segunda-feira, 23 de junho de 2008

Divulgar os produtos regionais


Festival de Vinhos

O vinho é um produto turístico, mas para que chegue ao cliente final necessita de ser devidamente divulgado e comercializado. O Festival de vinhos permitiu o contacto entre o produtor e o cliente final e possibilitou a produtores e hoteleiros conhecerem vários vinhos, sobretudo regionais, que lhes eram desconhecidos e que, posteriormente, poderão recomendar aos seus clientes.


Os Açores são considerados um dos melhores destinos turísticos do mundo, inclusive pela afamada revista internacional National Geographics, sendo os seus pontos fortes a natureza, os típicos vinhos e licores e, a rica gastronomia. As ilhas reúnem de forma exemplar as condições ideais para desenvolverem um turismo de qualidade e de culto, onde produtos de elevada qualidade fazem parte essencial da oferta turística da região. Por estes motivos, Ponta Delgada foi palco do primeiro Festival de Vinhos realizado na Região, de modo a que todos os visitantes descobrissem as potencialidades do Arquipélago. Para além dos vinhos, pudemos observar também expositores com compotas, patés, azeite, sal e licores.
O evento, organizado pela Angular XXL e pela MegaSesus, proporcionou aos micaelenses um ambiente requintado com música ao vivo, cocktails de vinho, charutos, cafés e chás, o que constituiu uma oportunidade de convívio e de negócios. Houve, ainda, lugar para Provas de vinhos; Showcookings, nos quais a gastronomia e o vinho foram apresentados como complementos para a criação de produtos turísticos de excelência e; Workshops.
Francisco Silveira, da Angular XXL, uma das empresas organizadoras do festival, começa por dizer que graças ao conhecimento que a MegaSensus tem dos produtores nacionais foi possível trazer aos Açores produtores em “variedade, qualidade e quantidade”, afirmando desejar que este evento seja um “incentivo” para que os produtores voltem no próximo ano. Salienta também que a Câmara Municipal e o Governo Regional apoiaram este festival, pois certamente “perceberam a importância” de um evento desta natureza, que diz ser “diferente” dos que se tem feito na Região. Termina, dizendo estar “imensamente satisfeito” com o número de pessoas que aderiram a este projecto.
Duarte Ponte, secretário regional para a pasta da Economia, afirma que este festival é um evento “singular”, onde se apresenta o melhor que se produz nos Açores e no continente e no qual o cliente pode verificar a “diversidade de vinhos e produtos” que existem nesta área a nível nacional. O vinho é um produto turístico, acrescenta, lembrando que há dois anos atrás quando esteve nos Estados Unidos, constatou que “havia turistas americanos que visitavam Portugal para fazer a Rota dos Vinhos, turistas estes, que pagavam muito bem para tomarem contacto com um produto novo que não conheciam”.
Reconhece que os Açores não têm nesta área uma grande importância, mas têm já produtos já de algum “significado”. O trabalho que tem sido feito no Pico, por exemplo, é realmente “notável”, numa área que foi classificada pela UNESCO, a vinha protegida do Pico. “Mas há outras ilhas com iguais potencialidades, como a Terceira que tem também desenvolvido um grande trabalho nesta área. Provavelmente, São Miguel, Santa Maria e a Graciosa poderão vir a ter produtos de elevada qualidade, que possam simbolizar estas ilhas e a sua promoção no exterior”- sublinha.
Duarte Ponte ressalva que quem vem aos Açores quer levar consigo uma “recordação, um produto que seja típico”, avançando não haver vinhos “iguais”, cada um tem a sua própria “alma”.
“Os vinhos são como as mulheres e como os queijos, têm vida própria. Um queijo não tem a mesma qualidade desde o início. É como o vinho evolui, é vida”- sublinha.
Falando no festival, o empresário defende que os hoteleiros presentes neste festival podem ter “contacto” com vinhos que desconhecem e isso é importante, para providenciarem aos seus clientes um produto de “alta qualidade”. Não menos importante é o seu contacto com pessoas que têm experiência na área da “comercialização”, pois “é fundamental perceber que é necessário criar em alguns produtores a ideia de se promover os produtos”. É este o “objectivo” do Festival.
“Que este festival se repita ano a ano, para que cada vez haja mais amantes de bom vinho e cada vez mais os bons produtores de vinho tenham a oportunidade de contactar com o cliente final”- foram os votos do secretário regional.
Teresa Lima, professora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, foi a autora de uma palestra sobre a Situação Histórica e a Simbologia do Vinho, na qual aborda, entre outros aspectos, a ligação entre o vinho e a Bíblia.
À margem da cerimónia, o Terra Nostra falou com Mário Luís da MegaSensus; Francisco Silveira e José Coutinho Costa, ambos da Angular XXL; Duarte Ponte, secretário regional da Economia; Paulo Laureano, enólogo e; com José Silva, apresentador d’ A Hora de Baco; programa transmitido pela RTPN e colaborador da revista Wine Passion.
Mário Luís, da MegaSensus, conta que a primeira edição nacional deste festival ocorreu em 2007, em Portimão, evento que contou com um expositor dos Açores, da Garça Tainha, onde lhe disseram que seria “engraçado” fazer algo do género na Região. Referindo-se ao trabalho de campo necessário à realização do festival na Região, Mário Luís recorda que visitaram os Açores em Novembro, fizeram uma “pesquisa de mercado”, correram os restaurantes e falaram com os profissionais, visitaram “toda a ilha” e chegaram à conclusão que podiam aproveitar um “bom binómio, vinho, turismo e, gastronomia como complemento”. Propagaram a ideia junto dos produtores e “correu bem”. Isto, pois, admite, havia “alguma apetência” para fazer um trabalho comercial por parte dos produtores, uma vez que nunca tinha acontecido nada do género nas ilhas e aproveitando o facto, dos Açores estarem na moda com o “impacto adicional, que veio da revista National Geographics”.
“Resolvemos apostar, de uma forma mais descontraída, se calhar porque somos um bocado mais arrojados ou ‘malucos’ nesta história dos negócios”- confessa, satisfeito.
Relativamente a um feed-back do festival, afirma que os profissionais estão “satisfeitos” e lembra que “há produtores que nunca tinham vindo aos Açores”. Têm também 16 Show-cooking, o que é “muito. É um teatro de culinária”.
Segundo Mário Luís, apesar de ser preciso ter “escala” para se ir mais longe no mercado, os vinhos podem sair do mercado inter-ilhas, mas é preciso apostarem num produto de qualidade. Isto leva “tempo, paciência e exige trabalhar com bons técnicos, o que deve ser uma aposta dos produtores locais”. São Miguel, menciona, tem o “vinho verdelho meio clandestino, é e não é”.
“É uma questão de quem se dedica ao vinho verdelho querer apostar e investir num vinho de qualidade, pois é um projecto de 4 ou 5 anos, onde é preciso muita paciência e know-how. Característica que, se não se tem mais vale trabalhar com quem sabe, para não estar a perder tempo”- alerta.
Aproveitando a ocasião para deixar uma mensagem aos produtores regionais, avança que devem “apostar na qualidade”, não tendo “pressa” de chegar ao mercado sem ter a certeza de que o produto está bom, porque “se o produto for bom, fica e é catalogado como um produto de referência. Se não estiver bom, estragam por completo o trabalho que fizeram e aí precisam de mais uma série de anos para recuperar o produto”.
Para Coutinho Costa, da Angular XXL, esta é “a maior feira no âmbito dos vinhos realizada até hoje nos Açores”. Acontecimento que, salienta, contou com “mais de 40 produtores do continente e alguns dos Açores e com os melhores cozinheiros a nível de São Miguel, sendo forte a participação em espectáculos de cozinha”. Diz ainda terem “muitas” pessoas que vieram do continente para este festival, além de um expositor italiano e outro espanhol. “Para um primeiro ano, excedemos as expectativas e esperamos que em 2009 seja ainda melhor”.
A MegaSensus foi a responsável pela divulgação do evento, explica, esclarecendo que como este é o primeiro ano estão presente “todas as revistas da especialidade, tanto da parte de cozinha como de vinhos e com as reportagens que estas irão fazer, decerto que no próximo ano virão muito mais pessoas”. O objectivo é que a iniciativa seja “anual”, estando esta programada para, “pelo menos”, mais dois anos.
Na sua opinião, esta iniciativa é “fundamental” para o desenvolvimento turístico da Região, pois na área dos vinhos afirma que não se têm aproveitado os produtos a nível nacional, sendo feita propaganda dos produtos a nível regional, enquanto os vinhos nacionais ficam um bocado “esquecidos”.
“Para que a comercialização de todos estes produtos seja uma mais-valia, temos que o fazer com os vinhos regionais e nacionais, porque Portugal é um dos maiores produtores a nível mundial e de grande qualidade” - salienta, avançando ser essencial “encarar o vinho de outra perspectiva”, como algo que proporciona “momentos de lazer, de convívio, de conversa com os amigos” e não, como um mero “objecto de uso diário”.
Os projectos são “muitos”, mas o principal é estabelecer parcerias com a MegaSensus. “Foi um evento extremamente simples, mas que levou quase um ano a preparar”, pois, confessa, procuraram eventos “diferentes dos que se faz cá e que já tenham certa importância a nível nacional”. A seu ver, “não vale a pena” realizar eventos que possam vir a não ter sucesso, quando existem muitos a nível nacional de sucesso que podemos aproveitar para “trazer esta mais-valia” para a Região.
Questionado sobre que outras iniciativas se poderiam realizar na Região, Coutinho Costa avança que, até agora, os eventos têm-se realizado tendo em conta a “realidade açoriana e não o tipo de turista que vem cá”. É preciso alterar esta situação, alerta, e não pensar “somente nos açorianos, mas nas pessoas que vêm cá. O turista quer qualidade, uma boa aparência. Não chega inventar um evento, dar-lhe um nome e depois a realidade não corresponde às expectativas das pessoas”- sublinha, acrescentando que neste festival, já excederam as expectativas dos produtores, que se mostraram muito satisfeitos. “Só com qualidade é que se consegue trazer pessoas aos eventos. Caso contrário, as pessoas sentem-se frustradas”. O investimento foi muito elevado, “cerca de 100 mil euros”.
Duarte Ponte, secretário regional da Economia, defende que este festival é essencial por vários factores, pois “traz aos Açores vinhos desconhecidos e os hoteleiros e as pessoas ligadas à restauração podem entrar em contacto com os produtores” e permite também “educar” o cliente final com provas de vinhos. Os produtores regionais, por sua vez, verificam quais as “diferenças” entre os vinhos do continente e os açorianos e, aprendem algo sobre a forma de “promover” o produto.
O vinho para além de ser de boa qualidade, precisa de ser “promovido e publicitado” e este festival é exactamente para mostrar aos açorianos o que de melhor se faz no país, incluindo os Açores. “Quem não aparece no mercado não é conhecido, logo não pode ser vendido”- reconhece, argumentando que os vinhos açorianos têm de “ganhar a batalha da sua notoriedade”, pois são produtos “fundamentais” para o desenvolvimento regional. Além de que, cada turista que chega aos Açores “precisa” de levar consigo aquilo que fazemos bem feito e nós temos bons vinhos.
“Não pode ser tudo a preto e branco, não podem ser só vacas e leite ou carne”. Era importante também “incluir um conjunto de mercados pequenos”, pois as ilhas não têm, admite, as mesmas potencialidades que o Douro, por exemplo, que produza algo “diferente e nosso”, que só se produza na Região.

Bebe-se menos e aprecia-se mais!

