Workshop de Banda Desenhada
Nos Açores, a banda desenhada “não está muito divulgada”, há apenas “casos pontuais”, mas no continente há uma “gama muito boa” de jovens a trabalhar nesta área. Gosta de fazer as letras “manualmente” e utiliza o Powerpoint apenas como “apoio”. Caso contrário, José Ruy, desenhador, defende que chega a um ponto em que já “nem sabe se continua a ter arte ou é a máquina que a faz”. O computador é na sua opinião o “terminal dos jogos e afasta-os um pouco”do livro, que deve ser bem analisado antes de ser escolhido, não pela “cor da capa”.
O livro é um bem precioso e nem o computador o pode substituir. José Ruy, desenhador, nasceu em 1930, na Amadora, e dedicou-se à banda desenhada, ou melhor “histórias em quadrinhos”, como gosta de dizer.
Referindo-se ao workshop, conta que tudo começou com um “convite” de Luís San-Bento, director da Biblioteca Publica da cidade da Horta, para lá ir e fazer umas sessões. Já tinha estado várias vezes na Horta, para o lançamento de livros como “A ilha do futuro” e para realizar sessões nas escolas, altura em que conheceu o director da biblioteca.
Segundo José Ruy, trata-se de uma “explanação”, da sua experiência neste campo, que aborda questões como as “origens” da banda desenhada e, a diferença entre banda desenhada e histórias aos quadrinhos. Isto, passando pela sua “estrutura, as proporções e a técnica” até à planificação das histórias. Por exemplo, é fundamental saber se é a adaptação de um romance, uma história inventada, ou baseada em documentação histórica.
Depois, vem a “composição” de cada vinheta, que por sua vez irá compor toda a prancha, a cor e, a “rotulação” (o desenho das letras nas legendas, nos balões).
Não menos importante, é saber como utilizar o “modelo vivo” do melhor processo para ser original, em que se desenha “directamente num modelo que tem atitudes, expressões e que é uma base para se trabalhar”, sem o recurso a fotografias ou a trabalhos já realizados por outros, coisa que, alerta, “não se deve fazer”.
Outros pontos importantes são o trabalhar as histórias, no caso de haver outras “versões” noutras línguas, e o “equilibrar” dos espaços de texto.
O workshop dividiu-se em duas horas de manhã e outras duas horas à tarde, durante cinco dias. Claro que em tão pouco tempo, reconhece, “não é possível” ensinar a desenhar, mas ensina-se a “manusear a linha de pesca”.
Referindo-se ao público-alvo, lembra que este foi desde os 12 anos até aos adultos.
A “sequência” também é fundamental, pois quando se desenha a lápis faz-se uma construção, cobre-se a tinta e essa construção “desaparece”. Inclusive, o lápis que está a mais é “apagado” e depois é posta a cor em cima, logo há fases que vão desaparecendo na sequência do trabalho.
“Através do Powerpoint, apresentei as diversas fases do processo antes de serem sobrepostas, o que explica a evolução do trabalho desde o papel em branco até à arte final”- esclarece.
Questionado sobre o que mudou nos hábitos dos jovens, que há uns anos atrás adoravam banda desenhada e, actualmente, muitos já a substituíram pelas consolas, José Ruy acredita que “nos Açores a banda desenhada não está muito divulgada” havendo apenas “casos pontuais”, mas no continente afirma haver uma “gama muito boa” de jovens a trabalhar nesta área. Naturalmente que não é, reconhece, um trabalho “rentável”. E para uma pessoa com alguma experiencia e trabalhos publicados, há “sempre” um trabalho contínuo, mas para um jovem aparecer é “mais difícil”. Isto leva a que muitos elementos com valor derivem para a “publicidade” e outros tipos de trabalho.
O desenhador lembra ainda terem há 19 anos um grande “festival” de banda desenhada na Amadora, no qual aparecem “sempre valores novos e alguns realmente muito bons”. Afirma gostar de fazer as letras “manualmente”, por ser “diferente”, e utiliza o Powrpoint apenas como “apoio”. Caso contrário, diz chegar a um ponto em que já “nem sabe se continua a ter arte ou é a máquina que a faz”.Mas, por outro lado, tem dois colegas, José Pires e João Amaral, que fazem “tudo” no computador e são duas pessoas com “muito valor” com trabalhos realmente “muito bons”.
A seu ver, o computador é o “terminal dos jogos e afasta-os um pouco” do trabalho em que se utilizam as mãos. Os jovens começam a habituar-se a usar só as “pontas dos dedos” para teclar, explica, avançando ser uma questão de “modas”, porque também quando apareceu a televisão disseram que o cinema ia “acabar e que o livro iria desaparecer”. E actualmente, todos eles coexistem.
