Festival de Vinhos
O vinho é um produto turístico, mas para que chegue ao cliente final necessita de ser devidamente divulgado e comercializado. O Festival de vinhos permitiu o contacto entre o produtor e o cliente final e possibilitou a produtores e hoteleiros conhecerem vários vinhos, sobretudo regionais, que lhes eram desconhecidos e que, posteriormente, poderão recomendar aos seus clientes.
O vinho é um produto turístico, mas para que chegue ao cliente final necessita de ser devidamente divulgado e comercializado. O Festival de vinhos permitiu o contacto entre o produtor e o cliente final e possibilitou a produtores e hoteleiros conhecerem vários vinhos, sobretudo regionais, que lhes eram desconhecidos e que, posteriormente, poderão recomendar aos seus clientes.
O evento, organizado pela Angular XXL e pela MegaSesus, proporcionou aos micaelenses um ambiente requintado com música ao vivo, cocktails de vinho, charutos, cafés e chás, o que constituiu uma oportunidade de convívio e de negócios. Houve, ainda, lugar para Provas de vinhos; Showcookings, nos quais a gastronomia e o vinho foram apresentados como complementos para a criação de produtos turísticos de excelência e; Workshops.
Francisco Silveira, da Angular XXL, uma das empresas organizadoras do festival, começa por dizer que graças ao conhecimento que a MegaSensus tem dos produtores nacionais foi possível trazer aos Açores produtores em “variedade, qualidade e quantidade”, afirmando desejar que este evento seja um “incentivo” para que os produtores voltem no próximo ano. Salienta também que a Câmara Municipal e o Governo Regional apoiaram este festival, pois certamente “perceberam a importância” de um evento desta natureza, que diz ser “diferente” dos que se tem feito na Região. Termina, dizendo estar “imensamente satisfeito” com o número de pessoas que aderiram a este projecto.
Duarte Ponte, secretário regional para a pasta da Economia, afirma que este festival é um evento “singular”, onde se apresenta o melhor que se produz nos Açores e no continente e no qual o cliente pode verificar a “diversidade de vinhos e produtos” que existem nesta área a nível nacional. O vinho é um produto turístico, acrescenta, lembrando que há dois anos atrás quando esteve nos Estados Unidos, constatou que “havia turistas americanos que visitavam Portugal para fazer a Rota dos Vinhos, turistas estes, que pagavam muito bem para tomarem contacto com um produto novo que não conheciam”.
Reconhece que os Açores não têm nesta área uma grande importância, mas têm já produtos já de algum “significado”. O trabalho que tem sido feito no Pico, por exemplo, é realmente “notável”, numa área que foi classificada pela UNESCO, a vinha protegida do Pico. “Mas há outras ilhas com iguais potencialidades, como a Terceira que tem também desenvolvido um grande trabalho nesta área. Provavelmente, São Miguel, Santa Maria e a Graciosa poderão vir a ter produtos de elevada qualidade, que possam simbolizar estas ilhas e a sua promoção no exterior”- sublinha.
Duarte Ponte ressalva que quem vem aos Açores quer levar consigo uma “recordação, um produto que seja típico”, avançando não haver vinhos “iguais”, cada um tem a sua própria “alma”.
“Os vinhos são como as mulheres e como os queijos, têm vida própria. Um queijo não tem a mesma qualidade desde o início. É como o vinho evolui, é vida”- sublinha.
Falando no festival, o empresário defende que os hoteleiros presentes neste festival podem ter “contacto” com vinhos que desconhecem e isso é importante, para providenciarem aos seus clientes um produto de “alta qualidade”. Não menos importante é o seu contacto com pessoas que têm experiência na área da “comercialização”, pois “é fundamental perceber que é necessário criar em alguns produtores a ideia de se promover os produtos”. É este o “objectivo” do Festival.
“Que este festival se repita ano a ano, para que cada vez haja mais amantes de bom vinho e cada vez mais os bons produtores de vinho tenham a oportunidade de contactar com o cliente final”- foram os votos do secretário regional.
Teresa Lima, professora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, foi a autora de uma palestra sobre a Situação Histórica e a Simbologia do Vinho, na qual aborda, entre outros aspectos, a ligação entre o vinho e a Bíblia.