José Silva, apresentador do único programa de vinhos da televisão portuguesa “A Hora de Baco”, transmitido na RTP-N, RTP África e RTP Internacional e; colaborador da revista bilingue Wine Passion, começa por dizer que “estranhamente” nenhum outro canal tem um programa de vinhos num país de viticultura como é Portugal.
Afirma ter considerado que o festival era uma iniciativa muito “interessante” e quis logo participar, pois o vinho ocupa um lugar muito importante na vida das pessoas. E curiosamente, salienta, “bebe-se menos, mas melhor em dois sentidos”. Em melhor quantidade, pois as pessoas estão “conscientes de que beber e apreciar vinho não é apanhar uma bebedeira”, além deste ser um complemento “óptimo” para acompanhar boa comida. “As pessoas hoje estão mais informadas e bebem menos quantidade, mas apreciam a qualidade”- esclarece, reconhecendo que o vinho começa a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. “Estas que sabem que o vinho, sendo de qualidade, não só não faz mal, como faz bem”, salvaguardando alguns “exageros” que existem.
“O vinho é um produto turístico por excelência”, realça, e cada vez se fala mais no “enoturismo”. Portugal tem o privilégio de ter cinco pontos fundamentais como “o clima; a diversidade paisagística; a qualidade e diversidade gastronómica; a qualidade dos vinhos e; a hospitalidade,” que no enoturismo são cada vez seja mais importantes e os operadores turísticos estão “muito atentos” a isto. Um evento destes pode ser importante para o enoturismo, pois uma garrafa de vinho leva-se para qualquer parte e “qualquer promotor pode levar os seus vinhos e cativar os enoturistas, que são turistas de qualidade, com poder económico e que viajam para ver “como e onde é que ele se produz” e, depois acabam por conhecer e “descobrir” os países.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Tristes Realidades!



Basta, muitas vezes, sairmos à rua para depararmos com situações menos ‘normais’. São pessoas a atirar o lixo para o chão, quando o cesto de papéis está a menos de meio metro. São pessoas a atravessar a rua sem mais nem menos e fora da passadeira, quando esta se situa a uma ou duas polegadas. Isto não pode continuar, caros leitores! É preciso civilizar as pessoas.
E quantas vezes, não vamos percorrendo as ruas, cheios de pressa ou com todo o tempo do mundo, e de repente uma música, com maior ou menor qualidade, nos entra pelos ouvidos a dentro, sem que nada possamos fazer contra isso? Basta que passe um automóvel de vidros abertos e com o volume do rádio no máximo, para que as ruas sejam automaticamente ‘poluídas’ a nível sonoro. Uns aderem e dão um ou outro passo tímido a acompanhar o ritmo da melodia que, muitas vezes nem ritmo tem, outro limitam-se a tapar os ouvidos e a fazer uma ‘careta’, apressando disfarçadamente o passo para saírem daquele burburinho. E podemos dar graças a Deus, penso eu, de não vermos pessoas a passear pelas ruas de rádio na mão com o som aos altos berros. Felizmente, esta moda ainda não ‘pegou’ nos Açores. ‘Cala-te boca’, como se costuma dizer, não esteja eu a dar ideias!
E pessoas a falarem ao telemóvel como se estivessem a telefonar para os familiares emigrados na América, há uns anos atrás? Antigamente, sim. As ligações eram más e tinha que se falar mais alto. Hoje em dia, isto não se justifica! Graças ao avanço da tecnologia não precisamos de estar a ouvir tudo e mais alguma coisa, sobre a vida das pessoas, como ao que parece, lamentavelmente afinal ainda acontece. É nos autocarros, pelas ruas, nos supermercados! É uma autêntica anedota. Como se já não bastasse encontrar alguém que parece estar a falar sozinho, mas no fim das contas está apenas a cantarolar as canções do seu artista preferido, no seu MP3 ou Ipod de última geração.
Sim, caros leitores, porque vendo bem as ‘coisas’ há muita que não bate certo. É raro o dia em que não ouvimos alguém a queixar-se de não ter emprego ou por não poder comprar isto ou aquilo, mas a verdade é que correndo as lojas à procura de brinquedos caros, como fiz recentemente a título de curiosidade, constatei que não havia praticamente nada em loja nenhuma. E se isto acontece, é porque, efectivamente, as pessoas têm dinheiro ou, pelo menos, cartão de crédito para os comprar. A realidade é esta, se formos a ver quantas famílias vivem com base nos cartões de crédito que, como todos sabemos, não sendo pagos no final do mês acumulam juros e mais juros, ficamos com o cabelo todo em pé. Ganha-se 500 e gasta-se 600, assim não funciona. A táctica funciona, como se pode verificar, mas ‘não funciona’. É apenas uma maneira de adiar o pagamento e ir enchendo o saco das dívidas. Nunca um provérbio se aplicou tão bem a uma situação como este, ‘grão a grão enche a galinha o papo’. Neste caso, não é o papo, mas o banco!

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.

As pessoas sabem "muito pouco de tudo"

Fátima Sequeira Dias lança nova obra

Um professor do secundário que se interesse pela história dos Açores encontra nos meus livros o material necessário para motivar os seus alunos para a nossa história nos séculos XIX e XX”.
Segundo Fátima Sequeira Dias, as escolas têm “autonomia para encomendarem” os seus livros escolares, pois o manual “único”, utilizado pela família ao longo dos anos, “deixou de existir” - sublinha, em crítica aberta à renovação praticamente anual dos livros escolares. Situação que, na sua opinião, se deve não ao “avanço” da ciência, mas à “cobiça” das editoras e ao“laxismo do Ministério da Educação”.

Fátima Sequeira Dias, professora doutora e presidente do Conselho Científico da Universidade dos Açores, lançou um novo livro intitulado “Os Açores na História de Portugal”. O Terra Nostra falou com a autora sobre a sua vida, o livro e as potencialidades da obra a nível académico.
T.N.- O que nos pode dizer sobre esta nova obra?
FTD- “Os Açores na história de Portugal”, sob a chancela da prestigiada editora Livros Horizonte, reúne uma série de artigos académicos publicados (um deles é inédito) nos últimos anos.
Como é do conhecimento público, fui operada a um cancro de mama no final do mês de Dezembro de 2006. Depois, seguiram-se os longos e necessários tratamentos no IPO. Longe de casa e muito cansada pelos violentos tratamentos, não tinha forças para ir para o arquivo e para estudar – hábitos inerentes a todos os professores universitários.
Nunca esqueci, porém, uma norma de vida que me é cara, a de que a ‘ociosidade é mãe de todos os vícios’ e, nesse sentido, resolvi, com todo o vagar possível, reunir os meus trabalhos. Era um projecto ambicionado há alguns anos, mas que as exigências lectivas e os inúmeros trabalhos em mãos tinham sempre adiado. Nos longos meses fora da família (mas sempre amparada pelos amigos em Lisboa), preocupava-me pelo facto de os meus compromissos de trabalho estarem todos atrasados, mas brincava dizendo que estava desculpada, porque não deixava de estar ocupada enquanto esperava pela morte…
Afinal não morri e, no final dos tratamentos, tinha reunido os ensaios que considerava mais representativos do meu trabalho académico. Organizei, então, dois volumes. Um, sobre o percurso dos judeus nos Açores, que intitulei «Indiferentes à Diferença» e outro, sobre os designados ciclos da história dos Açores, cujo editor concordou em intitular «Os Açores na História de Portugal». Aquele beneficiou do apoio da DRCT – Governo Regional – e este, do apoio, quer da Assembleia Legislativa Regional, quer da FLAD.
T.N.- O que a levou a escrever sobre esta temática?
FSD- No próximo mês de Outubro festejarei cinquenta anos de vida. Concluí a minha licenciatura em 1981. Depois estive a fazer um mestrado em Bruxelas entre os anos lectivos de 1981 e 1983. Seguiram-se longas estadas no estrangeiro, nomeadamente na Suíça e na Noruega, onde na qualidade de bolseira prossegui os meus estudos. Defendi a minha tese de doutoramento em 1993, que, por sinal, recebeu o maior prémio internacional concedido às melhores teses de doutoramento em história económica no mundo, pela International Economic History Association, em 1998.
Desde que entrei na universidade em 1979 até hoje, nunca deixei de fazer curriculum. Gosto de destacar isto, porque não estive a fazer carreira. Tenho feito curriculum. Nunca trabalhei menos de 14 horas por dia. Os sábados e os domingos também são votados ao trabalho, ainda que sob outra rotina. Gosto muito de trabalho de arquivo e, por isso, também não dispenso mexer em ‘papéis velhos’ todos os dias! Deste modo, sempre publiquei bastante e sempre participei em muitos congressos.
Tenho uma biblioteca pessoal bastante interessante, que tem sido adquirida por mim. Não foi herdada!
Enfim, como nunca quis ser nem a melhor da minha rua, nem do meu bairro… sempre tive de trabalhar muito para fazer o curriculum que desejava.
Também nunca tive ambições de poder.
Foi com sacrifício que fui pró-reitora no tempo de Vasco Garcia e foi por motivos ideológicos que me candidatei a Presidente do Conselho Científico – para mostrar que uma mulher podia candidatar-se a um cargo (sempre ocupado por colegas homens) e que numa candidatura tanto se ganha, como se perde. Ganhei. Mas, não gostei da inúmera burocracia e da difícil gestão das susceptibilidades e melindres. Gosto mesmo é de ler, estudar (sublinhando), investigar e escrever.
Assim, estou a fazer curriculum há trinta anos. Graças ao curriculum, após inúmeras e exigentes provas públicas, sou professora catedrática desde 2005. Podia ter chegado mais cedo a esta categoria, mas não estive a fazer carreira. Estive a fazer curriculum.
Sempre trabalhei o século XIX açoriano. Interessa-me compreender por que motivo depois de os Açores terem tido uma elite extraordinária ao longo de oitocentos, que logrou integrar o arquipélago no mundo, foram interiorizando um progressivo e terrível complexo de pequenez e de perifericidade.
Ao longo dos anos, fui recolhendo elementos para a síntese que virá em breve!
Tenho inúmeros projectos de trabalhos. Não só concluir os que se atrasaram, fruto da inesperada doença, como prosseguir outros que têm sido pensados. Escrevo depressa, mas levo muito tempo a pensar!
T.N.- Na sua opinião as pessoas sabem muito ou pouco sobre a História de Portugal, Açores incluídos?
F.S.D- As pessoas sabem muito pouco de tudo, à excepção do futebol e da vida do Cristiano Ronaldo…
Julgo que a televisão portuguesa tem sido assassina neste ‘projecto’ de brutalizar as pessoas.
No entanto, pior do que saberem pouco… É pensarem que sabem tudo!
T.N.- Nas escolas, os Açores raramente ou nunca fazem parte do programa. Qual a sua opinião? E o que poderia ser feito para alterar a situação?
FSD.- Julgo que as escolas têm autonomia para encomendarem os seus livros escolares. O manual único que era utilizado por todos os filhos da família ao longo dos anos, deixou de existir. Não pelo avanço da ciência, mas pela cobiça das editoras e pelo laxismo do Ministério da Educação.
Pressupondo que há temas destinados a diversos anos lectivos, o Governo Regional poderia estudar a possibilidade de organizar uma colecção de cadernos temáticos que seriam oferecidos aos alunos a fim de serem integrados entre os conteúdos das diversas disciplinas. É um projecto educativo. Não é uma forma de sobrecarregar os orçamentos das famílias. Por exemplo, em vez de financiar um concerto de música clássica ou um arraial… manifestações, sem dúvida, importantes, oferecer às crianças açorianas alguns conhecimentos históricos, geográficos, geológicos, entre outros; do que é viver nestas ilhas seria muito, muito importante.
T.N.- O professor Teixeira Dias disse uma vez que falta coragem política para intervir nesta matéria. Qual é a sua opinião?
FSD.- O professor Teixeira Dias foi longos anos professor no secundário. Depois passou pela universidade onde fez um doutoramento em Ciências de Educação e reformou-se, salvo erro, como deputado da Assembleia da República na bancada do PS. Não sei em que contexto ele terá afirmado o que diz, mas parece-me que ele tem toda a autoridade para saber o que afirma. No entanto, em minha opinião, a questão apresenta-se de outra maneira.
Partimos do princípio de que os políticos são geniais e inteligentíssimos. Quando não realizam o que devem realizar é porque têm má fé. Temos tendência para ver uma conspiração em tudo. Por que não pensar que nunca ninguém lhes ‘vendeu’ a ideia de forma correcta? Por que não pensar que eles nunca pensaram no assunto? Por que não pensar que a ignorância é uma qualidade que está de forma igualmente repartida em todos os partidos políticos?
Ser político não torna ninguém culto e inteligente!
T.N.- “Os Açores na História de Portugal” é um bom documento de apoio?
FSD.- Julgo que sim. Não só pelo conteúdo, como pela forma como está escrito. Trabalho muito o processo de escrita, de forma a ser o mais acessível possível para todos os leitores. Os alunos dos últimos anos do secundário têm possibilidades de perceber o que estão a ler nos meus livros.
Sempre procurei seguir o modelo anglo-saxónico de escrita: frases curtas e incisivas.
Bem escrever exige bem pensar. Tenho um público bastante alargado, que aprecia o que escrevo. Gosto muito de dar aulas. Sou professora por escolha. Estou habituada a fazer-me entender e, nesse sentido, tenho as ideias organizadas para veicular e difundir os conhecimentos que considero importantes. Também na escrita respeito este princípio. Divulgo a ideia matriz do que pretendo, assente em muito trabalho de recolha de arquivo e fundamentado em leituras diversas. As notas de rodapé são um segundo texto, mas destinam-se apenas aos investigadores. Também os aspectos quantitativos, tão do agrado dos meus colegas economistas, podem ser dispensados por quantos abominam os números!
Um professor do secundário que se interesse pela história dos Açores encontra nos meus livros o material necessário para motivar os seus alunos para a nossa história nos séculos XIX e XX.
TN.- Quais os momentos mais marcantes da História dos Açores dentro da História de Portugal?
FSD.- Quanto a mim, privilegio a estada dos liberais nas ilhas antes do desembarque no Mindelo, nomeadamente a legislação de Mouzinho da Silveira, ‘a força demolidora do Antigo Regime’. Gosto muito também do período em que os militares continentais – as forças expedicionárias – se instalaram nas ilhas, porque ‘aqui também é Portugal’. De resto, como esquecer a luta autonomista de finais do século XIX com a denúncia da pátria-madrasta?
TN.- Projectos de novos trabalhos?
FSD.- Concluir todos os trabalhos atrasados. São alguns!
Lamento os atrasos acumulados, nomeadamente nas Memórias políticas de José de Almeida, o nacionalista açoriano.
Tenho muitos trabalhos em mãos. Doravante só me interessa o século XX.
Como grande projecto, vou começar a escrever a biografia de um grande empresário dos Açores. Um homem que cresceu economicamente com os Açores autonómicos. Uma referência para todos nós. Um exemplo.
É possível enriquecer nos Açores dos nossos dias. Os Açores continuam a ser uma terra prometida. É um projecto no qual estou muito empenhada, porque acredito no valor do trabalho e do mérito. Acredito que somos nós a construir as nossas vidas!
Detesto falsas vaidades e sociedades adormecidas na recordação dos antepassados. Não há dúvida de que alguns dos antepassados foram grandes… Mas não respeito os herdeiros que reproduzem a memória dos antepassados para serem importantes na sua rua… no seu bairro… Este é o maior flagelo dos Açores.
Assim, como fui pioneira na criação de uma consciência feminista, nos finais dos anos oitenta nestas ilhas, sendo motivo de escárnio de algumas feministas actuais que, finalmente, se juntaram à causa, espero também contribuir com os meus escritos para a consciência do que é ser açoriano no mundo global. Há trinta anos, eu decidi viver nos Açores, gostaria que os jovens de hoje ainda encontrassem razões para viver nos Açores.
Finalmente, não quero esquecer que o cancro mudou a minha vida. Não perdi o bom humor, nem a alegria de viver, mas aprendi duas grandes lições: a da compaixão pela dor dos outros e a da gratidão pelo que os outros nos dão. Assim, a par do curriculum que pretendo continuar a fazer… Gostaria que olhassem para mim constatando que há VIDA depois de um cancro.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.
"Interessa-me compreender por que
motivo, os Açores foram interiorizando
um progressivo e terrível complexo
de pequenez e de perifericidade".

