sexta-feira, 29 de agosto de 2008

T2 não está à venda!


Ricardo Azevedo em São Miguel


O que mais aprecia nas pessoas é a simpatia e a generosidade, afirma salientando não estar a falar de “dinheiro”. Por outro lado, detesta o “vedetismo e a arrogância”.
Quanto a ser famoso, Ricardo Azevedo afirma que na maior parte do tempo não pensa nisso, nem se lembra que o podem reconhecer. Caso contrário “não estaria à vontade em sítio nenhum”. Do concerto que deu na Ribeira Grande, o simpático cantor leva a ideia de que as pessoas são “espectaculares”.


“Entre o sol e a lua” e principalmente “Pequeno T2”, são os seus êxitos mais conhecidos. Este último tema tornou o cantor mais conhecido do grande público, pois foi a música ‘chave’ de um spot publicitário, divulgado na televisão e rádios a nível nacional. Mas os “EZ Special” também fazem parte do seu percurso musical.
Ricardo Azevedo, compositor, músico e cantor, nasceu em Espinho, mas mudou-se com a família para Santa Maria da Feira, de onde sente ser natural. “Desde que me lembro sou de lá e faço o que gosto”- enfatiza, avançando que já tocava “desde os 15 anos”, mas a sua carreira começou a sério em 2002. Já teve muitas bandas, mas como todo o artista a certa altura decidiu que queria fazer algo a sério, “com pés e cabeça e, o resultado disso foi o nascimento dos EZ Special”. Por outro lado, o cantor reconhece que “nunca” pensou vir a ter tanto sucesso, pois pretendia apenas “fazer umas coisinhas engraçadas, alguns concertos e passar um bocadinho na rádio, se possível”. Mas, correu melhor do que esperava e foi, reconhece, um início “muito bom”.
No princípio recorda que “não queria cantar”, mas sim tocar guitarra e aprendeu uns acordes, sendo um pouco autodidacta. Teve aulas de voz para aprender a “respirar” com uma professora “fantástica”, que o levaram a dar um salto “muito grande” a nível de voz.
O cantor aproveita também para dizer que existem pessoas de todo o género, mas o que mais parecia é a simpatia e a generosidade, afirma salientando não estar a falar de “dinheiro”. Por outro lado, detesta o “vedetismo e a arrogância”.
Quanto a ser famoso, diz que na maior parte do tempo não pensa nisso, nem se lembra que as pessoas o podem reconhecer. “Só me lembro quando reparo que alguém olha e me reconhece. O resto do tempo nem penso nisso” - ressalva, acrescentando que caso contrário, “não estaria à vontade em sítio nenhum”. Mas afirma ser algo “normal”, que encara com “naturalidade” e que é também uma forma de “reconhecimento” pelo seu trabalho.
Tornou-se mais conhecido com o spot publicitário do "Pequeno T2", oportunidade que afirma ter surgido "por acaso" e numa altura em que a sua carreira a solo estava a arrancar, logo foi “muito importante”. Pelo que sabe, os responsáveis pela campanha publicitária “viram a música na televisão e acharam que tinha tudo a ver com o que queriam”- enfatiza, salientando que para si foi “espectacular”, pois isto poderia ter acontecido noutra fase da sua carreira e ter tido o seu lado “negativo”. Mas como se encontrava a desenvolver o projecto de uma banda, em que era conhecido em nome colectivo e “as pessoas sabiam que cantava em inglês”, foi muito importante para a “descolagem”.
O "Pequeno T2", explica, fala de uma fase da vida em que a pessoa vai sair de casa para ser “independente” e fazer frente às “adversidades”, que ocorrem no dia-a-dia de qualquer pessoa “normal”. É o sair de casa, encontrar uma pessoa e estar com ela nessa “aventura” de independência.
"Entre o sol e a lua" é uma música recente, uma das últimas que escreveu em 2006 quando preparava o álbum. Caracteriza-a como uma canção “romântica”, como uma forma de “declarar” à outra pessoa que se gosta dela e aborda as “contrariedades” da vida e o que impede uma relação de resultar. “A própria relação tem o seu desgaste e até pode ser que se combata a si própria”- salienta, avançando ser uma canção “positiva, que encara o futuro com um sorriso”.
Ricardo Azevedo inspira-se nas “experiências do dia-a-dia” e tenta que as músicas estejam relacionadas com a sua vida ou com a sua visão da vida, o que talvez vá mais de encontro ao que as pessoas são, pois estas “identificam-se mais” com a música.
Para si, a música é “comunicar de uma forma bonita e com energia”. Quando se trata de uma música romântica, sublinha, que seja “muito mais melódica do que ritmada”. No caso de uma música mexida, que seja “ritmada e com energia”, pois a melodia está “sempre” presente.
Quanto ao que sente em palco, depende das “condições”. Se houver muito público é “espectacular”, mas com pouco público, admite ter de fazer uma “concentração extra”, para dar o “melhor” de si.
“Uma pessoa habitua-se mal. Há pessoas habituadas a tocar com muito público e depois quando estão com menos público é um pouco mais difícil”- enfatiza, acrescentando que o público “realmente” transmite uma energia “fantástica”.
A vinda aos Açores e o concerto na Ribeira Grande afirma terem sido um pouco “atribulados”, porque foi tudo marcado “em cima da hora”. Além disso, recorda, não havia voo do Porto para Lisboa, o que os obrigou a ir de comboio. Foi um bocado “complicado”, ressalva, pois andaram de tudo menos de barco. “Foi desgastante e as condições podiam ter sido melhores a nível de som”. Mas de resto, apesar de admitir não ter sido o melhor concerto do mundo, derivado a essas dificuldades, o cantor acabou por constatar que as pessoas são “espectaculares”.
“Fiquei contente, pois foi o meu primeiro concerto a solo e vai ficado marcado para sempre na minha memória. Foi um concerto muito simpático, com muitas pessoas, e depois chamei-as para cantarem comigo o “Pequeno T2” e acabou por ser positivo”- acentua, afirmando que a sua música transmite diversas mensagens, que tanto podem ser de “alegria ou tristeza”, como de “frustração”, pois a música é isso “tudo”.
Na sua opinião, “as rádios passam mais música estrangeira, do que portuguesa”. Mas ultimamente o cantor reconhece que a situação se alterou um pouco. Devido às “quotas”, as rádios têm tocado mais música portuguesa e, sublinha, “sente-se um bocado como era antes”.
Caso contrário, as rádios passavam as músicas que queriam, o que a seu ver “não faz sentido”. Aliás, as rádios deviam ser “obrigadas” a tocar música portuguesa, pois “sente-se a sua falta”.
O cantor vai ainda mais longe ao afirmar, que “não faz muito sentido ouvir só música cantada em inglês, visto que se fala português nas ruas”. Além disso, é fundamental que isso aconteça, tanto em relação a novos projectos como aos artistas, para quando estes pensarem em criar um novo projecto “optarem pelo português”.
Ricardo Azevedo avança ainda que quando começou a cantar, fê-lo em inglês, pois “não havia nenhum” projecto que lhe chamasse a “atenção” e que o entusiasmasse e lamenta o facto de na altura não haver muitos projectos cantados em português. A música transmitida nas rádios e na televisão, era “quase sempre” em inglês e, reconhece, foi “necessário”.
Em termos de projectos, o cantor irá lançar um novo trabalho no início do próximo ano, “o mais tardar em Março”, espera. Este novo álbum terá “algumas diferenças”, revela, com a esperança de que sejam canções que “toquem mais” as pessoas e cuja produção deve ser um bocado mais “orgânica. Que as pessoas sintam que este trabalho subiu alguns degraus, em relação ao anterior”- é o desejo do cantor.
Biografia
Nasceu em
Espinho a 15 de Janeiro de 1977, mas era ainda muito novo quando se mudou com a família para Santa Maria da Feira, onde reside actualmente. A mãe foi quem o incentivou a entrar no mundo da música a cantar e a tocar viola.
Ricardo Azevedo foi membro de várias bandas efémeras de
Santa Maria da Feira, entre 1991 e 1999. Em 2000, ingressou na banda “EZ Special” como vocalista, onde permaneceu até finais de 2006. Por essas alturas, cansado de cantar em inglês decidiu ingressar numa carreira a solo, compondo e cantando em português. Em Maio de 2007, publica o seu primeiro álbum a solo “Prefácio”, com todas as canções da sua autoria, que contém o tema popular “Pequeno T2” e que representa a concretização de um sonho antigo do músico.
O tema fala de um jovem que vivendo com uma rapariga decide procurar uma casa para uma vida comum num andar com duas assoalhadas, pondo a sua vida de pernas para o ar, como diz o refrão da canção. Além de cantor é também compositor e músico.
A vontade de se expressar na língua mãe surgiu algures, em 2003, após o lançamento de "In n' Out", o primeiro disco dos “Ez Special”, quando o cantor sentiu que cantar em inglês poderia, de alguma forma, ser um obstáculo a uma melhor comunicação com os seus fãs, que lhe pediam, frequentemente, para cantar em português.
O registo foi gravado no Porto com a colaboração dos músicos Nuxo Espinheira (Blind Zero), Sérgio Silva (Jaguar Band) e Victor Silva e a produção foi entregue a Quico Serrano (Plaza) e a Saul Davies (James), que haviam trabalhado com o cantor na altura em que dava voz a temas como 'Daisy' e 'My Explanation'.
'Sonhos' foi a palavra escolhida pelo músico para definir o trabalho a solo numa palavra, já que o longa duração é encarado pelo próprio como o princípio da realização dos seus sonhos. A dificuldade em arranjar emprego, a crise do País, a falta de dinheiro e as ansiedades que essas questões criam, as paixões e os defeitos humanos são os temas abordados por Ricardo nas treze músicas de "Prefácio".
'Pequeno T2', que serviu de banda sonora para a campanha publicitária de uma entidade bancária, e 'Entre o Sol e a Lua' foram os primeiros temas do disco a chegar às rádios. Do longa-duração consta, ainda, um dueto com Rui Veloso, no tema 'Os Meus Defeitos'.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.







Abandono de animais "horroriza" turistas


Medicina Veterinária

Basta sairmos à rua para depararmos com vários animais abandonados pelas ruas, muitos deles até com anomalias provenientes de “atropelamentos”. Situação que não pode continuar, se é que a Região pretende ter “turismo de qualidade”.
“O governo tem de agir”, pois os próprios “turistas ficam horrorizados”, ao constatar esta realidade. A polémica questão dos cães considerados perigosos é outra dor de cabeça para o veterinário Damião, que defende ser um “exagero abater os animais mais violentos”, bastando apenas pôr-lhes um açaime e a respectiva trela, para que nada aconteça.
Basta sairmos à rua para depararmos com vários animais abandonados pelas ruas, muitos deles até com anomalias provenientes de “atropelamentos”. Situação que não pode continuar, se é que a Região pretende ter “turismo de qualidade”.


