quinta-feira, 31 de julho de 2008

Outra faceta do Chá Verde


Fábrica de chá da Gorreana

O 125º aniversário da Fábrica de Chá da Gorreana ficará marcado também pelo início da produção de saborosos gelados para todos os gostos. Além da geladaria a abrir brevemente, o turista terá acesso ainda a uma casa de chá, que se prevê abrir em Outubro, e na qual poderá degustar também alguns doces e bolos caseiros. Um livro sobre a história do chá na ilha é outro projecto a realizar num futuro próximo.

A Fábrica de Chá da Gorreana comemora este ano 125 Anos de existência. Ao chá verde, o que regista mais vendas, ao Orange Pekoe e ao Broken Leaves juntaram-se recentemente gelados caseiros de diversos sabores, que poderá saborear numa visita à propriedade.
Hermano Motta, proprietário e gerente da fábrica, pretende editar um livro que fale da história do chá dos Açores com intenção de comemorar os 125 Anos de chá. Não só da Gorreana, mas das 16 fábricas que já existiram. O objectivo é fazer “perdurar no tempo” um documento, onde as pessoas possam ler sobre o chá e a sua evolução histórica na ilha. “O percurso da Gorreana é importante para nós, mas o percurso do chá em São Miguel é interessante para todos”.
O empresário explica que, na segunda metade do século XIX, a produção de chá veio substituir a produção de laranja, iniciando-se, assim, a fabrica com Ermelinda Pacheco Gago da Câmara e seu filho, passando de geração em geração até chegar à família de Hermano Motta.
Segundo o mesmo, o chá começou como uma actividade insípida. As pessoas da altura chegavam mesmo a olhar para os produtores do chá, considerando-os “insípidos que ganharam muito dinheiro com as laranjas e agora estão alegremente a gastar dinheiro a iniciar o chá”. Mas, entretanto, o chá começou a entrar no hábito.
O chá produzido na Gorreana é conhecido internacionalmente como tradicional ou ortodoxo. As folhas são enroladas da mesma forma que eram enroladas antigamente, com as mãos, sendo o instrumento utilizado “substituído” pelas máquinas. O aspecto final é exactamente igual, independentemente do método de fabricação, apenas com a pequena alteração de se deixar de fermentar o chá e passar a ser apenas “oxidado”. As máquinas antigas mantêm-se e o processo intrínseco continua o mesmo.
Segundo Hermano Motta, o campeão de vendas entre os chás pretos foi, “sem dúvida”, o Broken Leaves que chegou a atingir as “duas toneladas por mês”, embora a determinada altura este tenha sofrido uma “descida substancial”, perdendo vendas para o chá preto Orange Pekoe que subiu “exponencialmente” na tabela de vendas. Entre o chá verde e preto, o chá verde encontra-se no topo de vendas e em cinco anos passou de “900kl para 7 toneladas no ano passado”. Não é ao acaso que o chá verde se vende mais, os chineses bebem chá verde com vinte e seis finalidades. Isto, pois este possui antioxidantes que evitam a oxidação das células e desta forma evita o envelhecimento do organismo. “O chá é um diurético, ajuda a digestão, protege o organismo dos radicais livres, protege a boca e a pele”- acentua.
O chá teve os seus momentos positivos e negativos. O princípio da queda do chá deu-se na Segunda Guerra Mundial, altura em que as prioridades eram outras e então a exportação de chá quebrou. Com esta quebra desapareceram grandes plantações de chá em muitas zonas da ilha, nomeadamente na Ribeirinha, Santa Barbara, Ribeira Seca, entre outras. Muitos produtores de chá também desapareceram, porque foram atrás do mercado efémero do Norte de África. Como a Gorreana manteve o seu mercado do Continente e Açores conseguiu subsistir até aos dias de hoje.
A fábrica tinha alguns factores a seu favor, como a mini hídrica que entra em funcionamento em 1926 e que “permite a produção de energia por nada” e liberta a fábrica dos custos da máquina a vapor. A sua posição estratégica na ilha ajudou à expansão do mercado do chá da Gorreana.
A fábrica é tradicionalmente visitada por turistas, para quem esta é, normalmente, paragem obrigatória no caminho para as Furnas e Nordeste. “Junta-se o útil ao agradável, a pessoa precisa de ir à casa de banho e já agora vê e bebe chá. Daí que a Gorreana é um entreposto oportuno” – esclarece.
Com a passagem dos turistas, o mercado foi alargado ao estrangeiro e todas as quartas feiras são enviadas “várias encomendas para todo o mundo que perfazem um volume de 5 a 6 toneladas por ano”. Os mercados principais são, por ordem decrescente, os Açores, o continente, os vários países do mundo e ainda uma Casa de Chá francesa de prestígio.
A evolução do chá tem sido “positiva”. Para o proprietário da fábrica, “graças à Confraria do chá na Casa dos Açores no Porto – Confraria Atlântica do Chá, o comércio do chá na Europa tornou-se interessante e o consumo de chá na Alemanha subiu 40%, na França à volta dos 30%” salienta, avançando ter ainda uma Casa que vende o chá Gorreana em França e que está a expandir-se “consideravelmente”.
A tradicional Fábrica de Chá da Gorreana vai-se adaptando a novas realidades. As provas são a actual construção de uma Casa de Chá e a produção de gelados, que já é uma realidade. O “Gelado da Quinta” foi uma ideia que partiu de uma firma holandesa, que há 2 anos descobriu que Ataíde Motta, um dos filhos de Hermano Motta, era um dos produtores de leite de qualidade na ilha. Então, “sendo o leite de qualidade e havendo condições e espaço para a produção dos gelados, só faltava produzi-los”- conclui.


Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Junho de 2008.

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