"As pessoas sabem muito pouco de tudo,
à excepção do futebol e da vida do Cristiano Ronaldo…
Julgo que a televisão portuguesa tem sido
assassina neste ‘projecto’ de brutalizar as pessoas".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

"O artista deve tomar posições"


UHF lançam DVD no final do verão


A Rádio está "divorciada" do interesse das pessoas e, na maioria das vezes, nas emissões de rádio a música portuguesa é deixada de parte, para dar lugar à estrangeira, o que é um “pecado”, pois as pessoas “preferem” a música portuguesa. Esta é a opinião de António Ribeiro, vocalista dos UHF, que defende ainda que o artista não pode ficar indiferente ao que se passa na sociedade e tem de “tomar posições”.

Matas-me com o teu olhar; Menina, estás à janela e; Rua do Carmo são alguns dos êxitos mais conhecidos dos UHF, donos de uma carreira bem consolidada no mercado da música portuguesa, desde há 30 anos.
António Ribeiro, vocalista dos UHF, lembra que a banda conta já com "30 anos de carreira", o que considerava algo "impensável" quando começou. "Conseguimos criar um espaço na música portuguesa, escrever e gravar canções que se tornaram importantes - e isso, efectivamente, é o que podemos considerar uma carreira dedicada à música - e acimentar um bocado aquilo que era a nossa ideia, a nossa concepção de música, de arte, porque a música é arte"- salienta.
O vocalista da banda avança que "desde 1982", que visita os Açores por motivos profissionais e diz ser, "sempre, muito bom" voltar. Acrescenta ainda haver uma "proximidade muito peculiar e muito particular" entre os açorianos e os UHF", o que já disse, "em cima do palco".
Afirma já ter constatado esta afinidade entre o grupo e o povo das ilhas há muito tempo e talvez seja por isso, também, que vêm actuar aos Açores com "tanta regularidade", pois, a seu ver, há uma "química que se gera nos concertos".
"Acho que os açorianos gostam da sinceridade, do ataque frontal que é a música dos UHF"- acentua.
A banda, adianta, nasceu, "provavelmente", como todos os grupos nascem, quando um grupo de miúdos, de jovens quer começar a fazer música e começa à procura de conhecer pessoas interessadas.
"Quer-se comprar instrumentos, não há dinheiro; quer-se uma sala de ensaio e é difícil, porque fazemos barulho"- ressalva, avançando estar a falar de 1977/78. "Já lá vão 30 anos e no fundo penso que foram um bocado essas dificuldades de inicio de carreira, que acimentaram aquilo que foi a coesão dos UHF".
Falando na temática das canções, António Ribeiro explica que os UHF têm "três correntes de escrita. Uma social, outra sobre o amor e uma terceira politica", que são talvez os ramos mais "vincados" da sua escrita musical.
E continua, dizendo que os UHF escrevem canções de amor, como todas as pessoas que escrevem canções o fazem, porque, muitas vezes, querem "transmitir os sentimentos" que lhes vão na alma e que, no fundo, são "comuns" às pessoas que os ouvem. As canções sociais, esclarece, têm a ver com a "observação" do que acontece à sua volta e transmitem a "posição do grupo sobre várias situações que se geram na sociedade".
Na sua opinião, "o artista, compositor ou autor deve tomar posições", por isso o grupo tem algumas canções "francamente políticas", posições e atitudes que assume.
"Penso que muitos colegas meus, cantores, não têm opções políticas, não têm clubes de futebol, porque querem agradar a todos"- lamenta, avançando ser fã do Sport Lisboa Benfica e uma pessoa "humanista, preocupada com o bem-estar da sociedade e dos mais desfavorecidos, de que tanta gente fala, geração após geração". O que contrapõe, argumentando que "o artista deve ter a capacidade de falar sobre essas matérias, sobretudo, porque tem acesso à comunicação social, grava discos, fala em entrevistas como esta."
Referindo-se a Noites Negras de Azul, um dos discos da banda que teve mais sucesso, lembra que foi um disco "difícil de parir", porque foi produzido numa fase "conturbadíssima" dos UHF, a meio dos anos 80. "O disco foi escrito e gravado entre 1987 entre 1988, altura em que não tínhamos uma formação definida. Foi feito um bocado à minha volta e fui convidando algumas pessoas para irem a estúdio gravar comigo e depois acabou por ser uma formação"- recorda, reconhecendo que este trabalho é considerado um dos discos "mais bonitos e misteriosos dos UHF". "Se calhar, porque revela exactamente este lado de sobrevivente que eu tenho, mas não um lado de homem queixoso"- justifica, acrescentando que não se queixa. Sobretudo, "combato".
"Eu não me fico pela incapacidade de atravessar o rio, quero atravessar a ponte"- revela, admitindo que esta fase conturbada dos UHF, no fundo, produziu uma "bonita flor de Lótus".
Quanto à noção de que as pessoas, muitas vezes, preferem a música estrangeira à portuguesa, afirma ser um "equívoco", avançando ainda que as pessoas em Portugal preferem música portuguesa, mas, "frequentemente as rádios nacionais preferem música estrangeira", o que é um "pecado". O vocalista da banda vai ainda mais longe, ao afirmar que, tal como muitas coisas neste país estão "desorganizadas", a rádio também está "afastada" das pessoas, que "muitas vezes" já nem a ouvem.
"Infelizmente, a Rádio perde ouvintes todos os dias, porque está divorciada do interesse das pessoas. Se os portugueses não gostassem de música portuguesa, não haveria tantos espectáculos e cheios, com o entusiasmo que existe"- salienta, lembrando que recentemente tocou em dois espectáculos, em que apesar de não haver chuva, o dia não estava muito bom e "as pessoas foram apesar de o tempo convidar mais ao sofá".
"A questão é os portugueses gostarem daquilo que fazemos, outra coisa é muitas vezes quem faz rádio estar divorciado dos interesses da nação"- esclarece.
Falando sobre a difícil expansão de uma banda portuguesa no mundo, António Ribeiro argumenta que esta situação se deve a dois factores, "se calhar iguais". Primeiro, ao facto de Portugal ser um país "pequeno e sem capacidade de exportar" o que quer que seja, musica também. "Dificilmente, exportamos algo em condições que valha a pena e que sintamos que traz benefícios para o país inteiro"- reconhece, argumentando também que o país faz “pequenas” exportações e a música também está dentro deste "saco anémico" das exportações. O segundo, também "importante", é o facto da língua portuguesa ser "complicada".
“É um bocado difícil chegar ao grande mercado, porque ai "governa e manda o inglês, naturalmente"- acrescenta.
Referindo-se a esta oportunidade de visitar os Açores, o vocalista do grupo avança que este costuma deixar um “bom nome”, sempre que toca nos Açores e vai recebendo convites. Às vezes conseguem, outras vezes não, lamenta, pois “muitas vezes não é fácil”.
“Tivemos um convite para ir ao Corvo, mas ir lá é extremamente difícil”- exemplifica, insatisfeito e com “muita pena”, porque gostava de ir. Diz ainda saber “muito bem o que é o isolamento”, porque no continente também há terras muito isoladas e é “muito bom” lá ir, pois é uma forma “muito diferente das pessoas estarem connosco”. Só que as viagens são “complicadas”- admite, acrescentando não haver viagens “directas” e, normalmente, “no dia seguinte” têm concertos marcados no continente. “Se nos convidam, só não vamos se não podermos”- sublinha.
Em termos futuros, revela que irão lançar este ano canções que “já estavam editadas há muito tempo em CD, ou esgotadas ou que nunca tinham sido editadas”. Lembra também que estão em digressão e a preparar um disco de “originais”, que será lançado depois da digressão, na “Primavera de 2009”.
António Ribeiro revela também que além dos discos que estão a sair (no espaço de um ano já saíram quatro), vão também lançar “o primeiro DVD da banda”, que foi gravado há dois anos, no Coliseu de Lisboa e que será editado logo a seguir ao verão.
O vocalista mostra-se ainda esperançoso de que o concerto no Nordeste seja, “pelo menos igual, ao de há uns anos atrás, que foi fantástico, um grande concerto”.
Do Nordeste, afirma ser uma terra “muito bonita, porque de repente acaba a terra e começa uma escarpa para o mar”.
Na sua opinião, nos Açores há um “respeito, uma imensidão de seriedade, se quisermos, dos elementos, em que o homem se sente perante a natureza. Os Açores têm essa particularidade, de nos por sempre em contacto com a 'brutalidade' da natureza, que no fundo é o nosso contexto. Nós, os humanos, pertencemos a esta terra e nos Açores sente-se muito bem isso”- sublinha.