“O governo tem de agir”, pois os próprios “turistas ficam horrorizados”, ao constatar esta realidade. A polémica questão dos cães considerados perigosos é outra dor de cabeça para o veterinário Damião, que defende ser um “exagero abater os animais mais violentos”, bastando apenas pôr-lhes um açaime e a respectiva trela, para que nada aconteça.
Damião, veterinário e proprietário da Clínica Veterinária da Mãe de Deus, começa por contar ter feito o curso de regente agrícola, o actual Engenheiro Técnico Agrário. Depois, relata, surgiu a oportunidade de tirar medicina veterinária, algo em que já tinha pensado “há muito tempo”. Afirma ser uma área de “muita concorrência”, como acontece em todas as profissões, e lembra também que na área dos “pequenos animais tem crescido um bocadinho”, reconhecendo que tudo tem o seu período de “crescimento e estagnação”. O veterinário aproveita para dizer que apesar desta área ter crescido um pouco, “não cresce directamente na proporção dos alunos que vão saindo das escolas”, alertando a existência de uma “grande incongruência”, porque o nosso país tem escolas a mais. “Portugal com nove milhões de habitantes tem seis escolas, duas privadas e quatro estatais, enquanto a Suécia tem o mesmo número de habitantes e só tem uma escola; a Inglaterra com 40 milhões de habitantes tem três escolas; a França tem três escolas; a Alemanha tem uma escola só e; os Estados Unidos têm sete escolas, sublinha, avançando que não se “compreende” que isso aconteça num país tão “pequeno”, nem a “política da educação” vigente. Criam-se cursos e depois, evidentemente, que “não há espaço” para todos os recém-licenciados.
Quanto às maiores dificuldades do dia-a-dia, diz ser tudo uma questão de “adaptação”, explicando que actualmente com os meios de comunicação social que há é tudo “muito facilitado”.
O que o deixa mais “desolado” são os estrangeiros, salienta, lembrando estarmos numa terra “virada para o mar e para o turismo”, o que a seu ver não acontece nesse aspecto. “Os estrangeiros ficam horrorizados quando encontram cães com varias anomalias pela rua”- alerta, acrescentando que se costuma dizer que o “espelho da vivencia do país se nota na maneira como se trata os animais”. Os abandonos são realmente “muitos”, o que, acentua, “preocupa muito” os estrangeiros.
O veterinário relata já ter “despachado muitos cães para o estrangeiro”, pois as pessoas encontram-nos na rua ou às vezes deixam-nos na clínica para esterilização. “As pessoas pedem-nos que arranjemos uma adopção, o que às vezes conseguimos”- afirma, satisfeito, avançando que esta é a área que o preocupa mais. “É um problema cultural”, sublinha, reconhecendo que este ainda vai perdurar por “muitas” gerações.
O proprietário da clínica Mãe de Deus aproveita ainda para dizer que “o governo devia deitar mão a isso”, pois visto este fazer “grandes investimentos em publicidade na área do turismo”, deveria “acautelar-se internamente” com essas situações. Sim, porque “se realmente querem ter turismo de qualidade, não se pode continuar a manter os animais na rua e com atropelamentos”. Como eventuais soluções, o médico veterinário aponta uma “maior vigilância” e uma “mudança de mentalidades com um certo arejamento”, que devia ser feito.
Por outro lado e reconhecendo tratar-se de um problema “cultural”, o veterinário admite serem precisos “muitos anos”, até as pessoas se mentalizarem. Damião lembra ainda ter tido recentemente um cliente alemão que queria “despachar” uns cães para Dublin, na Irlanda, tendo lhes feito a devida desparasitação e todo o resto que é necessário. “A senhora ligou-me da Irlanda, a dizer que os cães não podiam sair da alfândega, porque eu não tinha posto a hora em que foram desparasitados e levaram a vacina”- explica, evidenciando que o “rigor” que os estrangeiros tem nestas questões é “extremo” e nos Açores devia haver “muito mais vigilância”.
O veterinário salienta ainda que a clínica passa o boletim de sanidade, mas quando a pessoa circula com o cão, “ninguém” lhe pergunta nada. Por “incrível” que pareça, acentua, as pessoas circulam com os cães de um lado para o outro e “não há ninguém que fiscalize”, situação que considera um “escândalo” e que “não pode” continuar.
“As autoridades veterinárias ou a GNR, alguém tem que fiscalizar as coisas, porque a maioria das pessoas diz que ninguém lhe perguntou por nada e isso não acontece em qualquer país normal”.
Um hotel para cães é algo que “gostava” de ter, mas a zona onde trabalha não lhe permite, explica, reconhecendo que já existem vários hotéis para cães na ilha e alguns com “boas” condições.
Referindo-se ao movimento de clientes, afirma não se poder queixar, lembrando estar no negócio há cerca de 30 anos. Lembra ter começado com os “grandes” animais, pois quando regressou havia “muito poucos” veterinários e era preciso fazer de tudo. A certa altura, decidiu mudar para os pequenos animais, porque chega-se a um ponto em que “não se pode fazer muito e apenas até certa idade”. Além, disso esta área exige “muito esforço físico”.
Afirma receber normalmente “cães, gatos e já começam a aparecer alguns animais exóticos” também. Quanto às doenças que surgem com maior frequência, evidencia a “falta de vacinação”, o que acontece porque chega o verão, o calor, a humidade e as pessoas “esquecem-se” que o meio ambiente também está “conspurcado” e que é preciso fazer a vacinação, que é “importantíssima”.
O veterinário aproveita para alertar as pessoas, lembrando-lhes que quando tiverem a intenção de ter um animal, devem “pensar primeiro” que estes são uma “máquina viva”, que é preciso “alimentá-los e aplicar-lhes os cuidados médico-veterinários” e, lamenta, “nem sempre” isso acontece. Há muitas complicações que surgem e que não deveriam, desde as “gastroenterites” ou a falta de uma alimentação “correcta”.
“Qualquer pessoa pode ter um cão, mas no resto da Europa as coisas já não se passam assim. Eles primeiro fazem uma triagem dos animais disponíveis e depois vão vasculhar a vida privada da pessoa, para ver se tem condições ou não, para poder ter o cão e demonstram-lhe que é preciso ter responsabilidade e condições económicas para ter um animal”- enfatiza.
Referindo-se aos cães considerados perigosos, afirma ser uma questão muito “polémica”, pois “os cães normalmente são aquilo que os donos querem”, mas às vezes são “estigmatizados e desviados” para outras áreas, que não a social, a de companhia ou de caça, por exemplo. Explica haver sempre um aspecto fenótipo, que é a parte exterior do animal, e o genótipo, que é a parte interna, logo há “sempre uma tendência genética” que os animais trazem. Mas, na sua opinião, a “educação sanitária e o treino” fundamentalmente, é que tornam os animais perigosos. Os animais não nascem perigosos, sublinha comparando-os às pessoas. Conforme o “traquejo e o tratamento” que os donos lhes dão é que “realmente podem surgir actos de lutas, como parece que já se faz aqui na ilha”.
A seu ver, a legislação é um pouco “exagerada”. Castrar ou abater todos os animais considerados perigosos é um “exagero e uma violência”.
“É passar do oito para o 80”, defende, avançando não concordar de “maneira nenhuma”, que se abatam os animais.
Além da “linhagem genética”, salienta, o ‘segredo’ está no “tratamento” dado aos animais, que sendo mau pode depois “extravasar em situações de violência”. E continua, dizendo que as pessoas “não podem” circular com os cães, se estes não forem devidamente “açaimados e atrelados”, que é fundamentalmente o que está previsto na lei e não há outra maneira de os “conter”.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.

Informar e "formar" os jovens!


Associação Jovem Açores

Estabelecer e fortalecer a relação entre os jovens; a prevenção primária e todos os comportamentos de risco lícitos e ilícitos, tudo o que prejudique o crescimento das crianças, adolescentes e jovens nas suas componentes físicas e intelectuais; a promoção da cidadania e; o respeitar as diferenças independentemente das origens sociais, étnicas e religiosas, são os objectivos da Associação Jovem Açores (AJA). Segundo Durval Santos, presidente da AJA, a concretização dos objectivos será alcançada por jovens de toda a Região, o que considera a sua “maior alegria”.

