World Press Photo
"O interessante é que cada pessoa pode fazer a sua interpretação da fotografia e atribuir-lhe um significado", explica, avançando que para algumas a fotografia vencedora representa algo de "muito moderno" sobre o fotojornalismo, não sendo uma fotografia "tradicional". Para outras é um "cliché tradicional da guerra" e para algumas é ainda uma foto "anti-guerra, ou pró-guerra". Segundo Tim Hetherington, fotógrafo vencedor da 51º Edição do World Press Photo, a fotografia tem de ser percebida integrada num contexto e não, apenas, como uma "imagem única". A vitória foi alcançada com uma fotografia tirada a um soldado no Afeganistão, onde permaneceu durante quase um ano.
"O interessante é que cada pessoa pode fazer a sua interpretação da fotografia e atribuir-lhe um significado", explica, avançando que para algumas a fotografia vencedora representa algo de "muito moderno" sobre o fotojornalismo, não sendo uma fotografia "tradicional". Para outras é um "cliché tradicional da guerra" e para algumas é ainda uma foto "anti-guerra, ou pró-guerra". Segundo Tim Hetherington, fotógrafo vencedor da 51º Edição do World Press Photo, a fotografia tem de ser percebida integrada num contexto e não, apenas, como uma "imagem única". A vitória foi alcançada com uma fotografia tirada a um soldado no Afeganistão, onde permaneceu durante quase um ano.
É fotógrafo e realizador. Nasceu em Liverpool, mas cresceu a viajar por toda a Inglaterra. Tim Hetherington concorreu ao World Press Photo, concurso fotográfico no qual arrecadou o primeiro lugar, entre 80.536 inscritas, com uma fotografia de um soldado no Afeganistão, território onde viveu durante praticamente um ano e de onde regressou em inícios de Agosto de 2008.
Alguns repórteres evitam a proximidade com os soldados, por temerem a perda da distância e da objectividade. Hetherington gosta e procura estar no meio dos soldados, o mais perto possível para criar retratos íntimos, que parece ser a única forma de prender o público, principalmente o americano.
Foi o mesmo método que usou com sucesso em séries de fotos anteriores, quando retratou o rastro do tsunami de 2004, na Ásia; a guerra civil na Libéria e; Nova York após o 11 de Setembro.
Sob frequente fogo inimigo, os homens construíram um abrigo, com vista para parte do vale. Um alojamento tosco feito de terra e pedra "talvez com 20 metros por 40", diz Hetherington, que chamaram de "Restrepo", nome do médico Juan Restrepo, de 20 anos, que tinha sido morto numa emboscada em Julho.
O dia 16 de Setembro de 2007 foi um domingo. "Um dia de luta bastante intensa", segundo recorda. Eles tinham acabado de ser informados por operações militares de escuta, que o inimigo tinha trazido 20 granadas para o vale, junto com foguetes de 107 mm e três coletes suicidas. As forças americanas estavam sob fogo constante e um dos soldados quebrou a perna e teve que receber morfina.
"Sentíamos como se fossemos alvos", diz Hetherington e o ambiente no acampamento "escureceu."Hetherington entrou em "piloto automático", o que faz sempre que se encontra numa situação difícil, ameaçado ou temendo pela vida. "Concentro-me totalmente no meu trabalho como uma máquina e os soldados fazem o mesmo. Isso tira-lhes a mente das coisas do medo, da dor, da impotência, pelo menos temporariamente. E mal dormiram naquela noite. Todos se reuniram no abrigo, contra a parede de terra e longe da outra parede por onde o inimigo poderia vir".
Foi nessa hora mais escura que Hetherington tirou a foto que tocou o mundo. Um jovem soldado, encostado contra a parede de terra, sem capacete, de braços sujos. Ele tira o suor da testa, olhando directamente para a máquina, olhos turvos, boca aberta. Em parte chocado, em parte cansado, desesperado e tem uma grande aliança na mão esquerda.A imagem é sombria, embaçada, sem contraste, argumentos que alguns utilizaram, dizendo que uma foto assim, "não deveria vencer", revela. Mas ela captura perfeitamente o momento e funciona em dois níveis, pois dá a quem a vê uma sensação do que aconteceu naquele momento e, ao mesmo tempo, tem um significado simbólico eterno.
"É uma história terrível", diz Hetherington. "Mas é forte. Eles colocam suas vidas em risco", o que dá ao prémio um maior significado,
T.N. –Fale-nos um pouco de si e da sua carreira.