Raquel Moreira

Public in Terra Nostra, Junho de 2008.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Portugal no Euro 2008

UEFA Euro 2008

Derrotado na última edição do Campeonato da Europa, Portugal dará o seu melhor no Euro 2008. A equipa de Scolari cujo estágio começou um dia depois do previsto, a 19 de Maio, segundo a Federação Portuguesa de Futebol por “imperativos de ordem técnica e organizativa”, está pronta a arregaçar as mangas para alcançar a vitória tão desejada.

O EURO 2008 está a começar, marcado este ano pela saída de Petit do futebol.
A equipa portuguesa tem como guarda-redes Rui Patrício; Ricardo e Quim. Na defesa, poderemos ver Bosingwa; Miguel; Jorge Ribeiro; Pepe; Fernando Meira; Paulo Ferreira; Bruno Alves E Ricardo Carvalho. Os médios serão Nani; Ricardo Quaresma; Deco; Simão; Petit; João Moutinho; Miguel Veloso e Raúl Meireles.
Como avançados teremos Cristiano Ronaldo; Hélder Postiga; Hugo Almeida e Nuno Gomes.
Recorde-se que na fase de apuramento do UEFA EURO 2008, Portugal perdeu apenas um jogo no Grupo A, composto por oito equipas, mas sofreu até ao último encontro para assegurar um lugar na fase final, tendo ficado no segundo posto, atrás da Polónia.Depois de ter empatado a uma bola na jornada inaugural, na Finlândia, Portugal bateu o Azerbaijão por 3 bolas a 0 e em seguida perdeu por 2 a 1, na Polónia.
O rendimento da selecção das quinas incluiu altos e baixos, já que perdeu alguns pontos inesperados e teve em Cristiano Ronaldo o jogador mais produtivo, com oito golos na fase de apuramento. Perante a Sérvia, os comandados de Luiz Felipe Scolari empataram em casa e fora (1-1), tendo ainda empatado em casa perante a Polónia (2-2). Igual resultado foi averbado na deslocação à Arménia (1-1). Portugal venceu os três jogos em que Scolari esteve castigado, onde Flávio Teixeira ocupou o seu lugar no banco, e partiu para a recepção à Finlândia, precisando apenas do empate para garantir a qualificação.Os finlandeses sabiam que a vitória lhes poderia abrir as portas do Europeu, mas Portugal conseguiu segurar o 0-0 que lhe interessava. Mesmo assim, Scolari garantiu no final: “Precisamos de melhorar para a fase final”.
No Campeonato do Mundo de 2006, Portugal conseguiu pela segunda vez consecutiva o apuramento para a fase final de um Campeonato do Mundo. A equipa de Luiz Felipe Scolari venceu o grupo, à frente da Eslováquia e da Rússia.
No apuramento, Portugal conseguiu nove vitórias e três empates, vencendo os seis jogos em casa, com 24 golos marcados e dois sofridos.
Com 30 pontos em 12 partidas, conseguimos uma média de 2,5 pontos por jogo, o segundo melhor registo na zona europeia em igualdade com a Inglaterra, que alcançou 25 pontos em dez encontros. Ambos os países foram superados pela Holanda, que conseguiu uma média de 2,67 pontos.
Portugal atingiu o quarto lugar, protagonizando uma bem-sucedida campanha na fase final, na Alemanha.
Os triunfos na fase de grupos sobre Angola (1-0), Irão (2-0) e México antecederam uma vitória, por 1-0, frente à Holanda, por ocasião dos oitavos-de-final.Portugal assegurou a presença nas meias-finais após ter batido a Inglaterra por três bolas a uma, no desempate por grandes penalidades, mas a selecção nacional não conseguiu evitar a derrota de um único golo frente à França, isto antes de novamente contra a Alemanha, por 3-1, desta feita no jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares.
Em 2004, Portugal foi finalista vencido no Europeu, que organizou com enorme sucesso, perdendo o primeiro e o último jogo do EURO contra a Grécia. Mas, pelo meio, os portugueses estiveram imbatíveis.
Após ser surpreendido no encontro de abertura, Portugal bateu a Rússia, por 2-0, e a Espanha, por 1-0, vencendo o grupo. Nos quartos-de-final, Portugal levou a melhor sobre a Inglaterra no desempate por grandes penalidades, num emocionante jogo que terminou empatado a dois golos, após 120 minutos. No embate de acesso à final, os anfitriões bateram a Holanda, por 2-1.
Um golo de Angelos Charisteas, aos 57 minutos, deu o título europeu à Grécia na final do Estádio da Luz. Portugal falhou a conquista do título em casa, não conseguindo imitar o que tinha sido conseguido pela Espanha em 1964, pela Itália em 1968 e pela França em 1984.
A melhor participação de sempre de num Campeonato da Europa, Portugal conseguiu em 2004, quando perdeu a final para a Grécia. Antes disso, os portugueses tinham chegado por duas vezes às meias-finais, onde a França foi sempre o carrasco.Em França, em 1984, os gauleses venceram por 3-2 num jogo emocionante que teve lugar no Stade Vélodrome, em Marselha. A França de Platini venceu a Espanha na final e sagrou-se campeã europeia. Esta viria a vencer, de novo tangencialmente, 16 anos depois. Os franceses precisaram de uma grande penalidade para bater Portugal no prolongamento, num jogo que teve lugar no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas. Quatro dias mais tarde, a França bateu a Itália na final.
Portugal apurou-se pela quarta vez consecutiva para uma fase final de um Campeonato da Europa, tendo-se qualificado pela primeira vez em 1984.
Quanto a estatísticas, até ao final da fase de apuramento do UEFA EURO 2008 Portugal disputou 108 jogos em 13 participações em Campeonatos da Europa, com um total de 58 vitórias, 26 empates e 24 derrotas, marcando 183 golos e sofrendo 98.
As maiores goleadas de Portugal na prova foram de 8-0, ambas impostas ao Liechtenstein, a 18 de Dezembro de 1994 e a 9 de Junho de 1999. No jogo mais recente, João Pinto e Sá Pinto conseguiram "hat-tricks".
As maiores derrotas sofridas pelos portugueses deram-se em deslocações à Europa do leste e terminaram com goleadas de 5-0. A 30 de Abril de 1975, Portugal perdeu na Checoslováquia, antes de ser derrotado na URSS a 27 de Abril de 1983.
Futebol perde Petit
Petit revelou que deverá deixar de jogar pela selecção de Portugal a seguir ao UEFA EURO 2008. Com 53 internacionalizações e quatro golos com a camisola portuguesa, esta será a quarta participação de Petit em grandes competições, após as presenças nos Mundiais de 2002 e 2006 e no Campeonato da Europa de 2004. O anúncio foi feito em conferência de imprensa, realizada durante o estágio em Viseu.
O médio benfiquista viveu uma época fustigado por lesões na coxa e no joelho, o que levou a participar apenas em 17 jogos do Benfica no campeonato que findou - a sua pior época em nove anos de presenças no escalão principal. Petit competiu em sete dos 14 jogos de Portugal na fase de qualificação para a prova da Áustria e Suíça e, apesar das condicionantes, garantiu que estará nas melhores condições: "Tive uma época complicada por causa das lesões, mas vou estar ao meu melhor nível no Europeu".
Nascido em Estrasburgo, França, Armando Gonçalves Teixeira abandona a selecção mesmo antes de completar 32 anos de idade. Estreou-se em 2001 frente à República da Irlanda e conta com 53 presenças na equipa principal portuguesa. O médio do Benfica afirma que este é o seu segundo europeu, a juntar a duas presenças em mundiais.
Sobre as possibilidades de Portugal na prova, considera ser "essencial” entrar bem no primeiro jogo, argumentando que “os portugueses gostam da fasquia alta”. Reconhece ainda que, “se o país não passar a fase de grupos não vai a lado nenhum”, mas se estivermos “unidos, fortes e coesos, então podemos chegar longe. Sabemos que a primeira fase é muito importante".
Referindo-se a Miguel Veloso e João Moutinho, afirma que Portugal tem “jogadores com grande futuro no meio campo da selecção” e acrescenta que “provavelmente está na altura". Segundo o jogador de 31 anos, "provavelmente este será o último Europeu e os últimos jogos pela selecção".


Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.

A riqueza dos Açores está na sua dimensão

A imagem dos Açores não existe

Os Açores não estão “comercializados” a nível internacional, é o que falta à Região. E para isso, são necessários investimentos de empresários estrangeiros ou mesmo madeirenses, que têm mais “experiência e know-how” na área do turismo.
Outro grande “perigo” no futuro é trabalharmos com operadores externos, que ficam com a maior parte da receita. Não temos capacidade para dominar todo o circuito e fica muito pouco dinheiro nos Açores.
Cabral Vieira, director do DEG da Universidade dos Açores, defende ainda que a riqueza dos Açores está na sua dimensão e na sua diversidade, “produto que deve ser vendido”.