Os jovens estão cada vez mais expostos a toda uma série de perigos, como o alcoolismo ou a toxicodependência, vícios que lhes podem levar por caminhos dos quais se arrependem mais tarde, em alturas em que já é muito difícil sair impune ou sem sequelas. A AJA foi fundada em Agosto do corrente ano e pretende informar e formar os jovens para que estes tenham um futuro saudável e condigno, isto promovendo também a cidadania.
Durval Santos, presidente da Associação Jovem Açores (AJA), começa por contar que a Casa do Povo de Santa Barbara está a conceber um programa de âmbito regional, designado de Programa de Informação e Apoio à Prevenção Primária (PIAP), que tem como objectivo “gerar uma dinâmica própria junto de crianças, adolescentes e jovens”. Esta dinâmica levou à necessidade de se criar uma associação juvenil vocacionada para a “prevenção primária”, a AJA.
Os seus objectivos, salienta, inserem-se em quatro “chaves” principais, sendo o seu mote o facto de estar feita “de jovens para jovens”. A AJA está virada para a juventude açoriana e pretende “estabelecer e fortalecer a relação inter-par, entre os jovens”. A prevenção primária e todos os comportamentos de risco lícitos e ilícitos são também uma área de actuação da associação, que visa eliminar “tudo” o que prejudique o crescimento das crianças, adolescentes e jovens, tanto a nível “físico, como intelectual”. A promoção da cidadania é outro aspecto a considerar neste cenário, através da “responsabilização” dos jovens para a participação “cívica” nas suas comunidades. Isto, sabendo que têm “direitos e deveres” a cumprir sublinha. A questão multicultural é também essencial, pois ensina os jovens a respeitarem as “diferenças”, independentemente da “origem social, étnica, religiosa” do outro.
Esta associação juvenil regional “sem fins lucrativos” estende-se do Corvo a Santa Maria e, salienta, não professa qualquer “ideologia” política, religiosa ou partidária. “Qualquer adolescente ou jovem poderá participar na AJA, independentemente das suas convicções ou ideologias. É um espaço que respeita e onde se pretende respeitar todos os pensares e vivencias dos seus intervenientes”- acentua.
Referindo-se a como pretende concretizar os seus objectivos, Durval Santos explica ser “com os jovens”, lembrando que Álamo Meneses, secretário da educação e ciência, referiu recentemente e “muito bem” na sua opinião, que os movimentos de jovens que existem na Região, “não são conduzidos por jovens”.
Mas no caso da AJA, enfatiza, a concretização dos objectivos que se pretende será alcançada pelas mãos de jovens açorianos de todas as ilhas, o que constitui a “maior alegria” do seu presidente. Criar “assimetrias” de colaboração de forma a “minimizar riscos” concretamente e em especial nas crianças e jovens e uma “plataforma de colaboração e de união de esforços” entre o governo regional, autarquias, pse’s e demais organismos juvenis, desportivos e culturais, são as estratégias da associação para que esta possa alcançar os objectivos a que se propõe. Sim, pois importa “contribuir para o desenvolvimento integral da juventude açoriana”. De momento, evidencia, a AJA conta com o apoio do governo regional, concretamente da Direcção Regional da Juventude.
Quanto ao investimento necessário, Durval Santos explica que até agora todas as actividades desenvolvidas pela AJA, foram financiadas “única e exclusivamente” com o seu próprio orçamento, com a colaboração da Casa do Povo de Santa Bárbara. Isto, pois, justifica, “a AJA não tem ainda suporte financeiro, nem tinha estatutos criados, ou corpos eleitos”. De qualquer modo, como já referiu, a associação tem já a garantia de um apoio do Governo Regional, face aos projectos que pretende implementar na Região. “O PIAP foi inteiramente financiado pelo governo regional e será desenvolvido até ao final do ano, encontrando-se de momento em 47 mil euros”- ressalva, acrescentando haver já algum “interesse” por parte de câmaras municipais da Região em apoiar a AJA.
Um bom exemplo é a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, que apesar de “ainda” não lhe ter sido solicitado qualquer apoio, afirma estar “receptiva” à questão das dependências que, reconhece, tem causado alguns “danos” aos jovens. Mas até agora e em termos oficiais, sublinha, a única reunião oficial que teve foi com Bruno Pacheco, Director da Juventude, que salienta ter oferecido “toda a colaboração” a nível futuro e que irá “apostar” nos projectos que a AJA pretende desenvolver, indo assim de encontro ao PIAP.
Quanto ao facto da associação se estender a todas as ilhas, o presidente lembra que em Março, Ponta Delgada foi palco de um curso de “Vereadores Sociais” através do PIAP, evento que contou com a representação de jovens de “todas” as ilhas. Os “jovens que participaram serão os pontos de referência e de ligação para com a direcção da AJA”. O presidente aproveita ainda para dizer que a AJA se estende do Corvo a Santa Maria não só numa questão de “papel ou estatutária”, mas em “concreto”. Isto, pois dispõe de “vários” representantes nas ilhas açorianas e de possíveis “colaboradores”, além de pessoas que estão interessadas em tornarem-se “associadas”.
Fazendo um balanço dos primeiros tempos de vida da associação, afirma ser “muito positivo”, avançando que a sua maior “satisfação” é saber que no dia do lançamento da AJA, as várias crianças, adolescentes e jovens de algumas zonas sociais e habitacionais da ilha Terceira transmitiram de facto o seu “agrado, carinho e alegria”, em terem participado. Inclusive, salienta, “já houve pais que me abordaram na rua e por telefone satisfeitos por os seus filhos terem aderido ao projecto da AJA e, avançaram estar dispostos a colaborar futuramente em futuras iniciativas, bem como em inscreverem os seus filhos em mais actividades que pretendamos fazer”. Por isso, “a mensagem chegou”- constata, avançando que a principal mensagem são os objectivos a que a AJA se propõe. Objectivos estes que, sublinha, não são tratados apenas numa componente” lúdica ou de ocupação” de hábitos de vida saudável, mas acima de tudo numa componente “educativa e pedagógica”.
O presidente da AJA aproveita ainda para salientar que “todas” as actividades desenvolvidas e dinâmicas concebidas auferem um cariz “educativo e pedagógico”. As crianças, adolescentes e jovens, por sua vez, “reviram-se” nos objectivos propostos e conseguiram concretizar os objectivos da associação, que pretendia que estes ficassem “conscientes” dos riscos face ao alcoolismo, à questão do comportamento de risco perante a questão rodoviária e às doenças sexualmente transmissíveis.
“Não se tratou simplesmente de entreter os jovens durante uma tarde”-salientou, acrescentando haver, porém, uma componente “lúdica”.
Segundo Durval Santos, os projectos da AJA irão pautar-se sempre pela “excelência e qualidade”, em relação ao que se pretende dar aos seus participantes e “alicerçar” em questões de fundo e de qualidade da área educativa e pedagógica, que se pretende criar junto do nosso público-alvo.
Tanto o “Prevenir em colecção” como os Castelo de Risco, explica serem programas de um ano, da tutoria da Associação Nacional Arisco. Trata-se de uma associação nacional de “promoção da saúde” reconhecida a nível nacional pela “qualidade e excelência” dos seus projectos, que têm pessoas ligadas ao Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) e com a qual a AJA irá estabelecer uma cooperação. O “Prevenir em colecção” avança ser um programa direccionado para os jardins-de-infância e primeiro ciclo.
“Muitas pessoas tem a noção de que a prevenção primária deve começar na adolescência, mas deve começar na infância”- evidencia, acrescentando que estes programas serão “concebidos” e realizados pelos professores dentro da sala de aula, com orientação pedagógica e técnica das pessoas associadas à AJA. No “Prevenir em colecção”, cada aluno irá dispor de uma caderneta e será chamado a desempenhar certas tarefas, que se inserem no seu espaço “familiar, comunitário e pessoal, a nível do enriquecimento de competências”. Essas competências serão premiadas de uma forma muito “lúdica, dinâmica e criativa e atractiva, pois cada aluno é premiado com a oferta de autocolantes”- justifica, lembrando que “os miúdos gostam muito de coleccionar” e à medida que passam as diversas fases terão a possibilidade de colar esses cromos na sua caderneta.
O “Castelos de Risco” é direccionado essencialmente a jovens do ensino secundário e visa a “promoção dos desportos de out-door”, que não se limitam aos desportos radicais como a escalada ou o rapel. Existindo o factor risco e a adrenalina, o objectivo é o jovem conseguir substituir o “alcoolismo, pela adrenalina. É esta a grande mensagem educativa”. No culminar dos “Castelos de Risco”, realizado junto a uma grande fortaleza ou castelo, serão convidados todas as famílias, professores e a comunidade educativa a participar nesta “grande aventura”.
De momento, o presidente salienta ter já uma escola “receptiva” à abertura destes dois programas, avançando que “se calhar grande parte das escolas estão sempre receptivas a este tipo de projecto”, mas no início tudo tem de ser feito de forma “gradual e consistente”. Isto, de forma a ver quais os locais onde este projecto será mais “útil” e também por uma questão de “rentabilização de recursos técnicos, pessoais e financeiros”. O projecto será lançado com uma escola secundária da Região, que será também financiada pela Direcção Regional da Juventude. O Teenex visa a “junção dos jovens em regime residencial durante quatro noites e cinco dias” e foi adaptado para Portugal, como sendo o Jovem-a-jovem. O objectivo deste programa de bastante “sucesso” a nível nacional, é “informar e formar os adolescentes face a comportamentos de risco”.
A Carta Nacional de Prevenção Primária será o documento “legislador das linhas de orientação da prevenção primária”, em Portugal. Saber em que ponto estamos, quais as necessidades da população a nível futuro (de forma a poder orientar todos os organismos e instituições que estão vocacionadas para esta área e que também são um documento de “referencia e apoio para o governo”), para “minimizar os riscos” junto dos agentes associados a este tipo de actividades, é o que se pretende. Durval Santos afirma ainda ser com “muita alegria” que refere que a AJA irá estar presente na elaboração desta carta, fazendo chegar “em viva voz o nosso sentido da insularidade, de Região e as preocupações e anseios dos jovens açorianos”.
Em termos de projectos, o presidente avança que a AJA se define essencialmente por “agir (dai aja), intervir, dinamizar” e acima de tudo como diz o povo, e muito bem, “haja saúde”, é ista a mensagem a transmitir. Isto, esclarece, indo de encontro aos projectos que pretendem desenvolver, como o “Prevenir em colecção”, os “Castelos de Risco” e o programa inglês Teenex, uma adaptação “jovem a jovem”. Além disso, o presidente revela que irão participar na “elaboração da capa nacional da Prevenção Primária”, no próximo mês de Outubro, pois foram convidados para representar a Região.

Raquel Moreira
Public in Agosto de 2008.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Pouca qualidade e músicos "preguiçosos"


Pedro Abrunhosa lança novo trabalho em 2009

A situação da música em Portugal é “ilusória”, pois há muitos foguetes e muitos festivais de verão, que são uma espécie de “supermercados Lidl da música”. O próprio ensino da música em Portugal é “muito mau e de péssima qualidade” e os músicos são “preguiçosos”. Para compor, basta-lhe “abrir o jornal” e informar-se sobre a realidade, pois considera-se um “cantador de histórias”. O conhecido cantor e compositor Pedro Abrunhosa aproveita ainda para tecer largas críticas a Cavaco Silva, avançando que as suas declarações ao país sobre o Estatuto dos Açores foram “totalmente despropositadas”.