Quanto ao que poderá ser feito para melhorar os passatempos dos jovens, o desenhador avança que têm tentado “encaminhá-los” para o livro, que “abre todas as perspectivas”, de conhecimento, da agilidade e de olhar. A seguir ao texto, vem a imagem e através desta cria-se realmente uma “habituação” que deve ser utilizada, sem ser apenas por fotografia ou numa sequência de cinema.
Em termos de projectos, diz ter em mãos uma “nova edição dos Lusíadas passada para banda desenhada”, com tradução para língua mirandesa, a segunda língua do país. O filósofo Leonardo Coimbra e a história da cidade de Coimbra, são alguns dos muitos projectos que estão em estudo.
No que toca a hábitos de leitura, José Rui aconselha os açorianos a “lerem e a descobrirem depois se o livro lhes agrada”, ou não, pois sabe naturalmente que na literatura tanto há o bom, como o mau. “Tem que se ver o conteúdo e descobrir, não é dizer que o livro não agrada por ter uma capa muito escura, por exemplo”- explica.
É preciso ler muito, mas no papel, sublinha, pois ler no computador torna-se “pouco pensativo” e no papel volta-se a folha, há o “cheiro” da tinta e uma serie de influências que “atraiem” o leitor.
O primeiro dia do Workshop incidiu sobre “Histórias em Quadrinhos ou Banda Desenhada”; as origens da banda desenhada; o que não se deve fazer; a estrutura versátil das histórias em quadrinhos; guião e texto para legendas; a adaptação de um romance; planificação do texto original; a inspiração; proporções da figura humana e de animais e esquema da figura humana. No segundo dia, os alunos puderam aprender algo mais sobre documentação; arquivos; organização de um ficheiro; a pesquisa nos locais onde se desenrola a acção; o desenho do natural; como se recolhem elementos num museu; composição gráfica dos quadrinhos; linhas de radiação e os planos. O suspenso; a rotulação; os balões; a perspectiva e modelos vivos foram os assuntos do dia seguinte.
Os últimos dois dias desenvolveram temas como a utilização do modelo vivo no desenho de ilustração; desenho ao vivo, com modelo, na sala; a cor e sua aplicação nas pranchas; versões das histórias em quadrinhos para outras línguas e; versões em línguas completamente diferentes da nossa.
Nos Açores, a banda desenhada “não está muito divulgada”, há apenas “casos pontuais”, mas no continente há uma “gama muito boa” de jovens a trabalhar nesta área. Gosta de fazer as letras “manualmente” e utiliza o Powerpoint apenas como “apoio”. Caso contrário, José Ruy, desenhador, defende que chega a um ponto em que já “nem sabe se continua a ter arte ou é a máquina que a faz”. O computador é na sua opinião o “terminal dos jogos e afasta-os um pouco”do livro, que deve ser bem analisado antes de ser escolhido, não pela “cor da capa”.
O livro é um bem precioso e nem o computador o pode substituir. José Ruy, desenhador, nasceu em 1930, na Amadora, e dedicou-se à banda desenhada, ou melhor “histórias em quadrinhos”, como gosta de dizer.
Referindo-se ao workshop, conta que tudo começou com um “convite” de Luís San-Bento, director da Biblioteca Publica da cidade da Horta, para lá ir e fazer umas sessões. Já tinha estado várias vezes na Horta, para o lançamento de livros como “A ilha do futuro” e para realizar sessões nas escolas, altura em que conheceu o director da biblioteca.
Segundo José Ruy, trata-se de uma “explanação”, da sua experiência neste campo, que aborda questões como as “origens” da banda desenhada e, a diferença entre banda desenhada e histórias aos quadrinhos. Isto, passando pela sua “estrutura, as proporções e a técnica” até à planificação das histórias. Por exemplo, é fundamental saber se é a adaptação de um romance, uma história inventada, ou baseada em documentação histórica.
Depois, vem a “composição” de cada vinheta, que por sua vez irá compor toda a prancha, a cor e, a “rotulação” (o desenho das letras nas legendas, nos balões).
Não menos importante, é saber como utilizar o “modelo vivo” do melhor processo para ser original, em que se desenha “directamente num modelo que tem atitudes, expressões e que é uma base para se trabalhar”, sem o recurso a fotografias ou a trabalhos já realizados por outros, coisa que, alerta, “não se deve fazer”.
Outros pontos importantes são o trabalhar as histórias, no caso de haver outras “versões” noutras línguas, e o “equilibrar” dos espaços de texto.
O workshop dividiu-se em duas horas de manhã e outras duas horas à tarde, durante cinco dias. Claro que em tão pouco tempo, reconhece, “não é possível” ensinar a desenhar, mas ensina-se a “manusear a linha de pesca”.
