Ainda há muito para fazer, no que toca ao turismo nos Açores e, a construção de grandes unidades hoteleiras não é o suficiente. Há que dinamizar e dar uso aos diversos edifícios abandonados e espalhados por toda a cidade de Ponta Delgada. Outro passo significativo seria a diminuição das tarifas aéreas, do continente para a Região.
Segundo Ana Pavão Câmara, deveriam haver voos lowcost para o continente português, mas “depende da vontade politica do governo, que nesta altura, penso não ter vontade para coisa nenhuma”.
Segundo Ana Pavão Câmara, deveriam haver voos lowcost para o continente português, mas “depende da vontade politica do governo, que nesta altura, penso não ter vontade para coisa nenhuma”.
O turismo nos Açores tem ainda um longo caminho a percorrer. Um dos factores que pode contribuir para a sua melhoria é, sem dúvida, o turismo de habitação.
Ana Pavão Câmara, proprietária da Quinta da Abelheira, começa por contar que a casa remonta ao “início do séc. XX”, tendo sido adquirida por António Câmara para ser um sanatório. “Naquela altura havia muita tuberculose e como a quinta tem um clima muito propício, uma espécie de microclima, esta seria óptima para a recuperação” dos doentes. Mas com a 2ª Guerra Mundial, o projecto foi “por água abaixo”, pois a quinta passou a ser utilizada como um “ponto estratégico de observação” durante o conflito. “Dai ter trincheiras” - esclarece.
Mais tarde, a quinta passou a residência de férias e “têm sido criados por toda a quinta e com uma grande dose de “arte e engenho”, por parte de António Câmara, recantos muito curiosos e muito bonitos, com azulejos de Jorge Colaço, o maior azuleijista português, e também de Victor Câmara e com poetas dos maiores poetas açorianos”.
A partir de certa altura, conta que esta “deixou de ser uma casa de veraneio para ser uma casa a tempo permanente, já com o filho de António, Nuno Câmara”.
Depois do falecimento do sogro, Ana Pavão Câmara e o marido decidiram, no ano 2000, que “para aguentar uma quinta desta envergadura, a melhor forma de a rentabilizar e manter na família era transformá-la em turismo rural”.
Em termos de afluência de turistas, a empresária revela que o ano passado foi “extremamente bom”, pois teve clientes de Janeiro a Dezembro. “Em 2008, ainda estou para averiguar o que se passa, porque só no começo de Abril é que tenho clientes”- lamenta, acrescentando que “foram cancelados muitos voos, não sei se devido às obras da Avenida”. A verdade é que há um “decréscimo muito grande este ano” no turismo.
“Infelizmente, enquanto tivermos só duas companhias de aviação a voar para os Açores, estamos limitados. Não podemos desenvolver o turismo de qualquer maneira”- salienta.
A proprietária da Quinta da Abelheira vai ainda mais longe ao afirmar que, sendo a SATA um serviço público, os bilhetes deviam ter um tarifário “muito mais concorrencial”, pois viajar de Lisboa para Londres é “muito mais barato, e são as mesmas duas horas, do que vir do continente para os Açores”. De momento, classifica o mercado como “extremamente instável”, avançando que, em 2008, este estabiliza “somente a partir de Abril”, com os voos de Inglaterra e da Alemanha. “Assim, não se vai longe” - sublinha.
Quanto à Quinta da Abelheira fazer parte do itinerário da conhecida Volta à Ilha dos Clássicos, realizada anualmente, no mês de Setembro, em São Miguel, Ana Medeiros Câmara revela que tudo começou, por ter um carro antigo e também participar. Por isso, resolveram fazer da quinta um ponto de paragem, para “um pouco de convívio e para dar a conhecer que não só os grandes hotéis têm condições para receber o rallye dos carros antigos. As pequenas quintas também fazem ou poderão fazer parte destes eventos”- enfatiza.
Referindo-se ao que pode ser feito para melhorar o turismo nos Açores, a empresária diz estarmos a “andar como o caranguejo”, o que lamenta bastante, mas “não temos as pessoas certas no lugar certo”.
Além disso, acrescenta que “a SATA em vez de financiar, “como fez anos seguidos”, os voos para a Suécia – povo que apelida de “ ‘praga dos piolhos amarelos’, que não nos traziam nada” - devia financiar “pura e simplesmente o mercado português”, argumentando que ainda somos Portugal, “felizmente ou infelizmente”.
Na opinião da proprietária da herdade e considerando que somos portugueses, “não se justifica de forma alguma que um voo do continente para aqui custe 300 e tal euros, para um residente. Logo, para um continental vir para aqui é muito mais caro”.
Quanto ao preço das passagens áreas, defende que estas deviam ser “financiadas pelo governo regional”, para os continentais viajarem dentro do seu país. A seu ver, aí teríamos uma “grande afluência de continentais”, que considera serem, “sem dúvida, o nosso maior cliente”.
Ana Câmara caracteriza ainda o continental, como “o turista que gosta de comer, gosta de provar os nossos petiscos, gosta de levar uma prenda ao afilhado que vive no norte ou no sul, para o vizinho, reconhecendo ser este que nos dá “grande movimentação em todos os sectores inerentes ao turismo e não “os suecos que não gastam, que vão comprar as suas bebidas ao hiper”. Segundo a empresária, o continental não faz isso, ele quando vem está predisposto a ganhar, a gastar, a provar, a saborear as suas férias”.
Por tudo isto, a proprietária da quinta faz uma critica aberta ao governo, avançando que deveriam haver voos lowcost para o continente português, o que “depende da vontade politica do governo, que nesta altura, penso não ter vontade para coisa nenhuma”.
Segundo a empresária, o “futuro do turismo nos Açores reside no turismo rural”, que “não tem concorrência com os grandes hotéis. São dois tipos de turismo completamente diferentes e um não se sobrepõe ao outro, não são incompatíveis”.
Esta acrescenta ainda, e segundo o que tem lido sobre o tema, que “em todo o mundo cada vez mais se aposta em turismo em espaço rural”. Outro aspecto do turismo regional que não passa em branco aos olhos de Ana Câmara, é o facto de se construírem “hotéis de grande dimensão, como se tem feito” sem “recuperar o património”.
“Nós temos edifícios lindíssimos, até no centro da cidade e transformá-los em pequenas unidades de turismo seria um grande passo a dar, até para recuperação das casas que estão ao abandono”- salienta, avançando que a cidade teria “muito mais vida, seria muito mais bonita”. Termina dizendo que o futuro está nas “pequenas unidades com um serviço personalizado e de maior qualidade” e, não nos grandes hotéis.
Public in Terra Nostra, Março de 2008.
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