“Socorro, estou apaixonado”, “Tudo o que te dou” e “Viagens” são alguns dos seus êxitos mais conhecidos. Adora os Açores e adorou o concerto em Ponta Delgada. 2009 avizinha-se com grandes projectos. Pedro Abrunhosa, cantor e compositor, é natural do Porto e começou a estudar música "muito cedo", nomeadamente piano e contrabaixo, e tirou “ao mesmo tempo” o curso de Eng. Química. “Foi um percurso clássico”- afirma, avançando que depois entrou no Conservatório, o que, reconhece, não era muito “fácil” na altura, pois tratava-se da “única” escola de música em Portugal. O facto é que se licenciou e completou o Conservatório, indo logo de seguida para a Academia de Música de Budapeste.
Aos 16 anos já dava aulas de música, tendo depois formado a sua própria escola. “Cheguei a tocar no metro em Amesterdão, Berlim e Viena d' Áustria. Corri a Europa toda a tocar guitarra com 16,17, 18 anos”- recorda, lembrando ter entrado também no mundo do Jazz e da música clássica, no qual foi contrabaixista de “muitos” músicos norte-americanos de Jazz. O cantor salienta ainda que a sua formação é “dupla”, pois provém tanto da academia como da “estrada”, acrescentando que os jovens com quem formou os Bandemónio eram seus “alunos”.
Compor e cantar são duas tarefas “diferentes e complementares”, que considera fundamentais. Escrever é “bom” a dadas alturas, tal como compor. Os espectáculos proporcionam um contacto “mais directo” com as pessoas, mas muitas vezes o estúdio, onde pode estar “um ano ou dois a gravar”, faz com que esteja “aparentemente” afastado do público. Daí que a proximidade com o público seja só uma “recompensa”, como sucedeu no concerto em Ponta Delgada. Claro que, reconhece, “não há recompensas destas, concertos com 15 mil pessoas sem o trabalho de estúdio”, que considera de “laboratório”, semelhante ao dos cientistas. “Não se descobre a cura para a tuberculose indo para a praia e estando sem fazer nada. Tem que se trabalhar”- acentua.
Pedro Abrunhosa considera a sua música "boa", avançando só existirem dois estilos de música, “a boa e a má”. Acrescenta ainda ser evidente que as suas influências vão “desde o Jazz à canção norte-americana e francesa” com Bob Dylan, lembrando ter feito uma série de “citações” no concerto em São Miguel, onde incluiu James Brown. Afirma fazer rock claramente, mas um “rock de letras e de dimensão lyrica”, pois as letras são “muito importantes” na sua música.
Para compor diz não precisar de inspiração, basta "abrir o jornal" e está lá tudo. É apenas uma questão de “trabalho e atenção à realidade”. O jornal tem todas as histórias que canta, pois é um “cantador” de histórias. Um exemplo “típico” desta situação é "A Balada de Gisberta", canção que dedicou ao transexual morto na cidade do Porto há cerca de dois anos. “Não tenho inspiração, não é preciso. A inspiração é uma coisa que não existe, meio romântica, como se me sentasse debaixo de uma árvore à espera que chegasse. É uma coisa mágica”- acentua, acrescentando que ainda há uns dias, quando abriu o jornal reparou que a primeira página era sobre a guerra na Geórgia e mostrava uma senhora com outra morta nos braços, ela a chorar e à volta tudo destruído. “Essa imagem é tão dolorosa quanto poética”- salienta, avançando que olha para a realidade e tenta “exorcizar” a sua própria dor, que “no fundo é a dor dos outros”.
O ensino da música em Portugal diz ser “muito mau e de péssima qualidade” e, pior, “não melhorou”. A primeira dificuldade está na própria aprendizagem. A seu ver, um músico tem de “aprender mesmo” a tocar o seu instrumento. E isso só acontece, quando “perder horas e horas a aprender” e tiver “bons” professores. Segundo Pedro Abrunhosa, o próprio músico tem tendência a achar que basta “pôr as suas músicas na Internet” ou que ter um grupo na “garagem” a ensaiar já o torna músico. Mas as coisas não funcionam assim. É preciso muito trabalho e os músicos portugueses são “preguiçosos”.
Diz haver muita e “muito má” música. Com a retirada recente das editoras multinacionais do país, não tem surgido “novos talentos”, mas há muitos grupos novos. Em termos de quantidade, afirma estar tudo como antes, o que já não sucede na área da qualidade. “Eu não quero perder tempo no My Space à procura de talentos, quero ir para a estrada e ouvir bons grupos”- enfatiza, avançando que cantar em inglês é uma “aberração total e não faz sentido, num país que tem a nossa história de língua”.
A seu ver, a situação da música em Portugal é “ilusória”, pois há muitos foguetes e muitos festivais de verão, que são a seu ver uma espécie de “supermercados Lidl da música. Está lá tudo, mas nada é bom”.
Pedro Abrunhosa defende também que a internacionalização da música deve ser feita com música “cantada em português”, pois só quem o faz consegue divulgar a sua música no estrangeiro. Falando de si próprio, diz ser preciso trabalhar muito, mas afirma estar a conseguir, pois já são “muitos anos” de carreira, nomeadamente com músicos brasileiros. O cantor revela ter em mãos um projecto “muito importante” para 2009, gravado no Brasil, mas acentua, mais uma vez, que “é preciso trabalhar muito e continuamente”, pois “não há maneira” de fazer as coisas. “Não acredito na internacionalização se não for algo consistente e cantado na língua mãe, pois não há outra maneira”.
Em tempos de crise, sublinha, há “os que choram e os que vendem lenços” e é assim que se divide a humanidade. Chorar, diz não chorar “de certeza”. As editoras abandonaram o país e resolveu fundar a sua própria, a “Boom Editora” em Gaia, e o seu próprio estúdio. Assim, tem “uma serie de grupos” com a sua assinatura, que acrescenta não serem muitos, mas “são bons e em 2009 vão começar a sair”.
Pedro Abrunhosa aproveita ainda a ocasião para criticar as recentes declarações de Cavaco Silva acerca do Estatuto Politico-Administrativo da Região, que a seu ver levantaram algumas “perturbações interiores” à própria inerência do cargo de Presidente da República, como “claramente” aconteceu e, a forma como o fez foi “totalmente despropositada, um disparate total”. O cantor defende que o Presidente da República está a “perder um pouco a noção e está a revelar o que já era como primeiro-ministro e não consegue conter-se”.
“Ele foi um ministro que entregou Portugal ao défice. O grande papão ou mostro como ele chamou, foi ele que o criou. Foi Primeiro-Ministro e Ministro das Finanças durante 12 anos e nós não estamos na situação em que estamos, por obra e graça de Pedro Santana Lopes. Alguém esteve antes dele e de Durão Barros e de Guterres”- enfatiza, classificando a posição de Cavaco Silva como “muito autoritária e a roçar o exagero”, o que o leva a discordar com a “maneira, a hora e o timing” da referida comunicação. O músico do Porto avança ainda que se Cavaco Silva falou ao país, para expor as suas preocupações sobre o Estatuto dos Açores, “quando acontecer alguma coisa, ninguém o vai ouvir. O presidente da república fez um arrastão, que nunca existiu”.

A maior parte do tempo, passa-o em Nova York, devido sobretudo à sua “escrita em filmes” e pela música, pois tanto os discos da sua editora discográfica como os seus são todos tratados no escritório em Nova York. “Comecei como músico na rua, formei a minha escola e um dos sonhos que eu tinha era fundar uma editora e um gravadora, o que já consegui”.
“Nova York é o centro geográfico da actividade musical” e, a dada altura, Portugal é “pequeno” para qualquer um. O mundo está a abrir-se às novas tecnologias e “é uma asneira, confinarmo-nos a um território”. Geograficamente, a música pode facilmente “ultrapassar fronteiras”, através da internet e das rádios, o que diz ter conseguido através de parcerias com Caetano Veloso, por exemplo. Sim, porque “a arte e a cultura conseguem ser sustentáveis e exportarem-se” a si próprias. “Esta actividade é auto-sustentável, não recebe subsídios e cumpre também um papel de diversão”.
Quanto às rádios, o cantor defende que “com a qualidade da música portuguesa que há, também passava mais música estrangeira”. Mas também há “boa” música portuguesa, salienta dizendo não avançar nomes “para não ofender ninguém”. Há, sobretudo, uma “boa memória” da música portuguesa. Aproveita ainda para dizer que enquanto em França ou na Espanha, passam com facilidade “grupos antigos no meio dos novos”, em Portugal não. Ouvimos os grupos que vão aos festivais de verão, onde “não é bem a qualidade que conta”. O objectivo destes festivais é “vender telemóveis e cerveja” e, lamentavelmente, as rádios vão “muito” atrás disso e passam os grupos que lá estão. Sim, porque “há muita música antiga e nova para passar” e muita música má, que se calhar “continuam” a passar.
Referindo-se aos seus gostos pessoais aponta Jorge Palma, Sérgio Godinho, Ornatos e os dois primeiros discos dos Toranja, que “infelizmente” já acabaram, além dos grupos com quem trabalha e que concessiona às multinacionais para uma “maior” divulgação e promoção.
Quanto à situação que se vive a nível mundial, o cantor admite existirem recursos “a nível mundial” para acabar com a fome e “interesses” instalados. Ao acabarmos com a fome em alguns sítios, explica, “as pessoas que comem muito, vão comer menos”. Aproveita também para criticar as comissões distribuidoras dos alimentos e bens a nível internacional, que diz estarem envolvidas em esquemas “extremamente complicados”. Um exemplo é o caso do senador norte-americano John Edwards, que tinha várias pessoas na sua lista de pagamentos. Entre elas, alerta, “a sua amante, que era paga com o dinheiro destinado a famílias carenciadas”. Esta situação “evidentemente” convém aos estados ricos, sobretudo ao hemisfério norte, pois “o hemisfério sul continua na pobreza e na miséria”.
Neste cenário elogia ainda o trabalho de Lula da Silva, presidente do Brasil, que tem feito um “excelente” trabalho, pois “só um presidente que venha da classe operária, que não seja doutor e que conheça a pobreza a pode combater”. De resto, confessa, as petrolíferas têm interesse nisso, tal como as grandes explorações agrícolas e a ordem mundial. Na sua opinião, o problema de fundo é a “falta de ideologia”, porque actualmente não há mais do que o “capitalismo” e o Marxismo acabou, logo não há uma “contra-corrente de poder ideológico”. O pior é que “não há de facto quem defenda os pobres, que estão sem voz”. Afirma gostar da “sinceridade nas pessoas”, mas por outro lado não gosta do “seguidismo, do carneirismo”.
Pedro Abrunhosa adorou estar em São Miguel, onde mais uma vez viajou pela ilha. O cantor afirma ser “impressionante, a diferença de calor humano” que existe nas ilhas. “Desde das Furnas ou da Lagoa, a maneira como as pessoas me abordam na rua, de uma forma extremamente educada, simpática, quente e vê-se que conhecedora, foi uma experiência incrível. Adoro os Açores”- acentua, lembrando ter já escrito uma canção na ilha do Pico, intitulada "Como uma ilha", do disco "Silêncio" e que adora ouvir. Esta canção, sublinha, fala dos Açores e do quanto gosta da Região.
Referindo-se à canção “A Balada de Gisberta”, que dedicou ao transexual assassinado no Porto, o cantor aproveita para dizer que “não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista, anti-xenofobia, anti-homofóbico”. É fundamental ter-se noção da “estupidez em que, às vezes, a pessoa se confina, através da ignorância e do silêncio”, pois a evolução da sociedade passa por esta mudança de “mentalidade” e a música rock sempre foi sobre isto. “A última canção que cantei no concerto em São Miguel fala nos miseráveis de Nova York, pois o rock é a história dos pobres”.
Segundo o cantor, para quem está em cima do palco, o concerto em São Miguel foi “do melhor” que tem feito a nível de público. Há uma “apetência cultural” que funciona como uma “esponja”, porque é “muito grande a vontade de participar e o publico conhece as músicas”, obviamente. Diz ter sido um concerto por um lado “muito duro, acutilante e directo”, pois reconhece que os temas não são fáceis. Mas o rock é assim, alerta, ou “fala de coisas a sério ou não fala de nada”, tornando-se em algo “meio pop e esquisito”. E por outro lado, também foi “doce, irónico e tudo, pois meti-me com o publico e ele respondeu às provocações todas”.
A seu ver, a arte não serve para nada, se não for um "ponto de ebulição do cérebro". O cantor encara-a como uma maneira de “exorcizar as suas paranóias, fantasmas, de poupar num psiquiatra e de partilhar com o público, coisas comuns a toda a gente”. Nas suas canções, afirma referir-se a coisas “banais”, como o “desejo, a morte e a separação”, o que talvez leve a esta “interacção” com o público ao longo de muitas gerações.
Diz estar “sempre” a par do que se passa nos Açores e “atento à realidade política por muitas razões”, mas principalmente por não considerar a democracia como um “facto consumado”. “Sempre fui participativo nas questões politicas nacionais com opiniões minhas, que polémicas ou não, são minhas e ainda bem que são polémicas, senão não eram opiniões”.
No que toca a projectos, revela ter “dois discos quase prontos”, a editora, a gravadora e o projecto de concertos no Brasil, Estados Unidos e na Europa. O mais importante é trabalhar todos os dias e “fazer coisas diferentes”, para dentro de um ou dois anos voltar a São Miguel e as pessoas cantarem músicas que têm 16 anos como o "Tudo o que te dou" e, de músicas que tocam "n" vezes, como "Quem Me Leva os Meus Fantasmas", "A Balada de Gisberta" ou o "Ilumina-me", como desta última vez. É isso que faz uma carreira, “ter sempre músicas que digam algo” às pessoas. O seu projecto futuro é “fazer projectos todos os dias”.
Biografia
Pedro Abrunhosa nasceu no Porto a
20 de Dezembro de 1960, tendo iniciado cedo os estudos musicais. Ao terminar o Curso de Composição do Conservatório de Música do Porto vai estudar e trabalhar com os professores Álvaro Salazar e Jorge Peixinho, fazendo também o Curso de Pedagogia Musical com Jos Wuytack.
Começa a sua carreira como docente aos 16 anos na Escola de Música do Porto e dá aulas no ensino oficial, na Escola do
Hot Clube, em Lisboa, e na Escola de Música Caiús. Desenvolve os estudos de Contrabaixo e funda a Escola de Jazz do Porto e a Orquestra da mesma, que dirige e para a qual escreve.
Trabalha nesta área por toda a
Europa com Joe Hunt, Wallace Rooney, Gerry Nyewood, Steve Brown, Todd Coolman, Billy Hart, Bill Dobbins, Dave Schnitter, Jack Walrath, Boulou Ferré, Elios Ferré, Ramon Cardo, Frankie Rose, Vicent Penasse e Tommy Halferty.
Escreve e executa as
bandas sonoras dos filmes: “La Lettre” de Manoel de Oliveira (música incidental), “Amour en Latin”, de Serge Abramovic, “Adão e Eva” de Joaquim Leitão e “Novo Mundo” do cartoonista António. Compõe ainda para as peças de teatro “Possessos de Amor”, “A Teia e O Aniversário de Infanta” e “150 anos De Bonfim”.
Em
1994 edita “Viagens”, o seu primeiro álbum com os “Bandemónio”, que atinge vendas recorde de 243.000 unidades, chegando a tripla platinae onde conta com a participação do saxofonista de James Brown, Maceo Parker. Faz mais de duzentos espectáculos em dois anos, apresentando-se nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Macau, França, Suíça, Espanha, Luxemburgo, França, Itália e outros.
Lança em
1995 o Maxi-single “F”, juntamente com um livro, alcançando com ambos um inesperado impacto. A canção “Talvez” fazia parte do álbum e foi a primeira vítima da censura, em Portugal, em mais de 20 anos.
Em
1996, edita o seu segundo álbum de originais, “Tempo”, que vende acima das 180.000 unidades, ultrapassando a marca de quádrupla platina e tendo logo na primeira semana vendido 80.000 exemplares. Neste álbum trabalha em Minneapolis, Memphis e Nova Iorque com toda a banda de Prince, os New Power Generation e Tom Tucker, seu engenheiro principal, músicos com os quais se apresenta em digressão. Neste álbum participam ainda Carlos do Carmo, Opus Ensemble e Rui Veloso. Com a música “Se Eu Fosse Um dia o Teu Olhar”, extraído para o filme “Adão e Eva”, bate todos os recordes de bilheteira. A música, entretanto editada no Brasil, vende mais de 8000.000 mil cópias.
É convidado por
Caetano Veloso a realizar um espectáculo conjunto na Expo 98, realizando a maior enchente da Exposição Universal e pelo realizador Manoel d’ Oliveira para protagonista masculino do filme “La Lettre”, rodado em Paris, Itália, Nova Iorque, Lisboa e Londres. Contracena com Chiara Mastroianni. Com esse filme, laureado no Festival de Cinema de Cannes com o Grande Prémio do Júri, tem a oportunidade de fazer a famosa “subida dos 24 degraus”.
Escreve, compõe e produz o musical “Rapaz de Papel”, encomenda do Festival dos Cem Dias. Posteriormente grava todas estas músicas no álbum “Amanhecer”, interpretado por Diana Basto.
Em
1999 edita “Silêncio”, um disco de viragem extremamente importante para a carreira dos Bandemónio. Ultrapassa as 40.000 unidades, atingindo a marca de platina.
As suas canções são gravadas e interpretadas no Brasil, onde se desloca amiúde para digressões, por artistas como Caetano Veloso,
Lenine, Zélia Duncan, Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Syang, Rio Soul, entre muitos outros.
Em
2002 editou Momento, um êxito de vendas e airplay em todas as rádios nacionais, e atingindo novamente a marca de dupla-platina, com vendas superiores a 90.000 unidades. Durante dois anos, a canção homónima “Momento” foi a mais tocada em Portugal.
Em
2003 edita o álbum triplo, “Palco”, resultado dos emblemáticos concertos ao vivo com os Bandemónio e os HornHeads de Prince. Com palco, dupla platina, atinge vendas de 72.000 unidades.
Em
2004 encerra o Rock in Rio Lisboa, concerto integrado na sua digressão 2002/2004 com mais de 120 espectáculos realizados.
Entretanto, tem feito palestras, debates e conferências por todo o país, sobretudo em Faculdades, Escolas, Bibliotecas ou afins. Escreveu para a
TSF, Magazine Artes, Fórum Estudante e tem trabalhos editados nas mais variadas publicações. Em 2006 participou também como vocalista numa das músicas do álbum de estreia da banda portuguesa Cindy Kat, intitulada “A Saída”. Editou o livro “Canções”, que rapidamente esgotou, contendo partituras das suas mais emblemáticas músicas.
Autor e compositor de todas as músicas incluídas nos seus álbuns, Pedro Abrunhosa define-se como “cantautor”.
Lançou em 3 de Abril de 2007 o Single “Quem me leva os meus fantasmas”, o primeiro single do novo álbum "Luz" lançado em 25 de Junho de 2007. O álbum atingiu o galardão de Platina, por vendas superiores a 20.000 unidades.
O primeiro concerto de Pedro Abrunhosa e Bandemónio após o lançamento do álbum Luz teve lugar no espaço Paradise Garage em Lisboa, na noite de 26 de Junho de 2007.
Claramente um rosto de um intelecto superior, a sua capacidade de captação do mundo, tornam-no num criativo que vive o seu génio dependente do que ama, como a cidade do Porto. Canções como o Barco para a Afurada, retornam uma nostalgia única revelando a sua imensa vertente poética. Alvo de um sucesso esmagador de um pais algo parado no tempo nos anos 90, hoje é um prisioneiro do que vende e do seu génio, criando e compondo até hoje.
É acompanhado ao vivo e em estúdio por João André-baixo, Cláudio Souto-Teclas, Edgar Caramelo- Saxofone, Pedro Martins- Bateria e Marco Nunes- Guitarra
É acompanhado ao vivo e em estúdio por João André-baixo, Cláudio Souto-Teclas, Edgar Caramelo- Saxofone, Pedro Martins- Bateria e Marco Nunes- Guitarra.
Da sua discografia constam “Viagens” (1994); “Tempo” (1996); “Tempo Remix Versões” (1997); “Silêncio (1999); “Momento” (2002); “Palco (3 cd) em 2003; o DVD “Intimidades” em 2005 e, “Luz” em 2007, além de um extended play (EP) em formato de cd de nome “F” e “Pedro Abrunhosa” em 1998.

Distinguido com 2 Globos de Ouro; o Prémio Bordallo de Imprensa; 4 prémios BLITZ; 4 prémios Nova Era; Prémio prestígio Nova Gente; Prémio de Melhor Banda Sonora, em Espanha; Prémio Melhor Compositor, pela RCL; Prémio Telemóvel de Ouro, pelo recorde de downloads das suas músicas; Prémio Arco-Íris 2007 da Associação ILGA Portugal pelo tema "Balada de Gisberta", do álbum Luz, o músico conta com mais de 14 anos de carreira, na qual sucessos como “Socorro, estou apaixonado”; ”Não posso mais”; “Tudo o que te dou”, “Viagens”, “Ilumina-me” e “Momento” são apenas alguns dos temas mais conhecido deste cantor e compositor português. O Disco LUZ de Pedro Abrunhosa & Bandemónio atingiu o galardão de Platina, por vendas superiores a 20.000 unidades.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.

"Outro dia" em Portugal


CHAPA

Uma “visão crítica” sobre a realidade em que vivem, os sentimentos e problemas que enfrentam no dia-a-dia, é a mensagem que a banda pretende transmitir.
Segundo Marcos Fagundes, membro dos Chapa, a maioria das músicas de "Outro Dia" foram compostas quando viveram no Rio de Janeiro e são o “reflexo” de tudo que pensam e dos seus sentimentos e vivências. “Nessa época vivemos a realidade de beleza e caos das grandes cidades do Brasil”- acentua, acrescentando ser esta a temática “principal” do último álbum da banda.


Os Chapa são formados pelos irmãos Marcos; Diego e Felipe Fagundes, de 28, de 22; 26 e 27 anos, respectivamente. Desde novos que tocam juntos e o sucesso bateu-lhes às porta, sendo “Outro Dia” o último álbum do grupo.