Referindo-se ao público-alvo, lembra que este foi desde os 12 anos até aos adultos.
A “sequência” também é fundamental, pois quando se desenha a lápis faz-se uma construção, cobre-se a tinta e essa construção “desaparece”. Inclusive, o lápis que está a mais é “apagado” e depois é posta a cor em cima, logo há fases que vão desaparecendo na sequência do trabalho.
“Através do Powerpoint, apresentei as diversas fases do processo antes de serem sobrepostas, o que explica a evolução do trabalho desde o papel em branco até à arte final”- esclarece.
Questionado sobre o que mudou nos hábitos dos jovens, que há uns anos atrás adoravam banda desenhada e, actualmente, muitos já a substituíram pelas consolas, José Ruy acredita que “nos Açores a banda desenhada não está muito divulgada” havendo apenas “casos pontuais”, mas no continente afirma haver uma “gama muito boa” de jovens a trabalhar nesta área. Naturalmente que não é, reconhece, um trabalho “rentável”. E para uma pessoa com alguma experiencia e trabalhos publicados, há “sempre” um trabalho contínuo, mas para um jovem aparecer é “mais difícil”. Isto leva a que muitos elementos com valor derivem para a “publicidade” e outros tipos de trabalho.
O desenhador lembra ainda terem há 19 anos um grande “festival” de banda desenhada na Amadora, no qual aparecem “sempre valores novos e alguns realmente muito bons”. Afirma gostar de fazer as letras “manualmente”, por ser “diferente”, e utiliza o Powrpoint apenas como “apoio”. Caso contrário, diz chegar a um ponto em que já “nem sabe se continua a ter arte ou é a máquina que a faz”.Mas, por outro lado, tem dois colegas, José Pires e João Amaral, que fazem “tudo” no computador e são duas pessoas com “muito valor” com trabalhos realmente “muito bons”.
A seu ver, o computador é o “terminal dos jogos e afasta-os um pouco” do trabalho em que se utilizam as mãos. Os jovens começam a habituar-se a usar só as “pontas dos dedos” para teclar, explica, avançando ser uma questão de “modas”, porque também quando apareceu a televisão disseram que o cinema ia “acabar e que o livro iria desaparecer”. E actualmente, todos eles coexistem.
Quanto ao que poderá ser feito para melhorar os passatempos dos jovens, o desenhador avança que têm tentado “encaminhá-los” para o livro, que “abre todas as perspectivas”, de conhecimento, da agilidade e de olhar. A seguir ao texto, vem a imagem e através desta cria-se realmente uma “habituação” que deve ser utilizada, sem ser apenas por fotografia ou numa sequência de cinema.
Em termos de projectos, diz ter em mãos uma “nova edição dos Lusíadas passada para banda desenhada”, com tradução para língua mirandesa, a segunda língua do país. O filósofo Leonardo Coimbra e a história da cidade de Coimbra, são alguns dos muitos projectos que estão em estudo.
No que toca a hábitos de leitura, José Rui aconselha os açorianos a “lerem e a descobrirem depois se o livro lhes agrada”, ou não, pois sabe naturalmente que na literatura tanto há o bom, como o mau. “Tem que se ver o conteúdo e descobrir, não é dizer que o livro não agrada por ter uma capa muito escura, por exemplo”- explica.
É preciso ler muito, mas no papel, sublinha, pois ler no computador torna-se “pouco pensativo” e no papel volta-se a folha, há o “cheiro” da tinta e uma serie de influências que “atraiem” o leitor.
O primeiro dia do Workshop incidiu sobre “Histórias em Quadrinhos ou Banda Desenhada”; as origens da banda desenhada; o que não se deve fazer; a estrutura versátil das histórias em quadrinhos; guião e texto para legendas; a adaptação de um romance; planificação do texto original; a inspiração; proporções da figura humana e de animais e esquema da figura humana. No segundo dia, os alunos puderam aprender algo mais sobre documentação; arquivos; organização de um ficheiro; a pesquisa nos locais onde se desenrola a acção; o desenho do natural; como se recolhem elementos num museu; composição gráfica dos quadrinhos; linhas de radiação e os planos. O suspenso; a rotulação; os balões; a perspectiva e modelos vivos foram os assuntos do dia seguinte.
Os últimos dois dias desenvolveram temas como a utilização do modelo vivo no desenho de ilustração; desenho ao vivo, com modelo, na sala; a cor e sua aplicação nas pranchas; versões das histórias em quadrinhos para outras línguas e; versões em línguas completamente diferentes da nossa.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Outubro de 2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário