns e que, durante o processo de gravação de “Groovin’ on Monster’s Eye-balls”, tem oportunidade de ouvir e de se “apaixonar” pelo tema. A admiração é mútua e o convite do grupo à cantora inglesa, é imediatamente aceite.
Com o novo cd “10 Anos_ Casino Figueira” [acústico] editado em Setembro de 2007, a banda coloca mesmo “mãos à obra”, visto ser responsável por toda a gestão da imagem, desde o design das capas à produção de vídeo, às fotos oficiais e ao website.
Colaborando desde a primeira série da novela portuguesa “Morangos com Açúcar”, a relação continua e desta vez o tema escolhido é “Let´s Be In Love”, canção que conquista dezenas de novos fãs.
Como bónus, a banda inclui um dvd com a gravação vídeo do mesmo concerto, fotos que contam a sua história, “making of”, entrevista, clips… enfim uma peça para guardar em casa, de uma banda da qual não se pode passar ao lado.
Raquel Moreira
Compor é "devolver ao mundo" o que se vê dele e não importa se a música é cantada em português ou em inglês. É simplesmente música e deve ser avaliada pela sua "qualidade". Além disso, a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem o direito de "escolher" e devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música"- ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", afirma que esta não é nada "favorável" aos músicos, que assim não precisam de se "esforçar" tanto para terem a sua música, "por mais medíocre que seja", a passar na rádio.
"My Wonder Moon", "Tão perto e tão longe"e "If you give up" (tema da banda sonora dos famosos "Morangos com Açúcar") são alguns temas de sucesso dos "Hands on Aproach", que actuaram recentemente em Ponta Delgada. O grupo adora a Região e espera voltar em breve a actuar num palco açoriano.
João Luís, guitarra baixo dos "Hands on Aproach", conta que a banda começou há perto de 12 anos e surgiu de um "convite" feito a Rui David, vocalista do grupo, para tocar na rádio ao vivo. Na altura, Rui juntou as pessoas que estavam perto dele, que eram músicos para, por "brincadeira", tocar na rádio.
"Ele também tinha alguns originais e isso foi um pouco um ponto de partida. Gostamos da experiência e de tocar uns com os outros"- esclarece, avançando ser algo "importante". Sim, pois já se conheciam, mas nunca tinham tocado juntos. Gostaram do resultado e decidiram continuar, fazendo o percurso "normal" de uma banda amadora e jovem, incluindo concursos. E, sublinha, as coisas foram acontecendo com "trabalho e dedicação", até que apareceu o primeiro contracto discográfico.
De uma maneira geral, João e o irmão (Sérgio) começaram desde "muito cedo" a gostar de música, chegando a ponto de fazerem "mímica com vassouras e tachos". Aliás, a música está muito "presente" na casa destes dois jovens, principalmente pela parte dos "pais" e talvez por isso já tivessem esse "instinto" para tocar. Quase naturalmente, enfatiza, a coisa aconteceu. Tiveram aulas de música muito novos, mas confessa que não se interessaram. Só passados mais uns anos e por iniciativa própria, é que pegaram numa guitarra e começaram a tocar. Depois, admite, foram "puxando" um pelo outro e acabaram por encontrar uma banda mais tarde.
Na sua opinião, para qualquer pessoa que crie um objecto de arte, seja musica ou pintura, a inspiração é sempre a "vivência da pessoa, o contacto com a vida e a interpretação que faz dessas experiências". Um artista é normalmente uma pessoa um pouco"solitária e introspectiva" e a composição artística é isso mesmo. Trata-se um pouco de "devolver ao mundo", o que se vê dele, segundo a "filtragem" e o ponto de vista de cada um.
Questionado sobre o porquê de cantar em inglês, o musico contrapõe e pergunta "porque não?". E mesmo sem querer desenvolver muito este tema, que considera "inconsequente", João avança que a arte é algo "livre, é um processo autónomo e individual", de cuja individualidade vem esse direito de "escolher" e de optar pela linguagem que se tem. "A Suécia continua a exportar bandas para o mundo inteiro a cantarem em inglês"- salienta, lembrando-se ainda dos Abba e dos Cardigans.
De uma vez por todas devia-se parar com este "complexo, essa falsa questão e ouvir a música pela música", ressalva, avançando não ter "nenhuma obrigação" para com a língua portuguesa de fazer música em português.
Diz terem como referências "todos os grandes clássicos" como Jeff Buckley, Bob Dylan, Leonard Cohen, Metallica ou John Coltrane. E como músicos, afirma estarem "constantemente" a ouvir musica, tanta que por vezes é lhes "difícil" dizer do que gostam.
"Hoje, para mim, o álbum dos "kassabian" pode ser o melhor álbum do mundo e o artista que me está a influenciar e, amanhã para o Sérgio será "Doll Party" ou "Tom Weights""- esclarece.
Para os "Hands on Aproach", a música é algo que está "sempre" a entrar e que estão sempre a consumir. Claro que, depois destas misturas todas, deste 'input' todo, admite, há de sair alguma coisa, as influências. Mas a seu ver nenhum músico pode dizer que foi influenciado directamente "apenas por um" determinado artista.
Falando nos álbuns do grupo, João lembra que o primeiro álbum, "Blown", foi editado em 1999, de onde saiu o "My Wonder Moon" e "Tão Perto e tão longe", temas que quem vai aos concertos da banda conhece. Depois editaram "Mouving Spirits", "Groovin' on Monster's Eye-balls". O último álbum do grupo, intitulado "10 Anos-Casino Figueira" (2007), foi gravado ao vivo no Casino da Figueira da Foz. Este "revê um pouco os álbuns anteriores" e faz um resumo e um balanço dos 10 anos de carreira dos "Hands on Aproach".
Todos os álbuns lhes deram um prazer "incrível" por razões diferentes pela altura em que foram feitos e pelas pessoas com quem trabalharam, por isso afirma ser "impossível escolher" qual consideram o melhor. "É como ter vários filhos, não há nenhum de que gostemos em particular, todos nos marcam"- compara, acrescentando mesmo assim ser o "primeiro", precisamente por ser o primeiro e por toda a "magia" de estarem finalmente a gravar um disco, o que o torna um bocado "enigmático".
Na sua opinião, "não é difícil" transpor a música portuguesa para fora do país, apenas falta alguma "coragem" à própria indústria para apoiar esse sector, porque tornar uma banda conhecida noutros países "custa muito dinheiro" e as pessoas se calhar não sabem disso. Investe-se muito e entra-se num mercado "aberto e dominado" pelas grandes editoras e promotoras. Não é algo que se faça só por querer e não havendo uma indústria em Portugal como acontece noutros países, lamenta, ainda é "mais" difícil.
"Felizmente", nos últimos tempos têm tido boas notícias em relação a isso e não é só World Music que Portugal exporta. "Já se ouve falar de David Fonseca nos Estados Unidos, dos "The Gift" em Madrid"- salienta, revelando ter a esperança de um dia terem também essa "oportunidade".
Quanto ao facto do mundo da música funcionar, ou não, por lobbies, João argumenta ser um pouco como "a expressão do Velho do Restelo", dizendo ser uma opinião "lavada e batida", a de que em Portugal funciona tudo por lobbies. O músico diz ainda querer acreditar que há músicos com "muito talento", que continuam a levar as bandas a vários locais, a passar na rádio e a dar concertos. E, sublinha, "não é por lobbies que se convence cinco mil pessoas a estarem num concerto" durante uma hora, pois por mais lobbies que alguém tenha feito para o músico estar em palco, no fim do concerto "se este não convenceu o publico, não há nada a fazer". Referindo-se ao próprio grupo e a outras bandas, João argumenta que não se fazem 12 anos de carreira com "amizades".
Quanto à nova lei que obriga as rádios a passarem música portuguesa, o músico afirma "não" concordar com esta decisão, pois a seu ver o "grande problema" está precisamente numa lei como esta. "Esta lei é o grande perigo, pois está a marginalizar e a estigmatizar, a pôr num pacote ou numa prateleira a música portuguesa"- ressalva, acrescentando que "não deveria haver música portuguesa ou inglesa, simplesmente música boa ou má". Importa é saber se determinada música tem, ou não, "qualidade" para passar na rádio.
E continua, afirmando não saber até que ponto esta lei é benéfica e "favorável" aos músicos portugueses. Em todo o lado, "o que traz a qualidade é precisamente a competição", o facto do músico ter de se "esforçar mais e mais e fazer cada vez melhor" para conseguir que a sua música passe na rádio. E quando há uma lei que "protege" o músico e que obriga a musica portuguesa a passar, por mais "medíocre" que seja, este já não se vai esforçar tanto.
"My Wonder Moon", relata, foi das primeiras músicas que Rui David compôs e se calhar é aquele tema que "representa e marca melhor" o início dos "Hands on Aproach". O que não significa que seja, hoje, a música que representa a banda, pois, lembra, já fizeram outras músicas que têm mais a ver com aquilo que o grupo é actualmente. Mas é, "sem dúvida", a música que "marcou" o início de carreira do grupo e que os apresentou ao mundo, logo é uma música "importante" para a banda.
A vinda aos Açores surgiu na sequência de um convite feito pelo ANIMA. Convite este que afirma terem aceite com "muito gosto", pois consideram os Açores um arquipélago "fantástico". Além disso, em qualquer oportunidade que têm de visitar a Região, diz serem recebidos de uma maneira "incrível" e o próprio local também os "fascina" bastante. "É uma oportunidade única"- acentua.