Marcos Fagundes, começa por dizer que nasceram no extremo sul do Brasil, na cidade de Bagé e começaram a tocar juntos desde “muito cedo”. Em 1993, com 7, 11 e 13 anos, escreveram a sua primeira música intitulada "Cinzas", para participar num festival da escola, evento em que se classificaram em “primeiro” lugar. E, desde aí, “não paramos mais”.
Em 1997, surgiu o primeiro álbum com concertos por todo o sul do Brasil e na Argentina e Uruguai e, em 1998 gravaram o segundo álbum, no Rio de Janeiro, enquanto se “dividiam” entre concertos e viagens pelo Brasil e, os estudos. Terminados os estudos, foram viver para o Rio de Janeiro, o que foi um “momento de amadurecimento”, pois musicalmente, definiram de uma forma mais “clara” a concepção da sua música. E deram concertos entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Em 2006 visitaram a Europa pela primeira vez, fazendo “17 concertos nas principais cidades de Portugal e da Espanha”, tournée que lhes “despertou” a ideia de um dia voltarem.
Dois anos depois, assinaram contracto com o manager Pedro Fragoso, da Nine-Média, e estrearam recentemente em Portugal, o álbum "Outro Dia”.
Portugal tem sido uma grande “porta de entrada” para os Chapa, cuja música tem sido “bem” recebida em todos os lugares onde actuam.
A ideia de lançar um álbum na Europa, esclarece, surgiu durante a tournée que fizeram em Portugal e em Espanha, no ano de 2006.
“Uma visão crítica sobre a realidade em que vivemos, os nossos sentimentos e os problemas que enfrentamos no dia-a-dia”- é esta a mensagem que a banda pretende transmitir.
Marcos Fagundes conta ainda que a maioria das músicas de "Outro Dia" foram compostas quando viveram no Rio de Janeiro, sendo o “reflexo” de tudo que pensam e dos seus sentimentos e vivências. “Nessa época vivemos a realidade de beleza e caos das grandes cidades do Brasil”- acentua, acrescentando ser esta a temática “principal” do álbum.
Visitaram os Açores pela “primeira vez” no passado dia 16 de Agosto, tendo actuado no Festival Baía do Rock, num concerto que fez parte da tournée de lançamento do último álbum.
Em termos de projectos, o músico aproveita para lembrar que estão a acabar um álbum com canções em inglês, trabalho que surgiu da necessidade que sentiram de “levar” a nossa música e as nossas ideias a “todos” os lugares e, reconhece, “compor em inglês foi a forma de transpor a barreira criada pela língua”.
A banda
Os “Chapa” continuam a promover o seu álbum recentemente lançado em Portugal, "Outro dia", e estiveram recentemente no programa "Verão Total", transmitido na RTP 1. Todos aqueles que se deslocaram ao In Live Caffe, na Moita, puderam assistir também ao primeiro espectáculo de apresentação do álbum ao vivo.
A banda composta pelos irmãos Fagundes, afirma-se como uma das revelações mais entusiasmantes da música brasileira. Felipe, Diego e Marcos são oriundos de Bagé, no Rio Grande do Sul, onde cresceram a aprender a tocar juntos.
Em 1993, os “Chapa” começaram a dar os primeiros passos em 1993 tocando covers, enquanto escreviam originais. Desde então, a composição ganhou força e, para além de tocarem em várias cidades do estado de Rio Grande do Sul, os Chapa extravasaram fronteiras para dar concertos em outros países da América Latina.
Em 2006, deram o salto para a Europa com uma digressão por várias Fnacs, que passou por Lisboa e Porto e também por Barcelona, Madrid e Valência, sendo considerados pela Fnac como o novo estímulo do rock brasileiro.
Os Chapa voltaram a Portugal em Maio deste ano, para promoção do novo álbum, “Outro Dia”. A edição é da nova Nine-Media, com quem os Chapa chegaram a acordo para os próximos 2 álbuns de originais, bem como de gestão de carreira e agenciamento de espectáculos a nível mundial.
O álbum “Outro Dia” foi gravado nos estúdios da SG Produções, no Brasil, e foi produzido pelos elementos da banda, sendo composto por 11 temas originais com uma sonoridade pop/rock que ficam no ouvido.
Com a estreia em Portugal, os Chapa querem aproximar-se do público português. A banda traduz “nas melodias e nas letras o que realmente sentimos, portanto estamos muito felizes pela oportunidade de levar a Portugal a nossa música e por fazer parte de uma nova cultura”.
O primeiro single, “Outro Dia”, chegou às rádios portuguesas em Abril.

Raquel Moreira

Pulbic in Terra Nostra, Agosto de 2008.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Dar "significado" a uma fotografia!


World Press Photo

"O interessante é que cada pessoa pode fazer a sua interpretação da fotografia e atribuir-lhe um significado", explica, avançando que para algumas a fotografia vencedora representa algo de "muito moderno" sobre o fotojornalismo, não sendo uma fotografia "tradicional". Para outras é um "cliché tradicional da guerra" e para algumas é ainda uma foto "anti-guerra, ou pró-guerra". Segundo Tim Hetherington, fotógrafo vencedor da 51º Edição do World Press Photo, a fotografia tem de ser percebida integrada num contexto e não, apenas, como uma "imagem única". A vitória foi alcançada com uma fotografia tirada a um soldado no Afeganistão, onde permaneceu durante quase um ano.


É fotógrafo e realizador. Nasceu em Liverpool, mas cresceu a viajar por toda a Inglaterra. Tim Hetherington concorreu ao World Press Photo, concurso fotográfico no qual arrecadou o primeiro lugar, entre 80.536 inscritas, com uma fotografia de um soldado no Afeganistão, território onde viveu durante praticamente um ano e de onde regressou em inícios de Agosto de 2008.
Alguns repórteres evitam a proximidade com os soldados, por temerem a perda da distância e da objectividade. Hetherington gosta e procura estar no meio dos soldados, o mais perto possível para criar retratos íntimos, que parece ser a única forma de prender o público, principalmente o americano.
Foi o mesmo método que usou com sucesso em séries de fotos anteriores, quando retratou o rastro do tsunami de 2004, na Ásia; a guerra civil na Libéria e; Nova York após o 11 de Setembro.
Sob frequente fogo inimigo, os homens construíram um abrigo, com vista para parte do vale. Um alojamento tosco feito de terra e pedra "talvez com 20 metros por 40", diz Hetherington, que chamaram de "Restrepo", nome do médico Juan Restrepo, de 20 anos, que tinha sido morto numa emboscada em Julho.
O dia 16 de Setembro de 2007 foi um domingo. "Um dia de luta bastante intensa", segundo recorda. Eles tinham acabado de ser informados por operações militares de escuta, que o inimigo tinha trazido 20 granadas para o vale, junto com foguetes de 107 mm e três coletes suicidas. As forças americanas estavam sob fogo constante e um dos soldados quebrou a perna e teve que receber morfina.
"Sentíamos como se fossemos alvos", diz Hetherington e o ambiente no acampamento "escureceu."Hetherington entrou em "piloto automático", o que faz sempre que se encontra numa situação difícil, ameaçado ou temendo pela vida. "Concentro-me totalmente no meu trabalho como uma máquina e os soldados fazem o mesmo. Isso tira-lhes a mente das coisas do medo, da dor, da impotência, pelo menos temporariamente. E mal dormiram naquela noite. Todos se reuniram no abrigo, contra a parede de terra e longe da outra parede por onde o inimigo poderia vir".
Foi nessa hora mais escura que Hetherington tirou a foto que tocou o mundo. Um jovem soldado, encostado contra a parede de terra, sem capacete, de braços sujos. Ele tira o suor da testa, olhando directamente para a máquina, olhos turvos, boca aberta. Em parte chocado, em parte cansado, desesperado e tem uma grande aliança na mão esquerda.A imagem é sombria, embaçada, sem contraste, argumentos que alguns utilizaram, dizendo que uma foto assim, "não deveria vencer", revela. Mas ela captura perfeitamente o momento e funciona em dois níveis, pois dá a quem a vê uma sensação do que aconteceu naquele momento e, ao mesmo tempo, tem um significado simbólico eterno.
"É uma história terrível", diz Hetherington. "Mas é forte. Eles colocam suas vidas em risco", o que dá ao prémio um maior significado,
T.N. –Fale-nos um pouco de si e da sua carreira.
T.H.- Nasci em 1970, no norte de Inglaterra, em Liverpool, mas vivo por todo o país. O meu pai estava sempre em mudança, por isso viajávamos muito pelo Reino Unido em família. Cresci em muitos lugares diferentes, mas as minhas raízes estão no norte de Inglaterra.
Trabalhei para o jornal "The Big Issue" durante um ano (1997) e em 1999 passei para o "Independent", um grande jornal nacional. Depois, comecei a trabalhar como freelancer, o que faço até agora. Em 1999, interessei-me por vídeos e televisão, pois também sou realizador. Mas o que importa que as pessoas percebam é que continuo interessado nesta área da imagem, além da fotografia. Algumas pessoas vêem o meu trabalho como se fossem fotografias únicas, só que eu não estou interessado numa única imagem.
T.N.- Como e quando se interessou pela fotografia?
T.H.- Regressei à escola para estudar fotografia em 1996/1997, mas não esperava ser fotógrafo quando crescesse. Foi uma oportunidade que surgiu na minha vida e como estava interessado em imagens e em cultura visual!...
T.N.- Quando começou a participar no World Press Photo?
T.H.- Entrei em várias e diferentes competições, como nos candidatamos a um emprego. Em 1999 fiz uma história, pois sempre gostei de histórias. E a fotografia que ganhou o World Press Photo surgiu de uma história, que ganhou o segundo prémio do "General New Stories". Mas há muitos mal-entendidos, as pessoas têm a ideia de que é preciso sempre escolher uma fotografia só, para dizer que esta é a melhor fotografia do ano do World Press Photo. Não acho que seja este o caso deste prémio, o pegar numa fotografia que represente toda a competição. Não se trata de uma imagem chave da indústria e do mundo em determinada altura. Nunca concorro com fotografias singulares, pois não acredito que o sistema de uma fotografia única possa revelar tanto como um conjunto de fotografias.
Foi um enorme privilégio e fiquei imensamente feliz por ter ganho esta competição, por a minha imagem ter sido escolhida, mas esta não representa tudo o que faço. Trabalho em histórias, sou realizador. Da primeira vez, em 1999, submeti a concurso uma história de 12 imagens sobre a Libéria e ganhei quatro prémios. Mas este ano ganhar o maior prémio foi muito diferente, devido ao escrutínio e ao foco dado pelos Media. A maneira como a nossa imagem é repentinamente utilizada como forma de debate sobre a indústria e é reclamada por pessoas de todos os lados de espectro, para as quais significa coisas diferentes, é algo muito estranho com que temos de viver.
T.N.- De um modo geral, quais as temáticas principais das suas fotografias?
T.H.- É difícil começar a trabalhar e tentar perceber logo sobre o que estamos a trabalhar. É muito pretensioso dizer imediatamente que temos um tema. Já trabalho há 10 anos e já consigo começar a ver coisas no meu trabalho. Por um lado, estou interessado na Politica, mas por outro atrai-me a vida humana de todos os dias e as suas banalidades. Também gosto de trabalhar temáticas relacionadas com jovens e com a violência, preocupo-me com o conflito. O Afeganistão foi parte de um projecto de um ano, que represento e onde segui as estadias das unidades de soldados americanos no Afeganistão em cada local. Voltei do Afeganistão recentemente, pois o projecto chegou ao fim e agora vamos fazer um filme. Estou a trabalhar num livro também e a colaborar com uma revista.
T.H.- A fotografia do soldado no Afeganistão. O que nos pode avançar sobre a mesma?
T.H.- Eu estava integrado numa missão em Setembro para a revista mensal "Vanity Fair", com a qual colaboro e fui ao Afeganistão para o que pensava ser uma simples missão. Eu trabalho há 17 ou 18 anos no domínio de África e da África Oriental, especialmente na Libéria, em projectos de longo prazo e queria sair de lá. Precisava de uma pausa e de algum tempo longe deste continente. E foi nessa altura que tirei esta fotografia. Não sabia que quando fosse fazer este trabalho em Setembro, ainda estaria a fazê-lo um ano depois. Regressei no início de Agosto, logo estive quase um ano a ir e a voltar do Afeganistão e muitas coisas aconteceram durante este período.
T.N.- Segundo o júri do concurso, esta fotografia representa a "exaustão de uma nação". Que comentários faz a esta afirmação?
T.H.- É interessante esta classificação e sinto-me sempre muito honrado e feliz por a minha imagem ter sido escolhida. Esta acaba por ser uma imagem chave, de como se vê a indústria e o mundo nesta altura. Costuma-se dizer que uma imagem vale por mil palavras, mas por mais mil coisas que digamos sobre uma fotografia, o interessante na minha fotografia é que as pessoas interpretam-na como querem e tiram dela o seu significado. E de certa maneira é muito engraçado, porque todas as pessoas dizem tudo o que é possível sobre esta fotografia. Para algumas pessoas esta representa algo muito moderno sobre o fotojornalismo, não é uma fotografia tradicional. Para outras é um cliché tradicional da guerra. E para algumas é ainda uma foto anti-guerra, para outras é uma fotografia pró-guerra. Para mim, o interessante é que se olharmos para a fotografia não há nada de específico, sobre onde esta foi tirada, a quem ou sobre o que se passa. É o que acontece com a publicidade actualmente, é vazia de significado, de conteúdo e nós transportamos o nosso próprio significado para a fotografia. Isto intriga-me.
T.N.- É muito difícil capturar em alguns segundos, uma imagem que nos transmita mais do que mil palavras?
T.H.- Muito do que faço, em certas circunstâncias, tem muito a ver com testemunhar os acontecimentos, estar dentro da situação. Logo, trata-se também de uma questão logística, de ir aos sítios e fazer o trabalho. Considero o meu trabalho exigente e isso é bom. Cheguei ao fim de um ano no Afeganistão. As pessoas tiram uma fotografia e agarram-se a ela, enquanto eu tiro milhares de fotografias e de vídeos.
T.N.- Até que ponto é importante tirar uma fotografia à qual as pessoas atribuem um significado?
T.H. – As pessoas atribuem vários significados à fotografia, mas eu limito-me a tirá-la e tem havido muito debate acerca dela, mas não se pode tirar a fotografia do contexto daquilo que eu faço. A minha função no mundo é ser um 'fazedor de imagens', muitas pessoas vêem o que eu faço e espero que isso seja útil. Penso que é mais útil, do que inútil. Trago informação visual dos lugares e as pessoas acham-na muito difícil de ver.
T.N.- Para o futuro, qual a mensagem a tirar desta fotografia?
T.H.- Não sei, não vou ditar qual a mensagem que as pessoas devem, ou não, tirar da fotografia. É esta a parte interessante da fotografia em geral. O que cada pessoa tem em mente e transporta para a fotografia é a própria pessoa em si. Há uns anos atrás eu talvez quisesse transmitir mensagens específicas nas fotografias, eu queria pronunciar-me sobre certos assuntos e dizer em que se deve acreditar, mas agora já não sei. Amadureci.
T.N.- Projectos?
T.H.- Acabei recentemente também um filme sobre o Afeganistão, que sairá em 2010, intitulado "Restrepo", que é o lugar onde a fotografia foi tirada e também o nome de um médico, Juan Restrepo que foi morto no Afeganistão. Estou também a escrever um livro sobre a Libéria e sobre o meu trabalho, que será publicado na próxima Primavera. Passei três a quatro anos a viver e a trabalhar na Libéria e o livro é sobre essa época.
Tim e o World Press Photo
Ponta Delgada assistiu à 51ª edição do World Press Photo, que expõe as suas fotos vencedoras. O maior galardão foi para o fotógrafo inglês Tim Hetherington, que ganhou o concurso com uma imagem tirada no Afeganistão a um soldado americano que descansava num bunker no Vale Korengal - no momento, o epicentro do combate com militantes islamistas. Segundo Gary Knight, presidente do júri, a fotografia representa "a exaustão de um homem e a exaustão de uma nação".
Realizada anualmente, a mostra da exposição itinerante World Press Photo é a mais prestigiada competição internacional de fotojornalismo, cuja iniciativa é da Fundação World Press Photo, organização independente fundada em Amesterdão, Holanda, no ano de 1955. A preocupação principal da fundação é promover o fotojornalismo através das suas actividades no mundo inteiro, através da organização de seminários, workshops e projectos educacionais. A fundação pretende encorajar e, ao mesmo tempo, transferir conhecimento sobre o fotojornalismo.
A extensão da World Press Photo a Ponta Delgada, dá-se pelo segundo ano consecutivo, em co-produção do Teatro Micaelense e da Cima – Associação Cultural, contando com o importante contributo do Governo dos Açores, através do Secretário Regional da Presidência e da Direcção Regional da Juventude.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.