À margem da cerimónia, o Terra Nostra falou com Mário Luís da MegaSensus; Francisco Silveira e José Coutinho Costa, ambos da Angular XXL; Duarte Ponte, secretário regional da Economia; Paulo Laureano, enólogo e; com José Silva, apresentador d’ A Hora de Baco; programa transmitido pela RTPN e colaborador da revista Wine Passion.
Mário Luís, da MegaSensus, conta que a primeira edição nacional deste festival ocorreu em 2007, em Portimão, evento que contou com um expositor dos Açores, da Garça Tainha, onde lhe disseram que seria “engraçado” fazer algo do género na Região. Referindo-se ao trabalho de campo necessário à realização do festival na Região, Mário Luís recorda que visitaram os Açores em Novembro, fizeram uma “pesquisa de mercado”, correram os restaurantes e falaram com os profissionais, visitaram “toda a ilha” e chegaram à conclusão que podiam aproveitar um “bom binómio, vinho, turismo e, gastronomia como complemento”. Propagaram a ideia junto dos produtores e “correu bem”. Isto, pois, admite, havia “alguma apetência” para fazer um trabalho comercial por parte dos produtores, uma vez que nunca tinha acontecido nada do género nas ilhas e aproveitando o facto, dos Açores estarem na moda com o “impacto adicional, que veio da revista National Geographics”.
“Resolvemos apostar, de uma forma mais descontraída, se calhar porque somos um bocado mais arrojados ou ‘malucos’ nesta história dos negócios”- confessa, satisfeito.
Relativamente a um feed-back do festival, afirma que os profissionais estão “satisfeitos” e lembra que “há produtores que nunca tinham vindo aos Açores”. Têm também 16 Show-cooking, o que é “muito. É um teatro de culinária”.
Segundo Mário Luís, apesar de ser preciso ter “escala” para se ir mais longe no mercado, os vinhos podem sair do mercado inter-ilhas, mas é preciso apostarem num produto de qualidade. Isto leva “tempo, paciência e exige trabalhar com bons técnicos, o que deve ser uma aposta dos produtores locais”. São Miguel, menciona, tem o “vinho verdelho meio clandestino, é e não é”.
“É uma questão de quem se dedica ao vinho verdelho querer apostar e investir num vinho de qualidade, pois é um projecto de 4 ou 5 anos, onde é preciso muita paciência e know-how. Característica que, se não se tem mais vale trabalhar com quem sabe, para não estar a perder tempo”- alerta.
Aproveitando a ocasião para deixar uma mensagem aos produtores regionais, avança que devem “apostar na qualidade”, não tendo “pressa” de chegar ao mercado sem ter a certeza de que o produto está bom, porque “se o produto for bom, fica e é catalogado como um produto de referência. Se não estiver bom, estragam por completo o trabalho que fizeram e aí precisam de mais uma série de anos para recuperar o produto”.
Para Coutinho Costa, da Angular XXL, esta é “a maior feira no âmbito dos vinhos realizada até hoje nos Açores”. Acontecimento que, salienta, contou com “mais de 40 produtores do continente e alguns dos Açores e com os melhores cozinheiros a nível de São Miguel, sendo forte a participação em espectáculos de cozinha”. Diz ainda terem “muitas” pessoas que vieram do continente para este festival, além de um expositor italiano e outro espanhol. “Para um primeiro ano, excedemos as expectativas e esperamos que em 2009 seja ainda melhor”.
A MegaSensus foi a responsável pela divulgação do evento, explica, esclarecendo que como este é o primeiro ano estão presente “todas as revistas da especialidade, tanto da parte de cozinha como de vinhos e com as reportagens que estas irão fazer, decerto que no próximo ano virão muito mais pessoas”. O objectivo é que a iniciativa seja “anual”, estando esta programada para, “pelo menos”, mais dois anos.
Na sua opinião, esta iniciativa é “fundamental” para o desenvolvimento turístico da Região, pois na área dos vinhos afirma que não se têm aproveitado os produtos a nível nacional, sendo feita propaganda dos produtos a nível regional, enquanto os vinhos nacionais ficam um bocado “esquecidos”.
“Para que a comercialização de todos estes produtos seja uma mais-valia, temos que o fazer com os vinhos regionais e nacionais, porque Portugal é um dos maiores produtores a nível mundial e de grande qualidade” - salienta, avançando ser essencial “encarar o vinho de outra perspectiva”, como algo que proporciona “momentos de lazer, de convívio, de conversa com os amigos” e não, como um mero “objecto de uso diário”.