Os Açores ainda têm um longo caminho a percorrer para serem um destino turístico conhecido. A sua maior riqueza, ao contrário do que se possa pensar, reside precisamente na dimensão e diversidade das ilhas, características que as tornam muito mais ricas, do que a Madeira, por exemplo. Os transportes aéreos, apesar de já se terem desenvolvido continuam a ser um “bloqueio” ao desenvolvimento da Região a nível turístico. Outra solução para desenvolver o turismo, nestas lendárias ilhas da Atlântida, está na criação de circuitos integrados entre os Açores e a Madeira, em termos de transportes.
Cabral Vieira, director do Departamento de Economia e Gestão da Universidade dos Açores, considera o Turismo o “grande potencial” da economia regional. “Há muito a fazer nesta área e o marketing não está feito, o produto Açores não está desenvolvido”- salienta, acrescentando que ainda existem “muitas ideias erradas” sobre a Região e as suas potencialidades.
Não querendo nomear “partidos políticos”, o director do departamento aproveita para dizer que, mesmo os governantes “pensam de forma errada”.
“Os governantes justificam-se muito com a dispersão e a dimensão das ilhas, que é precisamente onde está a nossa riqueza. Somos grandes, mas somos dispersos, porque temos muito mar e muita riqueza” - sublinha, argumentando que os Açores seriam “muito mais pobres”, do ponto de vista turístico, se estivessem “reduzidos” a uma ilha como a Madeira. E continua, afirmando que a grande riqueza da Região está na sua dimensão diversidade, o que é preciso “transformar” num produto que seja “comercializado e vendido”. Cabral Vieira lamenta também o facto de que, “na Holanda as pessoas não sabem o que são os Açores, nem onde ficam”, mas, em contrapartida, “todos” sabem onde fica a Madeira, uma Região, do ponto de vista de diversidade, muito mais pobre que os Açores.
Os Açores têm “muito mais potencialidades”, mas “o seu produto não está desenvolvido no mercado, apesar de ser um potencial já identificado pelos governantes”.
Ainda há muito caminho a percorrer, enfatiza, há muito a fazer na “imagem do marketing” e há que perceber quais são os nossos produtos para “agradar” aos turistas. “A imagem dos Açores não existe actualmente”, como acontece com a madeira e tem de existir – alerta, acentuando, mais uma vez, que os Açores são “muito mais ricos” sob o ponto de vista turístico, do que a Madeira, mas são “muito menos comercializados e menos conhecidos”.
Quanto ao que poderia ser feito para mudar este panorama, o director do departamento avança que o turismo deveria ser feito “de forma Adhoc”.
“Os turistas deviam ser trazidos aqui, colocados num hotel e devia-lhes ser logo vendido um programa com circuitos turísticos e com o que cada ilha tem de diferente. A pequenez vende-se; as quedas de água das Flores; as praias de Santa Maria; as Furnas em São Miguel; o património histórico da Terceira; as Fajãs de São Jorge; os moinhos da Graciosa e; os Capelinhos no Faial vendem-se, porque há turistas interessados nisto”. Isto implica, “obviamente”, que seja feito um “plano turístico e de comercialização” dos Açores, um trabalho, a seu ver, bastante mais “profundo, mas sem este plano e continuando assim, os Açores não têm grande futuro”, do ponto de vista da comercialização.
Estratégia e Sectores
Quanto à estratégia e os sectores, argumenta estarem “bem identificados”. O grande desafio que coloca aos governantes da Região é o da “comercialização”, pois, avança, o modelo actual “não é um modelo de futuro”. Diz ser um “bom” começo, mas o processo não está concluído, tem que se avançar mais e “evoluir muito” na área da comercialização.
“Os Açores terão de ser tão conhecidos no mundo como a Madeira, porque são muito mais ricos e têm muito mais potencialidades. É óbvio que a Madeira tem um processo histórico, centenário de turismo e os Açores não, mas não podemos contentar-nos com isso. Temos que o ter, para mostrarmos os Açores ao mundo”- esclarece. Reconhece ainda que tem sido feito muito “investimento” nessa área, mas ainda há muito a fazer. “Sobretudo, é importante trazer para os Açores pessoas que tenham um bocadinho de experiência, investidores externos e alguns técnicos que percebam de marketing e de como se comercializam ilhas no mercado internacional e; com experiencia na área do turismo”, porque não é “vergonha” nenhuma pedir o que não temos capacidade de fazer. Nós açorianos, temos algum “espírito empresarial”, mas “dificilmente” conseguimos comercializar essa área. “A Madeira tem muito investimento inglês, não é só o governo regional da Madeira que trabalha neste sentido” - salienta.
A própria questão dos transportes aéreos, admite, ainda é um “bloqueio” ao desenvolvimento do turismo, mas já muito foi feito nessa área. Lembra que “não havia hotéis, pois não havia transportes e vice-versa”, mas com o desenvolvimento da SATA Internacional acabou-se um pouco essa ideia. Na opinião de Cabral Vieira, os transportes, apesar de serem um bloqueio, desenvolveram-se bastante e “criaram-se condições para que o número de camas na Região e a capacidade de alojamento aumentasse”. O que falta ainda são alguns “investidores externos”, que tenham também interesse na hotelaria regional e que eles próprios possam “comercializar” o destino Açores. Já os transportes nos Açores estão, “mais ou menos, liberalizados”- salienta, explicando não estar a referir-se aos voos entre os Açores e Lisboa, mas “os voos charters podem fazer-se para qualquer país do mundo e em qualquer companhia”.
O problema, lamenta, é que os investidores açorianos não têm interesse em fazê-lo e a Região está a utilizar “operadores externos, que são um perigo enorme, pois vendem os Açores relativamente caros”. Os Açores não são um destino barato, admite, mas “a maior parte da receita não fica nos Açores, fica na mão dos operadores”.
“É um dos grandes perigos no futuro, não termos capacidade para dominar todo o circuito”, dai a importância de ter algum investimento externo (estrangeiro), o que até este momento ainda não existiu - relata, insatisfeito. Era extremamente interessante ter algum “investimento vindo da Madeira, potencialmente em termos de ideias, para ser realizado nos Açores”. Outra possível solução apontada pelo director para um maior desenvolvimento dos Açores, eram “investimentos a nível dos transportes aéreos e da hotelaria entre os Açores e a Madeira em circuito integrado”. O que seria feito, “não a nível das entidades, mas sim dos empresários”.
Cabral Vieira lembra que estes dois arquipélagos são vistos sempre como “destinos autónomos ou independentes” e podiam ser enquadrados num destino, desde que houvesse investimento comum. Por isso, diz ver com “muito bons olhos” o interesse de alguns empresários madeirenses em “investir no turismo” dos Açores, pois o investimento madeirense é “extremamente importante” também.
Mesmo assim, afirma ter “muitas dúvidas de que o turismo vingue nos Açores e seja uma actividade extremamente rentável e importante para o desenvolvimento dos Açores”. Falta “comercializar os Açores no mercado internacional”, temos dois ou três operadores que trabalham com o mercado sueco e com o dinamarquês, mas actualmente é “insuficiente”.
Na área das Relações Públicas no que toca aos hotéis, Cabral Vieira reconhece também que ainda há “muito” a fazer. Pedindo “desculpa” aos empresários regionais, diz não acreditar que os Açores tenham capacidade para isso, pois não têm “experiência na comercialização e na prestação de serviços aos turistas, não têm essa tradição”. Por estes motivos, a Região precisa de “alguém de fora que ponha os hotéis açorianos ao nível dos madeirenses ou das Canárias, sítios onde há muita animação” e, por vezes, basta um pouquinho de “imaginação ou promover aquilo que já se faz e como se faz”. O director defende que não temos “know-how” nos Açores para isso, apesar de termos cursos de formação, isso será “insuficiente”.
“Porque não ir buscar pessoas que já estão habituadas a trabalhar com mercados internacionais? Os empresários têm de ter esse interesse, pois só assim os Açores se podem desenvolver a nível turístico. O turismo tem de ser desenvolvido para beneficiar os residentes nos Açores”- conclui.
Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Junho de 2008.


quinta-feira, 5 de junho de 2008

Viver a vida com calma

Santos e Pecadores vêm aos Açores

Os Santos e Pecadores comemoram este ano 16 anos de existência e estarão, amanhã, no Pico para um concerto íntimo acústico, ao qual se espera que os fãs adiram em massa. Lançaram o Livre-Trânsito em formato digital, trabalho que conta com a participação de vários músicos, como a fadista micaelense Kátia Guerreiro, pois pretendem uma proximidade das “novas tecnologias e da nova forma de consumo”.

Esquecer os problemas do dia-a-dia, desfrutar a vida com calma e a preocupação em preservar o ambiente, são os conselhos que Pedro Almeida, guitarrista da banda, envia aos nossos leitores.
A seu ver, os Media deveriam “investir” mais na divulgação da música portuguesa.
Olavo Bilac (voz), Pascoal Simões (teclas), Ruy Martins (metais), Pedro Cunha (bateria), Artur Santos (baixo) e Pedro Almeida (guitarra) formam os Santos e Pecadores, autores de Não voltarei a ser fiel, Fala-me de amor e Momento Final. Três grandes êxitos da banda, que conta já com oito discos gravados.
Pedro Almeida, guitarrista dos Santos e Pecadores, afirma que estes são uma banda de Pop Rock que está no mercado há 16 anos. “Já lançamos oito discos incluindo o disco digital, Livre-Trânsito, que está em distribuição online no nosso site de forma gratuita”-acentua, acrescentando que “basta fazer o download”. Sobre a história do grupo, afirma ser “difícil condensar 16 anos”, até porque a banda já é conhecida.
O Livre-Trânsito, continua, foi gravado em Agosto de 2007, no Auditório João Mota, em formato “acústico” e conta com a presença de vários convidados compilados, quer instrumentistas quer cantores, como “a Kátia Guerreiro e o Orlando Santos”.
Livre-Trânsito é composto por 10 temas e, passado um mês, 3 deles já se destacam como líderes de preferência. Falamos de John Big Dream, Fala-me de Amor e Silêncio da Noite, os dois primeiros do disco Voar (1999) e o terceiro de Horas de Prazer (2001).
Pedro Almeida explica que decidiram lançar um disco digital, porque “ainda ninguém o tinha feito”. Foi uma distribuição “gratuita” e lançaram o álbum “exclusivamente digital”, pois “queremos nos aproximar das novas tecnologias e da nova forma das pessoas consumirem e resolvemos fazer esta experiência”. Curiosamente, o álbum saiu a 15 de Abril e a 15 de Maio já tinham “460 mil” downloads realizados, o que para a banda é “muito gratificante”.
Santos e Pecadores, revela, surgiu como qualquer nome, como se fosse para uma filha, salientando que de entre os vários nomes de que se lembraram, acharam este “interessante, porque representa dois pólos distintos e simboliza também o equilíbrio. Há duas forças opostas e no meio é que está a virtude”.
Recorda ainda que a banda começou numa garagem em Cascais e toca desde 1992, mas “a formação criada em 2002 mantém-se até hoje”.
Quanto à mensagem que a banda quer transmitir, Pedro Almeida afirma ter a ver com a atitude da banda. Esta quer que as pessoas se “esqueçam dos problemas do dia-a-dia, se descontraiam, passem um bom momento a ouvirem a nossa música ou a assistirem aos nossos concertos, vivam a vida com calma e desfrutem dela”. É essa a postura, pois “para problemas já chegam os telejornais”- enfatiza.
Pedro Almeida aproveita ainda a ocasião para alertar as pessoas face às “questões ambientais, a um entendimento com as pessoas e à tolerância”, dizendo que estas devem “preocupar-se com o ambiente, preservá-lo, tentar melhorá-lo e fazer com que a sua participação na sociedade seja activa neste sentido”. E deve haver “tolerância” entre os povos e as raças”.
“Tentamos sempre positivar o perigo em relação à vida” - sublinha, acentuando que o que tenta passar é que as pessoas quando estão com a banda, “presencialmente, ou não”, passem o momento e se “olvidem dos problemas do dia-a-dia e das notícias”. O que interessa, a seu ver, é dar “o lado positivo da vida” - atitude que, diz, “não foi pensada”, mas foi a que tomaram.
Quanto às temáticas das canções, esclarece, são “histórias comuns a nós e a qualquer ser humano”, que abordam temáticas como as “relações afectivas e pessoais; os problemas que nos inquietam como a solidão e o medo; a alegria e o amor”, vertente que considera também “importante” na vida de uma pessoa.
O tema Não voltarei a ser fiel, recorda, tem música de Olavo Bilac e letra de Miguel Ângelo, Fernando Cluni e também de Olavo, argumentando que o que está patente na letra é um “sentimento de perda e de traição, que dá sempre um amargo na boca”. Não foi um tema que quisessem abordar, salienta, avançando que não significa que se esteja a “mostrar a depressão”, mas ainda por cima “toda a gente” tem uma situação dessas. Mas, “a canção não é bibliográfica” nesse sentido, até, porque foi escrita por três pessoas e tinham os três que estar a passar pelo mesmo.
Conta que já visitaram os Açores, “muitas vezes”, conhecendo todas as ilhas, excepto a Graciosa e ao Corvo, revelando que desta vez, a oportunidade surgiu, porque é “muito amigo de Rui Lima, que explora o Bar do Clube Naval no Pico”. Daí surgiu esta parceria para darem um concerto, que, lembra, faz parte desta campanha de promoção e de divulgação deste disco.
Questionado sobre se a música portuguesa ainda é preterida face à estrangeira, avança que “o público é bastante justo e interessa-se pelo que tiver interesse”. Por outro lado, defende os Media é que podem divulgar e têm a capacidade de fazer chegar este ou aquele produto ao mercado e, “muitas vezes, não o fazem, dando importância a notícias de maior impacto” - lamenta.
“Os Media não querem fazer um trabalho mais difícil, o de dar a conhecer coisas que ainda não são conhecidas, mas que daqui a uns tempos podem vir a ser algo sério no mercado nacional. É isso que está a faltar, um maior investimento dos Media de uma forma geral para dar a conhecer a música nacional. E isso faz falta, porque se as bandas tiverem qualidade, o público tanto vai gostar da música portuguesa, como da estrangeira”-sublinha, acrescentando que “não vai do público, mas dos canais que podem fazer chegar-lhe a informação”. E, ressalva, fala de uma “maneira geral”.
Referindo-se à possibilidade de escrever uma música sobre os Açores, contrapõe que a música “surge de repente”, e que não pensam, concretamente, em fazer algo sobre nada em específico. A música surge e “às vezes tem a ver com o local”, argumenta, avançando que, na sua opinião, “há possibilidades de isso acontecer nesta próxima viagem”. Mas, “não é uma obrigação, nem uma promessa”- alerta.
Em termos futuros, explica que o lançamento deste trabalho digital no fundo é o “emissário” para o novo disco. “Estamos a preparar o terreno para um disco que já estamos a compor e que, provavelmente, iremos gravar em Agosto ou Setembro deste ano e que temos pretensão que saia em Janeiro ou Fevereiro de 2009”, pois todo este processo já é uma “campanha de marketing” para este próximo disco.
Questionado sobre qual o maior ‘pecado’ da banda, afirma não saber, pois, argumenta, “é muito difícil termos consciência de nós próprios”, acrescentando poder ser este o ‘pecado’ do grupo.