Incomodado com a "falta de sensibilidade" para a música


Luís Alberto Bettencourt

Conheço pessoas a quem a música incomoda e que são incapazes de ler um livro ou de ir a um espectáculo cultural”. Esta situação, que não consegue aceitar, causa-lhe “depressão e angústia”, pois estas pessoas “não merecem ver o sol todos os dias”.
Luís Alberto Bettencourt descreve-se como um cidadão “normal que gosta de viver e que odeia e combate certas formas certas formas de vida, vocacionadas para a violência ou para a falta de diálogo. Isto, estando sempre do lado dos que não estão protegidos, pois não se identifica com as “maiorias absolutas”.


É um dos mais respeitados e consagrados músicos portugueses com uma carreira de mais de 20 anos de experiências musicais (não só nos Açores, mas também na Guiné Bissau), incluindo a participação no festival da canção, que lhe valeu um injusto segundo lugar com o tema “O Vapor da Madrugada”, interpretado pelos Rimanço, banda da qual era um dos vocalistas. A sua maneira de estar na vida faz de si um ser talhado para a diferença, para o impenetrável mundo da magia das palavras, cheias de conteúdos místicos envolventes que ultrapassam a segura estabilidade do conhecido. Uma presença kármica e sonora, composta por sujeitos, verbos e complementos, por vezes de tempo, por vezes de espaço, complementos de modo de ser.
Segundo Mário Correia, em “Música Popular Portuguesa”, "Bettencourt, para além de introduzir um saudável e enriquecedor elemento de insularidade no panorama da música popular, reflecte uma abordagem musical e temática englobante e universalizante ".
Luís Alberto Bettencourt, compositor, cantor e ex-realizador da RTP Açores, afirma ser um “cidadão das ilhas, um ilhéu”. Nasceu e estudou em São Miguel e quando tinha cerca de 15/16 anos tornou-se “sensível” à música que ouvia na rádio vinda de fora. “Comecei com amigos do liceu a tentar organizar os primeiros grupos numa área de rock urbano e fiz parte de diversas formações musicais aqui da ilha, nomeadamente dos académicos, dos “Turma 5 mais 2” e depois com Zeca Medeiros mais a sério nos “Phoenix”- esclarece, lembrando ter feito um interregno de cerca de dois anos motivado pelo serviço militar, que obrigava os jovens a um “afastamento” do seu meio ambiente, para uma luta “injusta e que deixou algumas marcas” na sua vivência.
Enquanto esteve em África, por “incrível” que pareça, não deixou a música, pois teve “sempre a sorte e o privilégio” de estar ligado a projectos locais. “Tocava em bares, no clube de sargentos e conheci músicos africanos com quem toquei várias impressões e chegamos a tocar juntos nalgumas festas”.
“Nesse período de tempo, aproximei-me muito da raiz popular e percebi que a música que vem do povo, é muito mais rica do que aquilo que imaginamos, não só em termos de temáticas, mas nas melodias também”. Isto aconteceu, sublinha, pois teve a oportunidade de “ouvir e sentir o calor” que essa música transmite.
Na volta, o músico tentou passar esta descoberta para a música açoriana em diversos concertos, fazendo uma “fusão” de música feita nos Açores com música africana, o que considera ter sido uma “boa aposta”. Isto, embora actualmente esteja mais “vocacionado para a música dita universal”, mas, sublinha, “sem esquecer as raízes” de ser português e açoriano.
A sua carreira começou “mais a sério”, nomeadamente com o Zeca Medeiros nos “Phoenix” e depois com outros projectos mais vocacionados para a música “universal, embora sempre de raiz popular”, como com os “Construção” e o “Rimanço”.
Paralelamente, conseguiu emprego na RTP Açores, estando sempre “ligado” a programas musicais, o que o ajudou a “cultivar” o seu modo de ser. As oportunidades de gravação surgiram, principalmente com o “Rimanço” e o “Construção”, a ponto de, em 1995, formar uma banda a solo, com músicos de uma geração “mais nova” e com a qual afirma gostar “imenso” de trabalhar. “Gravei sete ou oito cd’s e algumas colectâneas” - recorda.
Diz ser “muito mais” compositor do que cantor e gostava de ter cantores que “divulgassem e cantassem” a sua música, pois gosta e sente-se mais “competente” a compor. “Dá-me muito gozo escrever uma letra, uma música e também cantar”, embora reconheça não ser um cantor por “excelência”.
Fazendo um balanço de carreira, o músico explica que esta tem sido uma brincadeira, “ultimamente é que tem sido mais a sério”, pois passou a ter mais tempo. Mas guarda “gratas” recordações do passado, tendo consciência de que algumas coisas foram “mais conseguidas do que outras”, avançando “sentir” isso nas pessoas que gostam da sua música. Luís Bettencourt aproveita para dizer ter “todos os ingredientes”, para afirmar e assumir estar “bem” com a sua consciência. O que o deixa “tranquilo e coerente” com o seu modo de vida.
“Sou um cidadão normal que gosta de viver, que odeia e combate certas formas certas formas de vida vocacionadas para a violência ou para a falta de diálogo e estou sempre do lado dos que não estão protegidos. Não me identifico com as maiorias absolutas”-enfatiza, acrescentando não ter “extravagâncias” a não ser passear com o cão. De resto, passa muito tempo a “fazer música, a tocá-la e com a família”.
Questionado sobre um concerto ou álbum de que tenha gostado mais, Luís Bettencourt lembra não dar muitos concertos, porque os “açorianos estão mais vocacionados para a música que vem de fora”, os que “não conhecem bem” a música local. “Num ano, seis ou sete concertos, já é muito bom”- confessa.
Um dos concertos de que gostou mais, lembra, foi na Maré de Agosto de 2004, “pela ambiência e pelo som produzido”. O artista sentiu que as pessoas estavam a “aderir”, o que é “muito bonito”. O músico revela “ainda” não ter editado o cd da sua vida, apesar de fazer alguns trabalhos “positivos”. O seu último álbum, “O Silêncio das Horas” é lhe muito querido, por ser mais “maduro”.
Quanto à sua participação no álbum “L’ Expedition Jules Venres”, em França, Luís Bettencourt relata ser uma história “muito engraçada”, pois “não sabia” ter duas músicas editadas em França, o que descobriu na Internet. “Gravei dois temas para a televisão sobre a baleação, que um canal francês descobriu, não sei como, e aproveitou-os para um programa de televisão francês, editando um cd”. Afirma ter sido uma “surpresa” verificar a situação na Internet, pois apenas recebeu um contacto da Sociedade de autores a dar-lhe conhecimento da situação, que o deixou “muito orgulhoso”.
Apesar de reconhecer que não lhe foi nada complicado internacionalizar a sua música, pois “nada” fez, o cantor explica ser “difícil, pois tudo funciona por lobbies” ou grupos de pressão (pessoas ou organizações, que tem como actividade influenciar, aberta ou secretamente, decisões do poder público, especialmente do
poder legislativo, em favor de determinados interesses privados), que são “muito bem organizados e produzidos”. Não tem nada a ver com ser-se “bom ou mau, se a cara é bonita ou é feia”, apenas “funciona para alguns”, para outros não. O músico vai ainda mais longe ao afirmar que tem visto “aberrações editadas em grandes editoras” em Portugal e “muita música boa que não tem visibilidade”, concluindo que alguma coisa está “errada”.
No que toca ao papel das Rádios, a rádio nacional tem sido “sensível” à música portuguesa, embora numa percentagem mais “diminuta”, passando música de “grandes” editoras. Portugal tem “centenas de talentos que não têm visibilidade, porque a rádio não os passa,” sendo o panorama de “profunda injustiça”. A nível regional, salienta, passa-se “mais ou menos o mesmo com mais gravidade”, pois as rádios estão “pouco receptivas” a passar música local.
“Eu não quero ser injusto nem estou a dizer que as rádios locais não passam música de cá, mas a percentagem com que ela passa, comparada a outra, é uma gota de água no oceano”- lamenta, acrescentando que a “pouca sensibilidade” de alguns radialistas “não permite que as pessoas saibam as letras de cor” e conheçam as músicas.
“No dia em que eles passarem as bandas regionais do mesmo modo e com a mesma percentagem que passam as que vêm de fora, estou convencido que o panorama melhora muito mais e a população começa enfim a conhecer e a cantar algumas das nossas coisas. Mas para isso é preciso que as estações de rádio e de televisão as façam chegar lá fora e isso não tem acontecido”- acentua.
