Actualmente, são várias as mulheres que, rezando, percorrem as estradas da ilha a pé, faça chuva ou faça sol. Não é tarefa fácil, mas a devoção fala mais alto.
Maria do Espírito Santo Medeiros conta-nos, o que levou a estes actos de fé.
Maria do Espírito Santo Medeiros conta-nos, o que levou a estes actos de fé.
Há vários anos, que estamos habituados a ver os romeiros a viajarem a pé por toda a ilha, numa tradição originária de São Miguel, que a esta altura já se ramificou até à Terceira. A novidade é que agora também as mulheres o fazem, principalmente em idas a Nossa Sra. da Paz.
Maria do Espírito Santo Medeiros, criada na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, começa por explicar que no sítio onde vivia, ocorriam muitos tremores de terra e as pessoas faziam muitas romarias a Nossa Sra. da Paz, a pedir que acalmassem. “Havia falta de água, não chovia e também pedíamos por isso”. Faziam romarias com velas à noite, indo até ao monte, por atalhos. “Não era como agora” – esclarece, salientando que ficou “com aquele 'bichinho' de ir ali.
Em 1998, aquando da guerra em Timor-leste Maria Medeiros juntou-se com um “compadre, já falecido, uma tia dele, uma senhora, sogra de um outro romeiro”, pois havia a “possibilidade de fazermos isto a Vila Franca, para pedir a paz em Timor. E assim foi, juntamo-nos e fomos e viemos a pé, ainda no mesmo ano. Essas pessoas deixaram de participar, mas acompanharam-me enquanto puderam”. E tudo continuou até hoje.
Chegaram a ser “170 pessoas, mas neste momento somos 97” – explica, lembrando terem também “5 ou 6 senhores que querem participar, entre eles o meu genro que é romeiro e vai-nos ajudar”.
A ideia dos homens lhes poderem acompanhar surgiu, pois é uma maneira de estarem “protegidas. Sim, porque senão estaríamos sozinhas durante toda a noite. Então, vão um ou dois ao lado do rancho, um à frente e um atrás. Se temos mais dois ou três, eles fecham o rancho”.
Mas, normalmente aparecem muitas pessoas “mesmo na altura de partir”.
Em 2006 foram para a Nossa Sra. da Paz. Como de costume, “saímos daqui às 21h00,descemos o Pilar. Paramos na igreja dos anjos e fazemos a nossa oração. Oramos ainda na Sra. da Boa Nova, entramos na ermida da Casa de Saúde, descemos a canada dos Prestes e vamos ter a São Roque. Só paramos para descansar um pouco”.
O ano passado foi a vez das Capelas, da igreja de Nossa Sra. da Apresentação.
Este ano, a escolha recaiu nas Calhetas de Rabo de Peixe, na própria igreja de Nossa Sra. da Paz. “Saímos às 18h00 daqui, para chegarmos lá às 19h30 para a missa e, depois dormimos no salão paroquial. De manhã, regressamos, por volta das 5h30 ou 6h00”- conta, ressalvando que quando chegam, vão ainda na Procissão de Ramos para a missa das 11h30.
A romaria a que se refere dura “4 a 5 horas, não mais do que isso”. Por isso, saem às 15h00, para estarem na missa das 19h30.
Na romaria de Vila Franca do Campo, que é “a que costumamos fazer todos os anos”, saem às 21h00 de 6ª feira e, chegam cerca das 7h00 da manhã de Sábado.
Segundo Maria de Medeiros, o único projecto é “continuar até ter forças”. Sim, pois todos anos, por esta altura, “um mês ou dois antes, já tenho o telefone a tocar. Tratam-me a irmã Maria, que é como nos chamamos nas romarias. E realmente somos todos irmãos”- afirma, satisfeita.
Por outro lado, reconhece ser “difícil”, haver alguém que dê continuidade às romarias.
O que, a seu ver, acontece, porque “apesar de ser um acto de fé, as pessoas não querem responsabilidades. Sim, porque temos sempre de falar com o Sr. padre para pedir autorização. Gosto sempre de combinar tudo antes”.
Maria Medeiros termina, deixando uma mensagem às pessoas. Temos de pensar que a vida é difícil e que “ninguém é santo”. Somos todos “um bocado pecadores, embora às vezes sejamos pecadores sem termos a ideia de que o estamos sendo”- salienta, lembrando ser necessário ter “muita fé”, porque a caminhada torna-se pesada”.