Em termos de projectos, João revela estar a trabalhar no próximo disco, que afirma estar "quase" acabado e que deverá ser lançado possivelmente em "inícios de 2009". Trata-se de um álbum mais "maduro" em relação aos anteriores e é o disco onde houve mais 'input' criativo de "todos" os elementos da banda. Sim, porque em álbuns anteriores, relata, foram mais Rui David, João a compor e, Sérgio que também teve sempre um 'input' muito "importante". Por outro lado, neste disco todos os músicos da banda e alguns convidados tiveram todos o seu "espaço" para porem em pratica as suas ideias, o que para considera uma "evolução" como banda e como projecto.
João aproveita ainda para dizer aos açorianos que espera que estes continuem" a "gostar da música da banda. E que os convites para visitarem os Açores continuem a surgir, pois fazem-no com o maior "prazer".
Biografia
Os “Hands on Aproach” foram a banda revelação da música portuguesa, em 1999. Originária de Setúbal, esta é formada por Rui David (vocalista), João Luís (guitarra baixo), Sérgio Mendes (guitarra) e João Coelho (bateria) e tornou-se mais conhecida com o tema “My Wonder Moon”.
O seu trajecto inicia-se em 1999, quando Rui David está a tocar com uns amigos numa praia do Algarve. Nesse momento, um animador de rádio aproxima-se e convida-o a tocar duas ou três músicas ao vivo. Aceitando de imediato, convida o irmão João Luis para tocar baixo e mais dois amigos para a guitarra e bateria.
Depois de alguns ensaios, apresentam-se ao vivo no auditório da Antena 3, para a primeira apresentação do grupo, num programa que mostrava o que havia de novo no panorama musical em Portugal.
Depois de tão inesperado sucesso, a banda decide dar continuidade ao projecto, iniciando o circuito habitual de demos e de contactos com editoras. Dão espectáculos um pouco por todo o lado até que, em Outubro de 1997, mais de um ano depois da apresentação na Antena 3, quando tocam ao vivo numa discoteca, um ‘manager’ decide ouvi-los com mais atenção. Deste interesse, resulta a gravação em estúdio de algumas músicas, o que lhes permite apresentarem um trabalho mais coeso e maduro às editoras. Consequentemente, assinam com a Universal/Polygram um contrato para dois discos.
O primeiro trabalho, “Blown”, editado em Março de 1999, é disco de prata à saída e vende mais de 38 mil exemplares, marca que deixa a banda à beira de uma estreia “platinada”. O primeiro single, My Wonder Moon”, fica no primeiro lugar do airplay nacional durante quase dois meses. Deste álbum, produzido por Darren Allison, que colaborou com Skunk Anansie, Spiritualized e Divine Comedy, entre outros, foram extraídos, “Silent Speech” e “Tão Perto e Tão Longe”, mais dois grandes singles que se tornam rapidamente em hinos obrigatórios de qualquer espectáculo da banda. Neste mesmo ano, tornam-se a banda revelação da música portuguesa e a sua digressão leva-os a fazer mais de 90 datas por todo o país.
Um ano depois, em Outubro de 2000, lançam o segundo trabalho, “Moving Spirits”, cujo primeiro single – “The Endless Road” - tem uma excelente carreira no airplay nacional. Após mais de um ano de digressão nacional, os HOA criam o seu site oficial, http://www.handsonapproach.pt/, ao mesmo tempo que apresentam, a 17 de Abril de 2002, no Musicais de Lisboa, um novo formato de espectáculo semi-acústico, muito mais intimista e próximo do público.
Em 2004, a banda prepara em estúdio o terceiro álbum de originais, “Groovin’On Monster Eye-balls”, trabalho, cujas composições começaram a ser pensadas e construídas durante a digressão de Moving Spirits. O grande sucesso desse cd conta com a participação da vocalista dos Wire Daisies, Treana Morris, que se torna fã do grupo a partir do momento em que conhece os dois primeiros álbuns e que, durante o processo de gravação de “Groovin’ on Monster’s Eye-balls”, tem oportunidade de ouvir e de se “apaixonar” pelo tema. A admiração é mútua e o convite do grupo à cantora inglesa, é imediatamente aceite.
Com o novo cd “10 Anos_ Casino Figueira” [acústico] editado em Setembro de 2007, a banda coloca mesmo “mãos à obra”, visto ser responsável por toda a gestão da imagem, desde o design das capas à produção de vídeo, às fotos oficiais e ao website.
Colaborando desde a primeira série da novela portuguesa “Morangos com Açúcar”, a relação continua e desta vez o tema escolhido é “Let´s Be In Love”, canção que conquista dezenas de novos fãs.
Como bónus, a banda inclui um dvd com a gravação vídeo do mesmo concerto, fotos que contam a sua história, “making of”, entrevista, clips… enfim uma peça para guardar em casa, de uma banda da qual não se pode passar ao lado.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Setembro de 2008.