O “Rimanço” teve um tempo “definido” e foi muito bom, lembra, alertando para o facto de que a música popular na altura tinha uma “conotação diferente”, da que tem hoje. “Actualmente e por uma questão de ignorância está-se a atribuir o conceito de música popular, que nasce na raiz de um povo, à musica pimba, quando não o é”. A participação no festival foi uma “curiosa experiência”, na qual ficaram em segundo lugar e “honraram muito” os Açores. “Cheguei a entrar em cafés em Lisboa, a passear nas ruas e as pessoas olhavam para mim e diziam aquela música é que “devia ter ganho”, o que me deixou muito orgulhoso”.
Os “Phoenix” foram liderados por Zeca Medeiros, um músico com “ideias muito definidas e um líder muito seguro e assumido”. Sendo ambos da mesma geração, enfatiza, formaram possivelmente um dos “primeiros grupos com música original”, o que marcou uma época “muito bonita e criativa” de músicos nascidos na ilha.
O seu último álbum, composto por 10 temas e intitulado “O Silêncio das Horas”, aborda a sua “maneira de ver a vida e de analisar aspectos da sua existência” e dos outros. Explica ser um disco “coerente” com as suas ideias, pois utilizou as “versões e temáticas” que queria. “Não fui influenciado por ninguém, nem tive que obedecer a ninguém”- salienta, lembrando ser o trabalho mais recente que editou em Lisboa e, que lançou depois em “diversas” Fnac’s em Lisboa e no Porto e no El Corte Inglês. “O resultado tem sido muito cativante, muito engraçado”.
A expansão a nível nacional reconhece ter sido “difícil”, mas, graças à editora, tudo resultou. O lançamento incluiu seis concertos íntimos nas Fnac’s, onde o álbum se vendeu numa quantidade “interessante” e a edição está “próxima do fim”. O que o deixa “feliz”.
Aprecia muito nas pessoas, o “afecto que estas transmitem quando não são falsas e, a inteligência”. O que menos gosta são a “má educação, a violência e a falta de sensibilidade, nomeadamente para as Artes”. O artista aproveita também para dizer que conhece pessoas a quem “a música incomoda e que são incapazes de ler um livro ou de ir a um espectáculo cultural”, o que lhe causa “depressão e angústia”. A seu ver, essas pessoas “não merecem ver o sol todos os dias. Eu não consigo aceitar”- acentua, avançando ser um pouco como nas touradas. Diz não ter “nada contra quem gosta”, mas tem “muita dificuldade em perceber” que as pessoas se “divertem com o sangue do animal e a vê-lo sofrer. E não me digam que ele não sofre. Quando há sangue, há dor e sofrimento”. E é assim com as pessoas que “não têm sensibilidade”, pois não sabe como elas “funcionam”.
A sua visão do mundo é mais ou menos “dramática”. Luís Bettencourt afirma já não acreditar na Justiça, que pelo que tem visto é apenas uma “miragem”. Na sua opinião, já não há grandes “esperanças”. Apenas temos de nos “confortar” com a tentativa de uma vida mais “equilibrada, mais justa e mais humana” e, acima de tudo, com uma “igualdade social mais equilibrada”. Referindo-se à guerra, avança que o cenário não é muito “colorido”, logo esta vai continuar.
O que também dá lhe muito prazer é “tocar ao vivo”, confessa, acrescentando que gostaria de fazer concertos “todos os dias”, mas sabe não ser possível. Mesmo assim, o músico tem já alguns confirmados, como o Festival da Ferraria a 29 de Agosto e as Portas do Mar em Setembro. “Estou sempre a compor novos temas e a pensar em novos concertos e discos”.
Biografia
Luís Alberto Bettencourt nasceu em Ponta Delgada, onde vive actualmente. Na área da música, o cantor e compositor mantém uma actividade constante na elaboração e divulgação das novas formas estéticas, servidas quase sempre por uma atmosfera sonora próxima do acústico.
Demonstrou muito cedo a sua vocação para a composição, ao personalizar os seus trabalhos com uma temática própria e consciente, onde têm lugar as relações humanas, os conflitos sociais e as imagens poéticas, como componentes visíveis do seu universo imaginário e criativo.
A par do seu tempo juvenil e académico, frequenta temporariamente o conservatório, mas prefere depois libertar os seus conceitos como músico guitarrista de diversas bandas influenciadas pelo Rock urbano, com algumas abordagens à música popular.
Por imposição militar, vive algum tempo nas ilhas africanas dos Bijagós, onde, curiosamente, consegue penetrar num tempo repleto de profundas experiências humanas. E aproxima-se da população nativa, partilhando com esta velhos rituais étnicos, o que constitui uma fonte enriquecedora para a sua sonoridade.
De regresso aos Açores, inicia de novo um ciclo de imensa actividade com músicos da sua geração, que o leva a compor para teatro e mais tarde para televisão. Durante muito tempo ligado profissionalmente à televisão estatal como realizador, mantém também uma interessante actividade de músico, que lhe permite gravar e liderar vários projectos que marcaram definitivamente a música de produção regional.
O líder de "Construção" (onde mistura o Jazz e a musica popular) e "Rimanço", grupos com os quais grava em estúdio e actua em quase todas as ilhas do arquipélago e em algumas cidades do continente, vê o seu trabalho reconhecido no espaço nacional, através de críticas e prémios dos jornais da especialidade. O grupo “Construção” é premiado como a “Banda Revelação do Ano” (1982) pelo jornal “O Tempo” e, em 1986, o "Rimanço" obtém o segundo lugar no Festival RTP da Canção com o tema "No Vapor da Madrugada".
Muitas das suas composições mais actuais estão perpetuadas em bandas sonoras de produções televisivas, como “Xailes Negros”, “O Barco e o Sonho”, “Os Últimos Baleeiros”, “Balada do Atlântico”, “Pedras Brancas”, “Ilhas de Bruma”, “A História de um Vulcão”, “Ilha dos Amores”, entre outras; assim como em vinil e CD, sendo "O Silêncio das Horas" o seu mais recente trabalho editado.
A
19 de Abril de 2007, Luís Bettencourt é homenageado com o prémio “Carreira-Prestigio”, no Prémios Açores Música 2006, evento realizado no Coliseu Micaelense, em Ponta Delgada, no qual foram galardoados vários artistas açorianos em diversas categorias.
Da sua discografia, fazem parte várias composições que dão corpo à música contemporânea feita nas ilhas e projectadas além-mar. É o caso de "Chamateia", composta sobre um texto de António Melo e Sousa e gravada por mais de 10 formações de áreas diferenciadas, incluindo filarmónicas.
Luís Alberto Bettencourt é membro da Sociedade Portuguesa de Autores e conta com mais de 50 obras registadas, estando representado em diversas colectâneas, entre as quais "20 Melodias, 20 Poemas, 20 Pinturas do Séc. XX" numa edição da Direcção Regional da Cultura (Açores), "L’expédition Jules Vernes", produzido e editado em França, e em "Ilha dos Amores" (TVI).
O comportamento musical de Luís Bettencourt prima pela diferença, pois este agarra-se ao mundo da fantasia e à magia das palavras, algo que lhe permite dizer o que pensa, numa relação com os conteúdos que ultrapassam "a segura estabilidade do conhecido".
Da sua discografia constam “Há Qualquer Coisa” e “No Vapor da Madrugada”, ambos em 1986 e, um ano depois, “Chuva dos Meus Sentidos”. “Cruzeiro” surge em 1992, seguido de “Contemplações” (1997), “Há Qualquer Coisa (2000); “D' Azul e Negro” (2002) e “O Silêncio das Horas”, editado a 10 de Dezembro de 2007.
O Rimanço, grupo formado por Luísa Alves (voz), Brígida Ferreira (violino, voz), Paulo Andrade (cavaquinho, voz), Álvaro Melo (viola da terra, voz), Aníbal Raposo (sintetizador, voz), João Lima (flauta) e Luís Bettencourt (baixo e voz)], foi durante algum tempo, um dos exemplos mais evidentes de persistência no contexto da música popular urbana, numa terra onde o profissionalismo na actividade musical continua a ser uma distante miragem. O que conseguiu, optando por recriar temas tradicionais (o que estava muito em voga na altura), para depois encontrar e experimentar gradualmente outras vias.
Os únicos dois discos do grupo, os 45 rotações "Chuva dos Meus Sentidos" e "Vapor da Madrugada", canção que atingiu o 2º lugar no Festival da Canção e por pouco não levou os Rimanço à Eurovisão na Noruega, são apenas dois exemplos possíveis de alguns dos caminhos trilhados pelos Rimanço. Ao longo dos anos, o grupo apresentou vários formatos e sonoridades que iam da música popular portuguesa, com um bom lote de temas das ilhas, até temas originais, onde as vozes (com realce para a de Luísa Alves), fluíam lado a lado com as precursões e demais instrumentos acústicos e eléctricos.
Nas periódicas renovações do “Rimanço”, é de realçar a versatilidade, juventude e entrega do ávido aprendiz dos 'sete instrumentos', Paulo Andrade.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Agosto de 2008.