Educação: Creches e Infantários
Nos jardins-de-infância a situação não é tão preocupante, mas há muita falta de creches em São Miguel, nomeadamente em Ponta Delgada. Segundo Marina Vieira, coordenadora do núcleo do Infantário de Ponta Delgada, as listas de espera para as matrículas do próximo ano lectivo são "imensas". Os pais mostram-se "aflitos", chegando mesmo a "insistir" para que o seu filho (a) tenha vaga na instituição, acrescenta. Marina Vieira aproveita ainda para salientar que a escola não pode ser considerada a única responsável pelo desenvolvimento da criança. Nas reuniões, normalmente, aparecem os pais que estão mais "atentos" às actividades do filho(a) e com quem o estabelecimento tem mais contacto ao longo do ano, enquanto os que realmente precisavam de estar a par do que acontece, faltam.
Saídas do colo dos pais ou de avós extremosas, as crianças, mais cedo ou mais tarde, têm de ir para o colégio. A necessidade é muita, mas a escolha é muito pouca, principalmente quando se trata de bebés de quatro ou cinco meses. A falta de creches é evidente e deixa os pais muito preocupados.
Marina Vieira, coordenadora do núcleo escolar da Escola Básica e Integrada Canto da Maia, começa por dizer que o infantário de Ponta Delgada é uma instituição, que acolhe cerca de 112 crianças, com "duas valências, a creche e o jardim-de-infância", que podemos considerar "atípica", pois dá resposta a determinadas necessidades que, normalmente, os outros jardins-de-infância da função pública não dão, nomeadamente a "componente de apoio social".
"Os meninos podem ficar no infantário a partir das 15 horas, o que não acontece nos outros jardins-de-infância públicos"- esclarece, avançando que a creche é, normalmente, da responsabilidade do Instituto de Acção Social. A creche do infantário é a única que pertence à Secretaria da Educação devido à sua história, pois anteriormente "este pertencia ao Ministério da Educação, depois teve algumas evoluções, tinha autonomia administrativa e agora com a integração de todos os jardins-de-infância nas básicas integradas e devido à sua localização passou a pertencer à básica integrada Canto da Maia" - recorda. O infantário acolhe à volta de "112 crianças".
Referindo-se às matrículas para o novo ano lectivo, afirma serem "imensas". Avança ainda que o infantário sempre teve uma "grande afluência" de pessoas a procurarem tanto a creche como o jardim-de-infância, mas sobretudo a creche.
"Sentimos que há uma grande necessidade de instituições para essas idades, entre os quatro meses e o ingresso no pré-escolar, no qual a criança tem de perfazer três anos até Dezembro"-salienta.
Nessas idades, por volta dos quatro meses até aos dois anos e alguns meses "há uma grande procura e há pessoas que vêm muito aflitas, pessoas que vêm do continente já depois do período de inscrição, matricula e selecção propriamente dita"- sublinha, esclarecendo que o infantário é, sobretudo, para as "crianças cujos pais ou encarregados de educação se desloquem para Ponta Delgada no exercício da sua actividade profissional e, em primeiro lugar, que se sejam funcionários públicos. Claro que, havendo vagas, entram aqueles cujos pais não são funcionários públicos e que estejam na mesma situação". Por isso, tem de haver a componente de apoio social integrada, na prestação de serviços à comunidade.
Falando nas creches, afirma que a procura é "incrível", explica ainda que ficam com "imensas crianças em lista de espera". Apesar de nos finais de Junho haver muita criança que desiste, pois agora é prática comum "inscrever as crianças em todas as creches da zona. E depois, conforme vão sendo aceites, desistem das outras", só em princípio de Julho ou fim de Junho é que vão "começando a arrumar a casa e a criar as turmas".
Até lá, reconhece ser "muito difícil", pois todos se inscrevem e ficam com listas de espera "intermináveis, sobretudo da creche". Recorda também, que, "no ano passado, até houve inscrições que davam para abrir mais uma sala de cada idade a nível de creche". Por outro lado, conta que conseguiram dar resposta, ficando "apenas algumas crianças em lista de espera", mas depois com as desistências conseguiram dar resposta a "quase todas" as crianças. Até, porque agora com a nova legislação, alerta, "a capacidade aumentou, há um maior número de crianças por sala, havendo mais capacidade de resposta" nestes casos.
"As crianças podem ir até aos 25 por sala, mas tem a ver com o espaço e como as nossas salas não são de grande dimensão, temos ido até às 20 crianças por sala"-esclarece, avançando que talvez o Instituto de Acção Social abra mais algumas instituições de creche, mas neste momento, sente haverem "dificuldades".