Os projectos são “muitos”, mas o principal é estabelecer parcerias com a MegaSensus. “Foi um evento extremamente simples, mas que levou quase um ano a preparar”, pois, confessa, procuraram eventos “diferentes dos que se faz cá e que já tenham certa importância a nível nacional”. A seu ver, “não vale a pena” realizar eventos que possam vir a não ter sucesso, quando existem muitos a nível nacional de sucesso que podemos aproveitar para “trazer esta mais-valia” para a Região.
Questionado sobre que outras iniciativas se poderiam realizar na Região, Coutinho Costa avança que, até agora, os eventos têm-se realizado tendo em conta a “realidade açoriana e não o tipo de turista que vem cá”. É preciso alterar esta situação, alerta, e não pensar “somente nos açorianos, mas nas pessoas que vêm cá. O turista quer qualidade, uma boa aparência. Não chega inventar um evento, dar-lhe um nome e depois a realidade não corresponde às expectativas das pessoas”- sublinha, acrescentando que neste festival, já excederam as expectativas dos produtores, que se mostraram muito satisfeitos. “Só com qualidade é que se consegue trazer pessoas aos eventos. Caso contrário, as pessoas sentem-se frustradas”. O investimento foi muito elevado, “cerca de 100 mil euros”.
Duarte Ponte, secretário regional da Economia, defende que este festival é essencial por vários factores, pois “traz aos Açores vinhos desconhecidos e os hoteleiros e as pessoas ligadas à restauração podem entrar em contacto com os produtores” e permite também “educar” o cliente final com provas de vinhos. Os produtores regionais, por sua vez, verificam quais as “diferenças” entre os vinhos do continente e os açorianos e, aprendem algo sobre a forma de “promover” o produto.
O vinho para além de ser de boa qualidade, precisa de ser “promovido e publicitado” e este festival é exactamente para mostrar aos açorianos o que de melhor se faz no país, incluindo os Açores. “Quem não aparece no mercado não é conhecido, logo não pode ser vendido”- reconhece, argumentando que os vinhos açorianos têm de “ganhar a batalha da sua notoriedade”, pois são produtos “fundamentais” para o desenvolvimento regional. Além de que, cada turista que chega aos Açores “precisa” de levar consigo aquilo que fazemos bem feito e nós temos bons vinhos.
“Não pode ser tudo a preto e branco, não podem ser só vacas e leite ou carne”. Era importante também “incluir um conjunto de mercados pequenos”, pois as ilhas não têm, admite, as mesmas potencialidades que o Douro, por exemplo, que produza algo “diferente e nosso”, que só se produza na Região.
Bebe-se menos e aprecia-se mais!
José Silva, apresentador do único programa de vinhos da televisão portuguesa “A Hora de Baco”, transmitido na RTP-N, RTP África e RTP Internacional e; colaborador da revista bilingue Wine Passion, começa por dizer que “estranhamente” nenhum outro canal tem um programa de vinhos num país de viticultura como é Portugal.
Afirma ter considerado que o festival era uma iniciativa muito “interessante” e quis logo participar, pois o vinho ocupa um lugar muito importante na vida das pessoas. E curiosamente, salienta, “bebe-se menos, mas melhor em dois sentidos”. Em melhor quantidade, pois as pessoas estão “conscientes de que beber e apreciar vinho não é apanhar uma bebedeira”, além deste ser um complemento “óptimo” para acompanhar boa comida. “As pessoas hoje estão mais informadas e bebem menos quantidade, mas apreciam a qualidade”- esclarece, reconhecendo que o vinho começa a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. “Estas que sabem que o vinho, sendo de qualidade, não só não faz mal, como faz bem”, salvaguardando alguns “exageros” que existem.
“O vinho é um produto turístico por excelência”, realça, e cada vez se fala mais no “enoturismo”. Portugal tem o privilégio de ter cinco pontos fundamentais como “o clima; a diversidade paisagística; a qualidade e diversidade gastronómica; a qualidade dos vinhos e; a hospitalidade,” que no enoturismo são cada vez seja mais importantes e os operadores turísticos estão “muito atentos” a isto. Um evento destes pode ser importante para o enoturismo, pois uma garrafa de vinho leva-se para qualquer parte e “qualquer promotor pode levar os seus vinhos e cativar os enoturistas, que são turistas de qualidade, com poder económico e que viajam para ver “como e onde é que ele se produz” e, depois acabam por conhecer e “descobrir” os países.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.
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