É natural da Graciosa, mas já adorava a ilha de São Miguel antes de a conhecer. A música faz parte da sua vida por influência familiar e desde os “sete anos” de idade, altura em que começou por aprender viola e, mais tarde, viola da terra.
O saxofone surgiu com a entrada numa filarmónica e é, hoje, o seu instrumento de “eleição”.Ao tocar, afirma ter “montes de sensações”, como “chorar ou rir”, pois a música mexe consigo de uma forma “incrível”.O músico toca essencialmente para público “estrangeiro”, que gosta muito de “conhecer e de saber mais sobre ” a música dos Açores, o que o deixa “muito feliz”.“Eles têm uma certa curiosidade em conhecer a nossa cultura”- ressalva, revelando que gostava que os açorianos mostrassem mais “interesse” pela música tradicional da Região, que é “tão boa” como as outras.
O Saxofone e a viola da terra são alguns dos seus dotes musicais. Graciosense por laços familiares, Emanuel Bettencourt viveu os primeiros anos da sua vida nesta ilha, onde teve um primeiro contacto com a música. “Os meus primos e tios tocavam e o gosto pela música vem desde ai, até a minha mãe cantava”- recorda, acrescentando que cantava nas festas de família.Começou por aprender viola aos “sete anos” e aos nove viajou com os pais para Angola e “a viola ficou atrás”, mas quando regressou continuou na “viola da terra”. Entrou para os “Ritmo 2000”, como baterista, e também para uma filarmónica, onde aprendeu saxofone, instrumento de que “sempre” gostou e ao qual acabou por se dedicar.Adora São Miguel, de tal maneira que já pretendia visitar a ilha “mesmo antes de a conhecer”. O feliz acaso deu-se aos 14 anos, quando uma “prova desportiva” lhe possibilitou conhecer a ilha verde por uns dias. “Tinha cá uns amigos da Graciosa e fomos tocar para a noite, como fazíamos na minha ilha, que é muito musical. Estávamos habituados a reunir ao fim-de-semana e tocávamos todos juntos em grupos grandes. Uns cantavam, uns tocavam, era uma vida muito interessante” - relata. Aos 16 anos, veio estudar para o Conservatório e continuou a tocar saxofone, o seu instrumento de “eleição”.Referindo-se ao restante arquipélago, o músico avança que a arte tem uma “grande força”, pois sendo as ilhas “pequenas”, reconhece, as pessoas não têm assim muitas “distracções”. Por isso, a música “sempre” foi uma arte de eleição na Graciosa.“Muitas pessoas cantam, muitas tocam, há sempre muitos grupos e vivi um bocado nesse clima”- enfatiza, acrescentando que considera a música “muito importante” e que esta foi sempre a carreira que pretendeu seguir. “Sempre gostei de música e fui desenvolvendo esse gosto”.Ao tocar, afirma ter “montes de sensações”, como “chorar ou rir”, pois a música mexe consigo de uma forma “incrível”.Diz haver cada vez “melhores” músicos, ao contrário do que acontece com os mercados neste ramo, o que admite já não estar “directamente” ligado com a música”. Trata-se, sim, de uma questão “económica” e de outras questões pelo meio.“Há excelentes músicos em todo o lado, tanto nos Açores como no resto do país que não são conhecidos e são melhores dos que são conhecidos”- ressalva, argumentando que o conhecimento está relacionado com os “media” e com as empresas envolvidas.Na sua opinião, tudo funciona um pouco por “lobbies”, pois mesmo que a música não seja de qualidade, “o público ouve”. As pessoas formam os seus gostos musicais conforme a idade que têm, mas claro que “se estas não conhecerem determinada musica não podem gostar dela”. Ouvindo uma 20 ou 30 vezes, admite, ela fica na cabeça, mesmo que não seja “muito interessante” e só mais tarde a pessoa se apercebe de que afinal foi só uma “fase”.Claro que, alerta, existem músicas dos anos 40, 50 e 60 que são “eternas”, porque estão tão “bem feitas”, que continua a tocá-las e a ter “prazer” em fazê-lo. Da mesma maneira que há músicas que estiveram no top, mas “hoje em dia já ninguém ouve”.Ao contrário do que se pode pensar, “a música não é uma coisa de modas”, apenas quando é “profunda” pode ser eterna.Depois é uma questão de roupagem, como o vestuário, pois vamos “mudando” a nossa maneira de vestir ao longo dos anos, onde cada músico “explora e interpreta” o tema à sua maneira.