Acrescenta ainda que as pessoas vão ao infantário "aflitas e insistem" para que coloquem lá as crianças, mas salienta ter de "obedecer" aos critérios de selecção definidos numa portaria específica e de ser "justa" na selecção. Por outro lado, constata que as pessoas têm "muita dificuldade em arranjarem uma instituição onde deixar os filhos", lembrando existirem também umas "mini creches", que não conhece pessoalmente e que surgem para colmatar estas dificuldades. O recurso às amas, é "outra saída".
Em termos de material, afirma receber "tudo o que é necessário" da escola Canto da Maia e o que eles têm "possibilidade" de dar, pois sabe que o país atravessa uma "fase de recessão económica" e compreende que a referida escola tem de dar essa resposta a todas as outras escolas.
"Mas, sempre que possível, temos tido o pessoal, o material necessário (incluindo material de desgaste, que "nunca falta") e também a colaboração dos pais, o que "é preciso que se diga".
"Às vezes, há um tapete que se quer mais bonitinho, não porque ele não exista, mas porque vai passando de moda. E os pais também querem que os filhos estejam num ambiente mais agradável e vão ajudando"- explica.
No que toca a 2008, Marina Vieira revela que têm conseguido "reformular algum do mobiliário" e conseguiram alguns "jogos e material didáctico".
Afirma também que, muitas vezes, "a Associação de Pais também colabora, tendo fornecido já "um DVD, livros no Natal e prendas noutras festividades".
Abordando as maiores dificuldades que enfrenta na gestão do infantário e falando da sua experiência, Marina Vieira afirma que uma das maiores é "falta de tempo".
"Como coordenadora e tendo um grupo de crianças é muito difícil gerir toda a vida do infantário, porque, sendo esta instituição atípica (abre logo às 8 horas da manhã e fecha às 18h30) e tendo a componente de apoio social e a creche, muitas vezes falta alguma pessoa e eu não tenho possibilidade de estar a juntar salas"-lamenta, reconhecendo ainda que estas crianças necessitam de um "apoio muito especial e muito individualizado, pois são muito pequenas e às vezes é muito difícil ter a disponibilidade, que tenho de arranjar, para resolver este assunto". Diz ser difícil "conjugar esta vertente com os problemas do quotidiano", questões mínimas como uma porta que não abre ou um vidro partido, por exemplo, mas que "exigem tempo". "Sinto-me, por vezes, extremamente dividida"- confessa, acrescentando que outra dificuldade, que têm conseguido "superar", é a "falta de pessoal". O que se torna "um pouco limitativo", devido à "idade avançada do pessoal auxiliar", em algumas actividades com crianças mais pequenas. Mas, de momento, diz que não têm tido muita razão de queixa, não estão em situação crítica, porque no final do ano "o conselho executivo contratou duas pessoas para substituir dois elementos que cá estavam através do programa CTTS". Claro que, admite, não fazem parte do quadro, mas "se estes dois elementos saíssem ai a situação ficaria muito problemática". Actualmente, "até estamos bem", mas, esclarece, que se tiverem em conta a questão das "faltas," dadas por alguns "problemas de saúde comprovados clinicamente, as coisas complicam-se mais". Mas, sobretudo, este ano o problema ficou "solucionado".
Referindo-se às diferenças entre uma instituição pública e uma privada, avança que as diferenças têm-se "atenuado", mas admite não estar muito dentro da legislação de uma e outra. Antigamente havia uma "grande" diferença, recorda, avançando que a nível do particular "havia um maior número de crianças por sala" e agora é quase o mesmo em ambas.
A nível de instalações, reconhece existirem instalações oficiais que funcionam ainda em "espaços antigos" e que precisam de ser reformulados. Algumas instituições particulares que conhece, talvez tenham espaços mais "interessantes, com mobiliário mais actual, mas não é regra, depende muito de uma instituição para outra".
Em termos de regalias do pessoal docente, diz não saber qual a situação actual, mas lembra-se que há uns anos a diferença era grande. "Havia uma discrepância muito grande a nível das regalias, porque o pessoal docente tinha no particular muito mais regalias"-salienta, avançando que "não se pode generalizar", pois o infantário é uma instituição "antiga, mas que tem sido actualizada e conservada o melhor possível, para que o espaço seja agradável e apelativo às crianças". Claro que são espaços que foram "adaptados" para o efeito, não tendo sido construídos com o objectivo de se tornarem creches ou jardins-de-infância – explica, afirmando que já no pagamento da mensalidade, a diferença é "absoluta".
Marina Vieira afirma ainda que no infantário, as crianças pagam uma mensalidade de acordo com os seus "rendimentos".
"A nível de jardim-de-infância pagam só a componente de apoio social, das 15 horas às 18h30, porque se uma criança à partida pedir a dispensa e esta for autorizada, pagará apenas as refeições", o que fica "muito mais em conta", pois trata-se de uma instituição oficial.