A Banda

Em 1993, os Santos & Pecadores assinaram um contrato com a BMG e decidiram cortar radicalmente com o passado, repensar o estilo e as músicas que tinham composto, com apenas uma excepção à regra, tema "Não Voltarei Ser Fiel", que se tornou um dos grandes êxitos do grupo.
Em 1995 é editado "Onde Estás?", o primeiro disco do grupo. O álbum é gravado nos estúdios "1 Só Céu" (dos Delfins), e produzido por Fernando Cunha. As letras são também de sua autoria e de Miguel Ângelo. Este disco conta ainda com a participação de Rui Fadigas, Alexandre Frazão, Catarina Furtado (que participa no tema "Nada Mudou"), e Olavo Bilac (pai) que participa num dueto em "Fruto Proibido".
A música do grupo é apoiada num visual forte e numa presença enérgica em palco. Trata-se de um espectáculo que vai intercalando algumas baladas com um som mais funky. Argumentos estes que tornam os Santos & Pecadores numa das bandas que mais concertos realiza em 1995.
Para além do álbum "Onde Estás?", esta conta com temas incluídos noutros discos, como "Perdi a Memória", em homenagem a António Variações. Contribuíram com "Onde Estás?" e "Nada Mudou" para o disco “Primeira História de Amor”, uma colectânea inserida na campanha "Todos Diferentes, Todos Iguais". "Não Voltarei a Ser Fiel", um dos êxitos do grupo, é incluído na colectânea EMI Nº1 no Natal de 1995. O disco "Onde Estás?", incluindo duas novas versões do tema "Superstar" (versões eléctrica e acústica), produzidas por Mário Barreiros, é reeditado em Março de 1996.
Em Novembro de 1995, os Santos & Pecadores regressam com o seu segundo disco de originais - "Love?" - revelando que os muitos quilómetros de estrada, que já percorreram, e os inúmeros concertos que deram nos últimos dois anos, se traduzem num grande amadurecimento, que veio consolidar a sonoridade que a banda havia revelado no seu álbum de estreia.
Com este trabalho, os Santos & Pecadores dão um passo importantíssimo, afirmando-se como uma das bandas portuguesas mais promissoras e importantes na área do Pop/Rock. Inúmeros temas ganham destaque incontornável, tais como "Quando Se Perde Alguém", "Satisfaz-me", "Deixa Andar", "Sei Lá", "Falas de Mim", "Memória", com letra da autoria de Pedro Ayres Magalhães, "Love?" e "Momento Final", ainda hoje uma das canções mais emblemáticas do grupo.
O disco tem a produção a cargo de Carlos Maria Trindade (Madredeus). Na mesa de mistura conta com Jonathan Miller como Engenheiro de Som. Em Abril de 1997 conquistam o Duplo Galardão de Disco de Ouro para ambos os trabalhos editados.
No final de 1997, é editado o primeiro álbum ao vivo, como que em forma de recompensa para o vasto público que os acompanha. Gravado no Paradise Garage, "Tu" permite sentir a energia e emoção de um concerto dos Santos & Pecadores, imortalizando momentos inesquecíveis destas apresentações ao vivo.
Já em 1998, para além dos inúmeros concertos dados por todo o país, os Santos & Pecadores iniciam o processo de composição, pré-produção e gravação do seu próximo registo. O álbum "Voar", com produção de Mário Barreiros é editado em Maio do ano seguinte. Após um mês da edição, "Voar" entra para o número 1 no Top Nacional de vendas. Em atinge o Galardão de Disco de Platina.
No final do ano de 2000, depois de uma longa Tour, os Santos & Pecadores começam a trabalhar num novo disco: "Horas de Prazer", produzido e gravado em Espanha (Madrid) pelo produtor Carlos Martos, sai nas bancas em Setembro de 2001. O tema escolhido para single tem o mesmo nome.
2002 revela-se um ano muito importante na carreira do grupo: para além da digressão e promoção de “Horas de Prazer”, trata-se também do 10º aniversário da banda, com a formação actual. É também nesse ano que a banda compõe quatro temas exclusivamente para a telenovela "Amanhecer" da TVI.
O best of "Os Primeiros Dez Anos", que é lançado no inicio de 2003, inclui três temas originais chegando ao Galardão de Disco de Ouro em poucas semanas e alcança o terceiro lugar do top nacional de vendas. "Ondas" é o primeiro single escolhido. Seguem-se dois anos de estrada de palco em palco.
Entre Dezembro 2004 e Maio 2005, os Santos & Pecadores preparam o sétimo disco mas nunca deixam de tocar ao vivo nesse período. Para este trabalho a banda escolhe o produtor canadiano Jeffrey Holdip, também técnico de som da Luso-candiana Nelly Furtado. A gravação decorre no BBS estúdio do guitarrista da banda durante o verão de 2005 e origina o trabalho "Acção>Reacção", apresentado à imprensa em Janeiro 2006. "Miss Solidão" e "Lua Cheia" são escolhidos para singles e para fazer parte do elenco musical de telenovelas do canal nacional TVI.
Em 2008, depois de dois anos de muitos concertos, o grupo dá que falar. Pela primeira vez em Portugal disponibilizam, de forma totalmente gratuita, um trabalho discográfico. Através do seu site oficial, site do Sapo e da Rádio Comercial, dia 15 de Abril, “Livre-Trânsito” chega ao público através de download livre, sem qualquer encargo financeiro, como forma de carinho e reconhecimento ao público que os vem a acompanhar ao longo de 15 longos anos. As canções que o integram são cuidadosamente escolhidas, a fim de abrangerem toda a carreira do grupo, dando assim a possibilidade a todos de conhecerem grande parte do seu património musical. “NÃO VOLTAREI A SER FIEL”, “DEIXA ANDAR”, “QUANDO SE PERDE ALGUÉM”, “SILÊNCIO DA NOITE” (participação especial de Orlando Santos) – single do trabalho acústico, “ESTOU PERDIDO”, “ESPELHO D’ÁGUA”, “FALA-ME DE AMOR”, “JOHNY BIG DREAM”, “PERDAS” (em dueto com Kátia Guerreiro) e “LUA CHEIA”.

Drama: crianças em lista de espera

Educação: Creches e Infantários
Nos jardins-de-infância a situação não é tão preocupante, mas há muita falta de creches em São Miguel, nomeadamente em Ponta Delgada. Segundo Marina Vieira, coordenadora do núcleo do Infantário de Ponta Delgada, as listas de espera para as matrículas do próximo ano lectivo são "imensas". Os pais mostram-se "aflitos", chegando mesmo a "insistir" para que o seu filho (a) tenha vaga na instituição, acrescenta. Marina Vieira aproveita ainda para salientar que a escola não pode ser considerada a única responsável pelo desenvolvimento da criança. Nas reuniões, normalmente, aparecem os pais que estão mais "atentos" às actividades do filho(a) e com quem o estabelecimento tem mais contacto ao longo do ano, enquanto os que realmente precisavam de estar a par do que acontece, faltam.