“Há quem fale mal da nossa caminhada, mas para a fazermos é precisa muita fé. É o que nos faz andar e pedir, não só por nós, mas pelo mundo, por aqueles que necessitam mais”.
Raquel MoreiraMaria do Espírito Santo Medeiros, criada na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, começa por explicar que no sítio onde vivia, ocorriam muitos tremores de terra e as pessoas faziam muitas romarias a Nossa Sra. da Paz, a pedir que acalmassem. “Havia falta de água, não chovia e também pedíamos por isso”. Faziam romarias com velas à noite, indo até ao monte, por atalhos. “Não era como agora” – esclarece, salientando que ficou “com aquele 'bichinho' de ir ali.
Em 1998, aquando da guerra em Timor-leste Maria Medeiros juntou-se com um “compadre, já falecido, uma tia dele, uma senhora, sogra de um outro romeiro”, pois havia a “possibilidade de fazermos isto a Vila Franca, para pedir a paz em Timor. E assim foi, juntamo-nos e fomos e viemos a pé, ainda no mesmo ano. Essas pessoas deixaram de participar, mas acompanharam-me enquanto puderam”. E tudo continuou até hoje.
Chegaram a ser “170 pessoas, mas neste momento somos 97” – explica, lembrando terem também “5 ou 6 senhores que querem participar, entre eles o meu genro que é romeiro e vai-nos ajudar”.
A ideia dos homens lhes poderem acompanhar surgiu, pois é uma maneira de estarem “protegidas. Sim, porque senão estaríamos sozinhas durante toda a noite. Então, vão um ou dois ao lado do rancho, um à frente e um atrás. Se temos mais dois ou três, eles fecham o rancho”.
Mas, normalmente aparecem muitas pessoas “mesmo na altura de partir”.
Em 2006 foram para a Nossa Sra. da Paz. Como de costume, “saímos daqui às 21h00,descemos o Pilar. Paramos na igreja dos anjos e fazemos a nossa oração. Oramos ainda na Sra. da Boa Nova, entramos na ermida da Casa de Saúde, descemos a canada dos Prestes e vamos ter a São Roque. Só paramos para descansar um pouco”.
O ano passado foi a vez das Capelas, da igreja de Nossa Sra. da Apresentação.
Este ano, a escolha recaiu nas Calhetas de Rabo de Peixe, na própria igreja de Nossa Sra. da Paz. “Saímos às 18h00 daqui, para chegarmos lá às 19h30 para a missa e, depois dormimos no salão paroquial. De manhã, regressamos, por volta das 5h30 ou 6h00”- conta, ressalvando que quando chegam, vão ainda na Procissão de Ramos para a missa das 11h30.
A romaria a que se refere dura “4 a 5 horas, não mais do que isso”. Por isso, saem às 15h00, para estarem na missa das 19h30.
Na romaria de Vila Franca do Campo, que é “a que costumamos fazer todos os anos”, saem às 21h00 de 6ª feira e, chegam cerca das 7h00 da manhã de Sábado.
Segundo Maria de Medeiros, o único projecto é “continuar até ter forças”. Sim, pois todos anos, por esta altura, “um mês ou dois antes, já tenho o telefone a tocar. Tratam-me a irmã Maria, que é como nos chamamos nas romarias. E realmente somos todos irmãos”- afirma, satisfeita.
Por outro lado, reconhece ser “difícil”, haver alguém que dê continuidade às romarias.
O que, a seu ver, acontece, porque “apesar de ser um acto de fé, as pessoas não querem responsabilidades. Sim, porque temos sempre de falar com o Sr. padre para pedir autorização. Gosto sempre de combinar tudo antes”.
Maria Medeiros termina, deixando uma mensagem às pessoas. Temos de pensar que a vida é difícil e que “ninguém é santo”. Somos todos “um bocado pecadores, embora às vezes sejamos pecadores sem termos a ideia de que o estamos sendo”- salienta, lembrando ser necessário ter “muita fé”, porque a caminhada torna-se pesada”.
“Há quem fale mal da nossa caminhada, mas para a fazermos é precisa muita fé. É o que nos faz andar e pedir, não só por nós, mas pelo mundo, por aqueles que necessitam mais”.
Public in Terra Nostra, Março de 2008.
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