quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Uma musica para todas as idades!


João Andrade

O gostar, ou não, de música clássica “depende um pouco das pessoas”. Há quem tenha essa parte mais “natural de gostar. Gosta à primeira e vai descobrindo” este estilo. É acima de tudo, uma questão “cultural” e todas as pessoas devem ter “acesso e devem apreciar a música clássica”. Segundo João Andrade, “há quem diga que a música clássica é só para alguns, para quem a entende, mas com um bom músico qualquer pessoa a pode apreciar em “qualquer idade”.


João Andrade é natural de Ponta Delgada e estuda no terceiro ano Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa, com o professor Aníbal Lima. “Estudei no Conservatório até ao 8º grau, terminei com 19 valores e depois concorri para a Academia”, onde foi admitido em “primeiro” lugar. Afirma que gostava de continuar a estudar, mas desta vez no “estrangeiro”, talvez nos Estados Unidos.
Tinha “8/9 anos” quando se começou a interessar por música, relata, avançando que um dia assistiu a um concerto da Vanessa Mae na televisão, em que ela só estava acompanhada de orquestra. “Adorei, pedi aos meus pais para aprender violino e eles inscreveram-me na Academia de Musica da Ribeira Grande, onde estive cerca de quatro meses”. Quando fez 10 anos concorreu para o Conservatório, entrou e foi lá que continuou com Célia Ross, sua professora até ao 8º grau.
Referindo-se à entrada para a Orquestra Metropolitana de Lisboa, João conta que tinha feito alguns cursos no continente, principalmente com Gerardo Ribeiro. Um “excelente violinista e professor” que sempre o acompanhou como se fosse o seu “mentor”. E foi Gerardo quem lhe indicou, recorda, o professor Aníbal Lima e a Academia nacional Superior de Orquestra, por ser considerada a mais conceituada escola em Portugal, onde foi admitido com a “melhor classificação”.
O gostar, ou não, de música clássica, argumenta, “depende um pouco das pessoas”. Há quem tenha essa parte mais “natural de gostar e goste à primeira, vai descobrindo”. Mas acima de tudo, considera ser uma questão “cultural”. Na sua opinião, todas as pessoas devem ter “acesso e devem apreciar a música clássica”, que é um “bem” acessível a todos. “Há quem diga que a música clássica é só para alguns, para quem a entenda, mas com um bom músico qualquer pessoa se pode aperceber e apreciar”- acentua.
Há vários estilos de música e vários “estados de espírito” e conforme a pessoa se sente, esta “escolhe” um, que lhe seja mais adequado na altura. É tudo perfeitamente “adaptável”.
A pessoa pode começar a gostar em “qualquer idade”, sublinha lembrando haver pessoas que despertam “mais cedo”, do que outras. Mas, hoje em dia, de uma forma geral, salienta, vemos que “independentemente” do estilo ou do género, os jovens e todas as pessoas têm um sentido musical “mais apurado” e sempre gostam de algum estilo.
“Há pessoas que pensam que música clássica é só Strauss, Mozart e Beethoven, mas não. A música clássica é muito mais abrangente”- esclarece, acrescentando que quem conhece a história da música, sabe que esta tem vários “períodos”, tal como a pintura. Há música clássica, barroca, romântica.
Quanto a artistas de referência, o violinista aponta ter vários no meio musical erudito, como a violinista norte-americana Hilary Ann e Maria João Pires, entre outros. Mas diz não ter nada “estereotipado” que goste mesmo de ouvir. Fora da música clássica, gosta de Evanescence e de Jorge Palma, por exemplo.
Procura estudar o “máximo possível, no mínimo quatro horas por dia”. O músico aproveita também para dizer as pessoas julgam que ser violinista é pegar no violino e tocar, mas são precisos “muitos anos de estudo, bons professores e um bom ambiente”. Além da música, diz gostar de sair com os amigos e de ler “romances históricos”. Gostou de ler também “Anjos e Demónios” de Daniel Brown, que considera ainda melhor do que o “Código da Vinci”.
Recentemente, foi “concertino assistente” do segundo estágio da Orquestra Sinfónica Académica Metropolitana e inaugurou a temporada do Centro Cultural de Belém, em Lisboa; do D. Vitória e; da Casa da Música, no Porto.
Em termos de projectos, o músico revela que se irá apresentar ainda este ano em França e a Malta, numa digressão com a Orquestra Académica Metropolitana. Em Novembro, João Andrade irá apresentar-se no Teatro Micaelense num “recital de violino e piano” e mais tarde deverá prestar “provas no estrangeiro”.
Biografia
É natural de São Miguel e iniciou o estudo do violino aos nove anos na Academia de Música da Ribeira Grande. Isto, depois de ter descoberto um ano antes, ao ver um concerto da violinista Vanessa Mãe, que o seu sonho passava, inevitavelmente, pela música, que é para este jovem uma procura do saber. João Andrade confessa que, a partir daquele momento, ficou "literalmente preso à performance e encantado com tal som".
A família sempre o apoiou e alertou para as dificuldades que iria encontrar ao longo de todo o percurso. No entanto, o seu talento a par da sua força de vontade foram decisivos e cedo se destacou entre os seus pares, conseguindo terminar, em 2006, o 8º grau de violino, com a classificação final de 19 valores. Em Maio de 2006, fez provas de admissão para a Academia Nacional Superior de Orquestra, em Lisboa, concorrendo com jovens de todo o País, onde foi admitido em primeiro lugar, ocupando, desta forma, a única vaga existente na classe do professor Aníbal Lima.
Para João Andrade, a música é algo por que vale muito a pena lutar, pois permite-lhe ter momentos que as pessoas alheias a este mundo não poderão nunca ter ou sentir. Com uma notória sede de aprender, o jovem músico revela que a sua grande dificuldade foi ultrapassar a insularidade, que na sua opinião pode ser prejudicial, principalmente numa área onde há falta de oportunidades e informação. "Só através do contacto com outros músicos é que nos podemos desenvolver".
Actualmente, encontra-se em Lisboa, no segundo ano da Licenciatura em Instrumentista de Orquestra, violino, na classe do professor Aníbal Lima. Integra a Orquestra Académica Metropolitana e dá concertos nas principais salas da capital, tendo inclusive feito diversas digressões em Espanha e na Bélgica.
De momento, o único desejo de João Andrade é estudar e conhecer o máximo que puder, de tudo o que puder, "ser melhor todos os dias e evoluir".
Ao longo de oito anos, foi acompanhado por vários professores, de diferentes nacionalidades, e em diversas disciplinas como, por exemplo, Música de Câmara, Formação Musical, História da Música, Análise e Técnicas de Composição ou Acústica e Piano, como 2º instrumento. O jovem violinista tem frequentado vários Master Class e, desde o ano de 2005, durante o Verão, vem sendo admitido na Meadowmount School of Music, em Nova Iorque, nos EUA, através de bolsas atribuídas pelo Governo Regional dos Açores. Em 2007, foi um dos vencedores do Concurso Anual de Música de Câmara, interpretando o Quarteto op. 95, em Fá Menor "Serioso", de Ludwig van Beethoven.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Outubro de 2008.

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