Saídas do colo dos pais ou de avós extremosas, as crianças, mais cedo ou mais tarde, têm de ir para o colégio. A necessidade é muita, mas a escolha é muito pouca, principalmente quando se trata de bebés de quatro ou cinco meses. A falta de creches é evidente e deixa os pais muito preocupados.
Marina Vieira, coordenadora do núcleo escolar da Escola Básica e Integrada Canto da Maia, começa por dizer que o infantário de Ponta Delgada é uma instituição, que acolhe cerca de 112 crianças, com "duas valências, a creche e o jardim-de-infância", que podemos considerar "atípica", pois dá resposta a determinadas necessidades que, normalmente, os outros jardins-de-infância da função pública não dão, nomeadamente a "componente de apoio social".
"Os meninos podem ficar no infantário a partir das 15 horas, o que não acontece nos outros jardins-de-infância públicos"- esclarece, avançando que a creche é, normalmente, da responsabilidade do Instituto de Acção Social. A creche do infantário é a única que pertence à Secretaria da Educação devido à sua história, pois anteriormente "este pertencia ao Ministério da Educação, depois teve algumas evoluções, tinha autonomia administrativa e agora com a integração de todos os jardins-de-infância nas básicas integradas e devido à sua localização passou a pertencer à básica integrada Canto da Maia" - recorda. O infantário acolhe à volta de "112 crianças".
Referindo-se às matrículas para o novo ano lectivo, afirma serem "imensas". Avança ainda que o infantário sempre teve uma "grande afluência" de pessoas a procurarem tanto a creche como o jardim-de-infância, mas sobretudo a creche.
"Sentimos que há uma grande necessidade de instituições para essas idades, entre os quatro meses e o ingresso no pré-escolar, no qual a criança tem de perfazer três anos até Dezembro"-salienta.
Nessas idades, por volta dos quatro meses até aos dois anos e alguns meses "há uma grande procura e há pessoas que vêm muito aflitas, pessoas que vêm do continente já depois do período de inscrição, matricula e selecção propriamente dita"- sublinha, esclarecendo que o infantário é, sobretudo, para as "crianças cujos pais ou encarregados de educação se desloquem para Ponta Delgada no exercício da sua actividade profissional e, em primeiro lugar, que se sejam funcionários públicos. Claro que, havendo vagas, entram aqueles cujos pais não são funcionários públicos e que estejam na mesma situação". Por isso, tem de haver a componente de apoio social integrada, na prestação de serviços à comunidade.
Falando nas creches, afirma que a procura é "incrível", explica ainda que ficam com "imensas crianças em lista de espera". Apesar de nos finais de Junho haver muita criança que desiste, pois agora é prática comum "inscrever as crianças em todas as creches da zona. E depois, conforme vão sendo aceites, desistem das outras", só em princípio de Julho ou fim de Junho é que vão "começando a arrumar a casa e a criar as turmas".
Até lá, reconhece ser "muito difícil", pois todos se inscrevem e ficam com listas de espera "intermináveis, sobretudo da creche". Recorda também, que, "no ano passado, até houve inscrições que davam para abrir mais uma sala de cada idade a nível de creche". Por outro lado, conta que conseguiram dar resposta, ficando "apenas algumas crianças em lista de espera", mas depois com as desistências conseguiram dar resposta a "quase todas" as crianças. Até, porque agora com a nova legislação, alerta, "a capacidade aumentou, há um maior número de crianças por sala, havendo mais capacidade de resposta" nestes casos.
"As crianças podem ir até aos 25 por sala, mas tem a ver com o espaço e como as nossas salas não são de grande dimensão, temos ido até às 20 crianças por sala"-esclarece, avançando que talvez o Instituto de Acção Social abra mais algumas instituições de creche, mas neste momento, sente haverem "dificuldades".
Acrescenta ainda que as pessoas vão ao infantário "aflitas e insistem" para que coloquem lá as crianças, mas salienta ter de "obedecer" aos critérios de selecção definidos numa portaria específica e de ser "justa" na selecção. Por outro lado, constata que as pessoas têm "muita dificuldade em arranjarem uma instituição onde deixar os filhos", lembrando existirem também umas "mini creches", que não conhece pessoalmente e que surgem para colmatar estas dificuldades. O recurso às amas, é "outra saída".
Em termos de material, afirma receber "tudo o que é necessário" da escola Canto da Maia e o que eles têm "possibilidade" de dar, pois sabe que o país atravessa uma "fase de recessão económica" e compreende que a referida escola tem de dar essa resposta a todas as outras escolas.
"Mas, sempre que possível, temos tido o pessoal, o material necessário (incluindo material de desgaste, que "nunca falta") e também a colaboração dos pais, o que "é preciso que se diga".
"Às vezes, há um tapete que se quer mais bonitinho, não porque ele não exista, mas porque vai passando de moda. E os pais também querem que os filhos estejam num ambiente mais agradável e vão ajudando"- explica.
No que toca a 2008, Marina Vieira revela que têm conseguido "reformular algum do mobiliário" e conseguiram alguns "jogos e material didáctico".
Afirma também que, muitas vezes, "a Associação de Pais também colabora, tendo fornecido já "um DVD, livros no Natal e prendas noutras festividades".
Abordando as maiores dificuldades que enfrenta na gestão do infantário e falando da sua experiência, Marina Vieira afirma que uma das maiores é "falta de tempo".
"Como coordenadora e tendo um grupo de crianças é muito difícil gerir toda a vida do infantário, porque, sendo esta instituição atípica (abre logo às 8 horas da manhã e fecha às 18h30) e tendo a componente de apoio social e a creche, muitas vezes falta alguma pessoa e eu não tenho possibilidade de estar a juntar salas"-lamenta, reconhecendo ainda que estas crianças necessitam de um "apoio muito especial e muito individualizado, pois são muito pequenas e às vezes é muito difícil ter a disponibilidade, que tenho de arranjar, para resolver este assunto". Diz ser difícil "conjugar esta vertente com os problemas do quotidiano", questões mínimas como uma porta que não abre ou um vidro partido, por exemplo, mas que "exigem tempo". "Sinto-me, por vezes, extremamente dividida"- confessa, acrescentando que outra dificuldade, que têm conseguido "superar", é a "falta de pessoal". O que se torna "um pouco limitativo", devido à "idade avançada do pessoal auxiliar", em algumas actividades com crianças mais pequenas. Mas, de momento, diz que não têm tido muita razão de queixa, não estão em situação crítica, porque no final do ano "o conselho executivo contratou duas pessoas para substituir dois elementos que cá estavam através do programa CTTS". Claro que, admite, não fazem parte do quadro, mas "se estes dois elementos saíssem ai a situação ficaria muito problemática". Actualmente, "até estamos bem", mas, esclarece, que se tiverem em conta a questão das "faltas," dadas por alguns "problemas de saúde comprovados clinicamente, as coisas complicam-se mais". Mas, sobretudo, este ano o problema ficou "solucionado".
Referindo-se às diferenças entre uma instituição pública e uma privada, avança que as diferenças têm-se "atenuado", mas admite não estar muito dentro da legislação de uma e outra. Antigamente havia uma "grande" diferença, recorda, avançando que a nível do particular "havia um maior número de crianças por sala" e agora é quase o mesmo em ambas.
A nível de instalações, reconhece existirem instalações oficiais que funcionam ainda em "espaços antigos" e que precisam de ser reformulados. Algumas instituições particulares que conhece, talvez tenham espaços mais "interessantes, com mobiliário mais actual, mas não é regra, depende muito de uma instituição para outra".
Em termos de regalias do pessoal docente, diz não saber qual a situação actual, mas lembra-se que há uns anos a diferença era grande. "Havia uma discrepância muito grande a nível das regalias, porque o pessoal docente tinha no particular muito mais regalias"-salienta, avançando que "não se pode generalizar", pois o infantário é uma instituição "antiga, mas que tem sido actualizada e conservada o melhor possível, para que o espaço seja agradável e apelativo às crianças". Claro que são espaços que foram "adaptados" para o efeito, não tendo sido construídos com o objectivo de se tornarem creches ou jardins-de-infância – explica, afirmando que já no pagamento da mensalidade, a diferença é "absoluta".
Marina Vieira afirma ainda que no infantário, as crianças pagam uma mensalidade de acordo com os seus "rendimentos".
"A nível de jardim-de-infância pagam só a componente de apoio social, das 15 horas às 18h30, porque se uma criança à partida pedir a dispensa e esta for autorizada, pagará apenas as refeições", o que fica "muito mais em conta", pois trata-se de uma instituição oficial.
A creche, por sua vez, não funciona assim, "tem uma tabela própria, pois são salas que exigem mais pessoal e uma alimentação específica, que é feita mesmo no infantário. Há outro tipo de cuidados, não quer dizer que a nível do jardim-de-infância estes cuidados não existam, mas sabemos são mais novinhos e o trabalho tem de ser mais especializado, os cuidados na higiene, tudo isso. Depois eles vão crescendo, criando defesas e o desenvolvimento físico já é outro. Quando são pequeninos acarreta muito mais atenções e encargos"- enfatiza.
A coordenadora do núcleo explica ainda que a creche do infantário tem de continuar a existir, por haver "muita necessidade" de creches, pois, à partida, "os primeiros anos de vida não são da responsabilidade da secretaria da educação", mas, sim, da Segurança Social. "Além de, assim, podemos receber os irmãos mais novos" das crianças que já temos e, desta maneira, há um trabalho contínuo, que é uma das "mais-valias" do infantário. "Uma criança que entra para aqui desde bebé e que é acompanhada, muitas vezes não o pode ser pela mesma educadora, mas há sempre um elemento, mesmo auxiliar, que vai acompanhando aquele grupo, o que proporciona uma estabilidade muito grande a nível de trabalho e estabilidade emocional, o que é muito bom que aconteça"- esclarece, afirmando não saber se irá continuar, mas, de momento, "faz muita falta".
Outro aspecto importante é o facto de que, "as crianças ao terminarem o infantário, têm prioridade para entrar na escola do Carvão. Depois do horário da escola, por volta das 15 horas, há um ATL para estas crianças"- esclarece, afirmando que em princípio, este projecto da Associação de Pais, "mantém-se".
"O projecto foi posto em prática no início deste ano lectivo e correspondeu às necessidades. Até porque só havia o ATL das Cáritas e muitos pais tinham dificuldade quando os filhos saíam da escola às 15 horas, pois não tinham onde os deixar"-acrescenta.
Explica ser coordenadora, mas apenas com "responsabilidade pedagógicas e da gestão dos assuntos da rotina diária", porque em termos administrativos e económicos "depende tudo" da Canto da Maia, até mesmo o pagamento das mensalidades.
São questões que lhe "escapam" um pouco, confessa, porque "privilegia" as questões pedagógicas e têm tido o "reconhecimento" dos pais, acerca do trabalho desenvolvido a nível pedagógico no infantário, o que, afirma não saber se é o que leva a uma "grande procura" do infantário. "Quando as pessoas dizem que confiam na instituição e no trabalho desenvolvido, que é uma garantia e os pais sentem-se mais seguros ao inscrever o seu filho numa instituição assim"- ressalva.
A coordenadora aproveita ainda a ocasião para dizer que o infantário, ou qualquer outra instituição, "nestes primeiros anos de vida é muito importante", mas tem de funcionar como "complemento do trabalho, da relação e da educação que os pais dão em casa".
"Tem de haver uma relação muito estreita entre a família e a escola e, a família não pode de forma nenhuma passar todas as responsabilidades da educação dos seus filhos para a escola"- alerta, reconhecendo também que a escola tem "responsabilidades" e pessoas com formação, para desenvolver as crianças e para chamarem, às vezes, os pais, no sentido de trabalhar em "sintonia" com eles.
Mas, ultimamente, defende, "a escola tem sido responsabilizada por tudo, tudo compete à escola e não pode ser", pois a família é "fundamental" para um desenvolvimento "harmonioso"da criança, e só trabalhando em sintonia com a escola o desenvolvimento da criança é "realmente positivo e verificam-se evoluções e progressos". A família é muito responsável pelo desenvolvimento dos seus filhos.
Mencionando especificamente o papel dos pais ou encarregados de educação e não querendo "generalizar", a coordenadora lamenta o facto de nas reuniões não aparecerem "tantos pais como era de esperar".
E "muitas das vezes, vêm os que vão mais vezes à escola e que os estão mais atentos ao desenrolar dos projectos, do plano actual de actividades e, os que precisavam de vir, muitas vezes não vêm"- lamenta, acrescentando, porém, que a esse nível até não se pode "queixar", porque no início do ano até têm uma "actividade e participação bastante fortes" por parte dos pais.
Ao longo do ano é que esta intervenção vai ficando mais "desvanecida", mas afirma entender que as pessoas estão "muito cansadas", todos levam uma vida de "grande stress e cada vez se exige mais das pessoas a nível profissional".
"É verdade e temos que reconhecer"-sublinha, contrapondo ser também importante que os pais "não se esqueçam", que são os principais "agentes e responsáveis na educação dos filhos". Revela ainda que, muitas vezes, pedem aos pais que os filhos sejam pontuais, para não perderem actividades e para que o dia decorra com alguma "estabilidade, pois as actividades têm uma sequência lógica".
"São estas pequenas coisas que gostávamos que os pais soubessem que são preocupações deles e, não só, da escola"- conclui.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Maio de 2008.

Andar para matar a fome!

Nações Unidas: Marcha Mundial Contra a Fome


Angra do Heroísmo participa pelo segundo ano consecutivo na Marcha Mundial contra a Fome, organizada pela TNT e pelas Nações unidas. Uma iniciativa realizada em mais de 100 locais distintos e que, segundo Rui Matos, pretende alimentar as crianças que actualmente sofrem de fome crónica. Lisboa, Porto, Coimbra e Angra participam numa operação humanitária, que, em 2007, angariou a nível mundial um milhão e quinhentos mil dólares. Este ano, Portugal pretende contribuir com "cerca de 150 mil Euros", contando com a participação de 15 mil pessoas.