A creche, por sua vez, não funciona assim, "tem uma tabela própria, pois são salas que exigem mais pessoal e uma alimentação específica, que é feita mesmo no infantário. Há outro tipo de cuidados, não quer dizer que a nível do jardim-de-infância estes cuidados não existam, mas sabemos são mais novinhos e o trabalho tem de ser mais especializado, os cuidados na higiene, tudo isso. Depois eles vão crescendo, criando defesas e o desenvolvimento físico já é outro. Quando são pequeninos acarreta muito mais atenções e encargos"- enfatiza.
A coordenadora do núcleo explica ainda que a creche do infantário tem de continuar a existir, por haver "muita necessidade" de creches, pois, à partida, "os primeiros anos de vida não são da responsabilidade da secretaria da educação", mas, sim, da Segurança Social. "Além de, assim, podemos receber os irmãos mais novos" das crianças que já temos e, desta maneira, há um trabalho contínuo, que é uma das "mais-valias" do infantário. "Uma criança que entra para aqui desde bebé e que é acompanhada, muitas vezes não o pode ser pela mesma educadora, mas há sempre um elemento, mesmo auxiliar, que vai acompanhando aquele grupo, o que proporciona uma estabilidade muito grande a nível de trabalho e estabilidade emocional, o que é muito bom que aconteça"- esclarece, afirmando não saber se irá continuar, mas, de momento, "faz muita falta".
Outro aspecto importante é o facto de que, "as crianças ao terminarem o infantário, têm prioridade para entrar na escola do Carvão. Depois do horário da escola, por volta das 15 horas, há um ATL para estas crianças"- esclarece, afirmando que em princípio, este projecto da Associação de Pais, "mantém-se".
"O projecto foi posto em prática no início deste ano lectivo e correspondeu às necessidades. Até porque só havia o ATL das Cáritas e muitos pais tinham dificuldade quando os filhos saíam da escola às 15 horas, pois não tinham onde os deixar"-acrescenta.
Explica ser coordenadora, mas apenas com "responsabilidade pedagógicas e da gestão dos assuntos da rotina diária", porque em termos administrativos e económicos "depende tudo" da Canto da Maia, até mesmo o pagamento das mensalidades.
São questões que lhe "escapam" um pouco, confessa, porque "privilegia" as questões pedagógicas e têm tido o "reconhecimento" dos pais, acerca do trabalho desenvolvido a nível pedagógico no infantário, o que, afirma não saber se é o que leva a uma "grande procura" do infantário. "Quando as pessoas dizem que confiam na instituição e no trabalho desenvolvido, que é uma garantia e os pais sentem-se mais seguros ao inscrever o seu filho numa instituição assim"- ressalva.
A coordenadora aproveita ainda a ocasião para dizer que o infantário, ou qualquer outra instituição, "nestes primeiros anos de vida é muito importante", mas tem de funcionar como "complemento do trabalho, da relação e da educação que os pais dão em casa".
"Tem de haver uma relação muito estreita entre a família e a escola e, a família não pode de forma nenhuma passar todas as responsabilidades da educação dos seus filhos para a escola"- alerta, reconhecendo também que a escola tem "responsabilidades" e pessoas com formação, para desenvolver as crianças e para chamarem, às vezes, os pais, no sentido de trabalhar em "sintonia" com eles.
Mas, ultimamente, defende, "a escola tem sido responsabilizada por tudo, tudo compete à escola e não pode ser", pois a família é "fundamental" para um desenvolvimento "harmonioso"da criança, e só trabalhando em sintonia com a escola o desenvolvimento da criança é "realmente positivo e verificam-se evoluções e progressos". A família é muito responsável pelo desenvolvimento dos seus filhos.
Mencionando especificamente o papel dos pais ou encarregados de educação e não querendo "generalizar", a coordenadora lamenta o facto de nas reuniões não aparecerem "tantos pais como era de esperar".
E "muitas das vezes, vêm os que vão mais vezes à escola e que os estão mais atentos ao desenrolar dos projectos, do plano actual de actividades e, os que precisavam de vir, muitas vezes não vêm"- lamenta, acrescentando, porém, que a esse nível até não se pode "queixar", porque no início do ano até têm uma "actividade e participação bastante fortes" por parte dos pais.
Ao longo do ano é que esta intervenção vai ficando mais "desvanecida", mas afirma entender que as pessoas estão "muito cansadas", todos levam uma vida de "grande stress e cada vez se exige mais das pessoas a nível profissional".
"É verdade e temos que reconhecer"-sublinha, contrapondo ser também importante que os pais "não se esqueçam", que são os principais "agentes e responsáveis na educação dos filhos". Revela ainda que, muitas vezes, pedem aos pais que os filhos sejam pontuais, para não perderem actividades e para que o dia decorra com alguma "estabilidade, pois as actividades têm uma sequência lógica".
"São estas pequenas coisas que gostávamos que os pais soubessem que são preocupações deles e, não só, da escola"- conclui.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Maio de 2008.
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