T.H.- Nasci em 1970, no norte de Inglaterra, em Liverpool, mas vivo por todo o país. O meu pai estava sempre em mudança, por isso viajávamos muito pelo Reino Unido em família. Cresci em muitos lugares diferentes, mas as minhas raízes estão no norte de Inglaterra.
Trabalhei para o jornal "The Big Issue" durante um ano (1997) e em 1999 passei para o "Independent", um grande jornal nacional. Depois, comecei a trabalhar como freelancer, o que faço até agora. Em 1999, interessei-me por vídeos e televisão, pois também sou realizador. Mas o que importa que as pessoas percebam é que continuo interessado nesta área da imagem, além da fotografia. Algumas pessoas vêem o meu trabalho como se fossem fotografias únicas, só que eu não estou interessado numa única imagem.
T.N.- Como e quando se interessou pela fotografia?
T.H.- Regressei à escola para estudar fotografia em 1996/1997, mas não esperava ser fotógrafo quando crescesse. Foi uma oportunidade que surgiu na minha vida e como estava interessado em imagens e em cultura visual!...
T.N.- Quando começou a participar no World Press Photo?
T.H.- Entrei em várias e diferentes competições, como nos candidatamos a um emprego. Em 1999 fiz uma história, pois sempre gostei de histórias. E a fotografia que ganhou o World Press Photo surgiu de uma história, que ganhou o segundo prémio do "General New Stories". Mas há muitos mal-entendidos, as pessoas têm a ideia de que é preciso sempre escolher uma fotografia só, para dizer que esta é a melhor fotografia do ano do World Press Photo. Não acho que seja este o caso deste prémio, o pegar numa fotografia que represente toda a competição. Não se trata de uma imagem chave da indústria e do mundo em determinada altura. Nunca concorro com fotografias singulares, pois não acredito que o sistema de uma fotografia única possa revelar tanto como um conjunto de fotografias.
Foi um enorme privilégio e fiquei imensamente feliz por ter ganho esta competição, por a minha imagem ter sido escolhida, mas esta não representa tudo o que faço. Trabalho em histórias, sou realizador. Da primeira vez, em 1999, submeti a concurso uma história de 12 imagens sobre a Libéria e ganhei quatro prémios. Mas este ano ganhar o maior prémio foi muito diferente, devido ao escrutínio e ao foco dado pelos Media. A maneira como a nossa imagem é repentinamente utilizada como forma de debate sobre a indústria e é reclamada por pessoas de todos os lados de espectro, para as quais significa coisas diferentes, é algo muito estranho com que temos de viver.
T.N.- De um modo geral, quais as temáticas principais das suas fotografias?
T.H.- É difícil começar a trabalhar e tentar perceber logo sobre o que estamos a trabalhar. É muito pretensioso dizer imediatamente que temos um tema. Já trabalho há 10 anos e já consigo começar a ver coisas no meu trabalho. Por um lado, estou interessado na Politica, mas por outro atrai-me a vida humana de todos os dias e as suas banalidades. Também gosto de trabalhar temáticas relacionadas com jovens e com a violência, preocupo-me com o conflito. O Afeganistão foi parte de um projecto de um ano, que represento e onde segui as estadias das unidades de soldados americanos no Afeganistão em cada local. Voltei do Afeganistão recentemente, pois o projecto chegou ao fim e agora vamos fazer um filme. Estou a trabalhar num livro também e a colaborar com uma revista.
T.H.- A fotografia do soldado no Afeganistão. O que nos pode avançar sobre a mesma?
T.H.- Eu estava integrado numa missão em Setembro para a revista mensal "Vanity Fair", com a qual colaboro e fui ao Afeganistão para o que pensava ser uma simples missão. Eu trabalho há 17 ou 18 anos no domínio de África e da África Oriental, especialmente na Libéria, em projectos de longo prazo e queria sair de lá. Precisava de uma pausa e de algum tempo longe deste continente. E foi nessa altura que tirei esta fotografia. Não sabia que quando fosse fazer este trabalho em Setembro, ainda estaria a fazê-lo um ano depois. Regressei no início de Agosto, logo estive quase um ano a ir e a voltar do Afeganistão e muitas coisas aconteceram durante este período.
T.N.- Segundo o júri do concurso, esta fotografia representa a "exaustão de uma nação". Que comentários faz a esta afirmação?