São milhões de crianças que morrem de fome todos os dias. Para atenuar esta calamidade, a TNT e as Nações Unidas organizam anualmente, a 1 de Junho, a Marcha Mundial Contra a Fome, iniciativa a realizar, este ano, em mais de 100 locais distintos.
O objectivo mundial deste evento, de cinco quilómetros, é erradicar a fome e a pobreza extrema no mundo até 2015.
Rui Matos, director de operações da TNT, explica que a marcha mundial contra a fome é uma "manifestação global", que surgiu em 2002 a nível mundial e, a nível nacional em 2004.
Em relação a 2007, revela que a nível global foram angariados "um milhão e quinhentos mil dólares", que serviram para alimentar mais de 30 mil crianças. Em Portugal, "participaram 110 mil pessoas e contribuímos com aproximadamente 68 mil Euros".
Em 2006, participaram 760 mil pessoas, em cerca 118 países, mais de 420 cidades, tendo sido angariados cerca de dois milhões de dólares em todo o Mundo. Portugal participou com mais de 6.000 pessoas.
Tem sido uma participação "crescente" nos últimos quatro anos, enfatiza, mas, este ano, "o desafio é muito maior", porque têm "não só o acompanhamento que tem sido feito a nível dos principais patrocinadores desta iniciativa e que tem sido muito importante, como também a nível de outras entidades e até organizações governamentais que têm estado, mais alerta para esta questão".
"Este ano, creio que iremos contar com a participação de 15 mil pessoas e poderemos contribuir com cerca de 150 mil Euros"- afirma, satisfeito.
Os principais patrocinadores desta iniciativa são o BES, a RTP e a Sportzone, mas têm ainda "inúmeras identidades, tanto câmaras municipais, como empresas multinacionais, que "apoiam e reconhecem" a iniciativa e desenvolvem já um certo "historial" com a organização.
A nível mundial são "mais de 100 locais" distintos, esclarece. Em Portugal realizar-se-ão marchas em Lisboa, Porto, Coimbra e em Angra do Heroísmo.
O director de operações da TNT avança ainda que, Angra do Heroísmo começou a participar nesta iniciativa em 2007. Já tinham desenvolvido o evento em São Miguel e na Horta, mas foi mesmo na fase do "arranque" e nesse ano tiveram uma "colaboração assinalável", por parte do centro cultural e de congressos de Angra do Heroísmo, nas pessoas de Luísa Brasil, Vereadora da câmara municipal, e Brigite Borges.
Salienta também as colaborações da Divisão de Acção Social da câmara da Praia da Vitória, nas pessoas de Fernanda Teixeira e Catarina Rocha e, da loja do Peter's, que tem "demonstrado sempre a sua disponibilidade e dado o seu contributo a este projecto"
na perspectiva da organização em si e de ser "um dos pontos de referencia para as inscrições" dos participantes na marcha – esclarece.
A expectativa para a marcha deste ano é de "15 mil pessoas a nível nacional". Em relação a Angra do Heroísmo esperam um "salto quantitativo muito importante", prevendo ter entre "500 a 100 pessoas, comparativamente ao ano passado, em que tivemos 250 ou 300 pessoas".
Rui Matos chama também a atenção para o facto da marcha contra a fome se enquadrar no World Food Programe e resultar de uma parceria entre as Nações Unidas e TNT Express, servindo todos estes fundos para "adquirir alimentos, que se destinam a crianças que sofrem neste momento com fome crónica". Falamos de um total de "300 milhões de crianças", segundo registos das Nações Unidas, das quais "mais de metade morre de fome ou de subnutrição"- ressalva.
Na sua opinião, esta parceria remarca a "experiência e o Know-How da TNT em termos operacionais e em meios aéreos e terrestres, para fazer chegar os alimentos adquiridos com essas verbas", conjuntamente com a experiência nos pontos mais "deficitários" em todo o mundo por parte das Nações Unidas e resulta numa certeza de que "são planos efectivos que têm uma redução no custo da entrega destes alimentos".
Falamos de "35 Euros"- salienta, afirmando ser quanto custa, "dentro do programa, alimentar uma criança o ano inteiro e providenciar todo o acompanhamento educacional, que está estipulado" dentro do projecto e da campanha do Millenium das Nações Unidas.
Para que se tenha uma ideia, "a participação de quatro pessoas na Marcha Contra a Fome resulta na alimentação de uma criança o ano inteiro", numa das zonas que possa estar mais desprovida, em qualquer parte do mundo.
Os fundos do programa destinam-se a escolas da Nicarágua, Cambodja, Gambia, Tanzânia e Malawi.
Em termos futuros, importa "continuar a sensibilizar e assinalar juntamente com as entidades governamentais, que esta é uma forma importante de sensibilizar toda a sociedade"- argumenta, considerando que a adesão por parte das empresas tem sido "crescente e muito importante", para que consigam "concretizar" este projecto todos os anos.
No dia da Marcha, as pessoas e as empresas têm "a noção que vão contribuir directamente". Trata-se de fazer chegar esta realidade à sociedade em termos de comunicação, sublinha.
Quanto ao facto de a nível regional, a iniciativa contar apenas com a participação de Angra do Heroísmo, avança não existir um "plano definido de todos os anos estar a marcar presença em locais diferentes", explicando estar relacionado com os meios e com o apoio que tem, por parte das entidades culturais ou das câmaras municipais.
"O apoio e suporte que temos tido do centro de congresso e da câmara de Angra tem-nos dado uma certa sustentabilidade no desenvolvimento deste projecto"- salienta, afirmando que, "nos próximos anos, outras entidades ou câmaras que estejam interessadas em apoiar este projecto, terão de certeza hipótese de avançar neste sentido".
Explica ainda que dentro dos meios operacionais, da colaboração das empresas e dos próprios colaboradores da TNT, que se deslocam às várias localidades para "apoiar, organizar e preparar a marcha" no dia em que esta se realiza, estão presentemente "limitados em termos de actuação em muitos mais locais, do que sejam estes. Mas daqui para a frente, certamente, poderão haver outras perspectivas"- contrapõe.
Quanto aos custos que envolvem participar num evento desta natureza, afirma que o projecto tem envolvido "muita participação a nível dos sponseurs, nos transportes, por exemplo", e em alguns dos casos esta participação nem é "quantificável".
Curiosamente, existem alimentos suficientes para alimentar toda a população mundial durante quase meio século. Mesmo assim, a fome e a subnutrição são as causas de mais de metade do número total de mortes de crianças, provocando, todos os anos, a morte de aproximadamente 6 milhões de crianças. Pode ser fornecida uma refeição escolar a uma criança, pela irrisória quantia de 16 cêntimos por dia.
A organização do Walk the World tem o apoio logístico de câmaras municipais, da PSP, entre outras. Para divulgar o evento foi celebrado um protocolo com a RTP, no sentido de promover a participação nesta iniciativa. Ao nível dos media partners, além da RTP, contribuem ainda para a divulgação desta iniciativa a Antena 1 e o Jornal de Notícias.
O projecto Walk the World iniciou-se em 2003, com a participação de 10 países asiáticos, tendo sido alargado a 70 países em todo o mundo, no ano de 2004, com o objectivo de combater a fome de 30.000 crianças a nível mundial.
Em 2007, o Fight Hunger – Walk the World – Marchas contra a Fome contou com a participação de 550.000 mil pessoas, em 93 países e 300 cidades, permitindo alimentar pelo menos 25 mil crianças durante um ano. A nível global, os participantes cobriram uma distância de mais de um milhão de quilómetros, o equivalente a 25 voltas à Terra. O World Food Programme é a maior organização humanitária das Nações Unidas, o seu braço logístico, doando anualmente alimentos a uma média de 90 milhões de pessoas, para corresponder às suas necessidades de nutrição, incluindo 56 milhões de crianças com fome, em pelo menos 80 dos países mais pobre do mundo. Um dos objectivos, este ano, é aglomerar dois milhões de euros. O outro é relembrar que, "num Mundo que produz alimentos suficientes para todas as pessoas, morrem diariamente de fome cerca de 18 mil crianças", diz o comunicado da World Food Programme, programa que nos permite participar no maior desafio logístico de sempre, 'ajudar a alimentar o Mundo'.
A TNT comprometeu-se a partilhar os seus custos e conhecimentos, contando com a dedicação e entusiasmo de 160.000 colaboradores. Esta é a maior companhia europeia de distribuição expresso e uma das líderes mundiais na sua especialidade. A TNT Portugal integra-se no grupo TNT (Thomas National Transport) e a sua origem remonta a 1947.
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945, em São Francisco, na Califórnia, por 51 países, após o final da Segunda Guerra Mundial. A primeira Assembleia-Geral foi celebrada a 10 de Janeiro de 1946 em Westminster Central Hall, Londres), sendo a sede actual em Nova Iorque.
Eventuais donativos poderão ser depositados numa conta bancária, aberta unicamente e exclusivamente para o walk the world, com o seguinte NIB: 0007 0576 0000 3800018 84. As empresas e instituições que se associarem a este evento, poderão fazê-lo através da contribuição de 500 euros, beneficiando, assim, de uma oferta de 30 bonés e 30
t-shirts.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Maio de 2008.

Trazer a Europa aos Açores

Portugal na UE
Aproximar os cidadãos das decisões tomadas a nível europeu foi o objectivo de uma Acção de Formação para os jornalistas, considerados o meio mais eficaz de chegar às pessoas. Os cidadãos têm os seus direitos, agora mais ainda com as alterações ao Tratado de Lisboa, que lhes dá mais poder de decisão.
Segundo Ana Cabo, membro do Gabinete de Imprensa da Representação da Comissão Europeia em Portugal, importa “explicar aos jornalistas a forma mais fácil, simples e rápida de aceder às fontes de informação europeia”. A iniciativa realizada pela Representação da Comissão Europeia em Portugal contou com a colaboração do Centro de Informação Europa Direct dos Açores.

De uma maneira geral, as pessoas estão cada vez mais afastadas da vida política nacional e europeia. Ainda assim, de acordo com estudos realizados nesta área os portugueses dão mais credibilidade às instituições europeias do que às nacionais. É necessário que os cidadãos participem na vida política do seu país e da União Europeia e sejam ouvidos.
Ana Cabo, membro do Gabinete de Imprensa da Representação da Comissão Europeia em Portugal, esta tem vindo a realizar a nível nacional várias “acções de formação para os jornalistas dos órgãos de comunicação social locais e regionais”, em colaboração com os seus centros de informação Europa Direct. Desta vez, afirma, decidiram vir aos Açores em colaboração com o Centro de Informação Europa Direct dos Açores, situado na Terceira.
“O objectivo é explicar aos jornalistas a forma mais fácil, mais simples e mais rápida de aceder às fontes de informação europeia” - esclarece, acrescentando que a ideia é explicar-lhes como podem aceder a informação sobre “Políticas Regionais, Agricultura, Pescas, Turismo as Regiões Ultraperiféricas”, assuntos que, reconhece, dizem “especialmente” respeito aos Açores e pelos quais os jornalistas têm interesse.
Salienta também que a Representação da Comissão Europeia em Portugal tem vindo a “privilegiar” o contacto com os órgãos de comunicação social regionais e locais, pois considera que estes são “a melhor forma de chegar aos cidadãos”, tal como a união europeia, que “deve estar próxima dos cidadãos”, quer que aconteça, os jornalistas locais e regionais são o melhor “veículo de transporte e difusão da informação”.
Explica ainda que esta acção de formação e o Forúm do cidadão são duas iniciativas “distintas”. Apenas aproveitaram o Forúm para, no dia seguinte, levarem a cabo esta acção de formação de jornalistas que, revela, até ao momento e pelas inscrições que recebeu, “está corresponder às expectativas”.
“O Forúm do Cidadão é da iniciativa do Gabinete do Parlamento Europeu da Representação da Comissão Europeia em Portugal, realiza-se em todo o país e convida eurodeputados para “debate” de questões sobre a UE” - acrescenta.
Em termos de projectos para os Açores a nível de cidadania, Ana Cabo avança que a Representação da Comissão Europeia irá, através do Centro de Informação Europa Direct e do Centro de Documentação Europeia da Universidade dos Açores em Ponta Delgada, organizar um “conjunto de debates e colóquios sobre as questões europeias”. Dá ainda especial destaque a um grande Seminário/ Debate sobre o Tratado de Lisboa. “Este foi recentemente rectificado em Portugal, mas tem grandes implicações e traz grandes avanços ao dia-a-dia dos cidadãos” - acentua, avançando serem estas as questões que o Seminário pretende transmitir. O evento decorrerá em Ponta Delgada durante o mês de Junho e contará com a colaboração do governo regional.
Questionada sobre se os cidadãos têm, ou não, uma noção de cidadania, democracia e dos seus direitos, reconhece ser não uma pergunta “fácil” de responder, mas admite que “a maior parte das pessoas não sabe o que é o Tratado de Lisboa”. Ana Cabo vai ainda mais longe ao dizer que, “se calhar muitas pessoas também não sabem o que diz a Constituição da Republica Portuguesa”. E a ideia destes seminários organizados um pouco por todo o pais é precisamente “explicar quais as alterações que o Tratado de Lisboa trazem de novo no quotidiano dos cidadãos”.
Falando especificamente na cidadania, esta salienta dois aspectos que o Tratado de Lisboa consagra e que são “importantes” para os cidadãos, como “a possibilidade de um milhão de cidadãos poderem ter o direito, a iniciativa de subscrever um Abaixo-Assinado à Comissão Europeia para que legisle em determinado sentido”. Assim, os parlamentos nacionais que são eleitos pelos cidadãos passam a ter “mais poder” e a “saber analisar as propostas de legislação que a Comissão Europeia faz”. A partir daí, se entenderem que as propostas poderão ser “prejudiciais” ao país, podem pedir que sejam “alteradas”.
Argumenta também que “o Tratado de Lisboa dá mais poder aos cidadãos”. Se os cidadãos têm consciência, ou não, destes direitos, encara a situação pela “positiva”, avançando apenas que o Gabinete de Imprensa da Representação da Comissão Europeia em Portugal está a promover acções e debates para “informar os cidadãos dos seus direitos consagrados no Tratado de Lisboa a nível da cidadania e da democracia”.
Referindo-se à noção que as pessoas têm da política em geral, afirma que a União Europeia faz regularmente “estudos de opinião pública, designados de Euro Barómetros”, em todos os estados membros. Aproveita ainda a ocasião para dizer que, segundo estes estudos, “os cidadãos, nomeadamente portugueses, acreditam mais nas instituições politicas europeias do que nas nacionais, o que mostra uma falta de confiança e de interesse”.
“Há muito a fazer ainda para informar os cidadãos, mas estes também têm que ter noção de que devem participar e têm de arranjar formas de dizer “estamos aqui e queremos que a nossa voz seja ouvida”, pois é isso que pretendemos em relação às questões europeias” - conclui.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Maio de 2008.