“Faço ‘covers’ de vários géneros musicais, pois gosto de tocar músicas que me bateram em alguma situação e se foram ouvindo ao longo dos tempos, mas que são sempre actuais”- acentua.Questionado sobre o facto das pessoas terem a noção de que as rádios passam sempre mais rock do que outro estilo qualquer, o músico afirma ter a mesma ideia, apesar de admitir não ter estatísticas sobre o assunto.“Isto talvez aconteça, pelo facto do rock ser uma música mais jovem e ligada às gerações mais jovens, que são as que compram também muita música”- justifica, admitindo ser “complicado” mudar a situação, a não ser através dos “Media” que chegam às pessoas e têm um pouco o controlo.Emanuel Bettencourt aproveita ainda para dizer que uma música quando faz parte da banda sonora de uma novela de cerca de 100 episódios, a pessoa ouve-a no mínimo 100 vezes e,“se música fosse outra, a pessoa acabava por gostar”.A seu ver, o mercado está um bocado “formatado e é difícil as pessoas gostarem de outros estilos ou daquilo que não conhecem”. Estas, por si, é que deviam ser mais “criticas” em relação à música, às artes e às coisas em geral, pois não podemos ficar com a ideia de que “por aquela música passar ali é a melhor”. É preciso ouvir “todos” os estilos.Quem quiser assistir a um concerto deste simpático graciosense, poderá fazê-lo no “Hotel Caloura Resort” ao sábado, entre as 21h00 e as 23h00, e no “Baía Palace” à 3ª feira com um trio de Jazz e à 6ª feira com viola e um repertório “diferente”.O músico toca essencialmente para público “estrangeiro” e afirma notar que este gosta muito de, pelo menos, “saber e conhecer” qual a música dos Açores, o que o deixa “muito feliz”.“Eles têm uma certa curiosidade em conhecer a nossa cultura”- ressalva, revelando que também gostava que os açorianos mostrassem mais “interesse” pela sua musica, pois admite ter talvez mais sucesso a tocar musica tradicional para os estrangeiros, do que para os locais. E a música açoriana, sublinha, é “tão boa” como as outras.Emanuel Bettencourt toca “todos” os temas tradicionais com um arranjo diferente, mas, alerta, “sem fugir das letras e do que a música transmite”, sendo as alterações apenas a nível de harmonia e de ritmo.Referindo-se à recente lei que obriga as rádios a passarem mais música portuguesa, o músico argumenta que “o caminho não é a obrigação”. Deveria ser antes uma questão de “mentalização” das pessoas, pois há que “defender e valorizar” o que é nosso.“São músicas que foram tocadas e cantadas pelos nossos pais e avós, uma tradição que não podemos por fora”- acentua, aconselhando que devemos “desenvolver” estes temas, que diz ter muito “orgulho” em tocar.O músico aproveita ainda para contar que recentemente tocou no hotel e havia dois grupos. “Um pretendia ouvir músicas conhecidas em inglês para cantar comigo, enquanto o outro pedia temas regionais. O facto é que os temas regionais são sempre aplaudidos, e acabei por tocar para os dois”.Em termos de projectos, revela que gostava “imenso” de gravar um cd. Visto que, este ano, já compôs 12 temas e tem em vista mais dois e é o que tem feito ao longo da vida, não tocando “apenas” os de outros. “Já participei em cds, mas ainda não tive oportunidade de gravar, apesar de ter material para mais de um. Além disso, o preparar um cd rouba muito tempo e implica meios financeiros e convidar outros músicos”, lamenta.
Raquel Moreira,
Public in 2009.
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