T.H.- É interessante esta classificação e sinto-me sempre muito honrado e feliz por a minha imagem ter sido escolhida. Esta acaba por ser uma imagem chave, de como se vê a indústria e o mundo nesta altura. Costuma-se dizer que uma imagem vale por mil palavras, mas por mais mil coisas que digamos sobre uma fotografia, o interessante na minha fotografia é que as pessoas interpretam-na como querem e tiram dela o seu significado. E de certa maneira é muito engraçado, porque todas as pessoas dizem tudo o que é possível sobre esta fotografia. Para algumas pessoas esta representa algo muito moderno sobre o fotojornalismo, não é uma fotografia tradicional. Para outras é um cliché tradicional da guerra. E para algumas é ainda uma foto anti-guerra, para outras é uma fotografia pró-guerra. Para mim, o interessante é que se olharmos para a fotografia não há nada de específico, sobre onde esta foi tirada, a quem ou sobre o que se passa. É o que acontece com a publicidade actualmente, é vazia de significado, de conteúdo e nós transportamos o nosso próprio significado para a fotografia. Isto intriga-me.
T.N.- É muito difícil capturar em alguns segundos, uma imagem que nos transmita mais do que mil palavras?
T.H.- Muito do que faço, em certas circunstâncias, tem muito a ver com testemunhar os acontecimentos, estar dentro da situação. Logo, trata-se também de uma questão logística, de ir aos sítios e fazer o trabalho. Considero o meu trabalho exigente e isso é bom. Cheguei ao fim de um ano no Afeganistão. As pessoas tiram uma fotografia e agarram-se a ela, enquanto eu tiro milhares de fotografias e de vídeos.
T.N.- Até que ponto é importante tirar uma fotografia à qual as pessoas atribuem um significado?
T.H. – As pessoas atribuem vários significados à fotografia, mas eu limito-me a tirá-la e tem havido muito debate acerca dela, mas não se pode tirar a fotografia do contexto daquilo que eu faço. A minha função no mundo é ser um 'fazedor de imagens', muitas pessoas vêem o que eu faço e espero que isso seja útil. Penso que é mais útil, do que inútil. Trago informação visual dos lugares e as pessoas acham-na muito difícil de ver.
T.N.- Para o futuro, qual a mensagem a tirar desta fotografia?
T.H.- Não sei, não vou ditar qual a mensagem que as pessoas devem, ou não, tirar da fotografia. É esta a parte interessante da fotografia em geral. O que cada pessoa tem em mente e transporta para a fotografia é a própria pessoa em si. Há uns anos atrás eu talvez quisesse transmitir mensagens específicas nas fotografias, eu queria pronunciar-me sobre certos assuntos e dizer em que se deve acreditar, mas agora já não sei. Amadureci.
T.N.- Projectos?
T.H.- Acabei recentemente também um filme sobre o Afeganistão, que sairá em 2010, intitulado "Restrepo", que é o lugar onde a fotografia foi tirada e também o nome de um médico, Juan Restrepo que foi morto no Afeganistão. Estou também a escrever um livro sobre a Libéria e sobre o meu trabalho, que será publicado na próxima Primavera. Passei três a quatro anos a viver e a trabalhar na Libéria e o livro é sobre essa época.
Tim e o World Press Photo
Ponta Delgada assistiu à 51ª edição do World Press Photo, que expõe as suas fotos vencedoras. O maior galardão foi para o fotógrafo inglês Tim Hetherington, que ganhou o concurso com uma imagem tirada no Afeganistão a um soldado americano que descansava num bunker no Vale Korengal - no momento, o epicentro do combate com militantes islamistas. Segundo Gary Knight, presidente do júri, a fotografia representa "a exaustão de um homem e a exaustão de uma nação".
Realizada anualmente, a mostra da exposição itinerante World Press Photo é a mais prestigiada competição internacional de fotojornalismo, cuja iniciativa é da Fundação World Press Photo, organização independente fundada em Amesterdão, Holanda, no ano de 1955. A preocupação principal da fundação é promover o fotojornalismo através das suas actividades no mundo inteiro, através da organização de seminários, workshops e projectos educacionais. A fundação pretende encorajar e, ao mesmo tempo, transferir conhecimento sobre o fotojornalismo.
A extensão da World Press Photo a Ponta Delgada, dá-se pelo segundo ano consecutivo, em co-produção do Teatro Micaelense e da Cima – Associação Cultural, contando com o importante contributo do Governo dos Açores, através do Secretário Regional da Presidência e da Direcção Regional da Juventude.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.
1 comentário:
hi i invite U to visit my blof of contemporary photography
efe24.blogspot.com
cheers
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